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3.2.4 Reconhecimentos e Qualificações adquiridas fora do território nacional

À semelhança do art. 3º, n.º 3 al. a) da Portaria n.º 344/2013, de 27 de novembro, o art. 7º, n.º 6 do Estatuto, atribui competência à DGPJ para reconhecer qualificações profissionais adquiridas fora do território nacional, por cidadãos da União Europeia ou do Espaço Económico Europeu108.

108 Nos termos da Lei n.º 9/2009, de 4 de março, alterada pelas Leis n.ºs 41/2012, de 28 de agosto, 25/2014, de

2 de maio e 26/2017/2017, de 30 de maio, que transpõe para a ordem jurídica interna a Diretiva n.º 2005/36/CE, do Parlamento e do Conselho, de 7 de Setembro, relativa ao reconhecimento das qualificações profissionais.

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Assim, caso os prestadores de serviços reconhecidos noutro Estado-Membro ou em Espaço Económico Europeu cumpram os requisitos do Estatuto do mediador de recuperação de empresas, tendo em conta o art. 7º, n.º 7 do Estatuto e o Decreto-Lei n.º 92/2010, de 26 de julho109, podem exercer a sua atividade em Portugal.

Estando o mediador de recuperação de empresas inscrito na(s) lista(s), este reúne condições para poder ser nomeado e iniciar, nos termos do Estatuto e para os efeitos contidos no RERE, o desempenho das suas funções.

3.3 Procedimento de nomeação

O devedor interessado na intervenção de um mediador de recuperação de empresas, conforme se alcança do art. 14º do Estatuto, deve apresentar requerimento eletrónico junto do IAPMEI110, bem como a informação empresarial simplificada111 dos últimos três anos de modo a que o IAPMEI nomeie no prazo de cinco dias um mediador que conste nas listas oficiais.

Para a nomeação do mediador é apenas atendível o fator geográfico da sede da empresa requerente dos seus serviços, nomeadamente a lista que o IAPMEI irá consultar é a lista que consta do Centro de Apoio Empresarial da área geográfica da sede do requerente.

Dentro de cada lista irá o IAPMEI, regra geral, efetuar de forma sequencial a nomeação do mediador, voltando este a ser nomeado quando todos os anteriores hajam sido nomeados. Caso o mediador recuse a nomeação sem que tenha motivo de escusa (art. 13º, n.º 3 do Estatuto), para efeitos de nomeação, conta como se tivesse sido nomeado, isto é, pese embora não seja nomeado para aquela mediação de recuperação de empresas, a ordem da lista para efeitos de nomeação sequencial não é alterada, tendo o mediador que solicitou escusa, sem motivo legal, de aguardar que todos os mediadores sejam nomeados de forma a receber a sua próxima nomeação.

O IAPMEI pode, no entanto, não seguir a ordem sequencial da lista aplicável à zona geográfica da sede da empresa se, em função dos elementos do requerimento apresentado

109 Que estabelece os princípios e as regras para simplificar o livre acesso e exercício das atividades de serviços

realizadas em território nacional.

110 Ao momento, talvez por ainda não estarem reunidas as condições, não se encontra ainda disponível online

o formulário.

111 Criada pelo Decreto-Lei n.º 8/2007, de 17 de janeiro, a IES “consiste na prestação da informação de natureza

fiscal, contabilística e estatística respeitante ao cumprimento das obrigações legais através de uma declaração única transmitida por via eletrónica”.

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pelo devedor, se constatar: 1) que a empresa é de grande dimensão; 2) que tem relações de domínio ou de grupo com outras empresas que igualmente solicitaram a nomeação de mediador; 3) que o processo compreenda um número elevado de credores; 4) ou que a respetiva atividade ou estrutura do passivo é de especial complexidade112.

Nestes casos, o IAPMEI, sem prejuízo do art. 5º, n.º 4, pode designar um mediador que considere ter a experiência adequada, de entre aqueles que se seguem na ordem da lista, mas não necessariamente aquele que se segue imediatamente. Concordamos com o legislador, devendo ser designado um mediador específico para situações que se mostrem de especial complexidade. No entanto, o legislador não distingue, em termos de designação, o mediador que seguiu a ordem corrente da lista, do mediador que foi especificamente escolhido para o caso concreto.

Deste modo, somos da opinião que o mediador ao qual lhe foi atribuído o procedimento de mediação de forma sequencial, deveria ser designado de “mediador distribuído”, enquanto que o mediador especificamente escolhido deveria ser apontado como “mediador designado”, sendo a nomeação de qualquer um destes efetuada por “distribuição” ou “designação”.

Se existe uma diferenciação nos processos de especial complexidade, os mediadores de recuperação de empresas, consoante a sua forma de nomeação, deveriam, salvo melhor opinião, assumir a sua forma de nomeação. Tal, apesar de ter pouca relevância prática, fomentava a transparência para com as partes envolvidas na mediação, deixando-as mais tranquilizadas quanto às competências específicas do mediador para o caso concreto que o IAPMEI considerou de especial complexidade.

Segundo o n.º 2 do art. 13º do Estatuto, os mediadores só devem aceitar as nomeações efetuadas pelo IAPMEI caso disponham do tempo e dos meios necessários para o efetivo acompanhamento dos processos que são nomeados.

Consideramos que este dever de “consciencialização” atribuído ao mediador pelo legislador possa trazer algumas questões que são difíceis de articular. Se por um lado o mediador tem o dever de não aceitar nomeações se não dispuser do tempo e meios para o acompanhamento,

112 As normas legais constantes no art. 14º, n.º4 e n.º 6 do Estatuto, incorpora o constante no art. 26º, n.º 1 e n.º

3 da Diretiva relativa aos quadros jurídicos em matéria de reestruturação preventiva, considerando a mesma que os Estados-Membros devem assegurar um processo de nomeação previsível e imparcial sendo que nos casos de especial complexidade, podem, com base em critérios de escolha transparentes e claros, considerar a experiência e competência do profissional em causa.

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por outro lado, no momento de renovação da inscrição do mediador nas listas oficiais, o número de recusas é tido em conta para efeitos de apreciação pelo IAPMEI.

As nossas reticências em relação a este dever prendem-se com a possibilidade de o mediador aceitar um processo em que foi nomeado quando não dispõe do tempo necessário, por receio de não ver renovada a sua inscrição. Não obstante, este dever de consciencialização que recai sobre o mediador, consideramos que se coaduna com uma tentativa do legislador em obter a entrega ao processo por parte do mediador.

3.4 Impedimentos, incompatibilidades e suspensão da atividade

As incompatibilidades, impedimentos e suspeições, consagrados no art. 4º do Estatuto,

visam acautelar o conflito de interesses, bem como a transparência e imparcialidade do mediador, respeitando assim os princípios transversais à mediação e específicos da mediação de recuperação de empresas.