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Capítulo 5: Reflexão e análise da aplicação dos programas de simulação no ensino da Físico-Química

5.1 Reflexão da implementação da atividade

Após desenvolver as duas atividades relatadas, e da experiência que se vai acumulando na sala de aula com a utilização dos programas de simulação no ensino da Física e da Química, pode-se constatar que o professor tem de desenvolver um trabalho que se inicia na preparação da atividade, continua na sala de aula e prolonga-se após a sua aplicação.

O trabalho inicial corresponde a um trabalho de preparação da atividade. Esta preparação prévia é fundamental para o seu sucesso e exige que seja feita uma reflexão baseada, não só em elementos pedagógicos e didáticos mas também em elementos motivacionais, que tornem a atividade desafiante para as aprendizagens pretendidas. Podem-se salientar algumas tarefas que devem ocupar o trabalho inicial do professor:

• a escolha do software educativo;

• a elaboração do roteiro de exploração;

• a verificação da execução do programa de simulação escolhido nos computadores onde vai ser executado.

Para alunos do Ensino Básico a componente lúdica dos programas de simulação e as animações apresentadas tem de ser tida em conta na escolha do programa. A utilização de software apropriado para os alunos retirarem dados experimentais, para fazerem medições e controlar variáveis como resistência, intensidade da corrente e diferença de potencial não garante por si só um interesse motivacional dos alunos. A atenção e concentração aumentam quando as animações computacionais são mais dinâmicas e propõem desafios divertidos. O que se constatou foi que o ritmo de trabalho dos alunos foi mais intenso com o programa de simulação “Monte um átomo” e no “Battery-Resistor Circuit” do que no “Ohms Law”, uma vez que, dos relatos recolhidos na aula, era por “ser mais divertido” ou por estarem mais entusiasmados com o jogo. Este fator motivacional deve ser levado muito a sério no caso de existirem alunos menos motivados para o estudo ou de turmas mais

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desconcentradas, como se verifica nas turmas do 9ºB e 9ºE (ver Tabela 15). Quando os alunos são mais empenhados e interessados nas tarefas escolares não é tão evidente a importância do fator motivacional dos programas de simulação e do próprio roteiro de exploração. Deve, contudo, ser sempre tido em atenção este fator, pois pode melhorar e muito o desempenho dos alunos e as aprendizagens efetuadas.

Esta linha de pensamento também deve ser aplicada na elaboração do roteiro de exploração. A produção do roteiro de exploração revela-se de extrema importância, porque permite direcionar o aluno para as aprendizagens pretendidas. Deverá ficar com uma apresentação atrativa, uma linguagem simples, objetiva a tanto quanto possível adaptada para esta faixa etária quer na discrição do(s) programa(s) de simulação, quer no questionário proposto. Sempre que possível, deve-se criar uma envolvência entre o programa de simulação e o roteiro de exploração que seja o mais cativante possível. A opinião demostrada pelo grupo de trabalho 10 demostra que o roteiro elaborado foi um pouco menos conseguido neste aspeto, por está muito focalizado nas aprendizagens pretendidas.

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Figura 50 - Resposta à questões de um aluno do grupo nº 18

É muito importante testar o programa de simulação instalado em todos os computadores onde vai ser executado, porque podem ocorrer erros no seu funcionamento na aula, mesmo que a sua instalação tenha decorrido com normalidade. Estes erros podem ser originados por incompatibilidades provocadas pela falta de atualizações do software dos computadores e permissões. Pode, ainda, ser possível executar o programa de simulação quando este «corre» na conta de administrador e não quando «corre» na conta “convidado”.

Figura 51 - Resposta à questão do inquérito de um aluno do grupo 9

O trabalho de acompanhamento da aula, propriamente dito, permite que o professor se aperceba da interpretação que está a ser feita pelos alunos do roteiro de exploração fornecido e do programa de simulação, o que obriga a determinados tipos de esclarecimentos. O docente deve evitar dar explicações exaustivas das tarefas que os alunos têm de realizar e deve orientar os alunos para que eles se envolvam nas funções que

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têm de desempenhar e nas aprendizagens pretendidas. A experiência da aplicação deste tipo de atividade demonstra que quanto menos explicações o docente fornecer melhor, uma vez que o desempenho e entusiasmo dos alunos é sempre melhor quando são eles próprios a explorar o programa de simulação. A ansiedade que os alunos evidenciam em ligar os computadores e a destreza que demonstram na manipulação dos programas de simulação, são bons indícios de uma execução das tarefas propostas. Sempre que surgir dúvidas os alunos pedem imediatamente colaboração do professor para os ajudar. Esta ajuda deve ser mais no sentido de apelar à observação e interpretação do que é simulado, de forma a orientar o trabalho no caminho certo.

