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Reflexões sobre o modelo de input compreensível

Conforme evidenciamos anteriormente, ao evocarmos as principais teorias interacionistas, o input negociado pelos alunos durante as atividades de interação em sala de aula é muito relevante para a construção da aprendizagem. Vimos que uma das premissas krashenianas é de que este deve ser compreensível e relevante para o aprendiz.

Escolhemos trabalhar com textos cada vez mais recorrentes na sociedade, gêneros textual-discursivos híbridos, tendo em vista que os textos escolhidos para a incorporação em sala de aula são autênticos, resultado das demandas interativas entre os indivíduos e o papel que eles exercem nas sociedades. Por essa razão, são muito relevantes para que os aprendizes

possam entender não somente a língua estrangeira em questão, mas o funcionamento social e o modo de organização do pensamento quando se decide comunicar através de textos escritos. Acreditamos que uma questão controversa diga respeito à compreensibilidade do input, já que a teoria krasheniana foi desenvolvida considerando como premissa para a aprendizagem que os indivíduos devem ter contato com um elemento que lhes seja familiar com um grau a mais de dificuldade. No entanto, não deixa claro como medir este grau a mais de dificuldade e se este será o mesmo para todos os aprendizes, o que, para nós, torna a teoria um pouco nebulosa.

Long (1985) nos indica que uma das formas de tornar o input compreensível é pela negociação de seu significado que se dá, entre outras formas, por um processo de simplificação, por um processo de contextualização e por um processo de modificação da estrutura interativa.

A fim de verificar, com base em Long (1985), qual seria a melhor rota de acesso à negociação do significado, é preciso explicar, ainda que sucintamente, o que caracteriza o input proposto por nós como ferramenta para a compreensão leitora em língua estrangeira, já a partir de níveis iniciais.

Apresentamos a seguir o gênero mensagem de alerta convencional, que costuma trazer fotos contendo imagens chocantes com a intenção de chamar a atenção dos fumantes para os riscos que o cigarro traz à saúde, bem como frases de impacto a fim de fazer refletir sobre a ação de fumar, conforme podemos ver na figura 1.

Figura 1: Maços de cigarro com mensagens de alerta em espanhol.

Fonte: internet, disponível em http://estafapreferentesbankia2009.blogspot.com.br/2013/05/preferentes-bankia- pr0paganda-persuasiva.html, acesso em 05 de janeiro de 2014.

A seguir, podemos ver um exemplo de um gênero híbrido, extraído do facebook, da página 9GAG en español. Podemos perceber que não se trata mais de uma mensagem de alerta que comumente apareceria nos maços de cigarro e, sim, trata-se de uma piada, já que a intenção comunicativa não é a de advertir, mas a de provocar humor ou mesmo de criticar.

Figura 2: Se fumas, teus filhos poderão se parecer com este garoto.

Fonte: 9GAG en español, acessado em 05 de janeiro de 2014.

Neste primeiro momento, podemos concluir que um gênero híbrido configura-se como um texto que reúne características de mais de um gênero textual-discursivo, podendo atuar um dos gêneros como componente estrutural, que serve de alicerce para a transmissão da mensagem, no exemplo dado o gênero mensagem de alerta serviria a este papel, e outro gênero que serve para dar sentido à mensagem, no qual seu propósito comunicativo será o que deverá ser acessado para que se construa a compreensão do texto, neste exemplo, a piada.

Diante do exposto, parece ser, em um primeiro momento, que o processo de transformação de gêneros textual-discursivos não se adequaria à rota de simplificação proposta por Long (1985), tendo em vista que parece haver muito mais esforço implicado na negociação do significado durante a leitura de gêneros textual-discursivos híbridos que durante a leitura de um gênero convencional, pois o aprendiz teria que acionar ou relacionar um número maior de conhecimentos, sobretudo, em nível genérico e enciclopédico.

A rota da contextualização parece, então, ser mais atrativa para que se estabeleça a negociação do significado em sala de aula no que diz respeito ao uso de gêneros textual- discursivos híbridos tendo em vista que, ao considerar o contexto de produção, podemos verificar quem tem autoridade para produzir um texto desta natureza, em que circunstâncias e a quem o texto pode ir dirigido, o que provavelmente fará com que alunos e professor reflitam

sobre os elementos implicados na elaboração do texto e de seus sentidos, comparando línguas e culturas, desenvolvendo em seus alunos um nível de compreensão profundo ou ainda crítico-reflexivo.

No entanto, o processo de modificação da estrutura interativa parece ser o mais adequado quando o input em questão são os gêneros híbridos a fim de que haja uma negociação de significado mais satisfatória e consequentemente que professor e alunos cheguem à compreensão dos sentidos do texto por meio de um processo interativo e de uma atividade compartilhada na qual professor e alunos entram numa atividade em conjunto e não têm outro propósito que o da aquisição.

Sánchez Miguel, García Pérez e Rosales Pardo (2012) discutem em seus trabalhos a existência de pelo menos três estruturas de interação em sala de aula. A primeira delas se intitula IRE (indagação-resposta-avaliação) e tem na figura do professor o propulsor da atividade interativa, bem como no modelo de interação IRF (indagação-resposta-feedback), o professor é também responsável por dar início à interação e, de certo modo, funciona como um guia e termômetro do funcionamento adequado das interações. Por último, há o modelo simétrico no qual os alunos são responsáveis por dar inicio à interação e avaliar se ela foi satisfatória para o seu aprendizado.

Acreditamos que considerar as atuações do professor e dos alunos durante a tarefa de leitura em língua espanhola com gêneros textual-discursivos híbridos é uma forma de destacar a importância da interação para o logro da aquisição e da aprendizagem da competência leitora, pois é a através da interação que o input será não somente percebido como relevante, mas também será compreensível para os aprendizes, sobretudo para aqueles que estão começando seus estudos, já que oportuniza descobrir as particularidades da língua e da cultura espanhola por meio da compreensão de que não somente as línguas são variáveis, mas que os textos que veiculam as línguas também variarão para alcançar determinados propósitos comunicativos demandados pela sociedade atual.