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Após o término da estratégia de capacitação em violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes no município de Embu/SP (dezembro de 2007), todos os participantes (agentes comunitários de saúde, auxiliares de enfermagem e enfermeiros) foram convidados a fazer parte do Núcleo de Supervisão e Apoio ao Profissional de Embu. Esse núcleo foi uma das intervenções iniciadas por mim e Tereza Vecina em fevereiro de 2007, como parte do projeto “Enfrentamento da Violência Intrafamiliar contra Crianças e Adolescentes em Três Municípios Brasileiros”, dentre as várias intervenções componentes do estudo. Trata-se de uma supervisão multiprofissional e intersetorial (com duração de três horas cada e periodicidade quinzenal), coordenada por profissionais da universidade com expertise na área de violência. Caracteriza-se como uma instância de discussão aberta e presencial, realizada por diversas categorias profissionais de diferentes setores (saúde, ação social, educação, justiça, segurança pública, conselhos tutelares, sociedade civil organizada, entre outros). É promovida a discussão de casos de violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes (ocasionalmente alguns casos de violência contra mulheres) a fim de oferecer amparo aos profissionais que identificam e/ou estão acompanhando esses casos, fomentando novas maneiras de pensar e atuar, utilizando as instituições dos diversos setores da rede do município. Também tem por objetivo instrumentalizar esses profissionais para a realização de ações de proteção, notificação e acompanhamento dos casos, delimitando papéis profissionais e institucionais e, acima de tudo, estimulando a atuação conjunta e planejada pelo grupo no trato de cada caso de violência acompanhado.

Através do projeto “Enfrentamento da Violência Intrafamiliar contra Crianças e Adolescentes em Três Municípios Brasileiros”, puderam ser realizadas 27 reuniões de supervisão do Núcleo de Supervisão e Apoio ao Profissional de Embu. Após o término do mesmo, um grupo de profissionais do município de Embu/SP, mais atuante durante o período do projeto, continuou promovendo as reuniões com a finalidade de discussão e tomada de decisões sobre os casos. Contudo, segundo esses profissionais, a tarefa mostrou-se muito penosa sem a presença de um supervisor externo. Assim, houve uma mobilização desse grupo de profissionais para a busca de apoio financeiro a fim de realizar as reuniões com a coordenação de um supervisor externo, iniciativa apresentada

e aprovada pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente do Município de Embu/SP, que passou a contribuir com aporte político e financeiro.

As reuniões do Núcleo de Supervisão e Apoio ao Profissional de Embu, com a coordenação de um supervisor externo, voltaram a ocorrer em agosto de 2009, com renovação semestral pelo Conselho Municipal dos Direitos das Crianças e Adolescentes e durante todo o ano de 2010, perfazendo um total de 30 reuniões realizadas até dezembro de 2010. Essa estratégia consolidou-se no município e passou a ser uma instância de discussão dos casos de violência identificados pelos diversos profissionais dos diferentes setores, incluindo-se os profissionais do Programa de Saúde da Família. Excetuando-se algumas reuniões em que não houve participação de profissionais de unidades do Programa de Saúde da Família do município, esse espaço tem sido uma instância, na qual os agentes comunitários de saúde, auxiliares de enfermagem e enfermeiros recorrem quando se deparam com casos de violência. Importante destacar que no caso do Programa de Saúde da Família, somente essas três categorias profissionais compareceram e efetivaram-se como atores participantes, ainda que tenha ocorrido grande estímulo para a participação de outros profissionais do programa (médicos e dentistas, por exemplo). Outro ponto a ser ressaltado é que uma parte dos profissionais participantes da estratégia de capacitação não trabalha mais nas unidades de Programa de Saúde da Família do município por demissão ou transferência para outras unidades de saúde (unidades básicas de saúde, ambulatórios, hospitais). Porém, isso parece não ter inviabilizado totalmente a identificação de casos pela unidade, pois, mesmo de maneira esparsa, houve a presença nas reuniões do Núcleo de Supervisão e Apoio ao Profissional de Embu de todas as unidades do Programa de Saúde da Família cujos profissionais passaram pela estratégia de capacitação. Uma hipótese plausível para tal fato, ainda que com a perda de muitos profissionais capacitados, é a própria continuidade da estratégia Núcleo de Supervisão e Apoio ao Profissional de Embu.

A discussão de casos entre os profissionais do Programa de Saúde da Família e os outros profissionais de setores diversos do município de Embu/SP mostrou pontos importantes a serem considerados quando da capacitação de profissionais para o enfrentamento das violências. Um desses pontos é a necessidade de educação continuada para todos os profissionais envolvidos no tema da violência. Os profissionais, que somente participaram do Núcleo de Supervisão e Apoio ao

Profissional de Embu e que, portanto, não foram capacitados, carecem de informações sobre identificação e notificação de casos de violência. Nas discussões da supervisão os agentes comunitários e enfermeiros que participaram da estratégia de capacitação ajudaram na transmissão de várias informações aprendidas na capacitação a outros profissionais de saúde, educação, ONGs, justiça etc. Isso leva a pensar que a capacitação preconizada nesse estudo deva ser ampliada para também incluir esses outros profissionais, já que esses pareciam não dominar o conteúdo transmitido na mesma.

Outro ponto a ser destacado é a necessidade de continuar oferecendo capacitações complementares (educação continuada) àqueles que passaram pela primeira estratégia de capacitação. A possibilidade de continuar sendo capacitado na temática, em especial para os profissionais engajados no tema violência, faz com que esses aprimorem a identificação de casos. O mesmo ocorre quando os profissionais podem receber supervisão para lidar com seus casos. Além disso, o binômio capacitação/supervisão permite aos que ingressam no serviço já começarem a lidar com o tema através da experiência dos que já estão nesse. Também oferece uma oportunidade àqueles que estão mais perto da aposentadoria, de passar as experiências adquiridas aos ingressantes. A troca entre profissionais é primordial no trato das questões da violência, onde aqueles que têm mais experiência podem dar suporte aos que estão iniciando seus primeiros casos. Temas como violência, sexualidade e morte, só para citar alguns, exigem muito mais do profissional do que apenas uma formação técnica e teórica. Para que de fato os profissionais de saúde possam lidar com temas difíceis, tais como esses, é preciso ir além de investimentos em capacitações meramente expositivas, levando em conta que determinadas temáticas angustiam a todos e para lidar com elas se faz necessário apoio técnico e emocional contínuos.

Futuros investimentos em estratégias de capacitação e supervisão na área da violência para profissionais de saúde poderiam ser melhor utilizados se destinados a instrumentalizar os profissionais já sensibilizados e interessados em ajudar as famílias expostas a situações de violência. Identificar profissionais com vocação para trabalhar na área de violência e capacitá-los para se tornarem referência nos serviços de saúde, pode vir a ser uma maneira de maximizar recursos técnicos, teóricos e financeiros. Esses profissionais já requisitam esse tipo de investimento e beneficiam-se quando o

recebem, aplicando o conhecimento adquirido no cotidiano de suas funções e ações e multiplicando esse conhecimento ao transmiti-lo aos demais profissionais de sua equipe.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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