• Nenhum resultado encontrado

Redações abertas: fontes informativas e terreno de implantação dos jornais políticos

Júlia Leitão de Barros

o início do século XX, o jornalismo diário político-partidário vivia da colaboração pontual, ou permanente, dos políticos, de todas as formações partidárias, ao ponto de se poder afirmar que a carreira política exigia a passagem por um estágio, mais ou menos aprofundado, nas lides jornalísticas. No entanto, são escassas as fontes que nos descrevem as redações destes jornais diários.

Os testemunhos históricos remetem-nos para pequeníssimas redações cujo número oscila entre as cinco e as quinze pessoas. Os historiadores tenderam a confirmar estas informações chamando a atenção para a clara distinção, em meios humanos e técnicos, entre os jornais político partidários e os jornais de negócio, das duas maiores empresas jornalísticas, do Diário de Notícias e do O Século (Baptista, 2012; Ramos, 2004; Tengarrinha, 1971). Este último, em 13 de Fevereiro de 1898, afirmava possuir uma redação com 21 redatores.

Para o início do século XX possuímos informações sobre o quadro redatorial de cinco jornais políticos de Lisboa: Novidades, Diário Popular, Tarde, Correio da

Noite e Vanguarda. Frequentemente imprecisas e contraditórias, estas referências

inserem-se em memórias de políticos e/ou jornalistas que ascenderam a lugares de direção, que evocam remotas vivências juvenis, em tom romanceado.

Observemos os dados que dispomos sobre o jornal Tarde. Em 1892, Eduardo Schawlbach, escritor, jornalista e deputado regenerador, refere que a redação deste jornal seria constituída por seis pessoas: Urbano de Castro, director, António Serpa, Joaquim Lima, Guimarães Serôdio, Higino Mendonça e o próprio Schawlbach (Schawlbach,1944:140). Sete anos depois, após a cisão franquista, em 1900, Alberto Bramão descreve a redação do jornal constituída, “entre outros” (Bramão, 1936:39), por sete redatores, seis deles ausentes nas memórias de Schawlbach (Melo Barreto,

N

João Costa, Almeida Campos, Severo Portela, Armando Ribeiro e Jorge Abreu). Porém, quando comparamos o testemunho de Alberto Bramão com as informações, relativas ao mesmo período, constantes nas memórias do repórter Jorge Abreu (presente na lista anterior) a redação do jornal Tarde surge com sete elementos: o director Sérgio Castro, Almeida Campos, João Costa, o próprio Jorge Abreu, e ainda, António Bandeira, Jorge Menezes, Luís Araujo (Abreu, s.d.:155). Isto é, para o mesmo período, Jorge Abreu avançava com três novos nomes, que tinham uma particularidade, estavam todos encarregues de áreas especializadas, embora não políticas: a Luís de Araújo caberia uma “sensaboria de rimas” (Abreu, s.d.:29), António Bandeira ocupava-se da crítica teatral, e por vezes auxiliava Jorge de Menezes na “confecção do High-Life” (Abreu, s.d.:155). Nas notas de Jorge Abreu, António Bandeira surgia responsável pela crítica teatral, sucedendo a Carlos Mendes, elemento redatorial ausente de todas as outras descrições.

Os textos memorialísticos optam por mencionar algumas personalidades presentes nas redações sem lhes atribuir funções específicas. É o que acontece nas notas de Lourenço Cayolla que recaem sobre o Correio da Noite, órgão oficial do partido progressista, liderado por Luciano de Castro, na viragem do século. Este jornal fora fundado, vinte anos antes, em 1880, por alguns jornalistas, até então colaboradores do órgão do partido progressista, o jornal Progresso. O Correio da

Noite era, em 1900, dirigido pelo deputado Carlos Ferreira, tendo como redator

político Lourenço Cayolla, coronel de artilharia, que começara a sua carreira política no jornal, em 1893, chegando a deputado quatro anos depois. Cayolla enumera os elementos da redação do diário, nos últimos anos da década de noventa: Anselmo Andrade, Lorjó Tavares, Macedo Ortigão, José Parreira, Carlos Ferreira e Eduardo Guimarães. Não lhes distribui funções. Fá-lo apenas quando se refere a Eugénio César e Lacerda, os chefes de tipografia, e a Gervásio Rosa, o revisor (Cayolla, 1928:161).

