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A RECEPÇÃO ALEMÃ DO "LABELING ApPROACH" NEGAÇÃO DO PRINCíPIO DE

BiBLIOTECA DE CIENC!AS JURID1CAS

VIII. A RECEPÇÃO ALEMÃ DO "LABELING ApPROACH" NEGAÇÃO DO PRINCíPIO DE

IGUALDADE

1. A CRIMINALlDADE f)E "COLARINHO BRANCO'~ A "CIFRA NE-

GRA " DA CRIMINALlDADE E A CRíTICA DA."-E"TATi"T/CAS CR.lMINAIS OFICIAIS

Além dos problemas teóricos e metodológicos relativosàdefi- nição de criminalidade e ao conceito de "realidade social", que influenciaram o surgimento do labeJing approach na sociologia cri- minal, não só do interior da literatura especifica, mas também de outros setores da moderna sociologia, influenciaram não pouco sobre o deslocamento do ponto de partida, do comportamento desviante para os mecanismos de reação e de seleção da população criminosa, as aquisições da sociologia criminal dos últimos decêni-

os,relativas a dois novoscam~de invest~ãQ: a)a crimina.Hºªq~ de colarinho brancQ; b) a cifra negra da criminali.da~jH~riti.c-ª_ das estatísticas criminai~ ofiçiais..

a) No já mencionado artigo sobre a criminalidade de colari- nho branco, Sutherland mostrava, com o apoio de dados extraidos das estatísticas de vários órgãos americanos competentes em maté- ria de economia e de comércio, quão impressionantes eram as in- frações a normas gerais realizadas neste setor por.pe$.soa_$.cotoça~ _Q~~_~nJ.J?q~i窺çl~_pr:~_s!ígio~ºcial.

As proporções da criminalidade de colarinho branco, ilustra- das por Sutherland1 e que remontavam aos decênios precedentes,

provavelmente aumentaram Jesde que Sutherland escreveu seu arti- go. Elas correspondem a um fenõmeno criminoso característico não só dos Estados Unidos da América, mas de todas as sociedades de capitalismo avançado. Sobre o vastíssimo alcance deste fenõmeno

CRIMINOLOGIA CRiTICA E CRITICA DO DIREITO rENAL

influíram, de maneira particular, as conivências entre classe política e operadores econômicos privados, conivên~ias que tiveran: eficác~a não só sobre causas do fenômeno, mas tambem sobre a medida mUl- to escassa, em relação a outras formas de criminalidade, em que a criminalidade de colarinho branco, mesmo sendo abstratamente pre- vista pela lei penal, é de fato perseguida.

A análise das causas do fenômeno ~.9~~E.f!J~9~~Jl.!!1ciona! com a estruturà~iª( féit~.R9~~1~theaªiig-,JJ9r Au~!:t~ P9~.º.~E-:<:>f-,

assim conl~ dos fatores que explicam a escassa medida em que ..<l criminalidadede colarinho bi:anco é perseguida, ou escapa completa- mente

,'i-iassuasfõi=il1as'inals

refinadas, dàsmalhas sempre muito lar- gas da lei, é uma tarefa que não pode ser enfrentada neste lugar. Bas- tarão, por isso, breves indicações. Trata-se, como se sabe, de fatores que são ou de natureza social (o prestígio dos autores das infrações, o escasso efeito estigmatizante das sanções aplicadas, a ausência de um estereótipo que oriente as agências oficiais na perseguição das infra- ções, como existe, ao contrário, para as infrações típicas dos estratos mais desfavorecidos), ou de natureza jurídico-formal (a competência de comissões especiais, ao lado da competência de órgãos ordinários, para certas formas de infrações, em certas sociedades), ou, ainda, de natureza econômica (a possibilidade de recorrer:a advogados de renomado prestígio, ou de exercer pressões sobre os denunciantes etc.).

b) As pesquisas sOQre~sta forma.de-º-riminalidade)ançaral1'L_ luz sobre o valor das estatísticas criminais e de sua int~et~ç-ª.Q,. _Ea!'.~Ji~~9_~.~DA!is~.-ª-ª_~~:trik111~º~~~t~~iminªlig-ªde_n~s_y;irios.es-

tratos SOÇiª!~,_~J'Q]::>Lçªst~ori.ªsdª. crin}i}lªUd~c:lex~lªç~º.l:lªç4ls.~Qm - ~;t~~-i~~~~12re!~ç52~:_De fato, sendo baseadas sobre a criminaUd.ade

