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Capítulo I – A Gestão Pública da Assistência Social

1.5. Recursos Humanos

A assistência social tem como força de lei a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único da Assistência Social – NOB-RH/SUAS, como parte estruturante para realizar a gestão do trabalho, desta área, na gestão pública e privada.

A NOB-RH/SUAS “representa um avanço no que diz respeito à profissionalização da política de assistência social, com vistas a garantir aos usuários do Sistema Único de Assistência Social serviços públicos de qualidade” (FERREIRA, 2011, p. 13), visando trabalhadores com funções específicas e necessárias para compor o quadro de referência de recursos humanos, que deram conta de implantar o SUAS no Brasil, e terão de dar conta de aperfeiçoá-lo.

Também compõe o SUAS o quadro de RH dos serviços18 conveniados da rede socioassistencial, que deve se alinhar aos princípios normativos da NOB- RH/SUAS.

No município de São Paulo, os serviços conveniados, diferentemente dos serviços diretos, tem capacidade de atendimento pré-definida, e conseguem manter o número de funcionários do serviço compatível com a capacidade de atendimento, apesar deste número não ser compatível com a demanda regional por atendimento, ou em situações internas do serviço, que demandem desdobramentos de atendimento especializado como acompanhamento e visita domiciliar sistemática.

Os serviços conveniados de Proteção Social Básica: Centros de Criança e Adolescente (CCA) e Centros de Juventude (CJ) não exigem o profissional Assistente Social para compor o quadro de RH. Entendemos ser essencial a inserção de Assistentes Sociais nestes serviços conveniados. Seguramente, o conhecimento específico do Serviço Social nestes serviços contribuiria para aprofundar o conhecimento das relações sociais que permeiam a realidade dos usuários destes serviços, abrangendo seus familiares. Pois, compreender a realidade cotidiana dos indivíduos, constitui atribuição objetiva do trabalho do Assistente Social, podendo contribuir no desvelamento das reais necessidades trazidas pelos usuários, que, aos olhos menos atentos, podem-se ocultar na

18 Portaria Municipal 46/SMADS/2010, específica da capital paulista, elaborada para atender a

Resolução Nacional N° 109/2009 do CNAS que define a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais.

dinâmica da execução do serviço, ou nas prioridades executadas pela instituição, mesmo esta sendo conveniada e sem fins lucrativos.

As exigências da Norma Técnica/2012 para realização de visita domiciliar e outras funções sistematizadas de aproximações sucessivas com os sujeitos, nos serviços que não tem, na tipificação, Assistentes Sociais, podem causar estranhamento e pouco êxito por determinadas categorias profissionais que não tem como foco as expressões da questão social, o que não ocorre com profissionais formados em Serviço Social. Associando-se ao conhecimento possibilitado pela relação e discussão com outras áreas do saber e profissionais.

O mesmo não ocorre nos serviços públicos diretos da SMADS/PMSP, majoritariamente atuantes com Assistentes Sociais, carecendo de outras áreas do saber, como a pedagogia e a psicologia. Especificamente nas unidades estatais CRAS e CREAS, reiteramos que os profissionais tentam cumprir as atribuições e metas obrigatórias com dinamismo, embora com um número insuficiente de profissionais e incompatível com o estabelecido na NOB-RH.

O princípio da interdisciplinaridade:

Fundamenta-se no esforço para superar a visão fragmentada do conhecimento. O enfoque interdisciplinar é adotado como processo de trabalho no âmbito do SUAS, a partir da compreensão de que o principal objeto de ação da política de assistência social – as vulnerabilidades e riscos sociais – não são fatos homogêneos e simples, mas complexos e multifacetados, que exigem respostas

diversificadas por meio de ações contextualizadas e para as quais

concorrem contribuições construídas coletivamente e não apenas

por intermédio do envolvimento individualizado de técnicos com diferentes formações. (BRASIL, 2011, p. 17-18, grifo nosso).

É sabido que a metrópole de São Paulo está aquém no número19 de CRAS necessários para referenciar as famílias e sistematizar os atendimentos, para que estes atendimentos não sejam pontuais.

O que se tem no cotidiano dos CRAS e CREAS é a luta dos poucos profissionais concursados para que não se amplie a precariedade do “tipo” de

19 A PNAS e a NOB-SUAS 2012 definem a necessidade de implantação de 01 CRAS para cada 5000

famílias referenciadas nos municípios de Médio, Grande, Metrópole e DF. Para município de pequeno porte I até 2500 famílias referenciadas implantação de 01 CRAS, de pequeno porte II até 3500 famílias referenciadas implantação de 01 CRAS. Na capital paulista diferente do SUAS definem-se os CRAS com abrangência de atuação distrital, ou atuantes em vários distritos. Os CRAS não abrangem a totalidade da demanda de famílias residentes nos distritos da capital paulista.

atendimento ofertado, e a tentativa de consolidar sem recursos humanos suficientes os serviços de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) e o Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI), dentre outras funções internas que aparecem no cotidiano do trabalho como requisição de resolutividade para tentativa de aprimorar as ações e serviços de Proteção Social.

Nos últimos cincos anos, a PMSP publicou Editais para contratação de profissionais para as Secretarias, e precisamente em 2008, para compor parte do quadro de profissionais do SUAS, foi publicado Edital para contratação de Assistentes Sociais com a função de Especialista em Assistência e Desenvolvimento Social20. Foram convocadas (os), de 2008 a 2011, para exercício efetivo, 371 Assistentes Sociais21.

Naquele momento, a presença de mais profissionais especializados para realizar a gestão do SUAS representava qualificação do trabalho, para consolidar a implementação dos serviços inerentes às unidades estatais.

