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4.5 Análise do Desempenho dos Empreendimentos de Catadores de Materiais Recicláveis

4.5.3 Análise da Dimensão Ambiental

4.5.3.2 Recuperação de Materiais Recicláveis do Tipo Papel/Papelão

Dentre os materiais recolhidos, o papel é o de maior comercialização (77%). Contudo, o valor comercial por quilo de papel varia entre R$ 0,15 e 0,40 (papel misto e papel branco, respectivamente), caracterizando-se como material de menor relação preço/kg. A média mensal da quantidade de papel recuperada para comercialização é de 51,08 toneladas e aproximadamente 613 toneladas anuais. Comumente, são entregues aos catadores de materiais recicláveis misturados a outros resíduos e sujos, o que restringe a venda e diminui o valor do material no mercado.

O papel/papelão tem o atrativo comercial pelos empreendimentos para sua comercialização, uma vez que constitui material de maior interesse no mercado da reciclagem local pelas empresas aparistas, apesar do baixo preço. Além disso, a produção de papel ocorre praticamente em todas as áreas da sociedade, conferindo maior demanda.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas- ABNT, por meio da Norma Brasileira Regulamentadora – NBR 15483 classifica as aparas de papel e papelão ondulado de acordo com a sua origem em 31 categorias. Resumidamente, as aparas de papel podem ser divididas em quatro grupos básicos: aparas marrons (papéis de embalagens), aparas brancas (papéis destinados a impressão e escrita), aparas de cartão (embalagens de remédios, pastas de dentes)

e aparas mistas (embalagens de difícil separação) (ABNT, 2009). Os empreendimentos, por sua vez, classificam o papel em três categorias: branco, misto e papelão (Tabela 15).

Tabela 65. Quantidade recuperada de papel/papelão pelos Empreendimentos de Catadores de Materiais Recicláveis. Período de 2018 a 2019. Tipo Característica Recolhimento (média/mês/t) Percentual (%) Papel branco Material de escritório, cadernos,

apostilas e livros.

8,7 17

Papel misto Revistas, folhetos de propagandas, e demais papéis coloridos.

14,7 29

Papelão Caixas de eletrodomésticos, embalagens em geral.

27,68 54

Total 51,08 100

Fonte: Da dos coleta dos pela a utora .

A maior parcela recolhida é de papelão (54%), originado de embalagens em geral, seguido de papel misto (29%), revistas e papéis coloridos e papel branco (17%), de material de escritório, apostilas e livros.

De acordo com o relatório 2018-2019 elaborado pela Associação Nacional de Aparistas de Papel – ANAP, em 2018 foram produzidas 10,6 milhões de toneladas de papel no Brasil. Outro fator importante que atrai a coleta do papel/papelão é o seu ciclo de reciclagem que pode ocorrer diversas vezes, exceto aquele destinado para fins sanitários que não pode ser reciclado, tendo apenas um ciclo de vida (ANAP, 2018). A variação de preços no mercado da reciclagem, frequentemente, impossibilita os empreendimentos a comercializarem o papel. Desta forma, foram observados montantes desses materiais, que se acumulam nos galpões, aguardando o aumento do preço, fato que impacta negativamente a renda desses trabalhadores. Periodicamente, esta situação também afeta a venda de outros materiais, como embalagens Tetra Park, latas de leite e garrafas de vidro.

O reaproveitamento do papel na indústria d a reciclagem é resultante do processamento da matéria prima que envolve diferentes etapas- trituração, separação das fibras de celulose, centrifugação e branqueamento, que possibilita a obtenção de uma pasta que sofrerá o processo de refino. O processo de branqueamento do papel que antes utilizava organoclorados tem sido substituído pelo branqueamento a partir do ozônio, sulfito, ou peróxido de hidrogênio, a fim de reduzir a quantidade de rejeitos gerados.

