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Segundo Almeida (2009), o “choque de realidade” é uma expressão que traduz, assim, o impacto sofrido pelo professor no início da carreira e corresponde ao desencanto entre o que o professor idealizou durante o período de formação e a realidade nua e crua que este encontra diariamente em contexto de trabalho. Uma contradição entre a formação essencialmente teórica durante a formação inicial que não prepara os professores para a vida real, para as situações de conflito, formando-os no pressuposto que ensinar é fornecer saber.

Foi ao atravessar pela primeira vez a porta de entrada da Escola que me apercebi que iria enfrentar um ano para o qual, afinal, não me sentia preparada nem capaz de enfrentar. Antes desse momento sempre pensei que estava preparada, primeiro porque passei pela formação académica que me foi preparando para esse momento, e segundo porque já tinha experiência, pensava eu, na transmissão de conhecimento e na modificação de comportamentos.

É neste momento, após a conclusão do estágio, que posso afirmar que “dar treinos” é diferente de “dar aulas”. O ambiente de um treino de competição é diferente de um ambiente de sala de aula, um atleta é diferente de um aluno. Sim, o processo de ensino-aprendizagem é semelhante, há de igual forma um planeamento anual, uma definição de conteúdos e objetivos, há igualmente um planeamento da sessão segundo os mesmos moldes. Mas a principal diferença é que num treino só está quem quer e numa aula os alunos ‘são obrigados’ a estar presentes. Num treino temos todos os atletas a ouvir o que nós dizemos, em busca da evolução, à procura de ser melhor que o outro e ser melhor no fim do treino do que aquilo que era quando o começou. Na aula são poucos os alunos com esses objetivos, são poucos os alunos que realmente pensam em nos ouvir, em nos observar e em nos compreender. É aqui que entra a diferença entre um professor e um bom professor. Um bom professor tem de encarar isto como um desafio, tem de tentar que todos os alunos queiram alcançar os objetivos propostos, e só o irá conseguir se utilizar todas as estratégias possíveis de modo a ter uma turma motivada, do principio ao fim do ano.

Tentei ser “um bom professor”. A turma do 8ºA tinha muitos alunos com personalidade de atleta, que queriam aprender, que faziam perguntas, que se esforçavam e me testavam, em busca de mais, mas, também tinha alunos que precisavam de mais incentivo, de mais esforço da minha parte para que se sentissem capazes de realizar aquilo que parecia impossível. Tive um grande desafio durante este ano letivo, eram 30 alunos, com diferentes níveis de maturidade e diferentes níveis de desempenho. E hoje sinto-me grata por ter tido a oportunidade de trabalhar com uma

turma assim. Assustaram-me, desafiaram-me, mas ensinaram-me muito mais do que aquilo que certamente eu lhes ensinei a eles, e fizeram-me perceber que realmente quero ser professora de Educação Física.

O estágio pedagógico, para além de tudo o que acabei de referir, permitiu-me um aperfeiçoamento do processo ensino-aprendizagem, da minha intervenção pedagógica, da minha relação com o meio escolar. Principalmente através da observação, consegui uma evolução da minha ação como docente. Observando a professora orientadora fez-me adquirir diferentes perspetivas, fez-me perceber diferentes dinâmicas e adotar novas estratégias de intervenção pedagógica. Através das observações realizadas às minhas aulas por parte da professora orientadora e das minhas colegas, consegui fazer uma reflexão crítica de mim própria que me ajudou a compreender as minhas dificuldades e a ultrapassá-las, tornando-me mais autónoma na altura da tomada de decisões, e mais criativa no planeamento das tarefas.

A dificuldade do ato de ensinar está no fato de que ele não pode ser analisado unicamente em termos de tarefas de transmissão de conteúdos e de métodos definidos à priori, uma vez que são as comunicações verbais em classe, as interações vivenciadas, a relação e a variedade das ações em cada situação que permitirão, ou não, a diferentes alunos, a aprendizagem em cada intervenção. Assim, as informações previstas são regularmente modificadas de acordo com as reações dos alunos e da evolução da situação pedagógica e do contexto (Perrenoud, 2001).

É certo que um professor deve planear toda a sua atividade pedagógica no inicio do ano, deve fazer um planeamento anual, uma definição de conteúdos a abordar e uma definição de objetivos a atingir. Mas umas das coisas que mais retive durante este estágio pedagógico, foi que de nada serve planear se não for planeado segundo as características e capacidades de quem vai aprender. De nada me serve planear, de nada me serve definir, de nada me serve avaliar se no fim o aluno não adquiriu novos hábitos, não evolui, não aprendeu. Um professor deve saber que todos os alunos são diferentes, que todos os alunos aprendem de maneira e ritmos diferentes, e que se transmitir sempre os mesmos conteúdos utilizando sempre o mesmo vocabulário, os alunos que antes não compreenderam vão continuar sem compreender, porque não é por repetirmos sempre a mesma coisa da mesma maneira que a informação vai chegar ao destino. Há que ter capacidade de adaptação às diferentes situações encontradas, há que saber lidar com diferentes maneiras de pensar, há que saber ensinar através de vários caminhos que no fim irão dar ao mesmo lugar. O que é certo é que o que eu aprendi e percebi, é que o professor tem de ter um objetivo principal e fundamental: a evolução do aluno em todos os domínios.

de orientadores quer de estagiários. Respeitem esse trabalho e todo o processo a ele inerente e respeitem-se uns aos outros. Não permitam que no final do ano letivo o vosso, o nosso, trabalho tenha sido em vão (Aranha, 2008).

