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Recuperação da empresa em juízo

Para que a recuperação judicial possa ser concedida a uma determinada empresa, é necessário preencher os requisitos legais e não estar impedida. Ressalta-se que não é fácil preencher todos os requisitos e procedimentos exigidos pela Lei de Recuperação Judicial e Falência. Ou seja, não será toda e qualquer empresa que conseguirá obter o benefício dado pela Lei n. 11.101/2005. A ausência de fraude e o próprio procedimento de aprovação do plano de recuperação judicial constituem requisitos para a ausência da sucessão trabalhista na recuperação judicial.

O artigo 48 da Lei n. 11.101/2005 traz várias exigências legais afim de que o devedor possa requerer a recuperação judicial. O devedor tem que estar no ramo há mais de dois anos de forma regular, não pode ser falido e nem ter sido condenado por crime falimentar. E, no caso da recuperação judicial, não ter, há menos de cinco anos, obtido concessão de recuperação judicial (contados a partir da concessão).

Há credores e proprietários de bens que não se sujeitam ao plano de recuperação judicial, conforme o artigo 49, § 3º da LF. É um benefício, pois essas pessoas devem ser pagas imediatamente. Ressalta-se que o artigo 49, § 4º da LF, remete o operador do direito ao artigo 86, II, da LF decorrente de adiantamento de contrato de câmbio para exportação, também não se sujeitará aos efeitos da recuperação judicial.

O artigo 50 da LF enumera alguns meios que podem ser usados como recuperação judicial, enquanto o artigo 51da LF trata dos requisitos da petição inicial, dentre eles, a

explicação do devedor sobre qual é a crise da empresa e a apresentação de todos os documentos exigidos nesse item.

Se o juiz indeferir, o processamento da recuperação judicial será convolado em falência. Essa decisão deverá ser analisada em conjunto com o artigo 6º da LF, pois, caso seja deferida a recuperação, ocorrerá a suspensão das ações em andamento por 180 dias, com exceção das ações tributárias (o credor tributário não se sujeita a recuperação), reclamações trabalhistas e obrigações ilíquidas. O que é suspenso são as execuções.

O devedor terá o prazo de 60 dias da publicação que deferir o processamento da recuperação para apresentar sua proposta (artigo 53 da LF), que deverá conter:

I- discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados [...]; II- demonstração de sua viabilidade econômica; e, III – laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada.

Tais exigências mostram que a concessão do plano é fundada em requisitos objetivos, e há necessidade de estudo de viabilidade de mercado para a continuação dos negócios.

Para que ocorra a concessão do plano, há alguns limites impostos no artigo 54 da LF, que não poderá prever prazo superior a um ano para pagamento de qualquer crédito trabalhista. O parágrafo único determina que:

[...] o plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dias para o pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários- mínimos por trabalhador, dos créditos de natureza estritamente salarial vencidos nos três meses anteriores ao pedido de recuperação judicial.

Poderá haver impugnação de qualquer credor que discordar do plano nos termos do artigo 55 da LF. Caso ocorra objeção, o juiz convocará a assembleia-geral para deliberar sobre o plano (artigo 56 da LF). O modo de deliberação pela assembleia-geral de credores é regido nos termos dos artigos 41 e 45 da LF.

O plano de recuperação judicial poderá sofrer alterações na assembleia-geral, desde que haja expressa concordância do devedor e em termos que não impliquem diminuição dos direitos exclusivamente dos credores ausentes (artigo 56, § 3º da LF).

Após a distribuição do pedido de recuperação judicial, o devedor não poderá alienar ou onerar bens ou direitos de seu ativo permanente, salvo evidente utilidade reconhecida pelo juiz, depois de ouvido o comitê, com exceção daqueles previamente relacionados no plano de recuperação judicial (artigo 66 da LF).

11.101/2005 para a concessão de um plano de recuperação judicial foi com o intuito de se provar que não é qualquer empresa que facilmente conseguirá sua aprovação. O procedimento de aprovação do plano de recuperação judicial imposto pela Lei n. 11.101/2005 pode ser considerado como um requisito para a ausência da sucessão trabalhista na recuperação judicial. A destinação do dinheiro arrecadado com a venda do estabelecimento na recuperação judicial é previamente especificada (com a anuência dos credores) e homologada pelo juiz.

A quantia arrecadada terá uma destinação previamente estipulada e não será, como muitos autores mencionam, ao livre dispor do empresário. Realmente, a lei não estabelece uma ordem para essa destinação como o fez no caso da falência, entretanto, na recuperação, é o plano judicial que estipulará qual será a ordem de credores a ser obedecida. Ressalta-se, conforme já mencionado, que, para que ocorra a aprovação do plano, há a participação direta dos interessados e regras a serem seguidas.

