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DENOMINAÇÕES DA CRISE ECONÔMICA MuNDIAL NO

2.2 A recuperação da doença econômica

De maneira análoga a um ser humano que tem sua saúde afetada, a crise econômica tem de ser tratada como um ser doente, que necessita de cuidados e de um tratamento médico. Recebe remédios e até mesmo antídotos para ser curada:

O problema, diz Katainen, não é somente a crise da dívida, mas um déficit de competitividade de parte da Europa. "Uma das ra- zões dessa crise é o grande desnível de competitividade entre os países. O remédio é muito simples: é preciso elevar a competiti- vidade." Para isso, a Finlândia apoio a receita alemã: equilibrar o orçamento (com corte de gastos e alta de impostos), realizar reformas estruturais e recuperar, assim, a confiança dos merca- dos. "Isso pode atingir a população no curto prazo, mas, se um país perdeu a credibilidade, ele precisa recuperá-la." </VE_17/02/2012_0_INT_SACCOMANDI_HUMBERTO>

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IEDA MARIA ALVES

Outra medida - inexorável, se a crise for profunda como alguns preveem -, mas ainda não admitida pelo governo, será deixar de aplicar a nova regra de reajuste do salário-mínimo, ainda não sancionada como lei. Afinal, se o mínimo continuar a ter aumen- tos reais - acima da inflação -, o impacto da Previdência, já es- truturalmente deficitária, agravará ainda mais o quadro fiscal. A economia brasileira, tem razão o presidente Lula, conta com for- tes antídotos para conseguir padecer menos numa crise mundial que já é histórica. Mas sucumbirá se as finanças públicas não forem administradas como devem. </OG_17/10/2008_06_OPI>

A recuperação das diferentes vítimas da crise econômica – indiví- duos, agências financeiras, países – implica o recebimento de socorro por parte de diferentes atores. Programas e operações de socorro ou de salvamento são acionados para o cumprimento dessa finalidade:

Mas a França confirmou que o presidente Nicolas Sarkozy será o anfitrião de uma cúpula, amanhã, para discutir a crise finan- ceira global, com Alemanha, Grã-Bretanha e Itália. Também devem participar o presidente da Comissão Européia, José Ma- nuel Durão Barroso, Trichet e Juncker. Falava-se que a França - que convocou a reunião - defendia um socorro de 300 bilhões (US$418 bilhões), o que foi desmentido por Sarkozy. <OG_03/10/2008_34_ECO_PASSOS JOS+ MEIRELLES> No caso do sistema bancário americano, a decisão foi deixar um dos grandes quebrar para que os demais procurassem se enquadrar nas boas práticas. Não deu certo, apenas acelerou a debacle. Ainda se discute se Washington soube salvaguardar o uso do dinheiro do contribuinte na operação de salvamento de bancos privados. O res- gate foi o menor dos males. <OG_12/02/2010_6_OPI_>

Como última etapa desse percurso em que a crise econômica é re- presentada como um ser doente, o termo recuperação, assim como sua correspondente forma verbal recuperar representam o final dessa doença da economia e dos mercados e o início do retorno a uma si- tuação de normalidade:

Em meio à relativa recuperação do sistema financeiro dos EUA, várias das dezenas de bancos que receberam injeções de capital estatal no final do ano passado estão anunciando que pretendem

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devolver o dinheiro ao Tesouro dos EUA - e, com isso, liberta- rem-se de uma série de restrições impostas, como tetos para o pagamento de seus principais executivos. O secretário do Te- souro dos EUA, Timothy Geithner, afirmou ontem que não pre- tende se opor a essa devolução de dinheiro por parte de algumas instituições. Mas frisou que os bancos devem avaliar antes se têm condições de voltar a emprestar a seus clientes. </FSP_13/03/2009_MER_ FERNANDO CANZIAN>

Brasil se recupera mais rápido da crise do que EUA e Europa. O Brasil foi o país que menos sentiu os efeitos da crise em relação aos Estados Unidos e à Europa e também é o que está em pro- cesso de recuperação mais acelerado. É o que se constata ao com- parar os índices de confiança da indústria do Brasil com os dos Estados Unidos e da Europa. O termômetro usado para a com- paração no Brasil foi do índice de confiança da indústria calcu- lado pela Fundação Getulio Vargas. /.../ A conclusão é que a economia mundial está sofrendo mais que a do Brasil. <FSP_01/05/2009_MER_GUILHERME BARROS>

Com a demanda internacional em geral ainda frouxa, reflexo de problemas e incertezas que travam importantes países desenvolvidos e limitam a recuperação da economia global, a maior parte das princi- pais commodities agrícolas comercializadas pelo Brasil no exterior en- cerrou fevereiro com preços médios mais baixos que os de janeiro, /.../ Apesar da aceleração do crescimento de países emergentes como a China no mercado, desde setembro de 2008, quando a quebra do banco americano Lehman Brothers realçou os contornos de uma crise finan- ceira mundial até então subestimada, esses produtos passaram a de- pender mais de choques de oferta do que de consumo para ganhar valor, e esse axioma mais uma vez mostrou sua força no mês passado. <VE_01/03/2013_EMP_Fernanda Pressinott, Mariana Caetano, Fer- nando Lopes>

3 Considerações finais

Este estudo sobre as metáforas empregadas por jornalistas em jor- nais brasileiros, ainda que breve, possibilitou-nos observar que, nos

veículos analisados, os jornalistas não raro recorrem a metáforas da área médica para, por meio delas, explicarem os fatos econômicos, nem sempre compreendidos pelos falantes não especializados na área eco- nômica. Tais metáforas, ao aproximarem os leitores de uma área mais presente na vida dos cidadãos, como a Medicina, possibilitam-lhes compreender melhor os fatos econômicos e reiteram o caráter didático, comumente presente nos usos metafóricos. Gutiérrez Rodilla (2004, p. 25), médica e estudiosa da terminologia da Medicina, ressalta que o emprego de metáforas é frequentemente observado na área médica, pois, “o médico, como todos os cientistas, sempre construiu com base em metáforas muitas de suas explicações”. Para ela, a explicitação de fatos científicos já representa, costumeiramente, uma metáfora.

No entanto, ao lado da função didática e, portanto, também mediadora da metáfora, ressaltamos ainda sua função ideológica. Não raro, como salienta Silva (2013, p. 3), o emprego de uma metáfora pode determinar, a um leitor, sua forma de pensar ou de agir. Assim, um mesmo fato pode ser denominado crise, colapso ou síncope, segundo as intenções e os efeitos desejados: “A natureza automática e incons- ciente destas metáforas leva a que a opinião pública nem sequer se dê conta de que está a organizar o seu pensamento com base em ideias criadas por outros.” (Silva, 2013, p. 33).

O rico material jornalístico que recolhemos e estudamos revela ainda inúmeras possibilidades de análise. Outros resultados serão apre- sentados no DiCEM, o Dicionário da crise econômica mundial que, sob forma de base dados, será disponibilizado on-line após sua finalização.

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III.

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