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5- CONCEPÇÕES SOBRE MÚSICA

5.1. Reconstrução de concepções sobre música

Durante o estudo, observou-se que entre os entrevistados havia alunos que ao serem perguntados sobre a sua concepção sobre música citaram com maior ênfase a mudança que esta sofreu do que propriamente a sua concepção em si. Ainda sobre este grupo, alguns dos entrevistados mencionaram que o ato de estar no SCM foi fundamental para que eles reconstruíssem suas concepções sobre música, pois entraram em contato com “muito mais do que imaginavam” (AM. Entrevista em 29/11/05).

Outro ponto comum foi que todos apresentaram esta mudança como uma ampliação do ângulo de visão em relação ao que possuíam antes do ingresso no Seminário. Nenhum dos alunos mencionou esta modificação como negativa. Entre os alunos deste grupo, três dos cinco entrevistados apresentaram o interesse na sua continuidade de estudos após a conclusão de seu curso no Seminário.

Os alunos reconheceram como algo valoroso o desenvolvimento da capacidade de compreender e vivenciar música como uma dentre as várias atividades humanas ligadas ao Ministério. Eles a reconhecem como uma dimensão fundamental da cultura, algo que permeia sua vida, tanto no Seminário quanto no Ministério de Música em suas igrejas, seja tocando um instrumento, cantando, ou regendo, assistindo a apresentações musicais, comparando e ouvindo CDs, discos, fitas, rádio, Internet, televisão ou em outros ambientes (Mellers; Martin, 1988; Martin, 1995).

Essa modificação estava fortemente ligada ao contato que os alunos desenvolviam com os professores do curso em suas cadeiras específicas e com os outros alunos, principalmente os que estavam em períodos mais adiantados do curso. Nas entrevistas que apresentaram a idéia de mudança ou reconstrução das concepções musicais dos alunos, estas concentraram- se em relatos dos alunos entre o sexto e oitavo períodos. Pois esses discentes haviam passado por mais da metade do curso e absorvido novos conceitos, técnicas e habilidades modificando suas concepções.

O aluno TI. cursava o oitavo período do SCM. Ele relata retrospectivamente que a sua concepção sobre música se tornou mais ampla. Antes de ingressar no SCM TI., estudava em um outro Seminário em Belo Horizonte, se transferindo para o SCM, por isso ele menciona o período de cinco e não quatro anos como referência temporal do seu estudo no Seminário

.

TI. É... ela é [música], na minha concepção hoje é bem mais ampla do que... É, obviamente, que há cinco anos atrás quando eu comecei a estudar a teoria geral da música. É... a minha concepção é que a música ela não é apenas a... é... algo auditivo. Não é. Mas ela mexe com o ser humano por completo. (Entrevista em 30/11/05)

O contato com o conhecimento técnico foi um diferencial para a CH. Ela afirma que sua concepção sobre música se modificou em relação à que possuía antes do ingresso no SCM. A aluna passou a valorizar mais o trabalho de desenvolvimento musical por conhecê-lo mais intimamente.

CH. Bom antes eu conhecia música de chegar e cantar, não sabia que tinha técnica, como de, hum, não sabia que tinha... como era composta a música. E hoje, realmente eu vejo diferente, eu vejo que música não é só, a gente vê, pronto. Tem todo um trabalho a ser desenvolvido e é muito difícil. (Entrevista em 29/11/05)

A aluna DJ. também destaca a mudança em sua concepção sobre música. Pelo seu relato pode-se perceber que para ela, o curso no SCM funcionou ampliador do seu horizonte de sentido com relação à música. A aluna DJ. foi uma das alunas durante o

estudo que afirmou que iria continuar seus estudos de música após o término do seu estudo no Seminário.

DJ. É, o que eu penso... Quando eu cheguei aqui, o que eu pensava de música não tem nada haver com o que eu penso hoje. [risos] Mas... é muito mais amplo do que eu imaginava. Tem muito, muita coisa assim que, que precisa ser aprendida ainda. Que precisa ser estudada trabalhada. (Entrevista em 30/11/05)

Em sua entrevista, a aluna RB. aponta três pontos que tratam da sua concepção sobre música. No primeiro, destaca a mudança em relação à que possuía em sua chegada ao Seminário. No segundo, menciona que ainda não possui uma concepção consolidada, portanto, ainda em reconstrução. Por último, uma postura de prazer estético com relação à música.

RB. É difícil responder, mas eu acho que eu tenho um pensamento completamente diferente do que eu tinha antes. É... não sei dizer ao certo qual é minha concepção de música mas eu sei que música é bom 'pra caramba'! [risos] (Entrevista em 29/11/05)

AM. destaca o seu passado como integrante de um coral e a diferença entre a sua concepção naquele instante e posteriormente cursando o SCM.

AM. A música para mim hoje é muito mais do que eu imaginava. Muito mais que eu imaginava, a música para mim... Hoje eu tenho um, uma amplitude que eu não tinha antes. Hoje eu vejo a música não só para aprender a cantar em coral. Não só vejo a música, aprendi sentir a música também. (Entrevista em 29/11/05)

Do apresentado, conclui-se que os alunos modificaram sua concepção sobre música em relação à concepção anterior, quando ainda não haviam ingressado no Seminário de música. Em suas entrevistas, há a sugestão de uma reconstrução das suas concepções em um novo contexto reconhecido pelos próprios entrevistados como mais amplo que o anterior. Há também um aumento no valor pessoal dado aos alunos à música em seus depoimentos. O contato com as diferentes técnicas, estilos, linguagens e formas do fazer musical contribuíram para este quadro.