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3 UMA INTRODUÇÃO À CONFIGURAÇÃO ECONÔMICO-

3.1 REFLEXÕES GERAIS SOBRE O CONCEITO DE CIDADES MÉDIAS

A discussão pautada sobre as Cidades Médias tem despertado o interesse entre geógrafos, urbanistas e sociólogos, pela crescente importância que elas vêm adquirindo dentro do território brasileiro. A complexidade de categorizar e defini-las demostra uma variedade de aspectos que precisam ser pontuados para melhor compreender a forma como tal grupo desempenha suas funções na rede urbana.

Sendo assim, o que são cidades médias? A pergunta-chave para iniciar o debate pode ser respondida de diversas formas, para isso a subdivisão do capítulo procura esclarecer os pontos abordados e trabalhar com um diálogo de escalas, respeitando as devidas proporções e hierarquias.

Como diz Conte (2013), o conceito de cidade média “surgiu na França, associado às políticas de desconcentração de população e atividades, implantadas pelo VI Plano de Desenvolvimento Econômico e Social – 1971/1975” (CONTE, 2013, p.47). O Plano objetivava distribuir de forma mais adequada o emprego e promover o desenvolvimento regional (COSTA, 2002, p.104 apud CONTE, 2013, p.47)

Em alguns debates foram definidas como cidades médias aquelas com população entre 100 mil e 500 mil habitantes. Atualmente o aspecto quantitativo populacional não é o único parâmetro para definição. A polarização que elas exercem sobre o seu entorno também é um ponto relevante que notadamente precisa ser levado em consideração por diversos fatores. O fator econômico é um deles.

Diana Motta e Daniel da Mata (2009) no artigo18 A importância da cidade média publicado pelo Ipea, demonstram que desde 1970 a dinâmica econômica e espacial no Brasil tem forte atuação deste grupo de cidades. Os autores comentam que não existe claramente uma definição rígida sobre o que seria uma cidade média, como se observa a seguir.

18 Link da publicação:

Sua definição depende dos objetivos de especialistas e de políticas públicas específicas. Entretanto, o tamanho demográfico tem sido o critério mais aplicado para identificar as cidades médias, que podem ser consideradas aquelas cidades com tamanho populacional entre 100 mil até 500 mil habitantes. A importância das cidades médias reside no fato de que elas possuem uma dinâmica econômica e demográfica própria, permitindo atender às expectativas de empreendedores e cidadãos, manifestadas na qualidade de equipamentos urbanos e na prestação de serviços públicos, evitando as deseconomias das grandes cidades e metrópoles. Dessa forma, as cidades médias se revelam como locais privilegiados pela oferta de serviços qualificados e bem-estar que oferecem. (MOTTA; MATA, 2009. Ipea)

É consenso dos pesquisadores a afirmação de que essas cidades têm apresentado um crescimento expressivo no cenário nacional, principalmente quando comparadas aos grandes e pequenos centros urbanos.

Motta e Matta (2009) utilizam dados19 do IBGE que mostram como esse processo vem se configurando. A leitura da participação das cidades por faixa de população no PIB nacional, apresenta um dinamismo maior do grupo dos centros medianos.

Enquanto as cidades com mais de 500 mil habitantes estão perdendo participação no PIB nacional (queda de 1,64 p.p. no período de 2002 até 2005), as cidades médias estão ampliando sua participação (aumento de 1,28 p.p. no mesmo período). Do ponto de vista populacional, as cidades com mais de 500 mil habitantes estão crescendo a taxas percentuais abaixo das cidades médias (entre 100 mil e 500 mil habitantes). Isto porque, nos últimos anos, as cidades médias foram aquelas que apresentaram maior crescimento anual do PIB (cerca de 4,7% ao ano) e crescimento mais elevado da população (aproximadamente 2% ao ano). Quando uma cidade obtém um elevado crescimento econômico, em termos de elevadas taxas de crescimento do PIB, a mesma torna-se atrativa para migrantes em busca de melhores condições de trabalho. Maior migração significa maior crescimento populacional, supondo que não há diferença substancial entre as taxas de natalidade e mortalidade entre as cidades do sistema urbano. (MOTTA; MATA, 2009. Ipea)

Com as dimensões que as cidades vinham ganhando através do seu crescimento, o repensar na urbanização como uma preocupação social também foi uma questão amplamente discutida. “Uma política de desenvolvimento urbano e regional com foco em centros urbanos médios selecionados, poderá fortalecer a rede urbana contribuindo para o desenvolvimento econômico e social do País”. (MOTTA; MATA, 2009).

Cláudia Heloiza Conte (2013) em Cidades Médias: discutindo o tema, inicia o artigo analisando o processo de urbanização no Brasil e seus diferentes momentos. É “a partir do final do século XIX que ocorre maior intensificação deste processo [urbanização], mas foi necessário ainda mais um século para adquirir as características com as quais conhecemos hoje” (SANTOS, 2005, p. 22 apud CONTE, 2013, p.46).