O trabalho deste ano de estágio não foi em vão, houve muita insegurança inicial que foi transformada em segurança com a ajuda de todos os que nele intervieram. Houve muita partilha de conhecimentos e houve muitos conhecimentos que ficaram e que serão posteriormente as novas competências para uma futura atividade docente.

Referências

Almeida, M. (2009). A Formação Inicial de Professores e os problemas da Prática Pedagógica: Estudo da relação entre as perceções dos Professores Estagiários, dos Professores Cooperantes e dos Supervisores. Dissertação. Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana.

Aranha, Á. (2004). Organização, Planeamento e Avaliação em Educação Física. (Série

Didática nº 47 - Ciências Sociais Humana) Vila Real: Universidade de Trás-os-

Montes e Alto Douro.

Aranha, Á. (2005). Pedagogia da Educação Física e do Desporto I. Processo Ensino Aprendizagem. Organização do Ensino. Estilos de Ensino (Série Didática nº 53 -

Ciências Sociais e Humana). Vila Real: Universidade de Trás-os-Montes e Alto

Douro.

Aranha, Á. (2007). Observação de aulas de Educação Física. Sistematização da observação. Sistemas de observação e fichas de registo (Série Didática nº 334 -

Ciências Aplicadas). Vila Real: Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Aranha, Á. (2008); Estágio Pedagógico em Educação Física e Desporto – Parâmetros e Critérios de Avaliação do Estagiário de Educação Física, Extra Série – SDE – Vila Real: Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Araújo, F. (2007). A Avaliação e a Gestão Curricular em Educação Física – Um Olhar Integrado. Boletim da Sociedade Portuguesa de Educação Física, 32, 121-133. Araújo, F. (2015). Hoje, de que falamos quando falamos de Avaliação Formativa?.

Boletim da Sociedade Portuguesa de Educação Física, 39, 41-52.

Barros, I. (2011). Contributo para a compreensão do processo de (re)construção da identidade profissional no contexto da formação inicial: estudo em estudantes estagiários de Educação Física. Dissertação. Porto: Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

Bento, J. (1987). Planeamento e Avaliação em Educação Física, Livros Horizonte, Lisboa.

Carvalho, L. (1994). Avaliação das Aprendizagens em Educação Física. Boletim da

FITescola. Bateria de Testes. Disponível em: http://fitescola.dge.mec.pt/HomeTestes.aspx

FITescola. Tabelas de Valores de Referência. Disponível em:

http://fitescola.dge.mec.pt/Multimedia/pdf/valores_referencia.pdf

Perrenoud, P. (2001). Formando Professores Profissionais – Quais Estratégias? Quais Competências? Revista Brasileira de Educação, 2ª edição, pp. 26.

Quina, J. (2009). A organização do processo de ensino em Educação Física. (Série

Anexos

Exemplo de um Plano de Aula

P

LANO DE

A

ULA

OBJETIVOS OPERACIONAIS

1º OBJETIVO OPERACIONAL

AÇÃO: Passe (1), receção (2), desmarcação (3).

CONTEXTO: 2 equipas de 8 e 2 equipas de 7.

CRITÉRIOS DE ÊXITO: Passe tenso, dirigido para o colega, realizado com a parte interna do pé (1). Receber a

bola com a planta ou parte interna do pé de forma controlada (2). Criar linhas de passe ocupando espaços vazios, olhar dirigido para a bola (3).

2º OBJETIVO OPERACIONAL

AÇÃO: Condução de bola (1).

CONTEXTO: 6 equipas de 5.

CRITÉRIOS DE ÊXITO: Manter a bola controlada junto ao pé condutor, conduzir a bola com a parte interna

e/ou externa do pé (1).

3º OBJETIVO OPERACIONAL

AÇÃO: Passe (1), receção (2), condução de bola (3).

CONTEXTO: 6 grupos de 4 e 2 grupos de 3.

CRITÉRIOS DE ÊXITO: Passe tenso, dirigido para o colega, realizado com a parte interna do pé (1). Receber a

bola com a planta ou parte interna do pé de forma controlada (2). Manter a bola controlada junto ao pé condutor, conduzir a bola com a parte interna e/ou externa do pé (3).