Vaga é também a informação que dispomos sobre a redação do jornal

Novidades no início do século XX. Em 1900, o director deste diário era ainda o seu

fundador, Emídio Navarro, um dos mais destacados jornalistas políticos, do último quartel do século XIX, ex-deputado e ex-ministro do partido progressista, que vinha, nesta viragem do século, cultivando uma ambígua postura de independência partidária, que frequentemente se traduzia numa aproximação ao partido regenerador.

embora tendam a remeter para a sua fase inicial, de maior influência e prosperidade, a década de 80, do século XIX. É o caso de Eduardo Cayolla, que refere os nove elementos da redação do jornal: Barbosa Collen; Armando Silva; Espirito Santo Lima; Eduardo Noronha; Melo Barreto, Alberto Braga, Braga Salas, Joaquim Telo, João Saraiva (Cayolla,1928:147). Para o início do século XX, é mais uma vez da pena de Jorge Abreu a única descrição que dispomos sobre a redação do Novidades: “a redação (…) compunha-se, há vinte e três anos, do subdiretor Espírito Santo Lima, do secretário Melo Barreto e dos redatores José Sarmento, Amadeu de Freitas e Jorge Abreu”. Referindo ainda os repórteres, Xavier de Almeida, “repórter da Arcada”, e Joaquim Rosário de Albuquerque, Armando de Araujo, e, por último, “o Barros, revisor” que “fazia a crónica das touradas e assinava Zé Pampilho” (Abreu, s.d.:23). Isto é, a redação era constituída por onze elementos assim distribuídos: director, cinco redatores, três repórteres, um revisor redator.

Em contrapartida, sobre o jornal republicano Vanguarda dispomos de informações mais pormenorizadas sobre o seu corpo redatorial. Em 1900, este diário, que fora criado em 1890, e sobrevivera a várias mudanças de direção, estava, há pouco mais de um ano, nas mãos de Sebastião Magalhães Lima, seu director político, e de Esteves Lisboa, diretor gerente.

O repórter Rafael Ferreira, que trabalhou cinco anos no jornal, refere nas suas memórias como era constituída a redação na viragem do século: os “diretores”, Magalhães Lima e Faustino da Fonseca, o administrador e repórter informador Eduardo José Gaspar, os repórteres, Augusto Rato e Gregório Fernandes, os redatores Guilherme Sousa, Heliodoro Salgado, Andrade Neves, “grande jornalista de combate”, João Pedro Monteiro, crítico tauromáquico, o chefe da tipografia Rafael Macedo, e, sem especificação de funções, Rocha Martins, Vicente de Sousa e Júlio Afonso, Urbino de Magalhães, Lombré Ferreira, Jacinto de Azevedo e o próprio autor (Ferreira, 1945:135-137).

A redação do Vanguarda teria quinze pessoas, ou dezassete, se contarmos com o chefe da tipografia e o revisor. Note-se que à exceção do chefe de tipografia e de Faustino da Fonseca, todos os nomes apontados diferem dos referenciados pelo repórter Esculápio (Fernandes, 1940), nas suas memórias, a propósito da sua passagem pelo mesmo jornal, entre 1890 e 1893, quando este diário era dirigido pelo seu fundador, Alves Correia, contando, então, com nove elementos na redação.

Preciosa é a informação que dispomos sobre o Diário Popular, cujo director era um famoso jornalista e político monárquico, do último quartel do século XIX, o ministro, conselheiro e deputado Mariano Cirillo de Carvalho. Ao contrário das fontes utilizadas para os outros jornais, a descrição da redação do Diário Popular, mais próxima do início do século XX, é-nos dada por Mariano Pina, no âmbito de um processo judicial, instaurado contra si, por Mariano de Carvalho, em 1894. Pina publica uma brochura, O Caso Diário Popular, onde expõe, em sua defesa, os atos praticados enquanto administrador daquele jornal. Ficamos assim a saber, através da folha de contabilidade do jornal, que o ilustre jornal político contava na sua redação com apenas seis elementos, em 1894: “Tito Martins” e Décio Carneiro, sem especificação de funções; um tradutor de folhetim; um repórter de polícia; um redator de tribunais; um informador dos hospitais (Pina, 1894:13).

