Capítulo II – Metodologia de Investigação
2. Recolha de dados
A observação é uma técnica fulcral no processo de investigação qualitativa, que nos permite estudar os comportamentos não-verbais. Por conseguinte, a observação é um meio indispensável para entender e interpretar a realidade social.
Citando Carmo e Ferreira (1998):
(…) observar é selecionar informação pertinente, através do órgãos sensoriais e com recurso à teoria e à metodologia científica, a fim de poder descrever, interpretar e agir sobre a realidade em questão. (p.97)
Serrano (1994) afirma que a principal vantagem da observação consiste em o observador conseguir dedicar toda a sua atenção ao mesmo tempo que os fenómenos ocorrem. A observação pode ser externa, ou seja, não participante, ou pode ser interna, ou seja, participante. Sendo esta última à qual recorremos durante todo este processo de investigação.
De acordo com os autores acima referidos (idem):
(…) o investigador deverá assumir explicitamente o seu papel de estudioso junto da população observada, combinando-o com outros papéis sociais cujo posicionamento lhe permita um bom posto de observação. Como o desempenho desses papéis o faz de algum modo participar da vida da população observada, dá-se a esta técnica o nome de observação participante. (p. 107) Referenciamos ainda Fortin (2003) que afirma que a observação participante:
(…) visa descrever os componentes de uma dada situação social (pessoas, lugares,
acontecimentos, etc.) a fim de extrair tipologias desta, ou ainda permitir identificar o sentido da situação social por meio da observação participante. (p. 241).
De acordo com Taylor & Bogdan (citado por Martins, 1996), há duas fases importantes quando se manifesta a intenção de observar:
1ª fase: selecção de cenários (relação imediata e negociada com os observadores, recolha de dados); acesso/autorização às organizações e cenários públicos ou semi-públicos, explicação dos procedimentos/interesse da investigação aos observadores (veracidade das intenções, regras: éticas,…); e recolha de dados (notas, registos, conversas). Alerta-se nas investigações encobertas os graves problemas éticos de situação, referidas por Humphreys ou Eriksom, citados por Adler & Adler (1994), e os benefícios sociais práticos da investigação.
2ª fase: observação no campo (os estados observacionais são como um funil): relações abertas com os observadores; negociações do próprio “role” do investigador (Adler & Adler, 1994). (p.25).
Consideramos, assim, esta observação dinâmica e envolvente, a qual vai evoluindo de uma fase mais descritiva para uma observação mais focalizada em que nos focamos em determinadas situações e/ou acontecimentos.
2.2. Notas de campo
As notas de campo permitem que o observador registe os dados que vai recolhendo no desenrolar da sua investigação, sendo que não só redige os pormenores daquilo que observa como também as próprias reflexões pessoais.
Máximo-Esteves (2008) menciona que as notas de campo podem anotar-se no momento em que acontecem e/ou no momento após a ocorrência. Assim, as notas de campo são bastante úteis quanto ao armazenamento e recuperação da informação, uma vez que não é possível recordar todas as informações captadas.
Para além da sua função de recolha de dados, auxilia-nos também a criá-los e a analisá-los permitindo-nos uma melhor orientação da investigação.
As notas de campo têm como vantagens garantir que a informação obtida não se perde e encontra-se sempre disponível. Outro benefício é que o investigador, posteriormente, pode sempre consultar as notas e refletir sobre elas.
2.3. Debate
O debate permite que os sujeitos respondam a questões de natureza explicativa e não tencionamos controlar os fenómenos. O nosso objetivo é obter um produto final com características interpretativas das situações apresentadas pela amostra.
As gravações de áudio e vídeo são as mais utilizadas para registo desta atividade. A organização do espaço é um ponto a ter em conta, no nosso caso, os sujeitos dispuseram-se em semicircular.
Aires (2011) afirma que o investigador/coordenador do debate deve ter a capacidade de gerir a dinâmica de grupos:
O diálogo com o grupo deve iniciar-se com uma breve explicação dos objectivos da pesquisa e do âmbito da discussão, e com a justificação da necessidade do registo em áudio e vídeo. Depois do momento inicial competirá ao grupo configurar o seu próprio discurso, e ao coordenador reajustar sistematicamente as suas estratégias em função da dinâmica do debate. O coordenador vai gerindo essa dinâmica devolvendo sistematicamente a palavra ao grupo e evitando situações de teorização excessiva. Uma vez iniciada a discussão pretende-se que as falas individuais se integrem no espaço de convergência do próprio grupo e que nesse mesmo espaço o discurso social disseminado se revele. Ao coordenador compete sobretudo manter a
discussão, evitar que esta enverede por caminhos alheios à investigação e orientá-la para o aprofundamento da temática em estudo.” (p.41)
2.4. Registo fotográfico e áudio
O registo fotográfico possibilitou-nos registar e captar vários pormenores referentes aos alunos e às diferentes atividades desenvolvidas com os mesmos. Além disso, é possível capturar imagens que nos permitem futuramente analisar atitudes, expressões, emoções, participação, etc., nas diversas situações e entre os sujeitos observados. Já o registo áudio permitiu-nos uma análise mais profunda e uma melhor avaliação das sessões desenvolvidas, podendo retirar conclusões importantes ou complementar o estudo.
Foi fundamental o papel que o meu par pedagógico desempenhou nesta fase tão importante, uma vez que ficou responsável de todo o registo fotográfico e áudio.
2.5. Registo gráfico (desenhos)
Ao longo de todo o estudo, recolhemos vários registos produzidos pelos alunos, nomeadamente, desenhos. A nosso ver, os registos produzidos pelos alunos são indispensáveis, pois permitem-nos recolher informação bastante relevante para a investigação.
Numa próxima fase, será realizada a descrição detalhada das várias atividades desenvolvidas ao longo da investigação e iremos apresentar alguns desses registos gráficos, podendo assim retirar determinadas conclusões pertinentes para o estudo.
De acordo com Esteves (2008):
A análise de artefactos produzidos pelas crianças é indispensável quando o foco da investigação se centra na aprendizagem dos alunos. O corpus da análise é constituído pelos produtos elaborados por cada criança e previamente arquivados nos denominados portfólios. Esta é, também, uma prática comum dos bons professores, interessados na avaliação do sentido e do ritmo da aprendizagem dos seus alunos, pelo que não requer um treino especial, salvo o conhecimento de alguns cuidados a ter, enquanto técnica de investigação (p.92). No presente estudo, usámos como registo gráfico os desenhos, todos realizados pelos participantes desta investigação.