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6.1 – RECICLAGEM NO BRASIL

No documento Logística reversa na construção civil (páginas 88-95)

Em 2002 com a publicação do CONAMA Resolução Nº307 se deu o primeiro impulso para a gestão desses resíduos gerados pela Construção Civil, ou seja, o órgão acabou criando responsabilidades que envolvem toda a cadeia produtiva desde o gerador, passando pelos transportadores, receptores e os municípios, com isso se deu inicio a um novo ciclo de procedimentos e atividades controladas para fazer valer a regra. Entre 2003 e 2004 o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SINDUSCON-SP) reuniu 11 construtoras em um programa-piloto de gestão ambiental de resíduos em canteiros de obras. Através desse programa, as experiências obtidas foram compiladas numa cartilha e posteriormente distribuídas ao setor. O programa identificou a principal vantagem que era a redução dos resíduos na obra, foi percebida por 79% dos participantes. O representante do Comitê de Meio Ambiente do SINDUSCON-SP (Comasp), conta que através do canteiro organizado o programa provocou um melhor controle dos resíduos gerado, tornando mais fácil fazer a separação e o reaproveitamento desses materiais, e com isso a diminuição dos custos com a coleta e acidentes de trabalho, outro aspecto que colabora para é o reuso de entulho é comentado pelo professor da Poli- USP Dr. Vanderley John, que em São Paulo, há um grande consumo de agregados, e como as jazidas estão cada vez mais longe, esse fator acaba aumentando os custos com o transporte e encarecendo a matéria prima natural, com isso a opção pelos reciclados se torna viável, a partir do instante que o produto reutilizado apresente boa qualidade e desempenho compatível (CAPELLO, 2006).

Segundo De Souza et al. (2010), a valorização e a utilização de RCD no desenvolvimento de materiais, são linhas de pesquisas dentro da engenharia do Meio Ambiente e do setor de Construção Civil. Nos RCD são encontrados restos de argamassa,

concreto, materiais cerâmicos, materiais metálicos, madeiras, vidros e materiais plásticos. O maior volume são os materiais cerâmicos, concreto e restos de argamassa que podem ser adicionados a matrizes de concreto ou solo-cimento, e resíduos como, por exemplo, plásticos e madeira que também podem ser reciclados em grande parte.

A composição do resíduo pode variar em função dos materiais disponíveis em cada região, da tecnologia e da qualidade da mão de obra. No gráfico 4 pode ser visto a composição média dos resíduos depositados no aterro de Itatinga, São Paulo em 1999, onde a representatividade de materiais cerâmicos, concreto e restos de argamassa classificados como resíduos classe A, somam 63% do total gerado.

Gráfico 4 – Composição média de resíduos depositados no aterro de Itatinga, São Paulo Fonte: Adaptado de Brito Filho (1999)

32% 30% 25% 8% 4% 1% Solo Cerâmicos Argamassa Concreto Outros Orgânicos

No gráfico 5 pode ser visto a composição média dos resíduos de construção e demolição gerados no município de Salvador em 2006, onde a representatividade de concreto e argamassa, cerâmica vermelha e branca, classificados como resíduos classe A, somam 67% do total gerado.

Gráfico 5 – Caracterização dos resíduos de construção e demolição no município de Salvador Fonte: Adaptado de Pereira, Jalali e Aguiar (2004)

Os gráficos 4 e 5 mostram que nos dois casos os RCD somam um total de 60% a 70%, isto significa que é possível reciclar esses resíduos e aproveitá-los como agregados graúdos e miúdos e aplicá-los na própria Construção Civil.