Caso haja a venda de estabelecimento judicial ou unidade produtiva, um novo contrato de trabalho será firmado entre o novo empregador e os empregados que por ventura sejam contratados. É, por isso (dentre outros argumentos já mencionados), que não se pode dizer que há sucessão trabalhista na recuperação judicial.

No plano judicial pactuado entre as partes, pode até mesmo ocorrer a possibilidade de a recuperanda assumir o passivo trabalhista. Tudo dependerá do interesse dos credores e, consequentemente, da deliberação na assembleia-geral. Não se pode esquecer que, se o plano de recuperação for rejeitado pela assembléia-geral de credores, o juiz decretará a falência (artigo 56, § 4º da LF), o que com certeza não trará nenhum benefício para os credores.

Nas palavras de Gontijo (2004)64:

A empresa hoje é um bem que urge ser tutelada como atividade geradora de riquezas, na medida em que, a partir dela, se implementam empregos e se auxilia na diminuição da criminalidade, melhora-se tecnologicamente o País, recolhem-se tributos e auxilia-se o Estado, etc.

Assim, por todos os argumentos expostos, defende-se, neste estudo, a tese de que não há sucessão do arrematante nas obrigações trabalhistas do devedor, bem como as decorrentes de acidente do trabalho.

3 Conclusões

A presente pesquisa teve como objetivo realizar um estudo mais detido da Lei n. 11.101/2005, quanto à sucessão na alienação dos bens da sociedade em recuperação judicial, bem como estudar a sucessão trabalhista na recuperação judicial, sob a ótica do Direito do Trabalho e da preservação da sociedade.

Foram abordados os institutos jurídicos da transformação, incorporação, fusão e cisão, do Direito Empresarial, que estão em conformidade com a Lei de Falências e Recuperação Judicial, cujo principal objetivo é propiciar condições às empresas em dificuldades de permanecerem ativas, competitivas e produtivas no mercado.

Alguns institutos do Direito Civil e seus pontos de contato com a sucessão trabalhista foram aqui tratados.

A legislação deixa dúvidas quanto à sucessão trabalhista na alienação de bens ou estabelecimentos da sociedade em recuperação judicial. A questão foi tratada sob as diversas formas de interpretação (gramatical ou literal, lógica-sistemática, histórica, teleológica, legislativa, jurisprudencial, doutrinal e administrativa), mas, por enquanto, a tendência é de que não haja sucessão trabalhista.

Apesar de a lei não ser clara, sustenta-se, aqui, que não haverá sucessão do arrematante em relação às dívidas trabalhistas. Caso houvesse limitação de uma determinada obrigação, a lei deveria ser expressa nesse sentido. Acrescenta-se, também, que a forma de quitação referente aos créditos trabalhistas será objeto de discussão no plano de recuperação judicial. A destinação do dinheiro arrecadado com a venda do estabelecimento na recuperação judicial tem destinação previamente especificada, com a devida anuência dos credores e sempre homologada pelo juiz.

Convém reiterar que o único caso em toda a Lei de Falências e Recuperação Judicial em que a intimação pessoal do Ministério Público é obrigatória, sob pena de nulidade expressamente cominada em lei, é o ato de alienação do ativo do devedor falido (artigo 142, § 7º, da LF) e, na recuperação judicial. Com isso, o legislador externa que “elegeu” o Ministério Público como o fiscal da regularidade na alienação do ativo; cabe a ele evitar ilícitos nessa venda.

TAMG, Belo Horizonte, v. 94, p. 17-36, jan./mar. 2004. p. 30.

A venda judicial tem como principal objetivo a obtenção de recursos para que o devedor possa cumprir suas obrigações e continuar exercendo suas atividades. Se o arrematante herdar os débitos do devedor, o objeto da alienação terá o seu preço depreciado e, consequentemente, deixará de ser atrativo para o comprador, podendo o devedor ser obrigado a cessar suas atividades, o que irá prejudicar toda a coletividade.

Frisa-se que a lei explicitou que não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária (art. 60, p. único da Lei n. 11.101/2005), pois os créditos tributários não se submetem ao processo de recuperação.

O Direito Empresarial possui princípios basilares que o regem, sendo o seu principal foco o empresário. Assim, suas atividades empresariais são incentivadas e protegidas por meio de suas normas.

Por fim, é inevitável mencionar que, atualmente, qualquer atividade empresarial está conectada à função social. O administrador de uma empresa deverá dar aos negócios destinação compatível com o interesse da coletividade. Nesse sentido, ressalta-se que os interesses da recuperação judicial não estão adstritos aos devedores e credores e sim, a um âmbito de maior amplitude, a sociedade como um todo.

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