"'i-d~l tiJiç.ªqª.~_12e~!lidª,_ªs_.~stªtistica,s~dminaL~S.-qua1S a. -~~~'i~;~inalidadede colarinh9jJ.ranc-º_~!:~Rresentada de mQ.4º enonne-

mente inferior à sua calc~h!~L~ç.ifra...!1~Z!-~~~-,.distorceram até ago~ª._ -;-; teorias da criminali~tªª~,sl1g~i:inç!o..t!~}.quadrº-fa!~gª.~9.L.s.~X!l:>ui- çãQ.ª~~riI;~i~;Iid;d~ no~_gm.P-ºliºçiais ..Daí deriva uma defit~iç~o corren te da criminalidade .Ç9~}lo._1,!l!11.~ll<?1)!~~1<?~9!!~~n.:!rado,pnncl- palmente, nos estr~t9s..inferior~s, e pouco representad~ nos estr~t~s superiorese~ -portanto, ligªe:tª_.ª.fatores 12essoals e socials correlacionadQ.5..._C-.om -ª_12obreza, aí compreendidos, observa. Sutherland3 .. 1.. ...•...."a enfermidade__ •.. _ mental, o desvio Rsicopático, a moradia

em sJlllrl_e __

ª__

~?.1!á"situação familia!:~.:_

102 I I I'

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ALESSANDRO BARA"ITA

Estas conotações da cri!.l1inaliªil_d~ inçidem nã_º-~ó s-ºbre Q~

estereótipos da crilx.iruilid.ª-de.,.os__'l.JJ.éÜS,Gon1.o.inyest.iga.ções. r.ecen.- tes têm demonstrado, influenciam e orientam a ação dos órgãos oficiais, tornando-a, desse modo, sQ.Ç.iillill~t.e..~s-cle.tiv..a~.,.ll1aS.tam- bém sobre a definição corrente de criminaliªgl~-'l!lLO_hº11lem_9a rua, ignorante das estatísticas criminais, compartilha. Realmente, esta definição de criminalidade, e as corresRondentes reaçQ~~.não institucionais por ela condicionadas (a reJlÇ.ãoda o12ilJ.iã.QPÚblica.e

o alarme sociaD, estão ligadas aO.J&.lxáter e.s.tiglllatizante que a

criminalidade leva, l1ornwlmente, consigo, que é escassíssimo no caso da criminalidade de colarinho branco. Isto é devido, seja à sua limitada perseguição e à relativamente escassa incidência social das sanções correspondentes, especialmente daquelas exclusivamen- te econômicas, seja ao prestígio social de que gozam os autores das: infrações.

As pesquisas sobre a cifra negra da criminalidade, ligadas a uma análise crítica do método e do valor das estatísticas crimi- ~.r-ª--QçQnl~çin1~llt-º .º1:?j~tjyº..g() _ª~syio~l)!um::l.dacia socie-

dade, não se referem, con tud.9..l_~_,?_~~~~_ll.!~.~~.f_~~..<?_~l~.e_!lo.cia

I

criminalidade do colarinho !2ral!~Q1..P'ºl~é.l!~,J.!lal~.~!).l_g~E<t!,_::l.E~ªl

freqüência e à djstril?yj~.ªº_9..9_~º!!Wºttil.11~~1.1tºA~s'y-i-ª.~t.~'pen1:lI-1 mente perseguível, em uma dada sociedade. Essas pesquisas leva- ram a uma outra fundamental correção do conceito corrente de criminalidade: a crimjnalidade não ..

t

UlI!.s~-ºn~It'!.m~lJj.S? de_uma! restrita minoria, como quer uma difundida conce12ção (e:--ª-iQ~º::-t. logia da defesa social a ela vinculàda), mas, ao contrário1

°

com-;

portamento de liu'~~_ estl~<:t!º~_~~~'ii;~.il19~'ªipiªT9iTª_"~õ:;:'.l11ê~11--" bros de nossa sociedade.

