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RECONSTRUINDO O LUGAR SOCIAL: A EXPOSIÇÃO NA ESCOLA

CAPÍTULO III – ECOS DAS VOZES DOS ACTORES SOCIAIS

1. RECONSTRUINDO O LUGAR SOCIAL: A EXPOSIÇÃO NA ESCOLA

Numa das sessões de escuta, perante o desafio que colocámos, a quinze dias de entrarem em estágio – ainda é possível fazer alguma coisa para ajudar a resolver os vossos problemas e

tornar melhor a experiência da escola? - foi lançada a ideia de fazer uma exposição com o

objectivo de

“Ver a nossa maneira de trabalhar…e ver a maneira do curso funcionar, ver aquilo

que aprendemos o ano todo (…) para as turmas de todos os anos ir lá ver como é que funciona os computadores, como é que se faz” (Wilson,A1,T5).

A ideia nasceu durante a quarta sessão de GDF, no dia 8 de Maio. O grupo aí presente expôs a proposta à restante turma e ao professor de DRAEI/DT e a exposição tornou-se o objectivo dos últimos dias de aulas, tendo decorrido entre 27 e 29 de Maio, na sala de aula da turma. Para os rapazes, esta seria uma forma de obter valorização por parte da comunidade escolar, contrariando o rótulo de burros que sentem existir.

Adaptamos a ferramenta MAPs28 a uma perspectiva de futuro curta e reflectiu-se sobre “o sonho” (a exposição), “o pesadelo” (a obtenção de autorizações, apoio dos professores e os materiais necessários), “as potencialidades” e o “plano de acção”. No item “Dotes, potencialidades e talentos”, registámos as várias tarefas a cumprir atendendo às disponibilidades e potencialidades mostradas pelos rapazes: fazer a planta do espaço, pesquisas na internet, pedidos de autorização, alterar e pintar computadores, fazer a divulgação da exposição (através de cartazes), nomear “guias” da exposição. Estabeleceram-se prioridades e definiu-se um cronograma. Acompanhámos a sessão com registos dinâmicos num painel de papel de cenário que permaneceu afixado no quadro até à abertura da exposição (A2,NC7). As sessões seguintes foram dedicadas à concretização da exposição.

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A ferramenta MAPs – Making Action Plans “é um processo de planejamento de acção cooperativa”, um instrumento que se baseia “na esperança, no futuro e supõe (…) que todos beneficiam de estar juntos e que a diversidade é uma das nossas potencialidades fundamentais”. (Stainback e Stainback, 2008: 88-96)

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Integraram a exposição os seguintes conteúdos:

História dos computadores – Mostra de exemplares de equipamentos informáticos antigos, com

textos sobre a sua história, pesquisados pelos alunos.

Componentes – Exposição de componentes informáticos com as respectivas legendas.

Jogos em rede – Equipamentos ligados em rede permitiram que quatro visitantes jogassem, em

simultâneo.

Tunning (Computadores “quitados”) – Computadores transformados, com introdução de néones, recorte na chapa exterior e pintura.

Espaço de projecção – Um pequeno auditório improvisado permitiu visualizar uma apresentação

com fotografias e um vídeo mostrando a preparação da exposição e o processo de pintura de um dos computadores tunning.

Livro de honra – Junto à saída da sala, para recolha das impressões dos visitantes

Perante os objectivos de mudança e desenvolvimento pessoal e social inerentes à ES, esta actividade não nos pareceu amplamente significativa, uma vez que foi uma acção isolada e com consequências restritas para a problemática em causa neste projecto. No entanto, considerando que Núñez e Massaneda (in Petrus,1994:113) referem que, em situações de intervenção no âmbito da ES, “Se trata de partir de una ideia (“proyecto”) para incorporar saberes y experiencias nuevos que ayuden a realizarla”, a exposição permitiu uma motivação para aprendizagens que eram necessárias à sua concretização, nomeadamente, a pesquisa sobre a história dos computadores, o aprofundamento de técnicas e conhecimento de componentes informáticos que permitiram a transformação dos velhos computadores da sala de aula nos criativos computadores “tunning”. Nesta perspectiva, cremos que a actividade proporcionou um exercício educativo dentro dos objectivos curriculares do curso, provavelmente com maior eficácia do que outras estratégias implementadas pelos professores.

Efectivamente, a observação participante permitiu comprovar uma mudança nas aulas, inaugurando um ambiente de trabalho por um objectivo comum, reconhecido, aliás, pelo professor: “O Ruben não costuma trabalhar e agora anda aí todo entusiasmado”, acrescentando que “eles gostam é disto” (A2,NC9). O “quitar” computadores foi, para uma parte do grupo, a concretização de uma estratégia que teriam gostado de ver aplicada ao longo do ano e constituiu- se como um factor de motivação assinalável. Os alunos presentes na sessão na UA manifestaram, publicamente, que a exposição tinha permitido mudar a forma como decorriam as aulas (A2,NC15), no entanto, achamos que o entusiasmo não foi sentido por todos os alunos. O professor de DRAEI lamentou a falta de organização dos alunos e o aumento de trabalho que tal representou para os docentes (A2,NC10). Numa das sessões, perante o alheamento de alguns alunos, sentimos necessidade de reunir a turma e avaliar a continuidade da actividade, demarcando-nos da obrigatoriedade de a executar e salientando que a exposição só faria sentido, se lhes fizesse sentido. O grupo quis prosseguir, afirmando que a desistência daria razão àqueles que os chamam de “burros” (A2,NC13). O nosso papel foi, ao longo da actividade o de tentar

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cruzar recursos de forma a viabilizá-la uma vez que, para o grupo, era a oportunidade de concretizar uma ideia sua, afirmando-se como agentes da própria mudança, ainda que num âmbito limitado.

O Livro de Honra constituiu-se, para os sujeitos, um instrumento de avaliação do seu trabalho. Exibiam orgulhosamente as mensagens positivas e notámos que riscaram duas mensagens desrespeitosas. Pensamos que a exposição permitiu visibilidade e afirmação de valor junto dos professores e, particularmente, das raparigas, cujas mensagens lhes mereciam especial atenção e a quem tinham orgulho de proporcionar visitas guiadas à exposição. Os rapazes ouviram elogios dos seus professores, embora manifestassem a decepção por os docentes das disciplinas práticas directamente implicados na preparação da exposição, não lhes terem reconhecido o mérito29, tendo, inclusivamente, afirmado que a exposição era deles e não dos alunos.