A análise das fontes que possuímos sobre as redações dos jornais políticos, parece remeter-nos para empresas pouco estruturadas em termos funcionais, com grande rotatividade de pessoal, e de âmbito variável (oscilando entre as cinco e as quinze pessoas).

Nos jornais político-partidários os meios humanos podiam ser de tal forma escassos, que o exercício de várias funções ia a par com as oportunidades de “escalar” a “hierarquia” destes. E veja-se, como Esculápio, refere o seu percurso no jornal

Vanguarda, onde entrou como revisor, sendo poucos dias depois chamado a fazer

reportagem, distinguindo-se mais tarde nas gazetilhas humorísticas, sobre temas da atualidade e crónicas de tauromáquicas, em prosa e verso, sob o pseudónimo Escamilho(Fernandes, 1940:110 e 114).

Até as chefias, redatores principais e diretores de jornais, vocacionadas para a recolha e comentário político, eram ocasionalmente requisitadas para serviços vários.

Invariavelmente, as memórias sobre os diretores dos jornais políticos dão-nos conta do carácter multifacetado das suas funções. Emídio Navarro, diretor do jornal

Novidades, era descrito pelo repórter Jorge Abreu:

“não foi só um grande jornalista: foi um jornalista completo (...) fazia tudo no jornal: o artigo solene, de capa rica, a blague e o comentário dos Casos do Dia, a notícia miúda dum incidente invulgar, a reportagem desenvolvida e dramatizada dum crime”

Eduardo Schawlbach, que andava por vários jornais políticos, desde a década de oitenta, gostava também de se vangloriar da sua habilidade como repórter: “No

Correio da Noite, sempre dentro do limite das minhas atribuições, trabalhei e,

modéstia à parte, trabalhei bem em famosas reportagens a competir com Barbosa Collen, João Chagas, Carrelhas e até uma vez por outra com Silva Pinto” (Schawalbach, 1944:124). Os exemplos podiam multiplicar-se.

E talvez não por acaso quando procuramos verificar qual o uso dado à palavra “jornalista” verificamos que esta tende a remeter para individualidades que se dedicaram a diferentes práticas jornalísticas, desde a participação e interferência no debate político, até à experiência na reportagem, recolha de informação, crítica literária e teatral.

No final do século XIX, nos jornais político partidários, era clara a linha de demarcação entre o político no ativo, que colaborava conjunturalmente “nos fundos” dos jornais, e o jornalista político que participava na elaboração de diversos conteúdos de um jornal, sendo este quem gozava de maior estatuto entre os seus pares do campo jornalístico – chamemos-lhe político residente. A representação dominante do jornalista como “homem dos sete ofícios”, ganha sentido no terreno do jornalismo político- partidário.

Contudo, não é possível entender a redação de um jornal político-partidário se não tivermos presente que esta não pode ser descrita pelo número restrito de colaboradores efetivos. Por duas razões: o jornalismo político partidário dispõe de um limitado leque de pessoal efetivo, contando com colaborações esporádicas e fortuitas, de pessoal “menor” do meio jornalístico; o jornalismo político assentava parte dos seus conteúdos nos contributos avulsos da rede política que o envolvia.

Alfredo da Cunha, diretor do Diário de Notícias, referiu-se à mudança ocorrida no campo jornalístico, na segunda metade do século XIX:

“É também neste período que para os jornalistas de profissão e para os seus cooperadores e coadjuvantes se abre uma era de relativa prosperidade, e que o trabalho jornalístico principia a ter em Portugal uma remuneração menos mesquinha e a poder constituir para muitos um exclusivo modo de vida” (Cunha, 1914:284).

O período é marcado pelo crescente número de profissionais que vivem de jornais, mas no plural, entenda-se. Isto é, continuava a ser residual o número de indivíduos que viviam exclusivamente de um jornal.

Se colocarmos de lado o pequeno grupo de “jornalistas” políticos, para quem o jornal é um trampolim para uma promissora carreira política nas salas do parlamento, ministérios e corte, e nos detivermos no restante e mais numeroso número, de redatores, repórteres, informadores e revisores, apercebemo-nos da quase impossibilidade de sobreviver exclusivamente com a remuneração usufruída num único jornal.

