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Foi a resolução de um problema matemático que deu origem aos estudos da teoria de grafos, que posteriormente foi apropriada pelas ciências sociais com o nome de teoria das redes sociais. Trata-se das sete pontes de Königsberg, um problema resolvido pelo matemático Leonhard Euler em 1736, e que consistia em saber se seria possível transitar entre as duas ilhas que formavam a referida cidade e estavam ligadas por sete pontes diferentes sem que se repetisse a passagem por nenhuma. Euler provou que não. Para tanto, representou cada caminho como uma reta e as intersecções entre os caminhos como pontos (LIMA; CORRÊA, 2009).

Na recontextualização para o campo social, as pessoas passaram a ser representadas como nós da rede, e os laços entre elas, de amizade ou de outra natureza, como as linhas (arestas) que unem os nós. A partir daí, uma análise estatística era capaz de prever quantos laços poderiam ser formados com base no estudo das relações de duas pessoas ou instituições sociais quaisquer.

A definição de partida para o aprofundamento do estudo das redes é a de um conjunto de nós ligados uns aos outros por linhas ou arestas. Nas redes sociais, os nós, que também são chamados de atores ou unidades, são os participantes ou agentes sociais (indivíduos, grupos, organizações) assim identificados nas ciências sociais (MARTELETO; SILVA, 2004). Segundo Wasserman e Faust (1994) atores e ações são unidades autônomas e interdependentes que sofrem influência e influenciam outras ações. Os vínculos relacionais entre os atores representam canais para os “fluxos de informações materiais ou não materiais” (p. 04). Nas redes sociais, as ligações são mais importantes do que os atributos dos nós, pois são elas que promovem a ação dos nós.

As relações entre os nós são responsáveis pelas conexões, que no primeiro nível podem ser díades ou tríades, como ilustram as figuras 1 e 2:

Figura 1: Representação de uma Díade Fonte: Faccioni Filho, s/d

Figura 2: Representação de uma Tríade Fonte: Faccioni Filho, s/d

Segundo Faccioni Filho, pode haver três díades em uma tríade, sendo essas, as relações entre, por exemplo, A e B, B e C, que podem resultar na relação entre A e C. Assim, uma nova ligação pode acontecer quando há uma tríade, ou seja, a ligação de um nó com os outros dois.

Se visualizadas todas as relações dos nós envolvidos nas díades e tríades, temos então a formação de um grupo. Faccioni Filho aponta que a delimitação do grupo é importante para o estudo das redes sociais, definida por ele como “um conjunto finito de atores e suas relações” (Ibid.). Isso porque os participantes de um grupo sempre terão ligações fora do limite determinado para uma análise específica, podendo estar ligados a outras redes.

Todavia, as redes podem ser monomodais, ou seja, formada por atores de um único círculo de interação. Podem também ser duomodais, quando identificadas por dois modos, ou seja, dois tipos de ligações entre atores, por exemplo, homens e mulheres atores do grupo amantes do rock associados ao evento amigos da escola.

Estudos importantes, como o conduzido por Granovetter nos anos 70, mostraram que as redes sociais são formadas por laços fortes, ou seja, uma relação mais íntima, e por laços fracos, representados por relações superficiais, entre os integrantes. Os laços fortes, em geral, são responsáveis pela perenidade da rede e pela formação de clusters, isto é,

grupos densamente conectados que são parte de grupos maiores conectados entre si por laços fracos (famílias que moram em um grande condomínio seriam um bom exemplo).

Os dois tipos de laços são importantes. Sem laços fortes, não haveria estabilidade no conjunto de relações. Mas sem a existência dos laços fracos, os clusters ficariam isolados e a rede como um todo, ruiria. Dentre os estudos desenvolvidos por Granovetter para se chegar a essa conclusão, destaca-se o getting a job, realizado em 1973, em Boston-USA. Nesse estudo, o sociólogo constatou que a maioria dos seus entrevistados conseguiu um emprego através de um amigo com quem mantinha laços fracos (GRANOVETTER, 1973).

A maioria das distâncias nas redes é reduzida graças à presença dos hubs32 ou intermediários, ou seja, atores que conectam vários grupos que pertencem a sua rede. Em um estudo qualitativo de ligações entre nós na rede social Orkut, Recuero (2009) observou que, em muitos casos, embora os hubs possuam muitas ligações, não há necessariamente uma relação, uma interação social entre eles e o nós a que estão conectados. Isso acontece porque sites como o Orkut permitem a inclusão de pessoas nas páginas uma das outras através de um pedido de adição de nome seguido de um aceite que não estão vinculados ao estabelecimento (prévio ou pós-aceite) de uma interação social. Por serem rastreáveis, as RSVs tornam a verificação desses tipos de estudos mais fáceis de realizar, do ponto de vista prático, do que nas redes sociais não virtuais.

Alguns estudos sobre redes sociais como os de Marteleto e Silva (2004) e o de Costa (2005) discorrem sobre o capital social33 presente nesses tipos de redes. Segundo Bourdieu (1985), o capital social é produzido coletivamente e funciona pela lógica do acúmulo de recursos potenciais (de informação, neste caso) advindos da cooperação entre grupos e indivíduos como fonte para a formação de bens duráveis. Através do capital social obtido nas redes de relações, o indivíduo pode adquirir outras formas de capital, como o capital financeiro e o capital cultural, refletido no conhecimento e habilidades que lhe garantem status social.

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Hubs são atores que conectam vários grupos, ou seja, os amigos de todo mundo. Nas redes online, os hubs são atores seguidos por muitas pessoas que não necessariamente seguem umas as outras.

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Provavelmente a partir do conceito homólogo em Bourdieu (1985), Marteleto e Silva (2004) definem capital social como “um conjunto de normas, valores, instituições e relacionamentos compartilhados que permitem a cooperação dentro ou entre os diferentes grupos sociais”.

Marteleto e Silva (2004) afirmam que assim como o financeiro, o capital social precisa de investimentos para garantir retorno. Este pode vir através de informações, indicações e benefícios, conforme os tipos de redes a que os atores estão conectados. Costa (2005) explica que as relações passam a ser vistas como capital a partir do momento em que não só o capital natural e financeiro determinam o sucesso econômico, mas também “o modo como os atores econômicos interagem e se organizam para gerar crescimento e desenvolvimento”.

Com o desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação, pesquisadores do meio virtual começaram a aplicar a teoria de redes às RSVs. A seguir apresento alguns desses estudos com o propósito de fundamentar a descrição do contexto online da pesquisa, que farei mais adiante.

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