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Observa-se que a ocorrência de subnotificação da hepatite C pode ser atribuída, dentre outros fatores à falta de diagnóstico precoce, visto que muitos dos casos são diagnosticados já na fase crônica e avançada da doença, quando então o tratamento não é mais eficaz e os portadores não tiveram a oportunidade de romper a cadeia de transmissão.

A maioria dos casos não são notificados devido ao procedimento complexo da ficha de notificação sendo que, apesar de ser obrigatório por lei, praticamente não são realizadas notificações, não havendo qualquer controle ou fiscalização a esse respeito. Existe a pré-concepção de que para o médico ou para outro profissional de saúde preencher uma ficha de notificação é sempre muito complicado, optando-se então por um preenchimento superficial e incompleto. Este descaso ocorre tanto no preenchimento das informações quanto no uso posterior dos dados.

Diante dos resultados desse estudo, recomenda-se a utilização da Carga de Doença como um indicador de saúde, juntamente com outros indicadores, para o planejamento de políticas e ações de saúde. O uso deste indicador facilitará o planejamento ao

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apontar para movimentos significativos de variáveis relevantes em programas, projetos ou ações já lançados pelo Ministério da Saúde. Torna-se, assim, instrumento fundamental para subsidiar as propostas de intervenção na realidade, visando a um impacto positivo, assim como ao monitoramento e à avaliação, que são procedimentos necessários na gestão governamental.

Considera-se de suprema importância para Saúde Pública focar a promoção à saúde atendendo principalmente as regiões Meio Oeste, Planalto Norte, Planalto Serrano e Vale do Itajaí onde não houve notificação de óbitos. A subnotificação das causas de óbitos ainda se constitui em um problema que compromete a apresentação de indicadores que dependem da qualidade do preenchimento das fichas de notificação, como a declaração de óbito.

Considera-se de elevada importância para a Saúde Pública de Santa Catarina a atenção à realidade que se mostra no estado a respeito da disseminação da hepatite C, focalizando os indivíduos jovens que se expõem ao risco de transmissão da doença por meio de uso compartilhado de drogas, da prática de tatuagens e colocação de piercings, bem como os indivíduos que realizaram transfusões antes de 1993 façam o exame a fim de detectar possível presença do HCV, conscientizar os portadores para hábitos de vida mais saudáveis tais como evitar o uso do álcool, e conscientizando os portadores em não compartilhar objetos de uso pessoal ou de consumo de drogas e usar preservativos em suas relações sexuais, a fim de quebrar a cadeia de transmissão. Recomenda-se ainda a intensificação de ações de fiscalização e orientação para garantir-se que os materiais utilizados por manicures, odontólogos e tatuadores estejam esterilizados ou sejam descartáveis. Ainda, para melhorar a situação da hepatite C, considera-se de extrema importância a facilitação do acesso ao diagnóstico precoce da doença.

Quanto às fichas de notificação, estas poderiam ser reformuladas a fim de que se registrem somente dados relevantes ao agravo, para que possam ser preenchidas com mais facilidade pelo profissional da saúde, pois essas informações são fundamentais para a melhoria da qualidade dos serviços de saúde. A esse respeito, sugere-se também a inclusão do item “Número da Notificação do Portador” no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas - Hepatite Viral C, assim como a vinculação da liberação do tratamento conforme o número de notificação do portador, entendendo-se que, com estas ações, os dados do SINAN seriam mais precisos.

Espera-se que as informações deste estudo venham a contribuir com a elucidação da situação atual da hepatite C no estado de Santa Catarina e com a conscientização dos

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profissionais dos SUS e de clínicas particulares sobre a importância de atualizar-se, proporcionando à população a melhoria da assistência através da identificação precoce de casos suspeitos que possam ser investigados já na fase inicial da infecção, evitando-se o sofrimento para o indivíduo, sua família e a sociedade. Com estas atitudes cada profissional estará contribuindo com a redução da carga de doença por hepatite C no Brasil e no estado de Santa Catarina.

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7 CONCLUSÕES

A Carga de Doença por hepatite C em Santa Catarina foi estimada em 65.832,52 DALYs, o que gerou uma taxa de 1.075,92 DALYs/100 mil habitantes. O componente de mortalidade precoce foi estimado em 2.600,43 YLLs, gerando uma taxa de 42,50 YLLs/100 mil habitantes. Por seu turno, o componente de incapacidade foi estimado em 63.232,09 YLDs, representando uma taxa de 992,59 YLDs/100 mil habitantes.

Quanto à distribuição por sexo, pouco menos de 53% da Carga de Doença por hepatite C foram atribuídos ao sexo masculino, com uma taxa de 1.140,42 DALYs/100 mil homens contra 1.012,24 DALYs/100 mil mulheres. Cerca de 81% do YLL foram atribuídos aos homens. A distribuição do YLD foi mais equilibrada, com 51,5% para o sexo masculino.

As faixas etárias que apresentou a maior carga foi a de 30 a 44 anos, com 33,3% e taxa de 1.592,85 DALYs/100 mil habitantes. A segunda faixa etária foi a de 45 a 59 anos, com 28,1% e taxa de 1.728,52 DALYs/100 mil habitantes. Esta última faixa etária foi responsável por cerca de 54% do YLL e a faixa etária de 60 a 69 anos por 19,3%. Já as maiores proporções de YLD foram encontradas nas faixas de 30 a 44 anos, com cerca de 34% e 45 a 59 anos, com aproximadamente 27%.

Em relação à distribuição da carga pelas macrorregiões de saúde, o Extremo Oeste foi responsável por cerca de 35% da carga, com uma taxa de 3.007,32 DALYs/100 mil habitantes, seguido pelo Sul com cerca de 17% e taxa de 1.212,22 DALYs/100 mil habitantes. A terceira macrorregião foi a Grande Florianópolis, com cerca de 14% e taxa de 904,12 DALYs/100 mil habitantes. Em relação ao YLL, as macrorregiões com maiores proporções foram a Grande Florianópolis, com 37,1% e o Sul, com 36,6%. Já o YLD apresentou maiores proporções no Extremo Oeste, com 36,2% e no Sul, com 16,2%.

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