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Rede Municipal de Ensino de Curitiba nas Décadas de 1970/1980

CAPÍTULO II – EXPERIÊNCIAS AUDIOVISUAIS DE CRIANÇAS E

2.3 Rede Municipal de Ensino de Curitiba nas Décadas de 1970/1980

Da mesma forma que a estruturação dos equipamentos da área cultural tem relação direta com o processo de organização espacial, implantada a partir da década de 1960, as iniciativas no âmbito educacional municipal datam da década de 1950, e se consolidam com a criação da Diretoria de Educação e Recreação Pública, como parte do Departamento de Educação, Saúde e Recreação da Prefeitura de Curitiba, através da Lei 2323/1963. A atuação da Diretoria ganhou um caráter sistemático com a primeira unidade escolar do município o Centro Experimental Papa João XXIII, também denominado Grupo Escolar Papa João XXIII, localizado na comunidade Vila Leão(bairro do Portão) com o primeiro Jardim de Infância destinado às crianças da região e um centro comunitário educacional que oferecia às famílias do bairro clube, biblioteca, educação sanitária e iniciação profissional entre as 4ª e 5ª série no Pavilhão de Arte Industrial (Costa, 2007). Foi um projeto pioneiro e responsável por atender as demandas da comunidade. A Rede Municipal de Ensino de Curitiba foi instituída oficialmente em 1963, com a municipalização da Escola da Vila Pimpão em Grupo Escolar Papa João XXIII.58 como parte do plano de urbanização da cidade, que através do Plano Preliminar de Urbanismo, coordenado pelo arquiteto Jorge Wilheim tinha como objetivos: mudar a conformação radial de expansão da cidade para uma conformação linear, integrando transporte, sistema viário e uso do solo; descongestionar a área central e preservar o centro tradicional; conter a população de Curitiba dentro dos seus limites físico- territoriais; criar um suporte econômico ao desenvolvimento urbano; propiciar o equipamento global da cidade (CURITIBA, 2002, p. 18).

Como também a área de educação era gerida pelo IPPUC, os projetos tinham uma certa continuidade e novas ideias iam sendo agregadas ou transformado as existentes. A criação de Núcleos Comunitários, associando a escola, as unidades de saúde e de serviço social

“ocupou lugar de destaque na política educacional, na medida em que almejava romper com os problemas de fracasso escolar e carência nutritiva, falta de boas

condições de saúde e de estimulação da criança. Assim, com a oferta desses serviços à comunidade, estes núcleos teriam grande importância no enfrentamento das questões sociais” (ARCO-VERDE, 2003, p. 164).

A instalação destes Núcleos era definida pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), de acordo com o Plano Diretor da cidade que previa o planejamento integrado e o conhecimento da realidade do ensino no Município, para “definir uma Política Educacional e estabelecer critérios mais válidos para o Planejamento Físico Territorial, de maneira a favorecer o desencadeamento do processo de promoção humana” (CURITIBA, 1968, p. 1). Na década de 1960 foram criados ainda mais dois Centros Comunitários - Professora Isolda Schmit (1966) e Nossa Senhora da Luz dos Pinhais (1967).

O ensino público municipal começa a tomar forma e se estabilizaria com a elaboração do primeiro Plano de Educação em 1968, de responsabilidade do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), com assessoria do professor Erasmo Piloto. O Plano atribuía ainda ao Município os encargos referentes à educação de nível pré-primário e primário, realizando uma divisão de responsabilidades com outras instâncias, de forma que o ensino médio ficasse para o âmbito estadual e o superior para o federal.59

O Plano de Educação “previa uma política educacional fundamentada em uma filosofia humanística, que fizesse da educação um instrumento de autodesenvolvimento e salientasse uma formação técnico-profissional, mas calcada em uma sólida cultura geral” (COSTA, 2007) e sua estruturação por um organismo não ligado à educação é justificada pela conjuntura local e pelo Plano Diretor que afetava todas as áreas.