---_.-_.-.---

,..._..

Os representantes do iLlbeJing appro8ch, ao fazerem uma correção do conceito corrente de criminalidade, partem freqüentemente da consid~raçãº_cL~s_.9.~.ª.o~.~t~Sl?ºllí.\'.~.i~_~9J?l:~ª. criminalidRde latente, que também são fornecidos por investi- gações empíricas setoriais, mas suficientemente representativos. A diferença entre os'del~!2.s..~i.st~~~0_º~.-ºfi_(::i.ªJ!.1.1e!}.!~~_ºSªJltores identificados~.!:.. um laQ..~e o~A~litºsxeaJll1eJLt~ç-ºnle.tidos, por outro, c;:)llstí.!.!:lj_-=.EQ~__C::~~l!!I?).Q_~()ponto d~ partidaproblemá- tico das teorias de Sack. Tal autor pode ser considerado um dos principais representantes do que se pode definir como a recep-

CRIMINOLOGIA CRÍTICA E CRÍTICA DO DIREITO PENAL

ção alemã do labeJing approach, na qual recorrem t~dos os ele- mentos examinados no capítulo precedente, especHilmente os derivantes da experiência teórica norte-americana, ligados a uma _~2licação "~~,!ical~'_~~_E~r_~díg}~1_~90_~~~~!~<:>-l;e, po: o~tro lado, dos resultados de pesquisas sobre a soclOlog1a do dIreito penal, em geral.

2.A RECEPÇÃOALEMÃ DO «LAI3ELlNGApPROACH". DE)LOCAMEN-

TO f)A ANALISE DA.'" «META-REDRAS" IX) PLANO METODOLÓG/CO-

JURíDICO PARAo.<;OClOLÔ(;/cO

Para explicar o aludido fenõmeno da criminalidade latente, Fritz Sack recorre a duas perspectivas teóricas que, aliás, não são estranhas à mais recente teoria do direito. Uma premissa teórica fundamental da sua reflexão é, antes de tudo, a distinção entre

regra e meta-regra, ou seja, entre as regras gerais e as regras sobre interpretação e aplicação das regras gerais. Assim como Cicourel4,

Sack apresenta esta distinção, delineando uma analogia com a dis- tinção introduzida na lingüística contemporâneas, entre "langu~' _ definida por de Saussure como estrutura objetiva e geral, de modo que podemos conhecê-la por meio de um manual de gramá- tica e de um dicionário - e "parole", a língua falada em situações concretas por indivíduos determTnados, segundo de Saussure. So- bre a primeira se:}u~~_a_l~1.~~_rt::g_ra_sda gramáti<;a tradicion"J (a '~~$JnJtura gramatic~1.1de superfície", segundo Chomski). Sobre a segunda se apóia o que Chomski denomina "es~E_~tU!ll_g!'"I1:!~!!-c:flJ _profu~g.a" ou "gr~!]1?ticª_2&!:!eratÍ\:Tª~'.Esta contém o conjunto das

regras que permitem a quem fala e a quem escuta utilizar-se cor- retamente da linguagem objetiva, ou seja, de interpretar e de apli- car as regras gerais da gramática e da semântica, em uma situação concreta. Sabemos que, segundo Cicourel, à primeira estrutura cor- respondem as "resras s!:!perficiai~~ou "r-~grª~g~rai[,.J1 e à ~zun~ da, as basic rufes, que constituem regras (ou P!~ª-Uça,~t4~lJ.11~rpre- tação e de aplicação das regras gerais~ Na teoria do direito existe -uma-distinção semelhante: ao lado do conjunto de regras gerais de comportamento, existe um conjunto de regras de interpretação e de aplicação das regras gerais.

