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Reflexão semanal

De 23 a 25 de outubro de 2017 em contexto de Creche no colégio infantil “O Saltitão” na sala de Aquisição da marcha aos 36 meses

Esta semana, foi a minha colega Telma que teve o privilégio de intervir junto das crianças. Em conjunto, elaborámos a planificação e construímos os materiais que seriam necessários para a sua atuação. As atividades previstas sofreram alterações: entre o que tínhamos pensado e a realidade da qual não nos podemos abstrair, tivemos que as reajustar ou até reformular para realizar os projetos da escola e para, também, criar algumas atividades da nossa iniciativa consoante os interesses das crianças.

Antes de mais, gostaria de abordar um tema que ficou um pouco para trás e que, na minha opinião, tem uma grande importância na forma de atuar da educadora cooperante. Durante o nosso período de observação, fizemos uma entrevista à nossa educadora onde ela nos explicou que aplicava a metodologia de projeto com as crianças. Esta metodologia, centrada na resolução de problemas, pode ser utilizada em qualquer idade, sendo que é preciso adaptar os diferentes passos a cada nível etário. Esses problemas provocados pelas crianças (por meio de uma dúvida ou de uma pergunta) vão ser resolvidos através de uma procura de resposta em grupo, o que dará lugar a um trabalho final que irá enriquecer as crianças em termos de conhecimentos e compreensão. O grande objetivo desse tipo de trabalho é encontrar um caminho que leva a descobrir as respostas. Esse caminho é feito de explorações e de descobertas que as crianças vão experienciando através de atividades e exposição de trabalhos. Deste modo, a criança constrói o seu próprio conhecimento e começa a ter noção de que um trabalho ou uma pesquisa seguem um método científico para chegar a uma resposta. É um sistema de aquisições de aprendizagens através da construção de conhecimentos. Como já referi, a nossa educadora adapta esse tipo de metodologia para as crianças da sua sala, que têm à volta dos 2 anos. Foi exemplo dessa metodologia o outono. Uma criança trouxe bolotas e, na sequência de uma história sobre o vento que faz cair as folhas no outono, as crianças fizeram uma saída de campo onde foram averiguar a existência de folhas no chão e apanharam-nas. A seguir, as crianças foram convidadas a participar em atividades à volta das folhas que tinham ido apanhar, ou seja, houve uma representação das vivências através de um processo expressivo que foi finalizado pela exposição dos resultados. Pessoalmente, acho que esta metodologia, se bem adaptada às idades, pode ser muito interessante. Ao observar e ouvir as crianças e seus interesses, consegue-se criar atividades que façam sentido nas suas experiências do dia a dia, consegue-se responder à sua curiosidade natural e favorece-se a autonomia e descoberta do mundo que as rodeia. Acho importante envolver as crianças em experiências que façam sentido para elas assim como na mobilização dos sentidos, no recurso a materiais diversos e nas vivências tanto em sala como no exterior. Trata-se de uma maneira de ativar as competências das crianças através de uma contextualização e no âmbito de uma linha construtivista. Deste modo, a criança adquire não só conhecimentos, mas também uma metodologia de trabalho, mesmo desde pequena.

Como já referi, a nossa planificação sofreu alterações e, após a realização das atividades da instituição, conseguimos criar uma atividade pensada por nós. Na quarta feira, tentámos iniciar o dia de maneira diferente. Em vez de ler a tradicional história, e tendo em conta o tema desenvolvido devido à altura do ano (Halloween), decidimos que a minha colega iria mascarada de bruxa. Esta personagem já tinha sido introduzida nos dias anteriores através de uma história (exploração de imagens) e, neste dia, ganhou vida e foi apresentada às crianças. Com esta caracterização da colega Telma, conseguimos de forma lúdica e diferente para as crianças introduzir a atividade. Queríamos despoletar nas crianças o desejo de fazer uma bruxa porque elas já tinham feito abóboras e fantasmas (figuras do Halloween) e, ao fazer as bruxas, iríamos proporcionar às crianças experiências plásticas. Então, a nossa bruxa apareceu muito triste porque não havia nenhum retrato dela na sala, e logo, através de perguntas feitas às crianças como: “O que é que tornaria a bruxa Lili feliz?”, “Podemos perguntar à bruxa se ela queria um desenho dela…” provocamos as crianças para fazerem o retrato da bruxa. Com esta introdução, conseguimos várias intencionalidades pedagógicas que constam da nossa planificação. Efetivamente, pretendíamos criar um diálogo com as crianças, e isto verificou-se quando elas tentaram responder às nossas perguntas. Também pretendíamos provocar emoções nas crianças, o que se verificou largamente. Foi uma real satisfação para mim ver as caras das crianças quando a bruxa Lili entrou na sala. De repente, todas ficaram caladas, todas olharam para ela, algumas abriram a boca, outras puseram a mão em cima da boca, uma criança ficou pouco à vontade com a bruxa e procurou logo o colo da auxiliar. Acho que conseguimos não deixar as crianças indiferentes e todas sentiram algumas emoções que se podiam ler nas suas caras. As crianças são tão expressivas que se notou perfeitamente nelas o efeito da bruxa. No início, julgo que as crianças não repararam logo que era a colega Telma disfarçada e, aos poucos, foram-se apercebendo que era ela. Mas, mesmo assim, numa criança vimos que não era assim tão óbvio sendo que ela estava sempre a perguntar: “Onde está a Telma?”. Depois, todos fizeram a atividade. A seguir à sesta, por altura do lanche, a nossa bruxa Lili voltou. Apesar da maior parte das crianças terem gostado, a bruxa teve que ir embora e a Telma voltar porque uma das crianças (a mesma que de manhã pediu colo à auxiliar Susana quando apareceu a bruxa) não gostou muito de a ver novamente e começou a chorar.

