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Reflexão sobre um evento significativo durante o estágio do Hospital B

No documento Relatório Sónia Isabel Correia Rodrigues (páginas 137-143)

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REFLEXÃO SOBRE UM EVENTO SIGNIFICATIVO, UTILIZANDO O

CICLO DE GIBBS

Esta reflexão tem por base uma situação de interação (detalhada no apêndice VII), entre mim e a “Dª M”, que através da reflexão sobre os acontecimentos, sentimentos e atuação, se transformou num momento de aprendizagem.

Quando vi pela primeira vez a senhora M, e ouvi a sua história, fiquei impressionada pela força e espírito de luta que apresentava, parecendo inabalável. Sentia-se segura, sabia que onde estava a podiam ajudar. Ao longo dos dias, encontrava a “Dª M” cada vez mais cansada, com dor descontrolada, deprimida e sem força para falar. A constatação da evolução da doença, a sua solidão e tristeza invadiu-me. Assisti às várias visitas da EIHSCP e verifiquei, com satisfação, que a nossa companhia lhe devolvia alguma esperança no futuro, e tempo para expressar sentimentos e angustias.

Compreendi que lhe era difícil falar sobre certos assuntos, existindo muitas perguntas sem reposta, no entanto, senti-me satisfeita por acompanhar o trabalho realizado com a “Dª M”. O importante era identificar as suas necessidades, com o objetivo de lhe proporcionar conforto e bem-estar, e não o diagnóstico.

Houve um momento em que senti uma ambivalência de sentimentos. Foi quando a senhora M me perguntou “sobre a sua situação de doença, qual o prognóstico esperado e, que tratamentos poderia fazer”. Inicialmente, não soube o que dizer. Continuei apenas a ouvir as angústias da “Dª M” e, depois, consegui dar a perceber que tinha de aguardar um dia de cada vez, que os seus desconfortos iriam melhorar, que a equipa estava a trabalhar nesse sentido e que estaria sempre alguém disponível para a acompanhar.

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Dada a minha inexperiência, a relação de ajuda que estabeleci com a “Dª M”, foi essencialmente no sentido de permitir a verbalização de sentimentos, angústias e preocupações. Aprendi sobretudo, através da observação das estratégias utilizadas pela EIHSCP, que não é fácil chegar junto do doente com doença avançada e progressiva e que o treino dessas estratégias e competências é fundamental.

Senti que mostrei respeito e disponibilidade pela pessoa que conheci e pela sua situação, naquele momento de tanta angústia e desconforto, perante o desconhecido da progressão da doença. Compreendi a importância de refletir sobre a prática, porque só praticando e refletindo é que posso aprender e ganhar experiência e, desta forma, construir o meu próprio saber.

Em todos os momentos, senti que mostrei disponibilidade, deixando expressar dúvidas e sentimentos. O importante para a senhora M, perante o desconforto causado pela evolução da doença, era o alívio dos sintomas, promovendo conforto físico, emocional e espiritual.

A minha intervenção nesta situação foi positiva, pois escutei os medos, dúvidas e preocupações que a senhora M tinha em relação à sua doença, ao sucesso/insucesso terapêutico. Esclareci dúvidas, dei apoio emocional, ajudando-a a encontrar alguns mecanismos de adaptação perante a sua nova situação de vida. Foi muito importante utilizar uma comunicação eficaz e recorrer, muitas vezes, à escuta ativa.

De bom, saliento o facto de ter tido a oportunidade de conversar algumas vezes com a senhora M, exercitando algumas competências, nomeadamente a escuta ativa, estabelecendo uma relação empática, que me permitiu interagir com ela. Respeitei o silêncio, tive gestos de afeto e fiz companhia, ações fundamentais para um bom relacionamento interpessoal, levando à construção da relação.

De mau, registo alguma dificuldade em ser clara na informação que dei, em dar más notícias, e na gestão dos meus sentimentos.