104

ALESSANDRO I:lARATfA

__~ __~l1.£!~ncill_~~_r:egr:'.lsJP!"il}_~í.Ri9~_._~_ªtihl<:teL~'?!bjetivl!~~bre .0 m'?_~~~l1!~~_~~c:~~~l:~!i~çãQ"do direito,p9r

-ªÇ?g

ci9sº~mdores j urí- dicos, há muito está no centro do interesse das correntes antiformalistas e-realis!ii~-J.~n:~pro:d~l~ci~; m~a- t~ori~-.cta.tràl1sfórm~bilidade do

direito através da ação do intérprete conduziu à acentuação, na ciên- cia jurídica, principalmente das considerações metodológicas preceptivas (asregrasda interpretação correta), com exceção de algu- mas correntes, de mais marcada inspiração sociológica, da jurispru- dência realista america!.1_~_:Jl:!!1~~}~lJ~_(:-º!!}çl<2.ol:l_r:.~I,_S<lcktt~l11o. méri -

_!'?__~~

te!:~~g<?tid9_~~1!_et.~~1~~me~t9c:4t:i!!!<:iU~<:ia~"l11~tª-regras" do EI~11~l?~:eceptiY'?~!1!etodo~~<ljl:l:~í9iqtp<i~ª_t.l_r:n.Rlanoobjetivo soci- ~~~i~o. E é precisamente sobre este plano que o conceito das "regras de aplicação" não fica limitado às regras ou aos princípios 1TI~tQdoJ-ºzi_ÇQH;ºn$Ç.ientemenjeaplicagº,spelointérpr_eJe.ÚlS_1:'Jgênçias

ofici~..;..osJ~ize~-,.!~ª~_.setrGi:l:!.sfQr:l11ªD9P!ª110Ó'!~leis e_dQsmecanis- mos_ql:!~~en~Ql?jç!iv:ªnleDte_pª

.me~*~

ciºintéIJJ..r~t~~_~_<:m_edevem ser

'y}'es~E.P2stosPGira_os_fil1~g~_1!mª-~~liç_ª.Ǫ-Q_~jQló$icadandivergên-

cla entre a delinqüênd'l.r~çQnb~..£iqae a delÍ],}.güênçiª

lªJente,

Asmeta- regras gerais, por outro lado, participam da estrutura socialmente pro- duzida pela interação e, neste sentido, do que se pode definir, nos ter- mos de Cicourel, comº __'~ç9mmº1'1_ç!!ltllr_e",.ou $.Cja:, os significados, _~,!g~ª-£l:!!ty.Ilb_9.l:lÇJQt:!11ª-1~1_ª_..~ll/;!sfã.nc:/ac!e.__~e.J1liªQ_çt~_gLla.1qUyr

_~ituaçãoou _~~g.-As.n1eía_~regras,_pois,_sãQ.regras_objetivasdo sistema _social,qU~__P-OO~JllQri~ntm::_:.s.e..parao..queSackchama "a questão den- _tifi.ca_de_cisiv.:a'.'_.__que__ele_relaciona à diferença intercorrente entre a

crinJinaliª-ªª-~Jªt.~nt~_.e_~cJjn\Ínª1!4i,Jg~t:~iªª: o problema de como devemos representar o "processo de filtragem" da população crimi- nal, ou seja, em última análise, "daqueles contra os quais afinal se.

'

,

pr~n~ncla uma sentença em nome do povo". Os d~~os d"!.~~iologia__ cnnunal relativosà"cifra l~ra" permitem, com ef~liº,-neZill"_ªJlipQ.::_ tese explicativa de~~_~_!~f!'utª_mento desta restrita JX)pulação

ç}imi-

nosal delltrQ_49_g!:..ª!!.g~Jl_lÍ_!1~~rºcios~~J?~lc?_!l1e!~º_~.E.!~'.l.ve~~e um

modo o~__4.~_()_!:!..~:(),.yjºJª~:ª}~}_}!c:l_l:!llª~-ª-Q_dÍ1~!_tQ_~!.!.aI(Sack acr~dita ~er inferir gus.. e~'!.~.!-1!.'!...~iedªgeCOP10_~d<lAlemanl~aOc-id~l~t;l esta cifra representa cerc'!.E~_~º-~j}O%9a_~la_ç~0 tot~Ú--~~~~ii~~ de modo casual.. - _______L____

Neste sentido, as regras sobre aplicação (basic rufes meta-re- gras) seguidas, conscientemente ou não, pelas instâncias ~ficiais do