O crescimento da cidade e consequentemente da demanda para o ensino leva a Diretoria de Educação a estabelecer as linhas metodológicas para cada escola e a programação de ensino a partir da própria realidade, entendendo que os padrões elaborados por técnicos não se adequavam às necessidades pedagógicas. Assim, a partir de 1975 o ensino municipal de ensino foi uniformizado e passou a ter um plano curricular único. O plano, que atendia o contido na da Lei nº 5.692, de 11

59 Para mais detalhes sobre a rede municipal de ensino consultar o Boletim da Casa Romário Martins volume 30 n.133 de março de 2007 e a publicação “30 anos de educação nos 300 anos de Curitiba”, editada pela Prefeitura Municipal de Curitiba em 1993.

de agosto de 1971, destacava a criança, como centro e objeto da educação; a escola, como agente específico da educação; a comunidade, como ponto de origem da criança; e a realização da humanidade, como fim da educação e indicava atividades complementares que foram implantadas como extracurriculares em 1975.60

(...) educação física e desportos, biblioteca ou sala de leitura, centro de atividades criadoras, iniciação às atividades agrícolas, ofertadas no período contrário às atividades de classe. O objetivo dessas atividades era oferecer situações que favorecessem o desenvolvimento dos aspectos afetivo e psicomotor (assim como dar suporte ao aspecto cognitivo) proporcionar vivências diversificadas de cultura, lazer e esporte e incentivar o espírito de liderança e responsabilidade... (COSTA, 2007 p. 43).

Na segunda gestão do prefeito Jaime Lerner (1979 -1983) os projetos na área de educação mantêm o viés tecnicista com estreita relação entre a expansão da educação e o planejamento da cidade.61

A partir do final da década de 1980 foi se ampliando a oferta de ensino integral. De 1989 a 1992, 29 escolas municipais que ofertavam ensino regular,

“[...] transformaram-se em escolas de tempo integral, para isso receberam estrutura física anexa, com projeto arquitetônico específico, diferente tanto das escolas de ensino regular quanto das primeiras ETIs. Essas escolas foram denominadas Centros de Educação Integral (CEIs) ”. (CURITIBA, 2006, p.26). Além do espaço físico foram revistos e alterados horários, turmas, seleção de professores, planejamento, grade curricular, conteúdos, materiais didáticos, sistemas de avaliação e as relações da escola com as

60 Essas políticas educacionais que davam ênfase à comunidade, como foi o caso dos Centros Comunitários e Núcleos Comunitários, fizeram parte das orientações firmadas pelo acordo internacional “Carta de Punta del Este”, conhecido também como “Aliança para o Progresso”. Este acordo financiava e propunha, para os países latino-americanos envolvidos, reformas educacionais, políticas sociais e econômicas. No campo educacional destaca-se o acordo MEC-USAID, convênio realizado a partir de 1964, durante o regime militar brasileiro, entre o Ministério da Educação (MEC) e a United States Agency for International Development (USAID). Esse acordo tinha por objetivo implantar o modelo norte-americano, reestruturando a educação pública no país. (GERMANI, 2006, p.49)

61 No período compreendido entre 1979 e 1983, sendo prefeito Jaime Lerner, tomou corpo o projeto de planejamento urbano da cidade, com financiamentos dos governos federal e estadual e do Banco Mundial (SÁNCHEZ, 2003). A Diretoria de Educação procurou “planejar, dirigir, coordenar e controlar a educação dentro da política adotada e obedecendo a legislação em vigor”, conforme expresso na Portaria nº 09/79 - Regulamento do Departamento de Educação (CURITIBA, 1980, p. 5), o que significava atender à Lei nº 5.692/1971. Com esse objetivo, foram previstas ações em quatro programas, a saber: 1. Dinamização da estrutura organizacional; 2. O aluno; 3. O currículo; 4. Recursos humanos, considerando-se como prioridade a “sistematização das ações desenvolvidas pelas divisões de Ensino, Treinamento Pedagógico e Atendimento ao Estudante, no sentido de consolidar a nova estrutura organizacional” (CURITIBA, 1980, p. 8). A teoria do capital humano, somada às linhas de ação do Banco Mundial, difundiam o ideal meritocrático, de acordo com o qual cada cidadão poderia conquistar trabalho digno e usufruir de seus resultados, se fizesse por merecer essa condição.

famílias e a comunidade. O 2º Plano Educacional para as Rede Municipal de Ensino partia das seguintes premissas: a criança, como centro e objeto da educação; a escola, como agente específico da educação; a comunidade, como ponto de origem da criança; e a realização da humanidade, como fim da educação (VIEIRA, 2012 p. 410)

Na década de 1980, a Prefeitura Municipal de Curitiba iniciou a oferta de programas de contraturno escolar, que tinha por objetivo atender aos estudantes de 07 a 17 anos, como o Programa de Integração Social da Criança e do Adolescente (PIÁ).

É neste contexto que o projeto da Cinemateca chega nas escolas municipais, como parte do Plano de Atividade Extracurricular e executado nos CACs (Centros de Atividades Criativas)62