• Nenhum resultado encontrado

Reflexões dos profissionais sobre o processo de autoavaliação

No documento marjoryepolinatidasilvavecchi (páginas 109-114)

7 RESULTADOS E DISCUSSÃO

7.2 PRÁTICAS DE INTEGRALIDADE: DIALOGANDO COM OS

7.2.2 Reflexões dos profissionais sobre o processo de autoavaliação

Um dos objetivos do PMAQ é a institucionalização da autoavaliação expressa pelo instrumento AMAQ, onde os padrões de qualidade estabelecidos no instrumento agregam os princípios do SUS, em particular a integralidade, como forma de orientar a gestão e as equipes a organizarem seu processo de trabalho para alcançar a qualidade da atenção, um desafio presente no contexto do SUS (BRASIL, 2013a).

No final do segundo momento da entrevista coletiva, os profissionais foram indagados sobre o que representou para cada um e para a equipe o processo de autoavaliação do AMAQ/ 2013 e manifestaram:

Acho válido o processo de avaliação, porque quando você tá sendo avaliado você tem uma cobrança “x”, mas quando você se auto avalia você tem uma cobrança maior. (D - USF Branca)

A tendência é de você ser mais rígido com você... e é interessante a autoavaliação porque ela te dá uma abrangência maior, você começa a perceber mais pontos, chama a atenção pra alguns pontos que no dia a dia do trabalho passa despercebido. (M - USF Branca)

É como foi falado: com a autoavaliação você começa a enxergar alguns aspectos que precisam melhorar e começa a trabalhar naquilo, né? (ACS1 -

USF Branca)

Acho que a autoavaliação é válida sim, desde que aconteça de uma forma correta...acho que a tendência é a pessoa fazer melhor porque se avalia e sabe que em algum momento também será avaliada, então pensa vou dar o melhor de mim, vai ficar mais ligada, né? (ACS1 - USF Vermelha)

Verifica-se que os profissionais acreditam no processo de autoavaliação como potencializador para mudanças e melhorias nas práticas profissionais. Contudo alguns profissionais emitiram seu descontentamento com a forma como foi conduzido o processo de autoavaliação nas USF no município:

Acho que esse processo de autoavaliação é valido sim, desde que conduzido de uma forma adequada...dessa forma não [...] (M1 - USF

Vermelha)

É importante mesmo identificar o que precisa e o que não precisa melhorar, eu gosto de saber. (ASB - USF Azul)

Se você não sabe o que está fazendo de errado, como vai melhorar? É ... precisa ter esse retorno mesmo. (ACS2 - USF Azul)

[...] pra mim não foi válido em nada, dessa forma não... eu li vários conceitos que eu já sabia, respondi algumas perguntas e só! Pra mim não foi válido... acho que deveria ser um processo mais trabalhado. (D - USF

Os profissionais acreditam no processo de autoavaliação, mas desde que seja realizada e discutida entre a equipe, objetivando identificar problemas relacionados à sua prática e na organização dos serviços, e, o estabelecimento de estratégias que viabilizem a qualidade dos serviços e sua resolutividade frente às necessidades apresentadas. Deve ser um processo incentivado pela gestão e implementado adequadamente, com envolvimento de todos, seguindo os momentos do processo autoavaliativo conforme recomendado no instrumento AMAQ/2013, estabelecidos para identificação das potencialidades e fragilidades da equipe e para o estabelecimento de um plano de ação em conjunto:

Eu acho que esses pontos precisariam ser mais discutidos com a equipe... será que todos esses pontos da subdimensão estão sendo feitos? Quais os pontos negativos? Quais as dificuldades que cada um está tendo, né? ... O que pode ser melhorado? (E - USF Azul)

[...] eu e o enfermeiro discutimos alguns pontos, e entreguei o questionário... eu acho assim, que o ideal mesmo é discutir com a equipe. (D - USF Azul)

É importante mesmo essa junção entre os profissionais, médico com a gente, dentista com o médico e a enfermeira [...] (ACS1 - USF Azul)

Sobre a avaliação externa do PMAQ, que corresponde à terceira fase do ciclo do Programa, os profissionais destacaram a falta de diálogo e orientações por parte dos avaliadores que se prenderam a perguntas sobre recursos físicos e materiais:

Aqueles que vieram de fora, não conversaram com a gente, não explicaram nada sobre essa avaliação, só me perguntaram o que tinha de materiais aqui na unidade e eu só mostrei aquela sala, depois ficaram conversando com alguns pacientes. (ACS6 - USF Azul)

É ... a avaliação externa foi assim: eles perguntaram sobre a autoavaliação, sobre alguns materiais, por exemplo se tinha aparelho de pressão, pediam para buscar e mostrar [...] é o segundo ano que acontece dessa forma...fazem algumas perguntas, às vezes até repetitivas e vão embora. (E

- USF Vermelha)

É ... vou falar a verdade [...] não tive orientação sobre esse processo. (D -

Eles vieram aqui, olharam prontuário, fizeram umas perguntas sobre materiais, achei aquilo tudo muito estranho...e foram embora. (ACS1 - USF

Branca)

Tanto a autoavaliação como a avaliação por agentes externos sobre o desempenho das equipes, são estratégias do PMAQ que objetivam fomentar em todos os profissionais das equipes e na gestão, a reflexão crítica “da estrutura, processos e resultados” das ações na Atenção Básica (BRASIL, 2013a, p. 12), bem como estabelecimento de intervenções positivas e acompanhamento dos resultados com vistas às mudanças necessárias. O instrumento ainda ressalta que o envolvimento de todos os atores implicados com o processo de mudança das ações nas etapas do PMAQ propicia maior engajamento dos profissionais às propostas, responsabilização coletiva e elaboração de ações mais alinhadas às realidades locais (BRASIL, 2013a).

A insatisfação dos profissionais também está ligada à falta de divulgação dos resultados da avaliação externa até o momento da pesquisa.

Eu não me lembro de ter tido um feedback da avaliação deles (externa) ... não, não tivemos. (M - USF Branca)

Com certeza seria válido o retorno dessa avaliação. (D - USF Branca)

Acho que esse processo ajuda bastante, mas é preciso ter esse feedback, principalmente pra equipe, por que senão as coisas ficam muito perdidas, né? (M2 - USF Azul)

Conclui-se pelos relatos acima, que a maioria dos profissionais manifestou insatisfação quanto à condução da Avaliação externa do PMAQ, e quanto ao contato dos avaliadores com a equipe, como um processo frio, distante, sem esclarecimentos adequados para as equipes. Nota-se que os avaliadores se prenderam em indagar sobre estrutura da Unidade e um diálogo reservado com os pacientes. Esse tipo de contato aliado à forma como foi conduzido o processo de autoavaliação das equipes, não permitiu o envolvimento e comprometimento de todos profissionais que se sentiram alheios ao processo, ao passo que se configuram como foco das intervenções quando se pensa em melhorias na qualidade da atenção, porque envolve mudanças nas concepções e práticas profissionais.

Como verificado, os profissionais atentam que o retorno dos resultados “seria válido” (D - USF Branca), pois permitiria discussões intra equipe, troca de experiências e conhecimentos para reorientação das práticas profissionais, elaboração de ações mais ajustadas às realidades locais e acompanhamento dos progressos alcançados, processo imbricado com a avaliação, com a melhoria da qualidade da atenção e com a resolutividade.

No documento marjoryepolinatidasilvavecchi (páginas 109-114)