4º OBJETIVO OPERACIONAL

AÇÃO: Passe (1), receção (2), desmarcação (3), condução de bola (4).

CONTEXTO: 6 equipas de 5.

CRITÉRIOS DE ÊXITO: Passe tenso, dirigido para o colega, realizado com a parte interna do pé (1). Receber a

bola com a planta ou parte interna do pé de forma controlada (2). Criar linhas de passe ocupando espaços vazios, olhar dirigido para a bola (3). Manter a bola controlada junto ao pé condutor, conduzir a bola com a parte interna e/ou externa do pé (4).

ESCOLA: Escola S/3 São Pedro – Vila Real PROFESSORA ESTAGIÁRIA: Ana Raquel Queirós ANO: 8º TURMA: A Nº ALUNOS: 30 Nº UD: 7 e 8 Nº AULA: 45 e 46

INSTALAÇÃO: Campo exterior da Escola HORA:8h15 – 9h45

MATERIAL: 16 coletes, 24 sinalizadores, 8 bolas DATA: 18 de janeiro de 2017

UNIDADE DIDÁTICA: Futsal TEMPO DE AULA: 90’

FUNÇÃO DIDÁTICA: Assimilação / Consolidação TEMPO ÚTIL: 70’

OBJETIVO ESPECÍFICO: Domínio do passe, receção e desmarcação, e da condução de bola.

TEMPO SEQUÊNCIA DAS

TAREFAS ESTRATÉGIAS ESQUEMA

2’ Instrução Inicial - Alunos dispostos em meia lua, à frente do professor. Verificação dos fatores de risco. Definição do objetivo da aula. Explicação do 1º objetivo operacional e formação dos grupos. 30’’ Organização - Os alunos organizam-se para o primeiro exercício.

12’ 1º Objetivo Operacional

- Jogo dos 10 passes por grupos. Alunos dispostos em dois grupos de 8 e dois grupos de 7, um grupo em cada canto do campo. No circulo central estão vários sinalizadores. Cada grupo tem de fazer receção, passe e desmarcar-se para o sítio do colega a quem passou. Têm de fazer 10 passes e contar em voz alta. Após conseguirem os 10 passes, um elemento vai buscar um sinalizador ao meio campo, e assim sucessivamente até não haver mais sinalizadores. A equipa que tiver mais sinalizadores ganha.

1’ Instrução/

Organização - O professor explica e organiza o exercício seguinte.

18’ 2º Objetivo Operacional

- Estafetas: Alunos dispostos em 6 grupos de 5, distribuídos na linha lateral do campo grande. Têm de conduzir a bola até a linha oposta e voltar e entregar ao colega. Ganha a equipa que acabar primeiro. Variantes: ir e vir a conduzir com o pé direito; ir e vir a conduzir com o pé esquerdo; ir e vir em slalom; ir e vir contornando os sinalizadores.

1’ Instrução/

Organização - O professor explica e organiza o exercício seguinte.

12’ 3º Objetivo Operacional

- Alunos dispostos em 6 grupos de 4 e 2 grupos de 3, em ¼ de campo. Um elemento fica no meio campo e os restantes no canto na linha final com bola. O aluno com bola conduz até ao meio campo, passa a bola ao colega e ocupa o lugar deste. O colega que estava no meio campo desloca-se até ao sinalizador, recebe a bola e conduz a mesma até à pequena área e remata controladamente. Vai buscar a bola e entra na coluna da linha final.

1’ Instrução/

Organização - O professor explica e organiza o exercício seguinte.

20’ 4º Objetivo Operacional

- Jogo condicionado. Não podem fazer finta, só as meninas podem marcar, ou então os rapazes rematam com o pé não dominante.

30’’ Organização - O professor reúne os alunos.

2’ Balanço Final - O professor questiona os alunos sobre o objetivo da aula, quais os critérios de êxito e principais dificuldades. Faz também a extensão dos conteúdos para a aula seguinte.

Planeamento Anual de Atividades

D

EPARTAMENTO

G

RUPO

D

ATA

A

TIVIDADE

O

BJETIVOS

P

OPULAÇÃO

Educação Física

Núcleo de Estágio de Ed. Física / Grupo de Ed. Física Dia do Não Fumador

Peddy Paper com Jogos Tradicionais Promover hábitos de vida saudáveis. Divulgar a prática dos jogos tradicionais populares portugueses. Ensino Básico e Secundário

Educação Física

Final do 2º Período Final do 2º

Período Snooker Humano

Praticar diferentes atividades. Promover o pensamento estratégico. Ensino Secundário

Educação Física

Final do 2º Período Final do 2º Período Matrecos Humanos Praticar diferentes atividades. Promover o pensamento estratégico. Ensino Básico

Educação Física

Final do 3º Período Final do 3º Período Torneio de Voleibol Desenvolver o espírito de equipa, promover a atividade física. Ensino Básico e Secundário

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