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Recurso Extraordinário 641.320 e possível prognóstico da decisão do STF

4. ANÁLISE SOBRE A POSSIBILIDADE DE SE DETERMINAR O CUMPRIMENTO

4.2 Recurso Extraordinário 641.320 e possível prognóstico da decisão do STF

A controvérsia sobre a concessão de prisão domiciliar fora das hipóteses expressamente previstas no artigo 117 da LEP chegou ao Supremo Tribunal Federal, por meio do Recurso Extraordinário n° 641.320, no qual o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul pleiteia a reforma da decisão do Tribunal de Justiça do mesmo Estado que determinou que o recorrido, condenado em regime semiaberto, cumpra a pena privativa de liberdade em prisão domiciliar enquanto inexistente vaga em estabelecimento prisional que atenda aos requisitos previstos na Lei de Execução Penal.

O Ministro Gilmar Mendes, relator do processo, diante da importância do tema para a sociedade brasileira, reconheceu a existência da repercussão geral do referido recurso extraordinário, apresentando os seguintes argumentos:

[…] No caso, a controvérsia cinge-se a determinar se os preceitos constitucionais invocados autorizam o cumprimento de pena em regime carcerário menos gravoso, diante da impossibilidade de o Estado fornecer vagas para o cumprimento no regime originalmente estabelecido na condenação penal. Trata-se de discussão que alcança, certamente, grande número de interessados, sendo necessária a manifestação desta Corte para a pacificação da matéria. Verifica-se, ademais, que na jurisprudência desta Corte encontram-se posicionamentos divergentes sobre o assunto […] Portanto revela-se tema com manifesta relevância social e jurídica, que ultrapassa os interesses subjetivos da causa. Nesse sentido, entendo configurada a repercussão geral da matéria constitucional. (BRASIL. STF, RE 641320 RG, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, julgado em 16/06/2011)

Vê-se, portanto, a grande necessidade que o Supremo Tribunal Federal tem em resolver tal impasse. Os autos do RE 641.320 encontram-se conclusos ao relator Ministro Gilmar Mendes desde 14/02/2014, não havendo previsão de quando o processo será julgado.

No aludido processo, o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul alega que a concessão de prisão domiciliar fora das hipóteses previstas no artigo 117 da LEP feriria os princípios da legalidade e individualização da pena. Além disso, o fato de o Estado gaúcho não possuir meios orçamentários para instituir estabelecimento prisional destinado ao implemento do regime semiaberto não autorizaria, por si só, a concessão do benefício da prisão domiciliar fora das hipóteses previstas em lei. Por fim, sustenta que, apesar da precariedade do sistema prisional brasileiro, o interesse individual não prevaleceria sobre o público, devendo o apenado cumprir a punição nos termos em que foi imposta, sob pena de se

configurar a impunidade do condenado.

Na tentativa de fazer um prognóstico da decisão do STF no RE 641.320/RS, os argumentos apresentados pelo Parquet estadual do Rio Grande do Sul serão confrontados, nos parágrafos seguintes, com as teses defensivas já explanadas no presente capítulo pertencentes à doutrina e à jurisprudência dos tribunais superiores.

A argumentação de que o princípio da legalidade seria violado quando a prisão domiciliar fosse concedida fora das hipóteses previstas em lei não há de ser acatada pela Suprema Corte, até porque o STF já adotou a posição de que o rol do artigo 117 da Lei de Execução Penal não é exaustivo, não havendo, portanto, nenhum ferimento à lei.

Não merece prosperar, ainda, a alegação de que a concessão de prisão domiciliar violaria o princípio da individualização da pena. Segundo Silva e Silva Neto (2012, p. 65) individualizar a pena é “dar a cada condenado as oportunidades e meios necessários para que venha a se reintegrar à sociedade, levando em consideração sua personalidade, suas aptidões e habilidades.”, ora, se tal princípio busca auxiliar cada sentenciado a se ressocializar da melhor maneira possível, conforme as suas características pessoais, a concessão de prisão domiciliar se revela bem mais positiva à reintegração do apenado à sociedade do que mantê-lo injustamente em regime mais gravoso que o permitido.

Também não se pode querer que o interesse público se sobrepuja ao interesse do preso por meio de uma injustiça. A LEP proibiu o excesso de execução justamente para valorizar o direito individual do apenado, portanto não se pode admitir a proteção do interesse público se isso significar a violação de direitos individuais.

O único argumento apresentado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul que é consonante com o entendimento jurisprudencial dos tribunais superiores é o de que a precariedade do sistema prisional brasileiro não autorizaria, por si só, a concessão da prisão domiciliar. De fato, a Corte constitucional deve adotar posicionamento parecido com o já utilizado pelo STJ segundo, além da precariedade do sistema prisional, faz-se necessária a ocorrência de um constrangimento ilegal para que tal benefício seja concedido.

Diante do que tem sido demonstrado em julgados anteriores de casos semelhantes, há grandes chances de que o Supremo Tribunal Federal adote uma posição garantista e permita a prisão domiciliar como forma de cumprimento da pena privativa de liberdade ante a omissão estatal em fornecer vagas em estabelecimentos penais adequados. Prova que reforça isso é o Ministro Gilmar Mendes, relator do RE 641.320/RS, ter proferido voto, em 10/05/2011, no HC 100.695/SP, consignando que “o réu não pode arcar com a ineficiência do Estado, que – por falta de aparelhamento – imputa-lhe regime mais gravoso que o cominado

no título judicial.”

Por conseguinte, se o Estado é omisso em não fornecer estabelecimentos penais adequados ao cumprimento da pena privativa de liberdade, o preso não pode, em virtude disso, ser prejudicado.

Cabe ao juiz encontrar a solução para a resolução desse impasse, sendo a prisão domiciliar a melhor alternativa para que se evite dois possíveis extremos: a total impunidade do réu, que aconteceria caso ele ficasse em total liberdade; ou a inflição de um constrangimento ilegal, que ocorreria na hipótese do preso ficar em regime mais gravoso que o definido em sentença.

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