Constam da planificação as brincadeiras livres e, durante essas brincadeiras, existem muitas ocasiões onde podemos atuar com o objetivo de aproveitar momentos para desenvolver uma intencionalidade pedagógica. Houve um momento que gostava de partilhar nesta reflexão. Quando o tempo o permite, as crianças vão brincar no exterior após o lanche. Estavam todas a brincar quando uma delas lembrou-se de gatinhar por baixo de uma cadeira de criança que estava no exterior,

encostada à parede. Ao observá-la repetir várias vezes a brincadeira decidi pegar na cadeira e pô-la num sítio mais adequado e mais prático (longe da parede) e comecei a interagir com a criança e a encorajá-la nessa atividade com o intuito de lhe promover a motricidade grossa. As outras crianças observaram-nos: o J. a rastejar debaixo da cadeira e eu a encorajá-lo e a lançar-lhe desafios, “agora, em vez de gatinhar, vê se consegues rastejar…” Algumas crianças juntaram-se a nós e começaram também a gatinhar ou rastejar por debaixo da cadeira. Além de promover a motricidade grossa, também estava a promover a aquisição da noção de “esperar pela sua vez”. Efetivamente, muitas delas chegaram e queriam experimentar logo e passar à frente dos amigos, e estive a explicar-lhes que tinham que aguardar pela sua vez e esperar atrás do colega que estava à frente. Do meu ponto de vista foi um momento de experiência pedagógica que nasceu da iniciativa de uma criança, mas que, ao observar essa criança, soube explorar com ela e com as outras ao tentar “aproveitar” para dar alguma intencionalidade pedagógica.

Existe um momento importante no quotidiano de uma criança com aproximadamente dois anos, é o treino do bacio. A grande maioria das nossas crianças faz esse treino. Algumas (poucas) já não usam fraldas e conseguem saber quando querem ir à casa de banho. Para outras, tiramos a fralda, são sentadas no bacio e, após um momento, voltamos a pôr a fralda. Uma dessas crianças começou a fazer chichi no bacio quase sistematicamente e nós elogiamos muito essa criança cada vez que consegue e ela fica extremamente contente e satisfeita com esses elogios. O controle dos esfíncteres é um passo muito importante para a autonomia e autocontrole da criança (Papalia, Feldman, s.d.). Conforme ela cresce (a nível físico, cognitivo e emocional), ela procura a sua independência relativamente ao adulto e esse período costuma acontecer entre os 18 meses e 3 anos. Esse período foi identificado por Erikson (citado por Papalia e Feldman) como sendo um dos estágios no desenvolvimento da personalidade: autonomia versus vergonha e dúvida. É quando a criança começa a julgar-se a ela própria e onde emerge o conceito de vontade. A criança tem uma vontade e um desejo de autocontrole e de autonomia e começa a querer controlar o seu mundo, a tomar as suas próprias decisões e a experimentar as suas ideias. O controle dos esfíncteres representa sem dúvida um salto qualitativo na aquisição dessa autonomia. Constatamos que o J. está nessa fase, uma vez que ainda usa fralda mas, cada vez que vai ao bacio, faz chichi. É notória a satisfação dele quando o consegue.

Gostaria de salientar que tivemos uma reunião com a nossa educadora cooperante que, do meu ponto de vista, foi muito produtiva. Conseguimos esclarecer alguns pontos e algumas atitudes como o facto das minhas expectativas serem diferentes do que acontece na realidade. Ou seja, com esta reunião consegui perceber mais o que se esperava de mim: uma atitude talvez mais dinâmica ao ser capaz de fazer perguntas e não ficar à espera que me digam se a minha ação está a ser bem feita ou não naquele momento. Também estivemos a falar sobre a importância de dar continuidade às experiências vivenciadas pelas crianças ao incluí-las em todas as etapas de realização e conclusão de atividades. Vou sem dúvida tentar melhorar todos os aspetos que me fizeram falta até agora.

As escolhas de metodologias pedagógicas para praticar no dia a dia com as crianças têm sem dúvida que ser pensadas, mas também têm que ser adequadas às nossas convicções, aos nossos valores, àquilo que nós pretendemos que as crianças adquiram e à forma como o adquirem. É uma escolha própria de cada educadora, mas tem que ser uma escolha centrada no bem-estar e bom desenvolvimento da criança. Essas metodologias e, nomeadamente, a metodologia de projeto permitem explorar conceitos e realidades com as crianças através de experimentações e atividades. Cada dia, além das atividades pensadas pelas educadoras no âmbito do desenvolvimento de intencionalidades pedagógicas, é importante estarmos atentas às crianças para podermos dar continuidade a uma nova aquisição e desenvolvê-la com experiências pertinentes e adequadas para aquele momento.

Bibliografia:

Papalia, D.E., Feldaman, R.D. Desenvolvimento Humano (12ª edição). McGraw-Hill.

 Rangel, M., Gonçalves, C. A Metodologia de Trabalho de Projeto na nossa prática pedagógica. Da Investigação às

Práticas. s/d. Consultado em :

http://repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/2809/1/A%20metodologia%20de%20trabalho%20de%20projeto.pdf – Outubro de 2017.

 Vasconcelos, T., Rocha C., Loureiro C., Castro J., Menau J., Sousa O., Hortas M.J., Ramos M., Ferreira N., Melo N., Ferreira R. P., Mil-Homens P., Fernandes R. S., Alves S. Trabalho por Projetos na Educação de Infância: Mapear Aprendizagens, Integrar Metodologias. Ministério da Educação e Ciência-Direção Geral de Inovação e de

Desenvolvimento Curricular. Consultado em:

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