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REFLEXÃO NA VIDA PROFISSIONAL DAS TREINADORAS DE GINÁSTICA RÍTMICA

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.5 REFLEXÃO NA VIDA PROFISSIONAL DAS TREINADORAS DE GINÁSTICA RÍTMICA

Devido a constante necessidade de melhorar o desempenho e a atuação do treinador esportivo, a exposição em ambientes estimulantes para o seu desenvolvimento aumenta o seu repertório de experiências e permite que sua prática profissional não se limite a repetir o que aprendeu com os treinadores mais experientes com quem conviveu (BRASIL et al., 2015). Dessa maneira, o acesso variado às situações de aprendizagem, de maneira especial as informais, tais como: ambientes de treino e competição, interação com atletas e com outros treinadores (mentoria), comunidades de práticas, assim como a reflexão acerca da sua atuação, oferece aos profissionais uma aprendizagem experiencial e auxilia no atendimento aos objetivos e metas, mas principalmente, ensinam a transformar o conhecimento em ação, o que para Trudel e Gilbert (2006) é obtido pelo trabalho da reflexão sobre a sua prática (RODRIGUES; 2014; CARBINATTO; GAMARANO; CHAVEZ, 2016).

Nesse sentido, Trudel e Gilbert (2006) entendem que a reflexão deve estar presente em todos os cenários de atuação do treinador, devido a complexidade de sua tarefa. E estabelecem que a reflexão centrada à prática, deve acontecer em três situações, durante os treinamentos e jogos (reflection-in-action), sobre os treinamentos e jogos (reflection-on-

action) e após a temporada (retrospective reflection-on-action). Assim,

quando a experiência do treinador é acompanhada pela reflexão sobre a ação, a compreensão de como atuar em cada situação e escolher a resposta mais apropriada para cada contexto se torna um caminho para se tornar um treinador expert (IBÁÑEZ et al., 2013).

Neste estudo em questão, a entrevista permitiu que as treinadoras revisitassem os momentos de prática reflexiva em sua carreira e pudessem apontar os momentos e a forma de reflexão em sua rotina de treinamentos e competições, assim como, refeletir o seu próprio papel e atuação em cada fase da sua carreira. As treinadoras destacaram a reflexão como ponto forte na resolução de problemas, e que representa um elemento importante na sua prática de coach, no entanto não apresentam uma sistematização desse processo. O que para Knowles et al. (2006) apesar de ser também um processo de avaliação e uma ferramenta de melhoria para produzir uma mudança na prática, a reflexão deve ir além, o rigor reflexivo deve fazer parte da rotina de todos os treinadores, com objetivo de amparar suas ações com responsabilidade, pra eles a qualidade do processo de reflexão diz muito a respeito sobre as experiências

vivenciadas e também nas decisões tomadas, considerada então uma habilidade-chave para o treinador expert (KNOWLES; BORRIE; TELFER, 2005).

De forma unânime, as treinadoras relataram que a reflexão faz parte de sua rotina diária de treinamento, desde o planejamento, às adaptações necessárias para atender as demandas e necessidades imediatas do treino, na busca por melhoria de qualidade técnica, questões táticas, até a avaliação da planificação e dos resultados encontrados. Interagindo dessa forma com os estudos de Gilbert e Trudel (2001), no qual os aprendizados experienciais de treinadores esportivos traduzem experiência em seus conhecimento e habilidades, compreedendo assim, que o desenvolvimento de experiências baseado na reflexão está aliado em seis componentes: questões de coaching, estruturação de funções, definição de questões, geração de estratégias, experimentação e avaliação, indo ao encontro em sua completude com os achados nesta investigação.

As treinadoras utilizam estratégias de reflexão que se aproximam e se distaciam umas das outras, no que tange às semelhanças, a utilização de vídeos para análise de treinamentos e também competições, foi uma recorrente fonte citada por todas as cinco treinadoras deste estudo. Nesse sentido, o estudo de Carson (2008) vem corroborar com os resultados, o qual em seu trabalho destaca que os treinadores relataram sua experiência de usar gravação de vídeo em prática de treinamento. Ainda segundo Carson (2008), a análise de vídeos auxilia na reflexão do seu próprio trabalho, no trabalho individual de seus atletas e no trabalho coletivo para o crescimento do grupo. O uso da reflexão em vídeo destaca os pontos fortes e fracos da prática e possibilita analisar com precisão o desempenho, especialmente em relação às melhores práticas, no entanto, a primeira reflexão em vídeo se dá relacionada a identificação de áreas de melhoria. E aponta que o treinador também deve ser encorajado a analisar bom desempenho e contemplar o desenvolvimento do trabalho realizado, para não correr o risco de estar preso somente aos defeitos.

