• Nenhum resultado encontrado

REFLEXÕES SOBRE O PATRIMÔNIO CULTURAL

No documento Tese Tânia Mara Quinta Aguiar de Mendonça (páginas 54-58)

imaterial no Brasil, em Portugal e nos museus - musealiza-se não somente os monumentos, os artefatos, mas as crenças, as manifestações artísticas e populares, a memória.

A primeira parte do capítulo 1, que aborda as questões do patrimônio cultural, memória de poder, teve como fio condutor o pensamento dos seguintes autores: os franceses, historiador Jacques Le Goff (1994),27 e o filósofo Michael Foucault (1979),28

o sociólogo austríaco Michael Pollak (1989),29 o antropólogo argentino Nestor Garcia Canclini (1990),30

os museólogos brasileiros Mário Chagas (2002),31

Maria Célia Teixeira Moura Santos (1993)32

e Mário Moutinho (1994),33

e a historiadora carioca, Cláudia Mesquita Dias (2003).

27

Jacques Le Goff. 1924. É historiador francês. Publicou estudos que renovaram a pesquisa histórica, sobre mentalidade e antropologia da Idade Média. Integrante do Movimento Historiográfico École des Annales. Dirigiu os estudos ligados à Nova História, como a coletânea Faire de l’histoire em 1977 e o Dictionnaire de la Nouvelle Histoire, em 1978. Nos anos 1980, trabalhou na biografia de São Luís, publicada em 1996. Fonte: História e Memória - Jacques Le Goff. Acedido a 20 de maio, 2010 em http://pt.scribd.com/doc/8757274/Historia-e-Memoria-Jacques-Le-Goff.

28

Michel Foucault. 1926 -1984. Filósofo, ficou conhecido pelas críticas às instituições sociais, especialmente à psiquiatria, à medicina, às prisões, e por suas idéias sobre a evolução da história da sexualidade, as teorias relativas à energia e à relação entre poder e conhecimento. Em 1961, conclui a tese História da Loucura na Idade Clássica. Filho de médico, e interessado na epistemologia da medicina publicou Nascimento da clínica: uma arqueologia do saber médico, Raymond Roussel e Doença e Psicologia Mental. Em 1966 publicou As Palavras e as Coisas. Em 1968, publicou A arqueologia do Saber, como uma resposta a seus críticos. Em 25 de junho de 1984, em função de complicadores provocados pela AIDS, morreu aos 57 anos. Fonte: Biografias. Uol Educação. Acedido a 12 de junho, 2011, em UolEducação/Biografiashttp://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u720.jhtm.

29

Michael Pollak. [1948-1992]. Foi pesquisador do Centro Nacional de Pesquisas Científicas. Dedicou-se à análise da identidade social em situação extrema. Atuou em pesquisas sobre as condições de vida nos campos de concentração e sobre o estilo de vida dos homossexuais. Em 1985, publicou na França, a primeira investigação sobre a AIDS, doença responsável pela sua morte em 1992. Fonte: Estação Liberdade. Acedido a 20 de maio, 2010 em http://www.estacaoliberdade.com.br/autores/pollak.htm.

30

Nestor Garcia Canclini. [1939]. Doutor pela Universidade Nacional de La Plata. Desde 1990, é professor e pesquisador da Universidade Autônoma Metropolitana Iztapalapa, onde dirige o Programa de Estudos Culturais. Fonte: Editora Universidade de São Paulo. Acedido a 23 de junho, 2011 em http://www.edusp.com.br/institucional.asp.

31

Mário de Souza Chagas. Graduação em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro [1979] e Licenciatura em Ciências pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro [UERJ] [1980], mestrado em Memória Social pela UFRJ [1997] e doutorado em Ciências Sociais pela UERJ [2003]. É professor adjunto da UFRJ, Diretor do Departamento de Processos Museais do Instituto Brasileiro de Museus [DEPMUS/IBRAM], membro do conselho consultivo da Universidade Comunitária Regional de Chapecó, professor convidado da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, em Lisboa. Fonte: Currículo do Sistema de Currículos Lattes. Acedido a 20 de novembro, 2010 em http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/busca.do.

