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2.1. Recursos, Capacitações e Competências Essenciais

2.1.2. Recursos

“Os analistas tendem a definir os ativos (de uma empresa) de uma forma muita estreita, identificando apenas aqueles que são mensuráveis, como plantas (industriais) e equipamentos. Os ativos intangíveis, como uma tecnologia particular, informações acumuladas sobre os consumidores, marca, reputação e cultura corporativa, são de valor inestimável para o poder competitivo das empresas. Na verdade, esses ativos invisíveis são geralmente as únicas fontes de vantagem competitiva efetiva que podem ser sustentadas ao longo do temp.” (HIROYUKI ITAMI, “Mobilizing Invisible Assets”, apud

GRANT, 2005 p. 130).

De forma geral, a estratégia empresarial está preocupada em fazer com que as empresas conciliem seus recursos e capacitações com as oportunidades que surgem no ambiente externo. O interesse relativamente novo da estratégia de negócios nos recursos e capacitações contrasta com o papel central que a análise de recursos sempre teve na estratégia militar.

Até o colapso da União Soviética, a diplomacia internacional foi pautada pela noção baseada em recursos de ‘balanço de poder’. Os resultados finais da maior parte das principais guerras foram determinados pela superioridade em recursos. O desconforto do Alto Comando Militar Alemão em relação à estratégia militar adotada pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial foi baseado no fato de que este país

não dispunha de recursos suficientes para atuar simultaneamente em diferentes fronts de batalha em países ocidentais, orientais e do norte da África, com atuações no céu e no mar. O historiador militar LIDELL HART argumenta que o princípio fundamental da estratégia militar é ‘a concentração das forças contra as fraquezas’ (GRANT, 2005, p. 132).

De acordo com HOSKISSON et. al. (2004) recursos (resources), capacitações (capabilities) e competências essenciais (core competences) são as características que proporcionam a base para a criação de vantagem competitiva para as empresas.

Na verdade, essas características estão interelacionadas, no sentido de que uma característica depende da outra. Segundo estes autores, os recursos são a fonte das capacitações das empresas. As capacitações são, por sua vez, a fonte das competências essenciais, que são a base das vantagens competitivas.

O conceito de recursos é amplo e cobre um espectro de fatores individuais, sociais e organizacionais. Tipicamente, um recurso isoladamente não é capaz de determinar uma vantagem competitiva, fazendo-se necessária uma combinação de recursos para que a vantagem competitiva seja criada, segundo HOSKISSON et. al. (2004).

De acordo com HARRISON (2003), nos últimos anos outra perspectiva sobre desenvolvimento de estratégia ganhou grande receptividade. De todo modo, apesar da maior aceitação recente, o método de administração estratégica baseada em recursos, na verdade, tem suas raízes no trabalho dos primeiros teóricos da administração estratégica (BARNEY & ARIKAN, 2001 apud HARRISON, 2003). Este método da administração baseada em recursos surgiu a partir desta pergunta: “Por que

algumas empresas têm consistentemente um desempenho melhor do que outras? ”.

HARRISON (2003) afirma que uma resposta inicial a essa pergunta era que algumas empresas conseguiam desenvolver recursos e competências diferenciadas em determinadas áreas.

“O método de administração estratégica baseada em recursos considera a empresa como um conjunto de recursos; as empresas podem obter vantagem competitiva se possuírem recursos superiores” (HARRISON, 2003, p. 29).

De acordo com HOSKISSON et. al. (2004) alguns recursos são tangíveis, enquanto outros são intangíveis. Recursos tangíveis são ativos que podem ser

observados e quantificados. Equipamentos pertencentes à linha de produção e as próprias plantas industriais são exemplos de recursos tangíveis.

Já os recursos intangíveis incluem ativos que estão profundamente enraizados na história da firma e são acumulados ao longo do tempo. Pelo fato de estarem estabelecidos em padrões únicos e exclusivos de rotina, os recursos intangíveis são difíceis de serem analisados e copiados pelos competidores. Conhecimento, confiança entre funcionários e gerentes, idéias, capacidade de inovação, competências gerenciais, rotinas organizacionais (maneiras únicas das pessoas trabalharem em conjunto), capacitações científicas, a reputação da empresa e como a empresa interage com as pessoas (funcionários, clientes e fornecedores), são todos exemplos de recursos intangíveis.

Os quatro tipos de recursos tangíveis são: financeiros, organizacionais, físicos e tecnológicos. Já os três tipos de recursos intangíveis são os recursos humanos, inovadores e reputacionais. (BARNEY, 1991; GRANT, 1991, apud HOSKISSON et.

al., 2004).

O Quadro 2.2 apresenta alguns exemplos de recursos tangíveis, enquanto o Quadro 2.3 apresenta exemplos de recursos intangíveis.

QUADRO 2.2 - Recursos Tangíveis

Recursos

A capacidade da firma se financiar. A capacidade da firma gerar fundos.

Recursos Organizacionais

A estrutura formal de relatórios da empresa, que inclui seus sistemas formais de planejamento, controle e coordenação.

Recursos Físicos Sofisticação de equipamentos e localização da empresa. Acesso a matérias-primas.

Recursos Tecnológicos "Estoque" de tecnologia como patentes, trademarks (marcas registradas) e copyrights (direitos autorais).

Descrição

Recursos Financeiros

Fonte: BARNEY, 1991; GRANT, 1991 (apud HOSKISSON et. al. (2004, p. 109)

QUADRO 2.3 - Recursos Intangíveis

Recursos Conhecimento Confiança Capacitações Gerenciais Rotinas Organizacionais Idéias Capacitações científicas Capacidade em inovar

Reputação com consumidores Marca

Percepção de qualidade, durabilidade e confiança nos produtos. Reputação com fornecedores, de forma a criar interações e relações mutamente eficientes e eficazes.