No intervalo dos anos 1890 e 1920 a taxa de urbanização brasileira passou de 6,8% para 10,7%. Nos vinte anos seguintes o processo se intensifica, fazendo com que a taxa atingisse o triplo do registrado no final do século XIX. Em 1940 a taxa já correspondia a 31,24%. Foi entre anos 1940 e 1980 que a população urbana desenhou a trajetória de ultrapassagem em relação a população rural. E na década de 1980 a urbanização já havia alcançado cerca de 68% (CONTE, 2013)

No cenário brasileiro, na década de 1950, o grande contingente de pessoas em fluxo migratório para os grandes centros teve parte do movimento direcionado para cidades médias (CONTE, 2013). Os estudos do grupo dessas cidades se intensificam nos anos 60 e 70 do século XX, como a tese do geógrafo francês Yves Leloupo sobre as cidades mineiras de porte médio em Lês Villes du Minas Gerais (CONTE, 2013).

Amorim Filho (1973) também desenvolveu pesquisas em relação às funções das cidades brasileiras, “e demonstrou que atrelado a este fator, a posição geográfica da aglomeração é tão ou mais importante do que o tamanho demográfico na caracterização das cidades médias” (CONTE, 2013, p.48). De acordo com Conte (2013), o autor foi pioneiro em estudar aspectos das cidades médias sendo um marco na discussão.

Os planos de desenvolvimento no Brasil foram um instrumento propulsor para alavancar os centros urbanos, inclusive aqueles de médio porte.

Na década de 1970, como consequência do projeto nacional desenvolvimentista baseado no desenvolvimento urbano-industrial, mesmo privilegiando as grandes cidades, verifica-se a primeira tentativa de definir cidade média, tendo em vista a visibilidade que esta se deparou nos planos e políticas de desenvolvimento nacional. Nas décadas de 1970/1980, o governo brasileiro deu ênfase para a política urbana nacional. Neste sentido, Steinberger e Bruna (2001) salientam que os programas de maior destaque e/ou notoriedade foram: o item “Política de Desenvolvimento Urbano” do capítulo Desenvolvimento Urbano: Controle de Poluição e Preservação do Meio Ambiente do II PND e o Programa de Cidades de Porte Médio. (CONTE, 2013, p.48)

O II PND teve grande importância para a nova dinâmica urbana do Brasil. Pode-se destacar, por exemplo, a criação das RIDEs – Região Integrada de Desenvolvimento.

Conforme Maria do Socorro M. C. Lima e Benedyto Savio de L. Silva (2014), durante o período militar, nos anos 70, são formadas as primeiras Regiões Metropolitanas através da Constituição de 1967 e do II PND, “que pregoava a distribuição espacial das atividades econômicas e redução das disparidades regionais. O Governo Federal criou nove regiões metropolitanas - Belém, Recife, Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre” (LIMA; SILVA, 2014, p.17).

Houve a explosão urbana e metropolitana - 44% da população moravam em cidades que tinha entre 250 mil e 2 milhões de habitantes. O PND (72- 74) previa a criação de polos regionais como estratégia de descentralização econômica, a partir da década de 1980 houve aumento das cidades de porte médio, aumento populacional nos municípios periféricos e crescimento das regiões metropolitanas (AZEVEDO; ALVES, 2010 apud LIMA; SILVA, 2014, p.17).

A partir do II PND as cidades médias passam a ser compreendidas como uma alternativa para desafogar as metrópoles. “O plano tinha como metas a manutenção do crescimento industrial e econômico, o investimento no setor de transporte (hidrovias e ferrovias) e comunicação e a modernização das regiões não industrializadas através da descentralização espacial dos projetos de investimentos” (CONTE, 2013, p.49).

Nas últimas gestões do governo militar no Brasil foram implementados dois Programas: o de Regiões Metropolitanas e Capitais e o de Cidades de Porte Médio. “O programa de Cidades de Porte Médio vigorou por dez anos, sendo considerado o ano de 1976 como o marco inicial e 1986 a data de encerramento do programa” (CONTE, 2013, p.49).

As duas políticas urbanas apresentaram, consistentemente com a definição, as cidades médias como centros para dinamização, tornando-se um novo objeto de preocupação do poder público.

Durante a primeira política urbana do programa, as cidades médias foram conceituadas como aquelas cidades que, considerando a sua posição geográfica, população, importância socioeconômica e função dentro da hierarquia urbana da macrorregião e do país, constituíam-se em centros de grande valor estratégico no que concerne ao desenvolvimento regional, e também para uma rede urbana mais equilibrada no que envolvesse política de organização territorial. Já na segunda política urbana, o conceito de cidades médias foi baseado nas funções de desconcentração e dinamização. Apesar de tais programas não terem alcançado plenamente seus objetivos, nada mostra até o momento atual que as cidades médias venham a ser

objeto de atenção ou preocupação por parte do governo, como ocorreu de fato no período entre 1975 e 1986. (CONTE, 2013, p.49)

Juazeiro e Petrolina foram beneficiadas com ações implementadas no escopo destas políticas públicas na década de 1960-1970. A implantação dos perímetros irrigados que promoveram o desenvolvimento econômico desta região do semiárido nordestino contou, porém, com forte atuação política do poder local, que alcançou as escalas estadual e federal.

A falta de consenso em definir cidades médias ainda é uma realidade dentro do campo acadêmico. As políticas de desenvolvimento urbano do século passado, por exemplo, adotaram critérios estratégicos de definição orientados à promoção do dinamismo dessas localidades com vistas ao fortalecimento econômico do Brasil. Na atualidade, os aspectos demográfico e funcional – o desempenho na hierarquia urbana – são os principais elementos utilizados para a classificação dos centros brasileiros.

3.2 BASES PARA A CLASSIFICAÇÃO DE CIDADES MÉDIAS