Já no que se refere às particularidades de cada uma, os momentos os quais a reflexão acontece são variados, pois cada uma delas está envolvida com o treinamento de forma distinta. Para a treinadora T1 a reflexão é uma constante em sua vida, reflete sozinha quando precisa analisar o conteúdo do treinamento, mas destacou os importantes momentos de reflexão com seu grupo de trabalho, quando precisa buscar soluções que requer contribuição de todos, para tomar decisões táticas

costuma de reunir com seu grupo de treinadoras assistentes, e com suas atletas costuma refletir estratégias de melhoria nas rotinas, coreografias, músicas e questões artísticas e com sua mentora busca refletir sobre questões técnicas. Já a treinadora T2 tende a buscar auxilio nas reflexões nos momentos que se encontra sozinha, no dia-a-dia sem a presença de outras pessoas, busca responder questionamentos que ela mesma se faz ao longo do dia. A treinadora T3 costuma guardar material como auxílio para o seu processo de reflexão, as súmulas das competições para analisar as notas, vídeos para analisar as coreografias, mas sua reflexão se dá diariamente com sua atleta que retroalimenta o seu trabalho e seu sistema reflexivo. Para a treinadora T4 o registro do processo e do produto da sua reflexão são anotados periodicamente, e tudo o que se tranformará em ações passa ao seu computador, também costuma refletir com um grupo de amigos envolvidos com a ginástica, no qual, discutem, e analisam junto dela algumas tomadas de decisão. Já a treinadora T5 tem cada passo do seu dia registrado, costuma ter o controle de tudo o que faz, o mesmo realiza com suas ginastas que mantem o registro do treinao diariamente em cadernos, assim consegue refletir, avaliar e controlar os resultados obtidos. Também destacou que costuma correr muito cedo, e aproveita esse momento pra realizar sua reflexão sobre assuntos importantes, decisões que precisa tomar ao longo do dia e mudanças em estratégias de treinamento ou para competições.

No quadro 5 abaixo, é apontado os tipos de reflexão realizado por cada treinadora, quais estratégias são utilizadas assim como quais ações são advindas desse importante momento de desenvolvimento do seu trabalho.

Quadro 5 – Reflexão de treinadoras de Ginástica Rítmica TREINADORAS Tipo de Reflexão Estrátegia de Reflexão no

trabalho Ações advindas da reflexão T1 Frequente/ Sem sistematização/ Com a equipe multidisciplinar quando requer uma decisão coletiva/ com

sua equipe técnica quando a decisão é

pontual..

Mantém o treinamento registrado como técnica de controle e possibilidade de detecção de possíveis erros/ Filmagens em determinado período do treinamento/ Resultado de competições. Modificações no trabalho quando necessário. T2 Frequente, sem sistematização.

Não utiliza registros como técnica de reflexão Modificações no trabalho quando necessário T3 Frequente, sem sistematização/ Diálogo com um grupo de pessoas em quem confia.

Registro não periódico, utiliza material para refletir seu trabalho, como: súmulas de

competições e vídeos dos campeonatos. Modificações no trabalho quando necessário T4 Frequente, com sistematização/ Diálogo com um grupo de pessoas em quem confia.

Registro diário das atividades desenvolvidas/ Filmagens em determinado período do treinamento Utiliza as filmagens para que as ginastas vizualizem os erros/ Modificações no trabalho quando necessário T5 Reflexão crítica/ Frequente.

Registro diário das atividades desenvolvidas Modificações no trabalho quando necessário/ Adaptação do treinamento para corrigir falhas Fonte: Autoria própria (2017).

No entanto, para Cushion, Armour e Jones (2003), a reflexão crítica não deve ser apenas uma forma de ver o passado e o presente, mas discernir o que poderia ser feito para transformar o presente e melhorar o futuro. Acreditam que a educação de treinadores precisa explorar novos conhecimentos e não reproduzir comportamentos de educação formal, a reflexão dessa forma auxilia o pensamento crítico que permitirá aos treinadores desenvolverem suas próprias experiências refletidas. No mais, aprendizagem de treinadores eficazes tem de ser constantemente revista e adaptada, treinador eficaz são aprendizes ao longo da vida e comprometidos com o crescimento e desenvolvimento de sua tarefa, o que se estende muito além de qualquer programa formal de formação (CÔTÉ, 2006).

Acredita-se que a reflexão é utilizada em processos de aprendizagem mais sofisticados com intuito de interpretar e aprofundar a compreensão sobre tal situação ou circuntância (CALLARY, 2012). Para as treinadoras envolvidas no presente estudo, a reflexão não era encarada como uma forma de aumentar a autoconsciência ou de facilitar e significar as atividades próprias do seu trabalho. A reflexão, de maneira especial a reflexão crítica não são pontos comumentes estudados em cursos de formação, talvez por ser assunto novo no meio da formação de treinadores, talvez por não se darem conta do processo reflexivo que realizam na sua rotina de trabalho e vida.

4.6 MENTORIA NA VIDA PROFISSIONAL DAS TREINADORAS