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6.2.5 – Reclamações dos Residentes

A maioria das reclamações dos residentes neste Bairro social prende-se com as más relações de vizinhança, relacionadas com quezílias entre vizinhos devidas a problemas com o pagamento das despesas das partes comuns dos prédios, tais como electricidade e limpeza. Outras são relacionadas com barulhos na vizinhança que impedem o descanso nocturno. Para com os moradores de etnia cigana, as queixas apontam para os barulhos originados por ajuntamentos de grupos, numa casa, para realizar os seus rituais, tais como rezar/orar e proceder a rituais de casamento de filhos, que se estendem durante a noite:

“As vantagens? As vantagens são porque fico, pronto, foi a renda que era mais económica e entretanto, pronto, também não tinha outra opção, que eu não podia estar a pagar uma renda alta, portanto foi isso. As desvantagens… as desvantagens é os vizinhos que temos à nossa volta”(inquirido B).

“Sabe que alguns vizinhos não querem pagar a limpeza do prédio e a luz das escadas” (Inquirido C).

“… não querem pagar o condomínio, que é uma ridicularia de 2€ que serve, apenas, para pagar a luz e os detergentes, porque a limpeza vamo-nos revezando, apesar de alguns não a fazerem na vez que lhes compete” (inquirido E).

“as ciganas juntam-se todas ali naquela casa a rezar, fazem uma barulheira… parece que estão aos gritos e a pregar… é uma ladainha que só ouvindo…” (Inquirido B).

Está prestes a chegar a época de verão, e a maioria dos residentes queixa-se dos ciganos se juntarem na rua, a conversar até de madrugada e impedirem o sossego nocturno, o que afecta os que têm de se levantar para trabalhar ou as crianças que não conseguem ir à escola por não ter dormido devido aos barulhos. Apontam, ainda, as ameaças efectuadas por elementos desta etnia quando são advertidos:

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“você tem de cá vir avisar esta gente, têm de fazer alguma coisa, é musica alta toda a noite… outro dia o cigano casou a filha de doze anos e parecia uma discoteca toda a noite, aquela casa. Não deixam dormir ninguém… como não trabalham… sabe… os outros é que se lixam… e os miúdos nem conseguem levantar-se para ir à escola porque não dormem…” (inquirido E)

“e nem se lhes pode dizer nada, senão ainda ameaçam a gente, sabe… e a gente tem medo deles” (inquirido E) [Os vizinhos a que se refere esta inquilina são de etnia cigana].

São apontadas, ainda ligações directas de água, e de electricidade com ligações directas ao quadro do condomínio que todos os inquilinos do prédio têm de pagar, efectuadas por Ciganos:

“…fazem ligações directas dos contadores, metem alfinetes para não contar água e às vezes até fazem ligações da luz ao quadro do condomínio” (inquirido A).

Os residentes queixam-se de humidades no interior das habitações e alguns lamentam-se relativamente à tipologia da casa que se tornou pequena para o número de elementos do agregado familiar, outros por pretenderem uma mudança de habitação por quezílias com algum vizinho – estas queixas, na maioria são efectuadas por escrito à Câmara.

Em visita a diversas habitações, nota-se um grande gosto e satisfação pela sua casa, apresentando limpeza, e harmonia na decoração interior, salvo dois agregados que apresentam maus tratos dos equipamentos – portas, vidros e persianas partidos, soalho danificado, paredes estragadas e sujas e armários da cozinha danificados. Há, destas duas habitações, inclusivamente, queixas de maus cheiros por parte dos vizinhos:

“…um pouco chato é derivado a certas pessoas que cá moram não terem certos cuidados, aaa… a nível principalmente da higiene e…” (inquirido A);

“…A limpeza já não é igual porque vieram novos inquilinos para cá e já cá têm acontecido uns certos barulhos durante a noite, coisa que não acontecia anteriormente”. (inquirido A) [estes inquilinos a que se refere são de etnia cigana]

“…as desvantagens é que às vezes a gente não gostar de morar com certas pessoas, sei lá, uns mais limpos outros mais sujos” (inquirido C).

Alguns dos moradores reclamam, ainda, da falta de jardins para as crianças brincarem, dos danos do parque infantil que existia, a falta de associações de moradores, a falta de comércio, a falta de telefones público e de locais de lazer:

“…faz falta um parque infantil para as crianças porque aquele que existe já o estragaram todo...” (inquirido E)

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“Sim, aqui fazia falta sim, acho que um minimercado e… haver uma comissão de, de moradores foi o que o meu marido até falava… Sim mas aqui fazia falta era realmente um minimercado e uma boa comissão de moradores” (Inquirido A).

“…Olhe eu acho que por exemplo, faltava aqui um comércio, por exemplo, um minimercado, qualquer “coisinha assim, porque há muitas… pronto às vezes uma pessoa tem que se deslocar lá abaixo e sei lá… (inquirido B)

“…faz aqui falta uma paragem de autocarros, daqueles autocarros pequenos, faz aqui falta umas cabines telefónicas e também não temos…” (inquirido C)

Os moradores que pagam valores de renda mais elevados sente-se revoltados com o facto de os moradores de etnia cigana pagarem apenas uma renda mínima quando apresentam estilos de vida fátuos, ostentam um nível económico superior, vangloriando-se com carros de luxo, aparelhos de alta tecnologia como plasmas/led’s, telemóveis de última geração, tablets, etc. Alguns encomendam as suas refeições em restaurantes de take away. Devido à sua economia informal, muitos conseguem rendimentos superiores a muitos dos habitantes que trabalham e que pagam rendas superiores a 100,00 Euros.

“…eu, aquilo que não gosto é de pagar uma renda mais elevada, que alguns ciganos que têm altos rendimentos e que ainda se gabam de pagar 50 Euros” (inquirido A).

“…Há aí muito boa gente a pagar uma renda barata porque não declara os seus rendimentos, nós, temos que pagar tudo e não podemos fugir a nada, é o que faz ser sério demais… (Inquido A)

Esta situação, porém, verifica-se mais no Bairro Social da Freguesia da Boidobra, que alguns indivíduos de etnia cigana do Bairro do Cabeço, designam como “ciganos ricos”. Existem famílias de etnia cigana, no Bairro do Cabeço, que pagam uma renda superior a 100€, mas, nestes casos, por terem mais de 2 pessoas com pensões por reforma e invalidez no agregado.

Os candidatos de etnia cigana queixam-se, frequentemente de haver muitos “ciganos juntos” e de preferirem morar longe dos outros elementos de sua etnia para evitar quezílias que possam trazer outras populações, para o Bairro, também da mesma etnia mas de grupos diferentes. Alguns candidatos a habitação de etnia cigana, chegam mesmo a declarar: “queremos uma casa longe dos ciganos”.

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