A experiência educativa indica que não há aulas perfeitas. Mesmo nas que são lecionadas com recurso ao computador, surgem sempre imprevistos, distrações por parte dos alunos, envolvências diferentes do professor e cada aula acaba por ser única, porque é aplicada a públicos muito diversificados. A avaliação quantitativa das aprendizagens conseguidas com a implementação dos programas de simulação no ensino da Física e da Química pode ser realizada a curto e médio prazo. A avaliação a curto prazo foi realizada pelos resultados obtidos no Jogo, disponibilizado no programa de simulação “Monte um átomo” (Gráfico 1) e pela avaliação das respostas dadas no roteiro de exploração (Gráficos: 5, 6, 7). A avaliação a longo prazo pode ser realizada, por exemplo, por intermédio de um teste de avaliação, efetuado algumas semanas após a realização da atividade, tal como foi realizado com a exploração do programa de simulação “Monte um átomo” (Gráfico 3). Outras possibilidades de avaliar os conhecimentos adquiridos com o programa de simulação poderiam ser, por exemplo, o professor der continuidade às turmas do ano anterior e realizar um teste diagnóstico ou se aplicar estas aprendizagens em novas situações.

O ambiente de aprendizagem conseguido com a aplicação dos programas de simulação na sala de aula ultrapassa muito o modelo tradicional de ensino de quadro e giz e cria uma forma alternativa de ensinar Física e Química. Os próprios alunos, nos inquéritos, fizeram comentários positivos à aula e às atividades desenvolvidas (Figura 17 e 18), salientando como aspeto mais positivo a utilização dos computadores com os programas de simulação (Figura 41, 42).

Todas estas observações só vêm confirmar a teoria, que refere as vantagens de aplicação das TIC no processo de ensino e de aprendizagem. As TIC, na vertente de utilização de programas de simulação, permitem colmatar muitos obstáculos no ensino das ciências, alguns dos quais esta investigação também mostrou. Salienta-se a possibilidade

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de permitir que a mesma simulação possa ser utilizada por vários alunos simultaneamente e ao ritmo de cada um, visualizar o que é humanamente invisível, ilustrar experiências difíceis ou impossíveis de realizar na sala de aula, abordar conceitos abstratos quando não há recursos experimentais, permitir rentabilizar o tempo de lecionação de Física e Química face à reduzida carga horária destinada à disciplina. Todas estas vantagens estão ao alcance de um “clique” de um computador para a Internet, sem ser necessário ser um especialista em programação para usar este tipo de programas ou um perito em informática.

No entanto, o processo de ensino e de aprendizagem é muito mais complexo e requerer muito “engenho e arte” para se ultrapassar obstáculos, de forma a “ levar a bom porto” todas as obrigações exigidas, ou pelo menos encontrar soluções para melhorar a prática educativa.

5.2 Análise dos resultados obtidos

A análise dos dados obtidos permite concluir que as atividades desenvolvidas com os programas de simulação surtiram efeito na aprendizagem dos alunos. De facto, os dados que permitiram averiguar as aprendizagens conseguidas com o programa de simulação “Monte um átomo”, foram pelo teste de avaliação escrito, nomeadamente a partir das respostas dadas às questões referentes aos conhecimentos em causa e que tinham um peso máximo de 33% na classificação final (Tabela 13). Foi conseguida uma classificação média final de 20,56, com mais de 60% (62,30%) dos alunos a demonstrarem terem adquirido os conhecimentos;

Por outro lado, a avaliação das aprendizagens decorrentes da aplicação dos programas de simulação “Circuito Bateria- Resistor” e “Ohms-law” foi efetuada pela observação das respostas dadas ao roteiro de exploração (Tabela 15). A percentagem dos alunos que tiveram uma avaliação positiva no roteiro de exploração nas turmas B, E e F, foram de 47%, 50% e 75%, respetivamente.

Embora os resultados não excedessem as expectativas são, de uma maneira geral, coincidentes com o aproveitamento de cada turma na disciplina de Físico-Química ao longo do ano, destacando-se pela positiva a turma F e pela negativa B. Na sua globalidade pode-

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se afirmar que estes resultados são favoráveis à metodologia a dotada, uma vez que as percentagens obtidas demonstram ter existido uma aprendizagem razoável dos conhecimentos pretendidos. Apesar de não se atingir 100% de sucesso em nenhuma das turmas, foi evidente que a utilização do computador na sala de aula como elemento de aprendizagem aumenta a motivação dos alunos para as tarefas de aprendizagem. No inquérito fornecido aos alunos, eles mencionaram a utilização dos computadores na sala de aula e/ou os programas de simulação como sendo um fator de motivação (73%,ver tabela 16), sendo, também, um dos aspetos mais valorizado na aula (ver tabela 17, figuras 41e 42).

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