A respeito da reciclagem não é possível afirmar com convicção que tenha se tornado uma ideia totalmente difundida, mesmo que as técnicas de reciclagem dos resíduos de Construção Civil tenham evoluído. No Brasil as pesquisas de Leite (2001) e John (2000) do ponto de vista técnico e econômico dão sustentação à produção e à utilização de concreto como agregado reciclado e as aplicações ideais seriam para pavimentos rodoviários, concretos com ou sem fins estruturais e a produção de elementos pré- moldados, para a indústria da Construção Civil. Os beneficiados com a utilização de agregados reciclados na Construção Civil são a sociedade e o Meio Ambiente. Os problemas atuais nas grandes metrópoles como a escassez de áreas para deposição de entulhos e os elevados recursos gastos na desobstrução de córregos e vias públicas por parte das autoridades municipais, podem ser solucionados com a utilização desses resíduos (ISAIA, 2007).

As empresas ao usarem resíduos reciclados podem: reduzir o consumo de recursos naturais não renováveis, reduzir áreas necessárias para aterro, devido à diminuição do volume de resíduos por causa da reciclagem (YEMAL, TEIXEIRA E NÄÄS, 2011). 53% 22% 9% 5% 5% 4% 2% Concreto e Argamassa Solo e areia Cerâmica vermelha Cerâmica branca Rocha Plásticos Outros

O quadro 25 mostra as usinas as usinas de RCD instaladas até 2008 o Brasil e as suas localidades período de 1991 a novembro 2008.

