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Reflexões sobre o envolvimento do usuário com deficiência no DP: o querer e o

Das abordagens centradas no usuário, o DP destaca-se por aprofundar o envolvimento do usuário no processo de design e desenvolvimento de software. Por essa abordagem, o usuário, que é participante ativo como co-designer, traz

contribuições efetivas para a solução concebida, as quais refletem suas próprias perspectivas e necessidades. (MULLER, 1997)

O usuário pode ter diferentes níveis de participação e envolvimento no DP, os quais podem ser representados da seguinte forma:

• Nível 1: usuário criador – o usuário concebe idéias; propõe e/ou materializa suas ideias no processo de DP;

54 • Nível 2: usuário contribuidor – o usuário cria em conjunto com os demais participantes melhorias nas idéias propostas pelos colegas participantes, durante o tempo da reunião;

• Nível 3: usuário avaliador – o usuário apenas avalia ideias propostas por participantes colocados em um nível de maior experiência. A concepção dessas ideias é realizada anteriormente à reunião que as apresenta para avaliação do usuário avaliador.

De acordo com esta classificação, o nível 1 apresenta o usuário com um maior nível de empoderamento no DP, e nos níveis subsequentes o empoderamento do usuário vai sendo reduzido, sendo que no nível 3 o usuário tem sua participação bem restrita, atuando de forma mais distante do processo do PD.

A partir desta classificação, faz-se aqui uma reflexão que orienta o seguimento do trabalho.

Em se tratando do aspecto da participação do usuário e levando-se em conta uma das definições do dicionário (HOUAISS, 2001), no qual o participar é definido como “associar-se pelo sentimento ou pensamento (da dor, da alegria, do luto   etc.)”,   observa-se que há duas dimensões que determinam o fortalecimento ou enfraquecimento da participação de um indivíduo em algo.

Tais dimensões são:

• O querer fazer parte - desejo, vontade, estímulo interior de participar;

• O poder fazer parte – relacionado às habilidades e capacidades, existentes ou potenciais, para participar.

Pode-se  entender  que  o  fator  “querer fazer  parte”  está  intimamente  relacionado  a   quanto o resultado da participação fará sentido e será relevante para a vida do participante.

Já  o  fator  “poder fazer  parte”  remete  à  adequação  necessária  ao  processo,  olhando   para as características do participante, de forma a possibilitar a sua inclusão como participante apto a fazer parte de algo.

Percebemos que, de acordo com a combinação que explora os fatores querer e poder fazer parte, a participação de um indivíduo pode configurar-se em vários níveis de envolvimento, configurando prejuízos ou melhorias na mesma.

55 Em se tratando de pessoas com deficiência, os fatores querer e poder participar no PD mostram-se ainda mais relevantes de serem observados para se conseguir êxito na inclusão desses stakeholders no PD. Entendemos que a ampliação da participação desses stakeholders no DP consiste em explorar suas habilidades e minimizar o impacto de suas deficiências.

Percebe-se, porém que, apesar de existir uma tendência a não incluir pessoas com deficiências no DP, uma vez que mostra-se mais confortável inserir participantes representantes dessas pessoas com deficiências, muitos desses usuários, apesar das limitações causadas pelas deficiências, apresentam o discernimento necessário para atuar no processo de PD, e que adaptações no processo de forma a ampliar o seu  “querer” e “poder”  possibilitariam a sua inclusão.

(Moffatt et al., 2004),  por  exemplo,  relata  que  durante  “participatory design activities many aphasic individuals have developed sufficient compensatory skills to mask the extent of their deficits”.  Tal fato pode ilustrar a capacidade de atuação de pessoas

com deficiencia no DP quando exploradas as suas habilidades. Podemos deduzir isso como uma consequência de conseguir um boa sintonia entre o querer e poder do participante.

Por outro lado, Hornof (2009) apresenta, em atividades de design, “cerebral palsy

teen-ager with feelings of extreme physical exhaustion after the session”. O autor

“experienced himself and observed in others feelings of unsureness, unknowing, and

doubt when interacting with these girls”.  Tal relato expressa momentos de atividades

de DP com usuários com deficiência, nos quais se comprometeu o atingimento do estado de querer e consequentemente poder participar do DP.

Consideramos, portanto - e os exemplos acima ilustram essa questão - que os níveis de participação, e os fatores relacionados ao querer e poder participar podem ser melhorados para cada usuário a partir da condução de estratégias que dão suporte as limitações apresentadas pelo designer participativo com deficiência. A melhoria da participação e dos fatores relacionados   ao   “querer”   e   ao   “poder   participar”   reforçam   as   premissas   de   democracia   visadas   pela   abordagem   de   DP,   especialmente por possibilitar aos usuários serem atendidos nas suas necessidades tecnológicas, seja por interesses próprios ou coletivos, por meio de processos de design que propiciam o aprendizado mútuo e a co-realização.

56 Apêndice G. Este Apêndice apresenta os resultados de pesquisas atuais relacionando a inclusão e não inclusão do usuário com deficiência no DP

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4 PD4CAT: UM MÉTODO DE DESIGN PARTICIPATIVO PARA TECNOLOGIA ASSISTIVA PERSONALIZADA

Esse capítulo tem o objetivo apresentar o método proposto por esta pesquisa: PD4CAT – Participatory Design for Customized Assistive Technology. Para tanto, esta seção estrutura-se da seguinte forma: a Seção 4.1 apresenta em linhas gerais o método; a Seção 4.2 apresenta o propósito de cada uma das suas fases e processos. A Seção 4.3 apresenta a literatura que embasa cada uma das fases e processos do método e a Seção 4.4 estabelece a relação entre o PD4CAT e os demais métodos estudados no Capítulo 3.