Cresceu a implantação de unidades estatais com prédios próprios, desvencilhando-se do uso do espaço público das subprefeituras, dividindo as equipes de trabalho que estavam ali lotadas para compor os novos CRAS e CREAS. Concomitante à contratação deste corpo técnico, não se deu a dos demais profissionais que integram a Política de RH-SUAS, para atingir a “sonhada” interdisciplinaridade, dando margem para outros questionamentos. Torna-se uma expectativa a vinda de outros profissionais até fins de 2014.

20 O penúltimo concurso público para contratação em regime efetivo de Assistentes Sociais se deu

em 1988.

21 Nomeação de Assistentes Sociais nas Secretarias Municipais: em 10/2008 para SMS os

classificados 1° ao 234°; em 23/10/2008 para SMADS os classificados 235° ao 321°; em 04/11/2008 para SMTRAB os classificados 322° ao 333°; em 09/12/2008 para SMTRAB os classificados 334° a 336°; em 03/02/2009 para SMS os classificados 337° ao 392; em 11/02/2009 para SMADS os classificados 393° ao 413°; em 28/04/2009 para SMADS os classificados 414° ao 418°; em 05/05/2009 para SMS os classificados 419° ao 426; em 03/06/2009 para SMADS o classificado 427°; em 23/06/2009 para Secretaria de Participação e Parceria os classificados 428° ao 435°; em 27/08/2009 para a Secretaria Municipal de Participação e Parceria os classificados 436° e 437°; em 17/11/2009 para SMADS os classificados 438° ao 602°; em 25/11/2009 para a SEHAB os classificados 603 ao 627°; em 19/01/2010 para SMADS os classificados 628° ao 677°; em 22/01/2010 para SEHAB os classificados 678° ao 681°; em 11/05/2010 para SMADS os classificados 682° ao 705°; em 13/04/2010 para SMADS os classificados 706° ao 714°; em 12/05/2010 para SMADS os classificados 715° ao 719°; em 02/06/2010 para SEHAB os classificados 720° e 721°; em 15/06/2010 para SMADS os classificados 722° a 725; os classificados 726 e 727 em 23/06/2010 para SMS, o classificado 728° para SMADS em 28/07/2010; o classificado 729° para SMS em 29/07/2010; em 31/08/2010 os classificados 730 a 732 para SMS, para SMADS os classificados 733° ao 734 em 06/10/2010, em 04/11/2010 para SMADS o classificado 735°, e a última convocação foi a 736° classificação para a SMADS em 13/04/2011 D.O. p. 47.

E mantém-se a busca pelos profissionais que compõem os CRAS e CREAS por respostas para qualificar os atendimentos, que demandariam ações de mais e outros profissionais.

Com a falta de outras categorias profissionais nos CRAS e CREAS, questiona-se: quando serão as contratações, via abertura de concurso público, de advogados, psicólogos, pedagogos para compor os CREAS e os CRAS? Quando serão as contratações, via concurso público, de AGPP – Agentes de Gestão de Políticas Públicas, de outras funções administrativas e de mais Assistentes Sociais22? Dentre outros questionamentos que emergem do enfrentamento cotidiano de trabalhar com a insuficiência de recursos humanos. Buscando-se capacitações e qualificações para realizar os atendimentos, para atingir satisfatoriamente a realização de supervisão técnica dos serviços socioassistenciais, que demandam ações de mais e outros profissionais.

Frisemos que o fim da convocação de Assistentes Sociais do último concurso, não acompanhou o “boom” de implantação das unidades estatais, que demandam corpo técnico e administrativo, inclusive Assistentes Sociais. Embora não tenhamos o levantamento quantitativo, é sabido que as várias dimensões que compreendem as condições de trabalho na Assistência Social nos CRAS e CREAS levam alguns profissionais a se afastar por problemas afetos à saúde (estresse, depressão), bem como outros fatores que contribuíram para a saída, nos últimos anos, e após o concurso de 2008, de servidores públicos que se exoneraram da SMADS/PMSP, em busca de valorização salarial e por melhores condições de trabalho, agravando a defasagem do quadro de recursos humanos.

“o concurso público, é uma necessidade urgente, urgentíssima. Pra cobrir uma defasagem, não falo nem em ampliação de serviços que estão dentro, só é mais pra defasagem das pessoas que estão indo embora e deixando seus serviços na mesa. Então hoje a gente tem

22 A SMADS/PMSP comunicou previsão de abertura de concurso público para provimento de cargos

de Especialista em Assistência e Desenvolvimento Social- Serviço Social, no D.O 01/02/2014 p. 43, abrindo também inscrição para processo de remoção de Assistentes Sociais entre as unidades. Contudo a realização do concurso não foi efetivada, e no mesmo ano (08/07/2014) foi comunicada no D.O abertura de inscrições de 80 profissionais formados em Serviço Social para contração por tempo determinado, por 12 meses, para atuarem na SMADS, cujo resultado da seleção saiu em 19/07/2014 no D.O pg. 53-57.

uma defasagem concreta, e fora à ampliação dos serviços que deveriam ter ampliação de RH também.” (Entrevista 4)

“a gente está esperando ter um o concurso no próximo semestre, no próximo semestre não, no primeiro semestre do ano que vem, agora vão ter umas contratações que eu não sei como é que vão funcionar, mesmo assim, as pessoas que vão ser contratadas, até elas pegarem realmente todo o esquema, né, como eu falei a prefeitura não te recepciona, então vai continuar pra mim o mesmo processo.” (Entrevista 5)

“a supervisão técnica de serviço é muito desgastante emocionalmente, tecnicamente ...” (Entrevista 8)