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PARTE III RESULTADOS E DISCUSSÃO

5. ANÁLISE QUALITATIVA DAS REDAÇÕES SOBRE O PROFESSOR IDEAL

5.8 As Redações – Discussão

As redações apresentam o professor ideal como alguém em contato constante com seus alunos, como grupo ou individualmente, em torno de conteúdos do currículo escolar ou de assuntos pessoais. O contato entre aluno e professor apresenta uma vertente mais formal, do relacionamento entre um profissional e seu cliente, e uma vertente mais informal, esperando-se que o relacionamento entre aluno e professor seja de natureza de uma amizade. Estas duas dimensões estão dialeticamente relacionadas, na visão dos alunos, uma vez que a informalidade é essencial para que o profissional consiga atingir sua meta, de prender a atenção dos alunos e facilitar sua aprendizagem.

A redação sobre o professor ideal permite fazer algumas observações sobre o papel do relacionamento ou da interação social em uma condição ideal, que seria o professor ideal.

O primeiro ponto a ser destacado nas redações é a expectativa do professor ideal em termos pessoais e profissionais. Neste sentido, os alunos apresentam a expectativa do professor como alguém que se relaciona com eles de modo pessoal e profissional. Ao longo das redações, percebe-se a relação profissional no sentido de competência para ensinar, explicar, tirar dúvidas, contudo, também há uma expectativa de um relacionamento mais informal, mais pessoal.

Um segundo ponto a destacar é o relacionamento professor-aluno ser visto em duas dimensões: a grupal e a individual. O professor ideal apresenta uma série de características como líder de um grupo e, em outros momentos, espera- se dele um relacionamento individual e personalizado.

O terceiro ponto que pode ser destacado diz respeito ao tipo de liderança que se espera do professor. Este deve ser um líder com autoridade, contudo, ser flexível. O professor ora é visto como o líder à frente de um grupo ora como alguém que está se relacionando individualmente com cada aluno.

De forma geral, o relacionamento entre o professor ideal e o aluno tende a ser unilateral ou assimétrico, o que caracteriza relacionamentos formais. É o professor que deve se importar, ter interesse pelo aluno, motivá-lo em todos os níveis, valorizá-lo e ajudá-lo tanto na vida acadêmica quanto pessoal, sem a necessidade de reciprocidade.

Do ponto de vista profissional, o professor é visto como um transmissor de conteúdos que deve ter didática para expor e explicar esses conteúdos. A forma como esses conteúdos são transmitidos é enfatizada nas redações. Neste sentido destacam-se o dinamismo e a inovação. Este dinamismo apresenta duas

tendências. De um lado trata-se do dinamismo da mudança, da inovação. Por outro lado, trata-se de um dinamismo social. Este dinamismo social parece estar adaptado a uma situação específica: o breve convívio em sala de aula, que por suas próprias características não chega a se aprofundar.

As propriedades do contato entre professor e aluno, mesmo na condição ideal, apontam mais para interações pontuais do que um relacionamento duradouro. Os professores são pessoas que entram em contato com os alunos durante curtos períodos de tempo e sua sociabilidade parece estar voltada para um contato breve e superficial, em grande parte restrito à escola.

O professor por vezes é apresentado como amigo ou pai, contudo, essa amizade também parece ser mais unidirecional que uma amizade tradicional com outro adolescente, no sentido do professor ser amistoso em relação ao aluno.

Diante de expectativas ambíguas em relação ao professor ideal, o relacionamento com este educador apresenta um caráter dialético. O contato com o professor é um contato entre profissional e cliente mas também apresenta propriedades de um relacionamento informal aproximando-se de uma amizade. A relação entre o professor e o aluno ora passa pelo grupo ora é individual. O professor deve conhecer bem sua matéria e a didática mas também deve atrair e motivar seus alunos. É no equilíbrio entre o educador como profissional competente e a pessoa que interage bem com alunos que parece se localizar o professor ideal. Assim, do ponto de vista de uma ciência do relacionamento, a relação entre professor e aluno também parece apresentar duas tendências: de um lado é um relacionamento mais formal, do tipo profissional-cliente, em que o conhecimento e a competência são esperados, como no caso do relacionamento

médico-paciente, mas também é um relacionamento mais informal, em que há uma abertura maior para um relacionamento mais amplo.

Os dados obtidos a partir das redações ampliam as informações disponíveis sobre como alunos de ensino médio no Brasil vêm o professor ideal, com destaque para o papel do relacionamento do professor com os alunos em termos profissionais e pessoais. Infelizmente, faltam pesquisas no país que permitam uma comparação mais ampla dos resultados da investigação atual. Os dados das redações, contudo, convergem com os dados obtidos em algumas investigações realizadas no exterior, que também são restritas. Deve-se ressaltar que esta é a percepção dos alunos, que segundo Rickards e Fisher (2000), pode divergir da perspectiva dos professores quanto ao relacionamento entre ambos. Como observado por Koutsoulis (2003), tanto os aspectos de compreensão e comportamento amigável, assim como dominar o assunto e ser inteligente, aparecem nas redações de forma ampla. Os dados das redações também se assemelham aos resultados obtidos por Wubbels e Brekelmans (2005), que concluíram que o relacionamento mais favorável ao processo de ensino e aprendizagem é caracterizado por um alto nível de influência e proximidade do professor em direção aos estudantes.

6. ENTREVISTAS E QUESTIONÁRIOS

– CONVERGÊNCIAS E