Quadro 25 – Usinas de reciclagem instaladas no Brasil em novembro 2008

Cidade Estado Propriedade Instalação Cap. (t/h) Situação

São Paulo SP Prefeitura 1991 100 Desativada

Londrina PR Prefeitura 1993 20 Desativada

B. Horizonte (Estoril) MG Prefeitura 1994 30 Operando

B. Horizonte (Pampulha) MG Prefeitura 1996 20 Operando

R. Preto SP Prefeitura 1996 30 Operando

Piracicaba SP Autarquia/Emdhab 1996 15 Operando

São José dos Campos SP Prefeitura 1997 30 Desativada

Muriaé MG Prefeitura 1997 8 Desativada

São Paulo SP ATT Base 1998 15 Desativada

Macaé RJ Prefeitura 1998 8 Desativada

São Sebastião DF Adm. Regional 1999 5 Desativada

Socorro SP Irmãos Preto 2000 3 Operando

Guarulhos SP Prefeitura/Proguaru 2000 15 Operando

Vinhedo SP Prefeitura 2000 15 Operando

Brasília DF Caenge 2001 30 Operando

Fortaleza CE Usifort 2002 60 Operando

Ribeirão Pires SP Prefeitura 2003 15 Desativada

Ciríado RS Prefeitura 2003 15 Desativada

São Gonçalo RJ Prefeitura 2004 35 Paralisada

Jundiaí SP SMR 2004 20 Operando

Campinas SP Prefeitura 2004 79 Operando

São Bernardo do Campo SP Urbem 2005 50 Operando

São Bernardo do Campo SP Ecoforte 2005 70 Desativada

São José do Rio Preto SP Prefeitura 2005 30 Operando

São Carlos SP Prefeitura/Prohab 2005 20 Operando

Belo Horizonte (BR040) MG Prefeitura 2006 40 Operando

Ponta Grossa PR P. Grossa Amb. 2006 20 Operando

Taboão da Serra SP Estação Ecologia 2006 20 Operando

João Pessoa PB Prefeitura/Emlur 2007 25 Operando

Caraguatatuba SP JC 2007 15 Operando

Colombo PR Soliforte 2007 40 Operando

Limeira SP RL Reciclagem 2007 35 Operando

Americana SP Cemara 2007 25 Operando

Piracicaba SP Autarquia/Semae 2007 20 Operando

Santa Maria RS GR2 2007 15 Operando

Osasco SP Inst. Nova Agora 2007 25 Instalando

Rio das Ostras RJ Prefeitura 2007 20 Instalando

Brasília DF CAENGE 2008 30 Operando

Londrina PR Kurica Ambiental 2008 40 Operando

São Luís MA Limpel 2008 40 Operando

São José dos Campos SP RCC Ambiental 2008 70 Operando

Paulínia SP Estre Ambiental 2008 100 Operando

Guarulhos SP Henfer 2008 30 Instalando

Barretos SP Prefeitura 2008 25 Instalando

São José dos Campos SP Julix-Enterpa 2008 25 Instalando

Petrolina PE Prefeitura 2008 25 Instalando

Itaquaquecetuba SP Entrec Ambiental 2008 40 Instalando

Depois da publicação do CONAMA Resolução Nº307 e também da gestão publica de Belo Horizonte, que é um exemplo bem sucedido, até 2008 havia 47 usinas de reciclagem, das quais 24 públicas e 23 privadas (51% e 49% respectivamente), onde 10 usinas públicas estão situadas em cidades que possuem plano de gerenciamento e através deste ocorre uma redução dos custos ligados às disposições irregulares que é um fator de estímulo para esses investimentos. Das usinas públicas, somente 15 estão operando (conforme quadro 25), apesar da vantagem econômica da administração pública mediante a redução de gastos com limpeza urbana e a obtenção de agregados reciclados que é 40% (R$21,00 em média) mais baratos que os naturais (R$35,00 em média), existem dificuldades: como mudança ou desinteresse de gestão, na manutenção da usina por falta de pessoal qualificado, demora na obtenção de verbas para aquisição de peças para manutenção. A perspectiva de empresários investirem em usinas privadas é por que representa uma boa alternativa, pois o investimento é baixo e a taxa de retorno é alta (próxima a 4,5%). As avaliações econômicas são de um custo de investimento estimado em R$ 650.000,00 para uma usina com capacidade real de produção de 250 m3/dia, de acordo com o mercado local, ou seja, para as cidades de São Paulo, São Luís, Recife e Curitiba, desde que a usina consiga alcançar sua capacidade máxima de produção e a comercialize os materiais por ela produzidos. (ÂNGULO, CARELI e MIRANDA, 2008).

O gráfico 6 mostra a evolução das usinas de RCD instaladas no Brasil no período de 1991 a 2008.

Gráfico 6 –Caracterização dos resíduos de construção e demolição no município de Salvador Fonte: Ângulo, Careli e Miranda (2008).

Na Pesquisa Setorial publicada pela ABRECON em 2013, mostra que existe no Brasil 310 usinas, das quais 112 usinas responderam ao questionário dessa pesquisa que avaliou o crescimento do número de usinas no período de 2008 a 2013 como pode ser observado no gráfico 7 que mostra o crescimento no setor de reciclagem de RCD a uma taxa de 10,6 usinas por ano. Sendo que este crescimento é impulsionado pela iniciativa privada que tem interesse em investir na reciclagem de RCD, pois 80% dessas usinas são privadas, 10% são públicas, 8% são usinas público-privadas e 2% pertencem a Organizações não Governamentais (ONG), como pode ser observado no gráfico 8. (MIRANDA, 2013).

Gráfico 7 – Levantamento do crescimento usinas de reciclagem de RCD no país Fonte: Miranda (2013).

Gráfico 8 – Levantamento do crescimento usinas de reciclagem de RCD no país Fonte: Miranda (2013).

A distribuição de usinas no Brasil pode ser vista de acordo com o gráfico 9 que mostra uma concentração de usinas no estado de São Paulo devido a maior atividade de Construção Civil que gera maior volume de RCD, e também pelo fato do preço do agregado natural ser mais alto e também por uma maior fiscalização quanto ao destino desses resíduos.

Gráfico 9 – Concentração de usinas por estados brasileiros Fonte: Miranda (2013).

As usinas fixas são a maioria em comparação com as usinas móveis, mas a quantidade de usinas móveis tem crescido nos últimos 5 anos conforme gráfico 10 e a tendência é desse crescimento continuar devido terem flexibilidade de serem transportadas para o local da obra, facilidade de operação, baixa quantidade de mão de obra, oferecem serviço de reciclagem de RCD, não tendo necessidade de receber RCD e de conquistar um mercado para venda dos agregados reciclados.

Gráfico 10 - Percentual de usinas móveis e fixas Fonte: Miranda (2013).

No documento Logística reversa na construção civil (páginas 88-95)