Para entender o meio jornalístico deste período, é necessário percecionarmos o mercado de trabalho jornalístico, compreendendo as diferentes formas de recrutamento e vínculo estabelecido, entre o pessoal da redação e as empresas jornalísticas, e o diversificado leque de contributos presentes na redação de um jornal diário. E com razão, já na década de vinte, Vitorino Nemésio, definiria o jornalismo: “É uma profissão que não tem fácies – porque tem todas aquelas que quisermos dar. Há ali miséria, efemeridade, glória, e o pão que o diabo amassou” (Uma Hora de

Jornalismo, 1925:220).

Alfredo da Cunha dá-nos conta do mercado de trabalho dos jornais portugueses deste período, no relatório que redige, em nome da Associação de Jornalistas de Lisboa, sobre o 8º Congresso Internacional de Imprensa, realizado em Berna, em 1902, onde pode ler-se:

“Assim, graças ao nosso patriótico silêncio, o Congresso ficou continuando a ignorar que, em Portugal (…) a garantia dos direitos do redator em caso do jornal mudar de proprietário, é uma coisa que não existe; que em caso do redator ser condenado por delito de imprensa, nenhumas obrigações o jornal contrai para com ele. (…). [O que] não pudemos evitar foi que no relatório do Sr. J.Janson, acerca do direito de indemnização aos redatores quando despedidos, aparecesse o seguinte, no respeitante a nós: «Portugal. Na imprensa deste país não estão em uso os contratos. Qualquer acordo a que se chegue entre diretores-proprietários e redatores desfaz-se prontamente, logo que assim convenha a qualquer das partes – sem nenhum direito de indemnização»” (8º Congresso Internacional da Imprensa, 1903:6-7).

A maior novidade do período que estudamos é, a nosso ver, o crescimento em número, e também em relevância para o sucesso dos jornais (embora esta tenda a não ser assumida) do “pessoal menor”.

Com noutro lugar chamamos à atenção (Barros, 2014), no início do século XX, até o O Século e o Diário de Notícias, contavam com um número elevado de colaboradores externos à redação.

Carla Baptista salientou, como é por vezes ténue a linha de demarcação do trabalho do repórter e do informador: “num escalão inferior ao dos repórteres, mas por vezes desempenhando funções quase idênticas, estavam os informadores” (Baptista, 2012:70). Segundo Baptista:

“informador tanto correspondia à categoria mais baixa da profissão, onde os novatos se iniciavam e depois progrediam; como designava uma função confiada a alguém que recebia uma avença do jornal para procurar notícias em lugares específicos (esquadras de polícia, tabernas, teatros, tribunais) ou recolher os discursos e informações noutros (por exemplo, na Arcada que fornecia a agenda dos ministérios, nos Paços do Conselho quando havia sessões camarárias, nos portos sobre o movimento marítimo, nas estações ferroviárias, para saber quem chegava ou partia), encarando este serviço como um biscate” (Baptista, 2012:70).

Os informadores rondavam os repórteres, e podiam ter, ou não, vínculo a um, ou mais jornais.

Havia duas “portas” para entrar na redação de um jornal, aquela que vinha de uma recomendação de um amigo ou de alguém do corpo redatorial – e nos jornais partidários, o exercício de militância política, era meio caminho andado, para aceder a um posto de redator – ou então, a “porta” era a das traseiras, que ligava diretamente à oficina e aos contactos desta com a “rua “ de Lisboa – algum desembaraço na recolha e redação de informação permitia repescar tipógrafos, revisores e informadores mais hábeis.

O percurso dos que vinham de “ baixo” foi descrito por Vitor Falcão:

“Entrei no jornalismo profissional como se entra na tropa – como recruta, como soldado raso (...). Comecei no jornalismo por escrever a lápis, como se escreve o rol de roupa suja...Palmilhei então quilómetros e quilómetros, como andarilho lesto, umas vezes intrometido em cortejos espalhafatosos, outras vezes na peugada dos próceres da nossa terra, frequentemente atrás de bombas e bombeiros, nas suas correrias alarmantes, espetaculosas, pelas ruas da cidade. Durante esse período, a minha nobre missão consistiu em inscrever em tiras de papel, nomes, números, horas, minudências, como qualquer máquina registadora. Depois fui promovido, passei a emendar, reduzir, anodizar, a prosa verrinária ou enfática dos

solícitos correspondentes de província, todos eles cidadãos imaginosos, capazes de escrever um Rocambole em trinta volumes. Em seguida por etapas, fui entrevistador, cronista parlamentar, chefe de secção, chefe de redação, chefe de mais isto e de mais aquilo...” (Falcão, 1932:204-205).

