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3.4 FORMAS DE APROPRIAÇÃO DAS MÍDIAS SOCIAIS PELO JORNALISMO

3.4.1 Recepção

No primeiro caso, é possível enxergar as mídias sociais desde o aspecto da recepção, ou seja, “significa pensá-las para nutrir-se de ideias e informações para a elaboração de conteúdos jornalísticos” (ROST, 2012, p.2)46

. De tal modo, o conteúdo produzido pelos usuários de uma rede social pode servir de fonte ou pauta para os jornais.

Como a internet faz parte da rotina produtiva dos jornalistas, esse espaço é aproveitado para encontrar histórias, ideias e fontes, realidade que tem se intensificado com o uso das mídias sociais. São vários os exemplos que habitualmente pode-se encontrar principalmente nos sites de notícias. Nas redes sociais como fontes produtoras de informação, um veículo pode utilizar de conversas, vídeos, fotos, postagens ou depoimentos dos usuários em uma mídia sobre um assunto que está sendo pautado pela imprensa, ou até mesmo noticiar um web-acontecimento47, acima de tudo, em situações em que o jornalista não está presente (HERMIDA, 2012).

Um grande exemplo desta perspectiva foram as manifestações ocorridas em várias partes do Brasil em junho de 2013. Os eventos eram organizados por meio do Facebook, e,

46 Significa pensarlas para nutrirse de ideas e información para la elaboración de contenidos periodísticos. 47 Na visão de Henn (2010), o webacontecimento pode ser entendido como acontecimentos construídos através das relações sociais exclusivamente das plataformas da web. Discussões realizadas em fóruns de sites de redes sociais, comentários no twitter sobre programas de TV que vão para os trending topics, dentre outros exemplos.

ali, os atores publicavam fotos, depoimentos e vídeos. As pautas dos jornais, até os mais consagrados e de maior audiência, foram produzidas a partir dessas conexões em rede.

Neste sentido, as redes sociais, enquanto circuladoras de informações, são capazes de gerar mobilizações e conversações que podem ser de interesse jornalístico na medida em que essas discussões refletem anseios dos próprios grupos sociais. Neste sentido, as redes sociais podem, muitas vezes, agendar notícias e influenciar a pauta dos veículos jornalísticos (RECUERO, 2012, p.8).

Herrero-Curiel (2012) afirma que, nos últimos anos, o jornalismo tradicional tem passado por mudanças de paradigmas que têm interferido consideravelmente nos modos de produção da notícia:

Antes, o jornalista saía na rua para encontrar fontes e buscar a informação que não podia ser obtida na mesa da redação. Hoje, isso mudou. A internet, e ultimamente, as redes sociais, fez com que os profissionais da informação recorressem cada vez mais a essas plataformas digitais para buscar informações, testemunhos ou dados que podem ser utilizados para construir suas notícias (HERRERO-CURIEL, 2012, p.1116, tradução nossa)48.

Na visão de Hermida (2012), as mídias sociais reforçaram o valor e importância do público com os meios de comunicação, não só no sentido de serem fontes de notícias, mas também como “sensores de notícia”, quando o veículo jornalístico é informado sobre um acontecimento através de um tweet, por exemplo. Outro ponto destacado pela autora é que as mídias sociais se tornaram um espaço para conseguir a informação imediata:

Além de afetar o fluxo de informações durante os principais eventos, as mídias sociais estão influenciando o ritmo das últimas notícias. A velocidade sempre foi um fator na produção de notícias, seja na pressa para cumprir o deadline ou transmitir um evento a tempo, ou ser o primeiro com as novidades e garantir um furo jornalístico. O ritmo das notícias se acelerou com o desenvolvimento de canais de notícias 24 horas e da Internet, marcando uma mudança para um ciclo de notícias contínuo. A velocidade dos fluxos de notícias aumentou, amplamente habilitada, se não impulsionada, pela mudança tecnológica provocada pelo imediatismo dos serviços de mídia social (HERMIDA, 2012, p.314, tradução nossa)49.

48 Antes el periodista salía a la calle a localizar sus fuentes y a buscar aquella información que desde la mesa de la redacción no podía encontrar. Hoy, esto ha cambiado. Internet, y últimamente, las redes sociales han hecho que los profesionales de la información recurran, cada vez más, a este tipo de plataformas digitales para buscar informaciones, testimonios o datos con los que poder construir sus notícias.

49 In addition to affecting the flow of information during major events, social media is influencing the pace of breaking news. Speed has always been a factor in news production, whether rushing to meet a publishing deadline or a show on-air time, or to be first with the news and scoop a competitor. The pace of news has accelerated with the development of 24-hour news channels and the Internet, marking a shift toward a continuous news cycle. The speed of news flows has increased, largely enabled, if not driven, by the technological change brought about by the immediacy of social media services.

No entanto, como explica Herrero-Curiel (2012, p. 1116, tradução nossa), há certa dificuldade dos jornalistas em saber utilizar as mídias sociais como fonte de informação. O desafio se dá, principalmente, pela falta de conhecimento sobre como manusear as próprias plataformas sociais para dar um tratamento informativo ao conteúdo gerado ali.

O modelo tradicional de jornalismo que todos conhecemos tem sido superado por um sistema onde as relações entre fonte, jornalista e receptor se transformaram completamente. As fontes se converteram em meios, e os receptores são também fontes que, através das redes sociais ou seus perfis na web, podem nutrir de informações o jornalista que está na redação elaborando uma notícia. Qualquer pessoa pode publicar, ou ler um dado e mudá-lo imediatamente com as múltiplas ferramentas de participação que os novos meios oferecem50.

Por fim, há que considerar que as apropriações das mídias sociais como fonte de informação mostram uma nova realidade para os veículos jornalísticos, que passam a perceber que não detêm mais o monopólio da informação, e não são mais os primeiros a divulgar as notícias. Neste sentido, segundo Hermida (2012), é reforçado, então, um novo papel para o profissional, que é o de curador das notícias, que tem a função de navegar, peneirar, selecionar e contextualizar a grande quantidade de informação gerada nas redes sociais.