• Nenhum resultado encontrado

2 TURISMO NO BRASIL

2.7 REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E PRIVADAS

2.7.1 Redes Organizacionais

A competência do Estado moderno como organização para ação administrativa, respalda-se, em boa medida, nas formulações teóricas e práticas produzidas ou interpretadas por entes organizacionais específicos de cada política pública. Segundo Cavalcanti (1998), a organização assume, mais do que qualquer outra categoria, a centralidade das atenções dos estudiosos da Administração Pública, quer como objeto de análise, quer como ambiência relevante, por excelência, para compreensão do fato administrativo. E ainda, se o positivismo lógico e o racionalismo tradicional privilegiam a concretude da organização como objeto de análise, por outro lado, também enfatizam a abstração do agente público como ator unitário.

A rede inter-organizacional expressa um padrão de interação na forma de um grupo de organizações que se dispõem a atuar conjuntamente para alcançar objetivos próprios ou coletivos, ou resolver problemas de um cliente-alvo ou setor. Para Cavalcanti (1998), as organizações assim atuantes orientam-se não apenas para seus objetivos internos, mas também para os objetivos externos, ou seja, da política em geral. Mantêm relações sistemáticas e, às vezes, padronizadas com suas congêneres, no que diz respeito à sua atuação sobre a região a ser desenvolvida ou recurso a ser gerenciado. Demonstram ainda grande conhecimento das funções e responsabilidade de cada uma, no que se refere ao problema e manifestam elevado grau de consenso em relação à política em vigor, bases fundamentais de relações integradas.

Região Uva e Vinho é um exemplo de modelo se examinado à luz da pesquisa de Van de Ven (1980). Os atores da cadeia buscam atuação coordenada para resolver problemas complexos e atingir objetivos comuns. Suas relações inter-organizacionais surgem da necessidade de interação das fontes de recursos, informação e atuação na política direta.

Para o autor, existem três modelos de relacionamento inter-organizacional. O modelo mais simples é o de atuação em par ou binária. Neste tipo de relação é fácil compreender a dependência operacional, a comunicação direta e o consenso das partes envolvidas.

No segundo modelo, denominado de conjunto inter-organizacional, existe uma agência focal que interage com diversas outras agências, as quais não possuem relação entre si. Nessa tipologia, tais relações não se estabelecem diretamente. A grade operacional se articula de acordo com necessidades particulares que, não obrigatoriamente, serão de dependência mútua. Podem, inclusive, ser negociadas visando ao objetivo final da política, sem necessidade de reciprocidade.

Finalmente, no terceiro modelo proposto por Van de Ven (1980), rede inter- organizacional, o inter-relacionamento se dá entre um grupo de organizações articuladas como um sistema social, visando atingir um objetivo coletivo ou resolver um problema de uma população alvo. Logo, o foco analítico das relações entre organizações está justamente na interlocução dos tipos de atividades e suas funções para o atendimento das metas finais e não nos cumprimentos individualizados de objetivos. Este modelo é o que melhor descreve a articulação dos atores da cadeia produtiva na região em estudo neste trabalho.

No caso específico da rede inter-organizacional, o autor destaca quatro dimensões que captam a essência estrutural desse último modelo. Essas dimensões se aplicam ao presente estudo para validação da existência de um arcabouço teórico que justifique o futuro posicionamento competitivo da Região Uva e Vinho enquanto destino turístico: a formalização (a), a complexidade estrutural (b), a centralização (c) e a intensidade (d).

a. Formalização, que se apresenta como o grau de regulamentações, políticas

ou processos que delimitam o papel de cada organização na rede, seja na amplitude das regras ou processos seja na quantidade de burocracia a que determinados membros da rede estejam sujeitos para a operação do sistema. b. Complexidade estrutural, que se define pela diversificação, representada

não só pelo número de operadores da rede como também pelo seu tipo de atuação no mercado em geral.

c. Centralização, que se divide em dois aspectos básicos: a tomada de decisão

e o acesso às informações. O primeiro diz respeito aos tipos de autoridade na rede em questão e o segundo refere-se aos tipos de relação entre as organizações no que tange às informações e suas fontes.

d. Intensidade, que é a força da rede inter-organizacional propriamente dita e

foi identificada por Marret (1971 apud VAN DE VEN,1980) como indicativo do investimento das organizações nas relações inter- organizacionais.

O modelo organizacional da Região Uva e Vinho distribui suas funções nas várias relações conjuntas de operação. Como será comprovado, os atores da cadeia turística já se relacionam em uma estrutura complexa, que se estrutura em rede, com objetivos

paralelas, como sindicatos e associações de classe. A pluraridade e o foco democrático da política de consolidação do destino turístico estão identificados na natureza, nos objetivos e nas características organizacionais, tanto no que diz respeito à implementação quanto no papel das diferentes organizações envolvidas no processo.

Logo, o conceito de gestão pública integrada, em substituição aos modelos burocráticos simples sem articulação de processos decisórios, ao dar conta das relações inter-organizacionais, sugere novos caminhos para a construção de teorias e estratégias de reforma administrativa (CAVALCANTI, 1998). A região Uva e Vinho se diferencia então, não apenas pelos objetivos da política regional, mas pela gestão inter- organizacional da mesma. Sua configuração, em uma rede inter-organizacional, aumenta a capacidade de proporcionar o acesso ao destino como um todo e aproxima a região de modelos estratégicos que resultam da reunião de fatores competitivos já existentes, e que poderão se resumir em um planejamento de médio e longo prazo para desenvolvimento da região enquanto destino turístico competitivo.

Este capítulo abordou os conceitos teóricos que tratam exclusivamente da atividade turística e de suas ações de interesse direto dos objetivos deste trabalho quanto ao levantamento de FCS que auxiliem a Região Uva e Vinho a se caracterizar como Destino Turístico. No próximo capítulo, busca-se uma maior aproximação das ações do

trade com os conceitos de estratégia, que têm como objetivo dar subsídios para

legitimação dos resultados aferidos nas pesquisas que concluem este texto de dissertação.