Num mercado de trabalho totalmente desregulamentado, que desconhece o contrato de trabalho, os deveres e obrigações de parte a parte, e onde coexistem diferentes práticas salariais e requisitos variáveis para funções pouco claras, o recrutamento do pessoal das redações dos jornais, era ainda condicionado pelo “excesso” de mão-de-obra disponível, que permitia praticar remunerações quase simbólicas, e até, por vezes, “colaborações” gratuitas, em troca de um espectável futuro vínculo.

Mas não só. A contratação de pessoal menor estava também fortemente dependente das necessidades “imediatas” das empresas jornalísticas. Este último aspeto era particularmente visível nas empresas dos jornais político-partidários, sempre condicionadas pelas conjunturas políticas. Sendo ponto assente, entre elas, que ocupar o lugar de “opositor” ao governo potenciava maior atividade jornalística, maior sucesso nas vendas e possibilidade de afirmação dos títulos. As mudanças de governo eram acompanhadas na imprensa política monárquica, que passava à oposição, pelo relançar do investimento nos jornais.

Em contrapartida, as empresas de negócio apresentavam um quadro de atividade mais estável, podendo competir pelo recrutamento de pessoal mais qualificado, nas diferentes áreas jornalísticas, a que correspondia, aliás, a prática de melhores salários.

No entanto, a maioria dos trabalhadores das redações dos jornais, mesmo dos “informativos”, para sobreviver, vê-se obrigada a colaborar em várias publicações.

Ingressar no funcionalismo público era um recurso para “compor” o salário. Em particular nos jornais políticos, dos partidos rotativistas, com acesso direto à máquina do Estado, este mecanismo era uma forma frequente de compensar aqueles que compunham o “pessoal graduado” das redações, que, note-se, já auferiam salários muito superiores ao pessoal menor que temos vindo a tratar.

Para melhor compreendermos as redações dos jornais diários no início do século XX, e as suas práticas, é necessário “mergulhar” no meio jornalístico, nas diferentes formas de recrutamento e vinculo estabelecido entre o pessoal da redação e

as empresas jornalísticas, na crescente “presença” do pessoal menor nas redações, nas inevitáveis “partilhas” destes auxiliares, isto é, na teia de contactos entre títulos.

Por outro lado, devemos assumir que a referência frequente à condição proletária de um leque elevado de jornalistas assalariados, constitui elemento de reflexão sobre o meio jornalístico que queremos estudar.

Por outro lado, praticamente todas as descrições de redações de jornais político-partidários, neste período, nos dão conta dos círculos sociais que as envolvem. Lugares de “cavaco”, de visita regular, de discussão, e naturalmente de cultivo de fidelidades políticas.

As memórias de políticos e jornalistas que dispomos enfatizam, invariavelmente, a presença de “visitantes” regulares nas redações dos jornais político-partidários. Jorge Abreu descreve o lugar que estes ocupam na redação do

Novidades:

“sabem os leitores em que condições se trabalhava normalmente nas Novidades? De manhã, até às duas da tarde – em relativo sossego; das duas às sete, oito horas – em meio duma palestra animadíssima, entretida pelos numerosos habitués do jornal. Emídio Navarro não dispensava essas visitas, que enchiam a sala da redação e o seu modesto gabinete duma agitação esfusiante, caracterizada por bons ditos de espírito, comentários pitorescos aos acontecimentos da política interna e, principalmente, pelas notícias fresquinhas que ali caíam em primeira mão – os informadores solícitos e gratuitos formigavam” (Abreu, s.d.:49).

Referindo, o mesmo jornalista, a assiduidade de Antonio Montenegro, o Dr. Braga, médico naval, Alberto Braga, Mateus Sampaio, Ferreira de Almeida, Paçô