32

Maria Célia Teixeira Moura Santos - Possui graduação em Museologia pela Universidade Federal da Bahia [1973], mestrado em Educação pela Universidade Federal da Bahia [1981] e doutorado em Educação pela Universidade Federal da Bahia [1995]. É Consultora das áreas da museologia e da pedagogia, professora da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, conselheira no Conselho Internacional de Museus- ICOM/BR, coordenadora do Eixo 3 da Política Nacional de Museus do Ministério da Cultura , conselheira da Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários e membro da Associação Brasileira de Museologia. É Diretora de Museus do Instituto do Patrimônio Arístico e Cultural do Estado da Bahia Fonte: Plataforma Lattes. Acedido a 9 de maio, 2010emhttp://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/busca.do.

Os estudos de Le Goff (1994) foram importantes porque descrevem a trajetória do conceito de memória através do tempo. Na cronologia da memória, ele analisa o momento das grandes transformações no processo de preservação da memória coletiva provocadas pela Revolução Francesa, ressaltando os discursos do poder e da manipulação da memória coletiva e, nesse processo, o nascimento das instituições de preservação, incluindo os museus, como espaços representativos.

Mas o que é o poder? Para o entendimento do conceito de poder, suas especificidades e técnicas, recorremos ao pensamento do filósofo francês Michael Foucault (1979), e traçamos um paralelo entre Pollak (1989), Foucault (1979) e Chagas (2002). Os estudos de Chagas (2002), sobre memória e poder contribuíram para o entendimento de que os museus são os locais onde o poder repercute. Nesse contexto, buscamos as análises de Dias (2003), sobre o enquadramento da memória e sobre os aspectos do poder que envolveram a criação do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro.

Ainda no contexto do poder e da memória, os estudos de Michael Pollak (1989), contribuíram para o alargamento da noção de democratização da memória coletiva, através de suas considerações sobre as memórias subterrâneas individuais e a importância da técnica da história oral para o registro da memória dos excluídos e marginalizados.

As reflexões sobre patrimônio cultural e os novos patrimônios foram referenciadas pela historiadora francesa Françoise Choay (2006),34 Canclini (1990), Moutinho (1994), e Santos, (1993). Os estudos de Canclini (1990), analisam o patrimônio considerando:

“(...) o desenvolvimento urbano, a mercantilização, as indústrias culturais e o turismo como contextos que devemos aceitar por serem as condições em que hoje os bens históricos existem, mas também porque contribuem para repensar o que devemos entender por patrimônio histórico e por identidade nacional.” (Canclini, 1990, p. 95).

Para o autor, o patrimônio é resultado de uma construção do imaginário nacional, ou seja, mesmo considerando os suportes concretos – monumentos, desenho urbanístico e outros 33

Mário Moutinho. Possui graduação em Arquitetura/Urbanismo - Ecole Nationale Superieure Des Beaux Arts Paris [1972] e Doutoramento em Antropologia Cultural - Universidade de Paris VII Jussieu [1978]. Atualmente é Reitor da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias e Assessor Principal no Museu Nacional de História Natural de Lisboa. É presidente do Conselho Científico da Unidade de Estudo e Investigação em Ciências Sociais Aplicadas ID 462 – reconhecida pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia [FCT]. Fonte:

Portal DeGóis. Plataforma Nacional de Ciência e Tecnologia. Acedido a 10 de maio, 2010, em http://www.degois.pt/visualizador/curriculum.jsp?key=7873152942076524.

34

Françoise Choay. Filósofa e historiadora das teorias e formas urbanas e arquitetônicas e professora de urbanismo, arte e arquitetura na Université de Paris VIII. Nos anos 1950 colaborou nas revistas L'Observateur, L'OEil e Art de France. Nos anos 1960 dirigiu a secção parisiense da Art international. Da década de 1970 até hoje, publicou diversos estudos sobre arquitetura e urbanismo. Fonte: Wook autores realizadores. Acedido a 3 de março, 2012 em http://www.wook.pt/authors/detail/id/26000.

bens físicos, o patrimônio também abarca a experiência vivida através das linguagens, conhecimentos, tradições imateriais, dentre outros.