CRIMINOLOCIA CRiTICA E CRíTICA DO DIREITO PENAL

direito, e correspondentes às regras que determinam a defini

7

ão de desvio e de criminalidade no sentito comum, estão ligadas a leIs, me- canismos e estruturas objetivas da sociedade, baseadas sobre rela- ções de poder (e de propriedade) entre grupos e sobre as relações sociais de produção. Deve-se a~rescentar que: à posição ~o proble- ma da reguJandade dos mecamsmos de seleçao em relaç~o ~ es.tru- tura macrossociológica, contribuíram, e continuam a contribUir amda hoje, além das pesquisas criminológicas sobre a cif~'an~ra, outras pesquisas intimamente conectadas cc-m a sua expllcaçao, como as pesquisas sobre os estereótipos criminais, e todo um setor .da.no~a sociologia jurídica, que se ocupa da análise dos grupos prof1sslOna~s ligados às instituições de controle social da, ~elinqüência (s~i?l~a dos juízes e dos juristas, em geral, da poliCIa, estudos SOCIO!O~cos sobre processo penal etc.): pesquisas que, por outro lado, estao liga- das, na maior parte dos casos, ao quadro teórico do Jabeling approach.

3. A fJEf{.~PECTIVA MA(.J{()S~OCl()U)(;ICA NA ANÁLl~E DO PROCES ..';O

DE SELEÇ-'ÀO IJA I}()JJULAÇ-'ÀO OUMINOSA

Os mecanismos reguladores da seleção da população crimi- nosa são complexos, e também recondutíveis às peculiaridades de algumas infrações penais e das reações a elas co~'respondentes: re- corde-se

,

por exemplo, quanto aos crimes cometIdos por emprega-

..

dos de empresa, a transferência da instãncia pumÍlva correspon- dente aos mesmos, do ãmbito de competência do Esta~o para o ãmbito do direito disciplinar interno; ou lembre-se a baIxa quota de denúncias por parte das vítimas de furtos entre parentes e de delitos sexuais: estes fenõmenos se explicam por algumas contl'amo- tivações econômicas, ou de outra natureza, naqueles que sofren~ as conseqüências do crime. Mas se partimos de um ponto de VIsta mais geral, e observamos a seleção da população criminosa ~entro da perspectiva macrossociológica da interação e das ~elaçoes ~e poder en h-e os grupos sociais, reencontramos, por. detra~ do Jeno- meno os mesmos. mecallislll()S_c:i~..intexaçã.9,d~. alltªsomsl119. ~.çle

~Pºª~_l:~~~e..c1}ig.~çºi~!~:,~'~-~~-~!.tl!~.ºª4ª.e~~~~y'!l)!'ª~()ç~ª~,_4ªde.~igll.ª1

distribuiçll-º ...d_e.J~e.nse.de oportuni4~~~~h~!1tr~_~~_I!~_ci!~~1!~~'So p~~- . ti-~d~-d~~teponto de vista pode-se reconhecer o verdadeiro sigmf1-

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AU:SSANDRO BAI'XITA

cado do fato de que i:l.popL!l~lçãocarcerária, nos.países da áre.a do .~~12itªlt~.!~!()ª\7ançª_c:l(),.~msuaenorme 1l11lioda"se.Jal:eçrutaciaen-

tre a c1as~~.ºPe.rª~'ia e.a,~çl~s~e.~_econonlical1).el1temaisgébeis. Re- almente, só do interior desta perspectiva tal significado pode sub- trair-se ao álibi teórico que, ainda em nossos dias, é generosamente oferecido pelas interpretações "patológicas" da criminalidade.

Reconstruindo o estado atual de conhecimento sobre a criminalidade latente, Fritz SackG move_umª~xW.£ª_J:.'!.diç-ªU!...tÚ2.iç...