As indústrias que atuam no ramo da reciclagem de papel utilizam diferentes tipos de aparas que possuem em sua composição cargas e aditivos como: cola, caulim, sulfato de

alumínio, amido e anilinas, adesivos e látex, além da presença de pigmentos que interferem no branqueamento do papel (SCHNEIDER; MÜHLEN, 2011). Em razão disso, na cadeia pós consumo, o processo de separação cautelosa de resíduos sólidos do tipo papel, é frequentemente exigido pelos aparistas de papel que comercializam o material.

Conforme destaca a ANAP (2018) 66,6% de todo papel possível de ser reciclado, consumido no país, foram efetivamente recolhidos, preparado, classificado e entregue à indústria recicladora brasileira, no ano de 2017.

Desta forma, o Brasil pode ser considerado excepcional na reciclagem de papel, considerando a prioridade de destinação ambientalmente adequada proposta pela PNRS. A taxa de recuperação do papel no Brasil é promissora, comparada a países que utilizam como principal mecanismo de recuperação a incineração, como Alemanha, Suécia, França, Estocolmo e Japão. Vale destacar que o Brasil é o maior produtor de celulose fibra curta branqueada de mercado do mundo e o deste produto vem aumentando na indústria de papéis de fins sanitários (ANAP, 2018).

Há dificuldade de mensurar o custo da produção primária para o setor de celulose, considerando a diversidade de seus produtos intermediários, a variedade de empresas e a ausência de um órgão que centralize essas informações. Estima-se, no entanto, a valoração dos benefícios líquidos da reciclagem de celulose em (R$/t) 330,00 (IPEA, 2010). Utilizando-se desta estimativa, a quantidade de materiais recicláveis do tipo papel recolhida pelos ECMR estudados, no período de um ano, aponta que foram economizados R$ 7.700,00 com a recuperação da celulose.

Os benefícios ambientais associados à reciclagem do papel incluem a redução da extração da biomassa, de áreas de monocultura com plantação de espécies exóticas, consequentemente evita a baixa fertilidade do solo pelo desgaste e empobrecimento nut ricional, comuns em áreas degradadas pelo monocultivismo. Desta forma, a existência de florestas com espécies florestais nativas garante a proteção da biodiversidade, caso contrário, poderia acarretar um significativo desequilíbrio ambiental na cadeia alimentar.

Considerando os impactos negativos da supressão da vegetação nativa para produção agrária do monocultivismo, identifica-se que o desequilíbrio da cadeia alimentar pode ocasionar o aumento da população de espécies endêmicas e, consequentemente o aparecimento de doenças epidémicas no ser humano, cujo organismo ainda não está preparado para 157ombate- lo, ou mesmo em outros animais, em ambos os casos, a saúde humana será afetada.

Destarte, estas questões tem sido atualmente colocadas em pauta nas discussões de modo sério, devido à complexidade das relações antrópicas com o meio ambiente, uma vez que

a humanidade perpassa por um intenso desequilíbrio ambiental, econômico e social, em decorrência do surgimento da covid -19.

Vale ressaltar que em todos os processos industriais há dependência d e utilização de água e energia, e todas as formas de geração de energia acarretam algum tipo de dano ambiental. Embora, a matriz elétrica brasileira seja, predominantemente, advinda de hidrelétricas, gerando energia hidráulica, como fonte de “energia limpa” e renovável, porquanto não provoca emissão de gases de efeito estufa (GEE), outros aspectos ambientais podem ser potencialmente afetados nos ecossistemas, com a instalação de hidrelétricas, destacando-se: inundações, perca de biodiversidade, devido ao represamento dos rios, emigrações e impactos sociais. Desta forma, promover o manejo dos recursos naturais de forma consciente e coerente com a capacidade suporte de cada ecossistema, torna-se a alternativa mais viável para conservação dos sistemas ambientais.

A recuperação do papel, por meio da reciclagem propicia a exploração dos recursos naturais de forma sustentável, e seus reflexos recaem sobre a conservação da mata ciliar e dos recursos hídricos, os quais garantem de forma direta e indireta a saúde ambiental e humana. Ademais, o desenvolvimento com prudência ambiental.