Portanto, muito antes das legislações internacionais e nacionais considerarem os bens culturais de natureza imaterial como patrimônio, os estudiosos, como Canclini (1990), já os reconheciam como patrimônio.

A obra de Choay (2006), possibilitou a compreensão do patrimônio dos pontos de vista arquitetônico, histórico e artístico e a evolução desses conceitos no decorrer de cinco séculos. Os estudos de Moutinho (1994), e M. C. T. M. Santos (1993), contribuíram para a compreensão da evolução histórica e do olhar contemporâneo para o patrimônio sob a perspectiva da sociomuseologia.

Moutinho (1994) analisa o alargamento da noção de patrimônio e a consequente redefinição do objeto museológico, a ideia de participação da comunidade na definição e gestão das práticas museológicas, a museologia como fator de desenvolvimento e as questões de interdisciplinaridade.

Nesse contexto, a musealização do patrimônio constitui-se através de processos que estimulam o conhecimento, a emoção, os sentidos e a memória de quem com ele é confrontado. O discurso do museu se liberta das amarras das coleções em favor do entendimento das pessoas que as envolvem e dos espaços que as abrigam.

Os estudos de M. C. T. M. Santos (1993), foram importantes para a orientação da tese no sentido do novo olhar museológico, dos conceitos de museu, museologia, patrimônio e a relação do museu com a sociedade. De sujeito contemplativo e passivo diante das coleções intocáveis, o visitante do museu contemporâneo é instigado a definir, junto com a instituição, o que preservar e como preservar, num processo dialógico permanente.

As reflexões sobre patrimônio imaterial foram referenciadas pelos autores brasileiros: arquiteta Márcia Sant’Anna (2003),35consultoras do Ministério da Cultura do Brasil, Maria Cecília Londres Fonseca (2008),36 Maria Laura Viveiros de Castro (2008),37 e a

35

Marcia Sant’anna. Arquiteta, professora da UFBA, ex-diretora de Patrimônio Imaterial do IPHAN. Foi coordenadora do Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial, criado pelo Ministério da Cultura em 1998. Fonte: Abreu, R., & Chagas, M. (orgs.). (2003). Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A.

36

Maria Cecília Londres Fonseca. Licenciada em Letras pela PUC-RJ, Mestre em Teoria da Literatura pela UFRJ e Doutora em Sociologia pela UnB. Foi membro do Grupo de Trabalho do Patrimônio Imaterial [1998- 2000] e Representante do Brasil nas reuniões de peritos internacionais, na UNESCO para a elaboração da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial [2002-2003]. Fonte: IHGB-Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Acedido a 4 de outubro, 2011 emhttp://www.ihgb.org.br/dicbio.php?id=00034.

37

Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti. Professora do Departamento de Antropologia Cultural e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ. Participa da coordenação do Laboratório de Análise Simbólica e coordena o Núcleo de Estudos Ritual,

museóloga Judite Primo (2007).38 E pelos autores portugueses: a museóloga Celina Bárbaro Pinto (2009),39 e o historiador Sérgio Lira (2005),40 que estudaram essa categoria de patrimônio, suas características e as legislações construídas pelos governos de Portugal e do Brasil.

Sobre a questão do patrimônio imaterial, os estudos de Pinto (2009), contribuíram para a construção da tese, através da pesquisa histórica sobre o tema e da análise sobre essa nova categoria de patrimônio que, embora seja pouco explorada nos museus, é reconhecida internacionalmente pela UNESCO desde 2003, através da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial.

A contribuição de Lira (2005) foi importante para o alargamento da noção dos bens tangíveis e intangíveis na constituição do patrimônio. De acordo com o autor, os museus clássicos consideravam a existência somente dos bens tangíveis. As informações sobre os bens intangíveis eram negligenciadas e inexistentes do ponto de vista museológico.

Outra contribuição importante do estudo de Lira (2005), diz respeito à análise dos suportes que abrigam os acervos do patrimônio imaterial. Esses suportes passam a ser incluídos como acervos museológicos “sem materialidade própria, mas usando a materialidade dos suportes que os permitem conservar, este patrimônio imaterial ganhou, na última década, uma proeminência e uma premência em termos museológicos e museográficos extrema.” (Lira, 2005, p.1).

