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Recursos semióticos potenciais a serviço de tecnologias para ensino de segunda língua Para atingir os objetivos deste capítulo, opto por me dedicar inicialmente a uma discussão

UM OLHAR MULTIMODAL SOBRE

3.1 Recursos semióticos potenciais a serviço de tecnologias para ensino de segunda língua Para atingir os objetivos deste capítulo, opto por me dedicar inicialmente a uma discussão

pormenorizada sobre recursos semióticos e assim orientar a análise dos sites dentro da proposta da Semiótica Social. O registro feito aqui enfoca o impacto das práticas de linguagem de um dos maiores fenômenos da pós-modernidade: a Internet. Vale ressaltar que, para definir o que é pertinente observar para se chegar a um modelo de utilização e de desenvolvimento de mídias para o ensino de línguas, oriento-me em tarefas descritas por van LEEUWEN (2005, p. 3) sobre o que fazem os semioticistas:

1. coletam, documentam e sistematicamente catalogam recursos semióticos – incluindo sua história.

2. investigam como esses recursos são usados em contextos históricos, culturais e institucionais específicos, e como pessoas falam sobre eles nesses contextos – planejam-nos, ensinam-nos, justificam-nos, criticam-nos, etc.

3. contribuem para a descoberta e desenvolvimento de novos recursos semióticos.

Van Leeuwen (2005, p.3) esclarece ainda a natureza do conceito „recurso semiótico‟ como termo-chave para Semiótica Social, originalmente definido por Halliday em seu entendimento da gramática de uma língua não como código, nem como conjunto de regras para produzir sentenças corretas, mas sim uma „fonte para produzir significados‟ (1978, p. 192). Nesse sentido, ensinar uma segunda língua é o professor propor-se a trabalhar com gramática também em uma perspectiva que abranja modos semióticos como:

ações e artefatos que usamos para nos comunicar, mesmo que eles sejam produzidos psicologicamente – com nosso aparelho vocal; com os músculos que usamos para criar expressões faciais e gestos, etc. – ou por meio de tecnologias –

83 com a caneta, tinta e papel; com o hardware e software do computador; com tecidos, tesouras e máquinas de costura, etc.(van LEEUWEN, 2005, p.3)

Muitos desses exemplos descritos acima são tradicionalmente chamados de „signos‟, acepção que reconhece a junção de forma e de significado, conceito proposto por Ferdinand de Saussure (1987[1916], p. 16) em sua muito famosa definição de semiótica como “a ciência que estuda a vida dos signos dentro da sociedade em que é concebida... e que chamarei de semiologia (do grego semeion, „signo‟)” e igualmente fundamental para a Semiótica.

Apesar de reconhecer a importância do signo para os estudos iniciais da Semiótica, van Leeuwen (2005, p. 3) diz que é preferível o termo recurso semiótico, porque evita a acepção de algo pré-definido e não sujeito às mudanças acarretadas pelo uso. Para definir, assim, o material e as dimensões sociais como essenciais para a análise na perspectiva social, registra o que Hodge e Kress (1988,p.18) dizem sobre o trabalho de Voloshinov – um dos precursores da Semiótica Social – sobre a unidade da „semiotic phenomena‟1:

1. ideologia não pode ser divorciada da realidade material do signo.

2. signos não podem ser divorciados de formas concretas de intercurso social (vendo que o signo é parte de um intercurso social organizado, e não pode existir, como tal, fora dele).

3. comunicação e formas de comunicação não podem estar divorciadas de suas bases materiais.(VOLOSHINOV, 1973, p.21 apud HODGE e KRESS, 1988, p.18)

Sempre levando em conta as tarefas dos semioticistas, definidas por van Leeuwen e apresentadas anteriormente (coleta, documentação, catalogação, contextualização e planejamento de recursos semióticos), passo a tratar de um recurso semiótico de análise, a Internet.

1 Aqui, preferiu-se manter o termo como no original em inglês para preservar a concepção ora trabalhada

que é a da unidade analítica da Semiótica Social que rejeita a separação entre língua e fala, proposta por Saussure.

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Desde 1995, quando começou a ser operada comercialmente no Brasil, a Internet representou uma fonte inesgotável de novos saberes (HASS, 2005, p.147). Hoje, o que se observa, é uma nova geração já nascida em meio a essa realidade digital e que espera encontrar esses recursos no próprio ambiente escolar. O que passa a ser desafio, portanto, é incluir no processo de ensino aprendizagem de segunda língua o uso de mídias capazes de trazer “o mundo” para dentro da sala de aula e nelas desenvolver toda a potencialidade

de significação linguística por meio do entendimento dos efeitos de sentido das modalidades envolvidas em sua produção. Portanto, não se trata somente de ter computadores em casa ou em sala de aula, e, sim de utilizar mídias digitais para atender às demandas de ensino de segunda língua, não de forma intuitiva, mas de forma crítica e de acordo com seu uso potencial dentro das regras que regulam como recursos semióticos específicos podem ser utilizados.