ª

definição "lesaI" da criminalidad~}l1Uito eficazmente exemplificada por uma formulação de ]oachim Hellmer: "crimil1alid..~losenti:-

do jurídico - escreve este a.!:ttor7-,~.um comportamento (ação_ou. '\-

omisão) que viola uma.!!.c:>n1l'!.l?~J}-ª-I".Sack observa: "sabe!}l~p~lª criminologia e pela política criminal~ticada, gue uma simelhante definição da criminalidade e, çorresro;;dC;~tel~le~rt~~-d;-~;-il~ti;l~~~, deve ser considerada, do ponto de vista científico, como uma mera ficção. Através de pesguisas empíricas sociológicas realizadas.. no; últimos 20anos, se consolidou a consciência de q~.l!ln,!in!~xpreta- cão literal da definição de Hellmer condu_z i!.çº!lseg.i-~~J}s:_!,:!de

.E~.t2

não a minori~ de uma2.'2.çieª~d~,_}}laS_amaioria--ªº.~_~~uslI!~mbros, deveria contar-se entre º~rimi!'1:()s<:)~"8.

Dentro da proposição de Fritz Sack, pOlianto, a_J~riminalidade, _ como realidade social, não é uma entidade..p.n::;'con"b'hJidqem.re1ação

à atividade dos juízes, mas uma qualidade atl1buÍdaP-Qrestes.Úl.timQ...g

determinados indivíduos. E isto não somente conforme o compolia- mento destes últimos se deixe ou não subsumir dentro de uma figura abstrata do direito penal, mas também, e principalmente, conforme as

meta-regras, tomadas no seu sentido objetivo antes indicado.

De fato, Sack considera os juízos mediante os quais se atribui um fato punível a uma pesso'i.-..QQUlQ.j,lJiZOS_ftmputLI(Q.)'.qlleprpdu- zem a quali.~tl!gecrimümlg~~-ª-l2~~Sºª,ÇQDl..ª_S.ÇQ)l,5~_q!d~nçi.asjuxídi:- _ças (responsl!biliçl-ª4~12~D~2_~_.~ºçÁfli~J.~~tiz~llªJ:i~.ªçªº,_.111lt.etél!JǪ

_9~

Hª!J!S G_ª~jçl~lJtiçlªª~._soçial.~!ç)..Ç9Jl~}sªs.Aplica, assim, a distinção

operada por H.L.A.Harf) entre juízos descritivos e juízos atributivos: ~'Os juízes ou o tribunal - eSéreve Sack10 - são institJJi.Ç_<le5_qu.e.

produzem e põem "realidade", A sentença cria uma nova qualidade para o imputado, coloca-o em um status que, sem a sentença, não possuiria. A estrutura social de uma sociedade, que distingue entre cidadãos. fiéis à lei e cidadãos violadores da lei, não é uma ordem

CRIMINOLOCIA CRiTICA f. CRiTICA DO DIRf.ITO rf.NAL

dada mas uma ordem produzida continuamente de novo. Os meca- nism~s para a produção desta ordem podem ser consi~erado1' c~mo análogos aos mecanismos de recrutamen~o, tal.como sao C?n~eCI~os pela sociologia dos estratos e pela SOCIOlogIadas proÍlssoes.

A

criminalidade, em suma, não é considerada como um com~rta- mento mas como um "bem negativo", análO$o aos bens POSItiVOS, como ~atrimõnio, renda, privilégio. "A criminalidade é o exa~o ~po~- to de privilégio"ll. Como tal, é submetida a mec~~i~n~osde dIStribUi- ção análogos àqueles dos bens positivos, dos pnvl1eglOs.

I) Os mecanismos de distribuição da qualidade negativa ucriminabdade" silo um produto de acomodação social, como aque- les que regulam a distribuição de bens positivos em uma socieda- de. 2) A distribuição do bem negativo criminalidade ocorre da mesma maneini em que ocorre a distribuição de bens positivos. Para a análise dessEidistnbuição se utilizam conceitos que geral- mente deram certo em sociologia} como status} modelos de recru- tamento, cllrreim} critérios de distnbuição etc.3)A crinllilalidade, e de modo nulÍs genil o comportamento desviante} deve ser com- preendida como um processo no qual os partners}de um lado, o

que se comporta de modo desviante} e de outro, oque define este comjXJrtliluento como desviante, são colocados um de frente ao outro. 4) Neste sentjdC1-çQmporJamento_çk:.p.Yifjnt~..tj_Q_q{.Jeº~ºl-L-

tros definem comQJ;j~yÜlJJ1ç~N#oéuma qu.alidl1geoUllLVJLC.BIEK:..- teristic-"'tlque pertençe {LOc,cyup...ort!!J..l7entocomo tal,JJJJ:Jsql!..eé.IlJri-

buída ao comportamentQ .