Lira (2005) alerta para a importância da criação de novos procedimentos de conservação para atender aos novos acervos. “tais questões acompanham alterações tecnológicas significativas: há poucos anos ainda se aconselhava, por exemplo, o registo audio em fita magnética (usando gravadores profissionais Marantz...). Os museus, tendo

etnografia e sociabilidades urbanas. Fonte: Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti|Professora Antropologia IFCS/UFRJ. Acedido a 05 de outubro, 2011 em http://www.lauracavalcanti.com.br/curriculo.asp.

38

Judite Primo. Doutora em Educação pela Universidade Portucalense Infante D. Henrique [2007], Mestre em Museologia pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias [2000]. Possui graduação em Museologia pela UFBA [1996]. É Diretora do Doutoramento e do Mestrado em Museologia na ULHT, docente em Museologia e Patrimônio e membro do Conselho de Redação dos Cadernos de Sociomuseologia. Fonte: Currículo do Sistema de Currículos Lattes (Judite Primo). http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/busca.do.

39

Celina Barbaro Pinto. É licenciada em Antropologia pela UTAD [Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro]; Mestre em Museologia pela ULHT; Técnica Superior no Museu da Terra de Miranda [Miranda do Douro]. Fonte: Museologia. Porto. Acedido a 20 de novembro, 2011 em http://museologiaporto.ning.com/profile/CelinaBarbaroPinto.

40

Sérgio Lira. É licenciado em História [F.L.U.P.] – 1986; Mestre em História Medieval [F.L.U.P.] – 1993; PhD em Museum Studies [U. Leicester – U.K.] – 2002 e Professor Associado da Universidade Fernando Pessoa [UFP]. Fonte: Universidade Fernando Pessoa. Acedido a 20 de maio, 2011 em http://www2.ufp.pt/~slira/CV.htm http://www.ufp.pt/.

adoptado este novo tipo de património, precisam em absoluto de acompanhar essas alterações tecnológicas.“ (Lira, 2005, p.1)

Os estudos de Primo (2007), sobre os museus portugueses também fundamentaram a base teórica para redação deste capítulo. Ao traçar um panorama da museologia e das políticas culturais em Portugal, Primo (2007), identifica os períodos mais significativos de reflexão da comunidade museológica portuguesa e faz um relato mais aprofundado das transformações ocorridas nessa área no século XX, incluindo, nesse contexto, a política de preservação do patrimônio imaterial.

O estudo da arquiteta Marcia Sant’Anna (2003), sobre o patrimônio imaterial brasileiro foi importante para subsidiar a tese na redação de uma cronologia histórica. A autora analisa a construção dos marcos legais de preservação no período de 1930 até o ano de 2000, quando o governo brasileiro instituiu o Registro dos Bens Culturais de Natureza Imaterial e criou o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial [PNPI].

Outra referência teórica utilizada foi a publicação O Registro do Patrimônio Imaterial, Dossiê Final das Atividades da Comissão e do Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial criados em 1998 pelo Ministério da Cultura do Brasil. Os estudos da Comissão e do Grupo de Trabalho foram a base para a elaboração do decreto 3.551/2000, que instituiu no Brasil o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial.

A nova legislação brasileira sobre patrimônio imaterial foi trabalhada porque embora não faça referência específica aos museus da imagem e do som como espaços de guarda e difusão desse patrimônio fortalece as discussões sobre o papel dos MISes, ao reconhecer a existência dos bens imateriais e regulamentar os meios do seu registro, guarda e institucionalização.

Apesar de a legislação ter sido criada há apenas dez anos, o que se constata é que será preciso aprofundar o diálogo entre os museus da imagem e do som e as instituições federais e estaduais, de forma que busquem a construção de conhecimento conjunto nessa área e que transformem os MISes em espaços reconhecidos de preservação do patrimônio imaterial brasileiro.

O Capítulo 2: A Musealização do Patrimônio Cultural pela Museologia

No documento Tese Tânia Mara Quinta Aguiar de Mendonça (páginas 54-58)