Nesse ponto, vale ressaltar o que van Leeuwen (2005, p.4) diz sobre os recursos semióticos não serem restritos à oralidade, à escrita ou ao desenho. O autor afirma que quase tudo que fazemos pode ser feito de diferentes formas e como resultado permite, pelo menos em princípio, a articulação de diferentes significados culturais e sociais. Assim, a Internet revela-se como recurso semiótico por excelência, pois nela se concentram tanto mediadores de comunicação assíncrona2, correio eletrônico e fóruns, como mediadoras de comunicação síncrona3, como as salas de bate-papo no ambiente online.

Nessa transposição de recursos do ambiente real (offline) para ao ambiente virtual (online), é que a

2 Os integrantes não precisam estar conectados ao mesmo tempo para trocar informações.

3 Os participantes precisam estar conectados ao mesmo tempo para estabelecer a relação dialógica.

A Internet tem revolucionado o mundo dos computadores e das

comunicações como nenhuma

invenção foi capaz de fazer antes. A invenção do telégrafo, telefone, rádio e computador prepararam o terreno para esta nunca antes havida integração de capacidades. A Internet é, de uma vez e ao mesmo tempo, um

mecanismo de disseminação da

informação e divulgação mundial e um meio para colaboração e interação

entre indivíduos e seus

computadores, independentemente

de suas localizações geográficas. A Internet representa um dos mais

bem sucedidos exemplos dos

benefícios da manutenção do

investimento e do compromisso com a pesquisa e o desenvolvimento de uma infra-estrutura para a informação.

Começando com as primeiras

pesquisas em trocas de pacotes, o governo, a indústria e o meio acadêmico tem sido parceiros na evolução e uso desta excitante nova

tecnologia. Hoje, termos como

nome@nomedeempresa.com (ou nome@nomedeempresa.com.br, no caso do Brasil) e http://www.nomedeempresa.comm (ou http://www.nomedeempresa.com.br, no caso do Brasil) são usados diariamente por milhões de pessoas. Disponível em:

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Internet promove também o processo de ressemiotização. Sobre esse conceito, Iedema (2003, p.1) fala da dinâmica transformativa inevitável de processos gerativos de sentido socialmente situados. O autor ainda acrescenta a necessidade de um ponto de vista de análise alternativo. Esse olhar alternativo favorece a lógica sócio-processual que governa como os significados materiais mutualmente transformam um ao outro e é a isso que Iedema (2003, p.1) se refere como sendo ressemiotização. A ressemiotização, como descrita por Iedema, está diretamente ligada à multimodalidade, que o autor assim define:

termo introduzido para destacar a importância da semiótica sem o foco somente no idioma em uso, mas em outras modalidades tais como imagem, música, gesto, e assim por diante. A onipresença da escrita passa a mito, em vista da expansão

do som, do filme, da imagem,

por meio da TV, do computador e da Internet, esta última, sem dúvida, sujacente à nova ênfase no interesse e na complexidade multissemiótica das representações que produzimos e vemos ao nosso redor. (IEDEMA, p.6)

Ainda sobre o fenomeno da ressemiotização, tão inerente às práticas textuais e discursivas da Internent, Iedema diz que: “se concebida como fenômeno pós-moderno ou como analítico emergente da orientação multimodal, está ligado à complexidade multissemiótica de uma construção ou de uma prática” (IEDEMA, p. 14) ainda acrescenta que a ressemiotização “refere-se ao como fazer mudanças de significado de contexto para contexto, de prática para outra prática, ou de um estágio de uma prática para a próxima”. A natureza desse processo define, assim, o que o autor chama de complexidade semiótica particular de representações ensejada pela origem e pelo surgimento da dinâmica dessas representações.

Pelas características específicas da Internet como recurso semiótico que desenha novas práticas, redefine comportamentos e ressemiotiza significados é que nesta tese eu a incluo no corpus para investigar como o processo de inserção de diversos recursos da Internet na sala de aula seja de língua materna, seja de língua estrangeira, seja de segunda língua, pode ser um diferencial em termos de ensino. Para tanto, torna-se imprescindível compreender como a lógica organizacional de diferentes mídias digitais possibilita a produção da língua alvo para uma comunicação autêntica em um processo de coconstrução de discursos.

Passo, agora à apresentação do que chamo de lógica organizacional de uma webpage, para compreendê-la como recurso semiótico no qual os propósitos de comunicação são definidos por

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meio de princípios norteadores, os quais permitem um uso coeso dessa tecnologia, ao mesmo tempo em que as analiso como recursos semióticos assim entendidos.