Aprendi que uma comunicação adequada, no contexto dos cuidados paliativos, deve ser encarada como um instrumento fundamental, tornando-se num desafio para os

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enfermeiros. Os objetivos de uma boa comunicação são: reduzir a incerteza, melhorar os relacionamentos e dar ao doente e família uma direção. (Twycross, 2003)

Katharine Kolcaba identificou que o conforto era a chave que conjugava os cuidados adequados ao nível físico e psicológico, num ambiente favorável, onde as pessoas podiam alcançar um estado ótimo de bem-estar, sendo o conforto um objetivo dos cuidados de enfermagem.

Durante o tempo que acompanhei a EIHSCP nas abordagens realizadas na situação específica da “Dª M”, constatei, após reflexão, que as intervenções desenvolvidas se podem incluir dentro das três classes de conforto que, para Kolcada, são o alívio, a tranquilidade e a transcendência. O que a EIHSCP pretendia era o alívio dos desconfortos da “Dª M”, que Kolcaba define como a necessidade de estar confortável, satisfazendo as necessidades através do controlo de fatores que causam desconforto, deixando a pessoa num estado de calma ou contentamento. A tranquilidade é satisfazer necessidades específicas, que causam desconforto, levando a uma condição mais duradoura e contínua. Na transcendência, consegue- se o mais elevado estado de conforto, implica crescimento pessoal, onde se prepara a pessoa para desenvolver os seus potenciais e realizar as suas atividades com a máxima independência (Kolcaba, 2003).

Apesar das limitações físicas que a “Dª “M tinha, tentava dar-lhe alguma autonomia na realização dos seus cuidados, ajudando-a a encontrar e a alcançar pequenos objetivos que lhe permitiam sentir-se útil.

Durante as visitas que fiz à “Dª M”, identifiquei algumas barreiras/dificuldades para conseguir uma comunicação terapêutica eficaz, que foram: incapacidade de ser claro e seguro em relação à informação a transmitir, pouco tempo para uma melhor explicação e a dificuldade em dar más notícias.

Aprendi que, como enfermeira especialista, posso ter melhores competências para lidar com doentes em fase terminal que se encontram em cuidados paliativos, sendo um trabalho delicado, sensível e complexo que exige um treino e competências específicas.

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Quando me deparei com a situação da “Dª M”, foi um pouco difícil refletir e colocar em prática os conhecimentos que fui adquirindo desde o início da especialidade. Posso concluir que, neste momento, sinto e compreendo que em situação de doença avançada e progressiva, onde se vive na iminência do fim de vida, o enfermeiro pode desempenhar um papel fundamental na promoção do conforto, no controlo dos sintomas e no alcance da qualidade de vida no final da vida.

Aprendi, com as inúmeras reflexões que fiz com a EIHSCP, que a atitude a ter perante estes doentes que necessitam de cuidados complexos e exigentes não é desligar-se do doente e da própria morte, mas sim personalizar os cuidados, controlando os meus sentimentos, mostrando apoio e solidariedade. Foi necessário estabelecer uma relação de ajuda, onde se criou uma comunicação terapêutica, num clima de confiança, o que permitiu que a EIHSCP ajudasse a “Dª M”.

O processo de comunicação é fundamental nos cuidados a estes doentes. Aprender a ouvir e a transmitir bem as informações aos doentes e seus familiares não é apenas desejável, é vital. Foi necessário utilizar com a “Dª M” uma comunicação eficaz e clara para abordar o diagnóstico, a comunicação de más notícias e a decisão das opções de tratamento (Twycross, 2003).

Com as aprendizagens desenvolvidas, sinto que para a próxima vez numa situação idêntica à da senhora M, no meu local de trabalho, me sentiria mais apta e capaz de construir uma relação terapêutica com o outro, colocando em prática as competências necessárias, em termos de comunicação que são fundamentais, nos cuidados ao doente em cuidados paliativos. Aprendi, ao estabelecer a relação de ajuda com a senhora M, a ser congruente e autêntica

Pretendo continuar a desenvolver as minhas aprendizagens, no sentido da procura permanente da excelência do exercício profissional. É necessário continuar a refletir sobre a prática, para aumentar a construção de saberes e promover o crescimento e o desenvolvimento de competências.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Kolcaba, K. Y. (2003). Comfort Theory and Practice. A vision for holistic health care and research. New York: Springer.

APÊNDICE IX

No documento Relatório Sónia Isabel Correia Rodrigues (páginas 137-143)