Descrição

Recursos Inovadores

Recursos Reputacionais Recursos Humanos

Fonte: HALL, 1992; GRANT, 1991 (apud HOSKISSON et. al. (2004, p. 109)

JOHNSON et. al. (2007) qualificam os recursos tangíveis como os ativos

físicos de uma organização, como fábrica, mão-de-obra e finanças. Em contraste, recursos intangíveis são os ativos não-físicos, como informações, reputação e conhecimento. Geralmente, os recursos de uma organização podem ser considerados dentro das quatro categorias abaixo:

a. Recursos físicos: como o número de máquinas, imóveis ou capacidade de produção da organização. A natureza desses recursos, como idade, condição, capacidade e localização de cada um, vai determinar sua utilidade;

b. Recursos financeiros: como capital, dinheiro, devedores, credores e fornecedores de dinheiro (acionistas, bancos etc.);

c. Recursos humanos: incluem o número e o mix (ex.: perfil demográfico) de pessoas numa organização. O recurso intangível das habilidades e conhecimentos de cada um também tende a ser importante. Isso se aplica tanto aos funcionários como a outras pessoas na rede de uma organização. Nas economias baseadas em conhecimento, as pessoas genuinamente tornam- se o ativo mais valioso;

d. Capital intelectual: é um aspecto importante dos ativos intangíveis de uma organização. Inclui patentes, marcas, sistemas empresariais e bancos de dados de clientes. Não deve haver dúvida de que esses recursos têm seu valor, pois quando as empresas são vendidas, parte do valor é representada pela “clientela”. Numa economia baseada em conhecimento, o capital intelectual tende a ser um ativo importante para muitas organizações.

Já para WALKER (2007), um recurso é um ativo relativamente observável e comercializável que contribui para o posicionamento de mercado de uma firma ao melhorar o valor ao consumidor ou reduzir custos (ou ambos). Como exemplo o autor cita a localização geográfica, que seria o “mantra” de um competidor no varejo (“localização, localização, localização”). O autor cita os seguintes exemplos de recursos:

a. Uma patente ou uma combinação de patentes de um produto (neste caso, o autor menciona a patente do microprocessador original de um computador, ou a patente da primeira televisão);

b. Um processo desenvolvido por uma firma, que o autor chama de “processo proprietário” (no caso, ele menciona o processo que a Illinois Tool Works desenvolveu para produzir screws especializados para plástico e concreto);

c. Propriedade de uma fonte abundante ou valiosa de determinado recurso mineral (ex.: uma mina);

d. Uma marca bem estabelecida (ex.: IBM, Porsche);

e. Uma rede eficiente de distribuição (ex.: os revendedores de tratores da Caterpillar nos Estados Unidos).

Para este mesmo autor, alguns recursos, como uma patente ou localização geográfica, mantêm seu valor com apenas um pouco de manutenção. Porém, outros recursos, como uma marca ou um canal de distribuição, necessitam de uma manutenção contínua para a sustentação de seus valores. Por exemplo, o valor de uma marca depende de um design de produto efetivo e decisões de marketing, como a Reebok e a Adidas descobriram ao competirem contra a Nike no mercado de tênis esportivos.

De acordo com HARRISON (2003), para muitos autores o sucesso organizacional pode ser explicado em termos de recursos e capacidades possuídas por uma organização. Segundo esta visão, uma organização é um conjunto de recursos que se encaixam nas categorias gerais de: 1-) recursos financeiros, incluindo todos os recursos monetários com os quais uma empresa pode contar; 2-) recursos físicos, como fábricas, equipamentos, instalações e acesso a matérias-primas; 3-) recursos humanos, que englobam as habilidades, a formação e o treinamento de gerentes e funcionários, e também a maneira como eles são organizados; 4-) conhecimento e aprendizado organizacional; e 5-) recursos organizacionais gerais, incluindo reputação da empresa, nomes de marca, patentes, contratos e relações com agentes externos.

A organização como um conjunto de recursos é representada na Figura 2.2.

Recursos organizacionais gerais

1-) Reputação da empresa; 2-) Nome de marcas e patentes; 3-) Contratos

4-) Relações com Pis

Recursos financeiros Recursos físicos

1-) Fontes de financiamento Conhecimento e aprendizado 1-) Fábricas e equipamentos;

interno e externo organizacional 2-) Localizações da organização;

2-) Situação financeira 3-) Acesso a matérias-primas.

Recursos humanos

1-) Habilidades, formação e treinamento de gerentes e funcionários;

2-) Estrutura organizacional

Fonte: HARRISON (2003, p. 3)

FIGURA 2.2 - A Organização como um Conjunto de Recursos

Para produzir uma vantagem econômica, um recurso precisa ser difícil de ser imitado pelos competidores ou dificilmente neutralizado por um substituto. WALKER (2007) cita a fórmula da Coca-Cola como exemplo de recurso não imitável ou substituível. Segundo o autor, a Coca-Cola criou uma enorme presença global baseada em seu sabor, que advém do xarope cuja fórmula apenas a Coca-Cola possui. A empresa guarda em segredo os ingredientes deste xarope, de forma a prevenir que seus competidores imitem seu sabor. Sem o xarope, seria inconcebível a Coca-Cola ter atingido tamanha aceitação de seu produto. Esta conceituação de WALKER (2007) aproxima-se, de certa forma, do conceito de competências essenciais.