É oportuno sublinhar novamente uma importante implicaç~o desta concepção interacionista, no plano da sociologia do conheCI- mento e da comunicação: esta refere-se ao conceito de criminalidade. A criminalidade não existe na natureza, mas é uma realidade

construída socialmente através de processoJu!~A~fini£.ªº-.~_de. interação. Neste sentido, ;criminalidade é uma das "reali4ade~soci- ais". Heinz Steinert se remete, para este conceito, à teoria de Berger e Luckmann 1:\ - recordada no capítulo anteIior - sobre a "constru-

ção social da realidade" , Como Sack enfatiza, em uma viva r~spos:a aos seus críticos14, a concepção interacionista da realidade socIal nao

representa uma alternativa limitada ao setor criminológico, mas uma tendência crítica reencontrável em um movimento total, que carac-

108

ALf.SSANDRO BARATrA

teIiza a reflexão metodológica da sociologia contemporânea, dos es- tudos de Jack D. Douglas sobre suicídio e de Thomas

J.

Scheff sobre doentes mentais, aos trabalhos empíricos e metodológicos de Aaron

V. Cicourel e de Harold Garfinkel15•

O paradigma destas teorias interacionistas da realidade social pode-se reportar, ainda mais em geral, ao assim chamado teorema de Thomas,já enunciado no capítulo anterior, que sublinha o efeito constitutivo que as definições possuem em relação às conseqüênci- as sociais: "se se definem situações comg reais, elas são reais nas suas conseqüências". O centro do problema sociológico da criminalidade se desloca, assim, partindo de uma forte acentuação destaS ..p.remissas. teóricas e metodológLca.s.,_.da.Lc.JllUaLd.a \ __çriminªli@_fl..~U?ªPl_a.f>..c(e[ilJjçõescl~lª,ªºU2I..essupostos POlWǺ.H~_:1

aos efeitos sociais das definições de criminalidade, entendida como!-~--_._..-..._....-.,,--. --- --- I qualidade ou statusgue se aplica a determinados indivíduos. A per- \ gunta que Sutherland havia formulado em 1945:"é criminalidade . a criminalidade de colarinho branco?"lG, revela ainda toda a sua força.

4. O PR.OBLEMA DA DEFINIÇ'ÀO DA CR.IMINALlDADE. "LABELING

ApPROACH" UMA "REVOLUÇ;'ÃO CIENTíFICA" EM CRIMINOLOGIA

o

problema da definição se coloca sobre três planos diferen- tes, que não devem ser confundidos nem reduzidos a um só, se se quer apreciar em todo o seu alcance a alternativa crítica do labeiJilg

approach em relação à ideologia da defesa social (mas é necessário

destacar que esta distinção de planos não é sempre observada por representantes do labeling approachJ.

1) O problema da-definiçãQda...criminalidade é, em primeiro lugar, um problema metalinz.~ístÜ::Q,concernente:

a) à vahdade das definições Hyg-ªçj~_nci-ªJllri.d.k.ª_oJJ-ª-s..ç.i.ê.n- cias sociajs nos proporcion<lm dg~ç.ritne"_~_ºf...~çrjJJ1i.nosº':,quan- to à competência da ciência jurídica ou da ciência social para dar uma definição que possa servir de eventual suporte para uma teo- ria crítica do sistema penal;

b) à validade da definição de criminalidade, ou seja, a atri- buição da qualidade de "criminoso" a determinados comportamen-

CRIMINOLOGIA CRiTICA E CRiTICA DO DIREITO rENAL

tos e a determinados sujeitos, dentro do senso comum e por parte das instâncias oficiais do sistema perca!.

Z) Em segundo lugar, representa um problema teórico que concerne à interpretação sócio-política do fenõmeno pelo qual, em uma dada sociedade, certos indivíduos, pertencentes a certos gru- pos sociais e representantes de certas instituições, são dotados do

poder de definição, ou seja, do poder: '

a) de estabelecerguais crimes devem ser persegIDd.os.1p-'lder de estabelecer as normaU:?~l}ªtS);