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2.4 Modos de reconhecimento da filiação paterna

2.4.1 Reconhecimento voluntário

Reconhecimento voluntário de paternidade é aquele que, na realidade, configura uma confissão voluntária do pai, na qual declara ser seu filho determinada pessoa. Em outras palavras, “o reconhecimento é espontâneo quando alguém, por meio de ato e manifestação solene e válida, declara que determinada pessoa é seu filho” (VENOSA, 2006, p. 305).

No período anterior à Constituição Federal de 1988, os filhos havidos de relações adulterinas ou incestuosas possuíam limitações quanto ao direito de ter sua paternidade reconhecida de forma voluntária. Entretanto o já citado artigo 227, § 6º, da Carta Magna afastou qualquer possibilidade de discriminação no que diz respeito à origem da filiação, ou seja, decorrente do matrimônio ou não.

Com o fim de seguir o intuito igualitário da norma constitucional, a Lei 8560/92, em seu artigo 1º, dispôs sobre a investigação de paternidade dos filhos concebidos fora do casamento, de modo a derrogar os preceitos estabelecidos pelo Código Civil de 1916 e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Dessa forma, a referida lei passou a regular inteiramente a matéria sobre reconhecimento voluntário no ordenamento jurídico brasileiro.

O Código Civil de 2002, no artigo 1609, manteve integralmente a redação do artigo 1º da Lei 8560/92 e corroborou a tese de que filhos havidos ou não de relação matrimonial possuem os mesmos direitos, sem qualquer tipo de discriminação.

Art. 1609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito:

I – por registro do nascimento;

II – por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório; III – por testamento, ainda que incidentalmente manifestado;

IV – por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém. Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes.

As modalidades de reconhecimento do artigo 1609, embora sua utilidade mais frequente seja direcionada para o pai, referem-se tanto à paternidade como à

maternidade. A diferença é que esta última é identificada de forma mais cabal e perceptível, haja vista a evidência e a materialidade da gravidez e do parto. Entretanto, de acordo com Sílvio de Salvo Venosa (2006, p. 306):

[...] pode ocorrer ausência de indicação do nome da mãe no registro nos casos de recém-nascidos abandonados ou expostos, por exemplo. Por essa razão, como regra, o nome da mãe constará do registro. Daí dizer-se que a maternidade é um fato; a paternidade, uma presunção. Nada impede, porém, se houver necessidade, que ocorra o reconhecimento da maternidade, nos mesmos moldes do reconhecimento de paternidade.

Apenas aos pais (ou a só um deles) é conferida a legitimidade para o reconhecimento voluntário, pois se trata de direito personalíssimo. Os sujeitos ativos do reconhecimento espontâneo devem ter plena capacidade ou, nos casos de maiores de dezesseis anos e menores de dezoito, capacidade relativa. Ademais, o reconhecimento denota ato unilateral, uma vez que a simples manifestação de vontade do declarante, por si só, é capaz de gerar efeitos. (VENOSA, 2006, p. 307)

Quanto à necessidade de concordância do sujeito passivo, o filho a ser reconhecido, verifica-se tal possibilidade apenas quando este for maior de idade, conforme o artigo 1614 do Código Civil de 2002. Já no que diz respeito à irrevogabilidade, tal preceito decorre da eficácia retroativa e da constitutividade do ato.

O inciso I do artigo 1609 prevê a modalidade de reconhecimento no registro de nascimento, o qual pode ser feito por ambos os pais, conjuntamente, ou por qualquer um deles. No caso de apenas a maternidade ser declarada e com menção ao nome do pai, a Lei 8560/92 prevê a abertura de um procedimento de averiguação oficiosa para o pretenso pai pronunciar-se no prazo de trinta dias. Se houver silêncio ou oposição, “o juiz pode iniciar diligência sumária, remetendo os autos ao Ministério Público, que terá legitimidade para propor ação investigatória, sem prejuízo da ação por quem tenha legítimo interesse” (VENOSA, 2006, p. 308).

Outra forma de reconhecimento voluntário implementa-se por meio de escritura pública ou escrito particular, conforme dispõe o inciso II do artigo supramencionado. A formalização da paternidade em escritura pública é irretratável, todavia não se exige que esta tenha o fim único de perfilhação, ou seja, o “reconhecimento pode ser incidente em qualquer ato notarial idôneo, como, por exemplo, em uma escritura de

doação. O que se requer é que a declaração seja explícita e inequívoca” (VENOSA, 2006, p. 309). No que toca ao escrito particular, cabe salientar que deve haver um expresso reconhecimento. Este pode ser representado por uma simples declaração, por exemplo, desde que tenha a finalidade precípua de perfilhação.

No que toca à modalidade de reconhecimento por testamento, inciso III, é admitida qualquer uma das formas testamentárias previstas em lei. Além disso, não é imprescindível que o testamento tenha o fim exclusivo de perfilhação, de modo que esse ato de última vontade pode conter outras disposições. (VENOSA, 2006, p. 308)

O inciso IV dispõe sobre o reconhecimento voluntário perante um juiz. A manifestação de paternidade, reduzida a termo, independentemente do procedimento, implica um documento público, haja vista sua natureza. Ademais, equivale á escritura pública, uma vez que realizada diante de quem tem fé pública.

Por fim, não se pode olvidar que o reconhecimento de paternidade, segundo prescreve o parágrafo único, artigo 1609, pode anteceder o nascimento, se o filho já estiver concebido e ocorrer após sua morte, se deixar descendentes. O reconhecimento do filho já concebido encontra fundamento no preceito de que a personalidade começa com o nascimento. No que se refere ao reconhecimento póstumo, cumpre registrar que “redundará em exclusivo benefício para os descendentes reconhecidos” (VENOSA, 2006, p. 307), tendo em vista que o pai não poderá usufruir direito hereditário do filho que foi objeto de reconhecimento póstumo.