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Capítulo 1 – Potencial estratégico marítimo nacional

1.2 O Mar como fonte de recursos

1.2.1 Recursos minerais

Os recursos minerais do fundo do mar contribuem de forma significativa para a economia global sendo uma importante fonte de matérias-primas para os setores relacionados com atividades de transformação e construção, para a produção de energia para uso industrial e doméstico, e fertilizantes para a agricultura (ISA, 2004).

É sabido que a exploração e utilização destes recursos minerais não é pouca nem recente na história mundial. A areia e o cascalho são dragados do fundo do mar em todo o mundo, o petróleo e o gás são intensamente explorados no mar há várias décadas, o estanho tem uma produção considerável no offshore do Sudeste Asiático, o ouro é extraído do mar de forma intermitente e os diamantes são explorados ao largo da Namíbia e da África do Sul constantemente. O que não é totalmente conhecido é que, potencialmente, existem tantos recursos minerais no solo e subsolo marinhos, por unidade de volume, quantos existem na superfície terrestre emersa (ISA, 2004).

Entre os minerais que mais interesse têm despertado encontramos as crostas e nódulos polimetálicos, os sulfuretos polimetálicos e as crostas ricas em cobalto (J. Silva, 2012).

1.2.1.1 Nódulos polimetálicos

Na composição destes minerais, podemos encontrar elementos com interesse económico, distribuídos, em média, nas seguintes percentagens: 29% de manganês; 6% de ferro; 5% de silício; 3% de alumínio; 1,4% de níquel; 1,3% de cobre; 0,25% de cobalto; 1,5% de oxigénio; 1,5% de hidrogénio; 1,5% de sódio; 1,5% de cálcio; 0,5% de magnésio; 0,5% de potássio; 0,2% de titânio; e 0,2% de bário (ISA, n.d.).

Destes elementos, o manganês, o cobalto, o níquel e o cobre são os constituintes que têm maior valor económico estratégico, com uma aplicabilidade notável em diversas áreas como é exemplo: o manganês é utilizado no fabrico de ligas metálicas, tintas, baterias, químicos e fertilizantes, sendo ainda fundamental para a produção do aço usado nas blindagens e nos dentes das escavadoras; o cobalto é usado na construção de peças

outros metais; e o cobre é empregue na produção de fios elétricos, moedas, ornamentos e materiais de construção (ISA, 2004). Contudo, para que a sua exploração seja rentável a nível económico, é necessário que exista uma concentração média de pelo menos 15 kg/m2 ao longo de uma área com várias dezenas de quilómetros quadrados (ISA, n.d.).

Em Portugal, nomeadamente, a Su-Sudoeste dos Açores e a Oeste do território de Portugal continental, são conhecidas ocorrências de nódulos polimetálico ricos em cobre e zinco (J. Silva, 2015b).

1.2.1.2 Sulfuretos polimetálicos

Os sulfuretos polimetálicos são outra das riquezas minerais que o fundo do mar encerra, estando a sua origem associada aos campos hidrotermais submarinos.

Atualmente conhecem-se cerca de 300 campos hidrotermais em todo o mundo, que albergam para além dos compostos de minerais, espécies de vida animal até à data desconhecidas (Barriga & Santos, 2010). Alguns destes depósitos contêm grandes concentrações de metais básicos, como cobre, zinco e chumbo, mas também de metais preciosos, especialmente ouro e prata (ISA, 2008b). Para nos deixar com uma ideia das suas potencialidades económicas, nas águas territoriais da Papua – Nova Guiné, existem depósitos com uma concentração média de ouro de 26 g/t, o que é 10 vezes maior que o valor médio de minas de ouro em terra. A sua exploração económica pode ser viável dentre de alguma condições8 (ISA, 2008b).

Em Portugal, foram identificados depósitos de sulfuretos polimetálicos na ZEE do continente, na área compreendida entre a ZEE de Portugal continental e a ZEE dos Açores (dentro da PC estendida reclamada por Portugal), a sul da Ilha de S. Miguel, junto ao Banco D. João de Castro e na Crista Médio-Atlântica. É conhecido que os campos hidrotermais “Lucky Strike” e “Rainbow”, existentes na Crista Médio-Atlântica, contêm recursos metálicos com valor económico elevado9 (J. Silva, 2015b).

8 1) elevada concentração de metais básicos e/ou ouro; 2) localização não muito distante da terra; e 3)

profundidade não acima dos 2000m (ISA, 2008b).

9 O campo hidrotermal “Lucky Strike” deverá conter aproximadamente 1,13% de cobre, 6,73% de zinco,

0,08% de chumbo e 102 g/t de prata enquanto que o “Rainbow” deverá ter na sua composição cerca de 10,92% de cobre, 17,74% de zinco, 0,04 % de chumbo, 40 g/t de ouro e 221 g/t de prata (J. Silva, 2015b).

1.2.1.3 Crostas ricas em cobalto

Outro dos recursos minerais são as crostas ricas em cobalto. Estes depósitos, localizam-se nas encostas e nos cumes dos montes submarinos existentes nas cristas e nos planaltos oceânicos e podem ser encontrados em todos os mares (J. Silva, 2012).

Para além do cobalto, estas crostas assumem-se como uma importante fonte de outros elementos raros, tais como, titânio, cério, níquel, platina, manganês, fósforo, tálio, telúrio, zircónio, tungsténio, bismuto e molibdénio. Nos depósitos mais ricos a percentagem de cobalto pode atingir valores da ordem dos 1,7%, sendo o valor médio cerca de 1%. Ainda assim, estes valores são muito superiores aos verificados em terra, onde a sua percentagem varia entre 0,1 e 0,2%. Relativamente ao valor económico dos metais que podem ser extraídos destas crostas, o mais valioso é o cobalto, logo seguido do titânio, cério, níquel e zircónio respetivamente (ISA, 2008a).

Quanto à aplicabilidade destes elementos, o cobalto, o manganês e o níquel são usados por exemplo na indústria metalúrgica para adicionar algumas propriedades ao metal como a dureza, robustez e resistência á corrosão. Em países industrializados, cerca de metade do consumo de cobalto é dedicado à indústria aeroespacial em superligas. Adicionalmente, estes metais são usados em indústrias de química e tecnologia, em produtos como células fotovoltaicas, sistemas de laser avançados, catalisadores, células de combustível, imãs poderosos e ferramentas de corte (ISA, 2008a).

Em Portugal, foram identificados depósitos no prolongamento do limite Norte da ZEE do continente, na Crista Madeira-Tore, a Norte da Madeira e na Crista Médio- Atlântica, junto ao limite Sudoeste da ZEE dos Açores (J. Silva, 2015b).

Quanto à viabilidade económica de exploração destas crostas, se considerarmos uma área de 1.600 km2 (incluindo a PC estendida reclamada por Portugal), o investimento total seria recuperado ao fim de quatro anos de produção, sendo que a partir desse ano seriam obtidas mais-valias líquidas anuais na ordem dos 300 milhões de euros, o que equivale a metade do rendimento da mina de Neves Corvo, localizada no concelho de Castro Verde, distrito de Beja, uma das maiores minas de cobre do mundo (J. Silva,