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Essa pesquisa empregou a metodologia participativa para a construção coletiva dos indicadores de EA e também se constitui em um processo formativo em EA dos sujeitos da escola “[…] por meio de um diálogo de saberes e na confluência de uma multiplicidade de sentidos coletivos, mais do que como uma articulação de ciências, de intersubjetividades e de saberes pessoais [...]” (LEFF, 2012a, p. 56).

Conforme exposto nos subitens anteriores, essa pesquisa se delineou com o trabalho com grupos nas duas fases.

Na primeira fase foi formado um grupo na escola ‘A’, composto por treze participantes pertencentes a comunidade escolar com o objetivo de construir coletivamente indicadores de EA para escolas. Foram conduzidas atividades em grupo e em subgrupos, conforme roteiro de trabalho, mediadas pela pesquisadora. Os resultados dessa primeira fase culminaram na matriz de indicadores de pesquisa. Cabe ressaltar que na escola ‘A’ houve a necessidade de se criar uma “subcultura grupal” (GATTI, 2012, p. 28) em processo formativo para a construção dos indicadores, ao longo dos quatro encontros.

Nessa fase destaca-se o emprego da técnica de grupos focais, pelo seu diferencial de atuar no contexto da coletividade e fornecer subsídio às discussões acerca dos temas relativos a EA formal e também por possibilitar a interação e trocas de experiências entre os participantes do grupo (MENDES; VAZ, 2009).

O grupo focal permitiu emergir a multiplicidade de pontos de vista, emoções, experiências, comportamentos, representações, as motivações e conceitos pelo processo de interação criado. Também foi possível compreender os processos de construção da realidade, das práticas cotidianas e do ambiente escolar, comportamentos e atitudes, e o compartilhamento de ideias. Esse processo possibilitou experienciar “[…] a riqueza do que emerge 'a quente' na interação grupal, em geral, extrapola em muito as ideias prévias, surpreende, coloca novas categorias e formas de entendimento, que dão suporte à inferência de novas e proveitosas relacionadas com o problema em exame” (GATTI, 2012, p. 13).

Concordamos com Backes et al. (2011, p. 441), que o grupo focal se constitui em uma importante estratégia e uma nova possibilidade metodológica para as pesquisas qualitativas, pela sua capacidade de interação, problematização, coleta e análise de dados, que busca “[…] inserir os participantes, da pesquisa no contexto das discussões de análise e síntese que contribuam para o repensar de atitudes, concepções, práticas e políticas sociais”. Nesta pesquisa, o foco do grupo estava nas políticas para a EA.

As ideias de Gondim (2003) vêm ao encontro do que foi desenvolvido nesta pesquisa quando diz que, a técnica de grupo focal pode ser utilizada para gerar conhecimento necessário para a construção de instrumentos de medidas, permite a identificação do que é relevante sobre o tópico, a avaliação do conjunto de dimensões

que cada domínio cobrirá – quantidade de itens – e também serve de pré-teste de questionários. É pertinente salientar que, os grupos focais também possibilitam à escola um trabalho com pais, alunos e professores, na tomada de decisão, no diagnóstico e avaliação (GONDIM, 2003).

De acordo com Cordioli (2001) o desenvolvimento de um processo participativo permite uma interação interdisciplinar e multissetorial, facilita o surgimento de soluções criativas e associadas a realidade. “Também se justifica pelo componente afetivo, por fazer com que sintamos mais estimulados, mais seguros, mais confiantes, trabalhando em equipe. É a base para a interação e confiança entre as pessoas e, assim, a sua autogestão” (CORDIOLI, 2001, p. 27).

Na segunda fase da pesquisa, foram formados grupos em oito escolas – B a I – compostos entre seis a onze participantes, garantindo a participação de alunos, professores, funcionários, equipe pedagógica e diretiva, com o objetivo de aplicar e validar a matriz de indicadores de EA. De acordo com Gatti (2012, p. 22) “o emprego de mais de um grupo permite ampliar o foco de análise e cobrir variadas condições que possam ser intervenientes e relevantes para o tema. […]”.

Nessa segunda fase, a condução dos encontros únicos nas escolas foi 'focada' nas questões dos indicadores através das experiências de práticas e vivências cotidianas e contribui para o levantamento de elementos para o aprimoramento da matriz de indicadores de EA e elaboração de orientações desta.

O processo de aplicação e validação da matriz de indicadores de EA, teve o pretexto pedagógico de levar os participantes do grupo a refletir sobre a situação socioambiental da escola e contribuir com o instrumento de pesquisa com suas experiências e vivências em escolas públicas por meio da participação em grupo.

A experiência com grupos possibilitou utilizar ferramentas e técnicas participativas na condução de “processos participativos” (BROSE, 2001; CORDIOLI, 2001) e a proposta Freiriana de “Círculo de Cultura” (FREIRE, 1994; LOUREIRO e FRANCO, 2012; BRASIL, 2012d), pela condução dos trabalhos na construção coletiva nos espaços educativos, através do diálogo, da reunião de ideias e de experiências dos diferentes sujeitos, resultando na geração de conhecimento.

Conforme Cordioli “A importância de um processo participativo também pode ser dada pela razão instrumental de sermos mais eficazes, realizando as coisas em conjunto” (2001, p. 27). Em um processo participativo, o trabalho em grupo potencializa a criação participativa (CORDIOLI, 2001) e faz perceber aspectos que

não poderiam ser revelados em outras condições conforme expõe Gatti (2012, p. 14) “O grupo tem uma sinergia própria, que faz emergir ideias diferentes das opiniões particulares há uma reelaboração de questões, que é própria do trabalho particular do grupo mediante as trocas [...]”.

O exercício com os grupos representou uma oportunidade da comunidade escolar de contribuir com a construção de instrumentos de avaliação para escolas, a vivência do trabalho em grupo, bem como uma autoavaliação das condições socioambientais da escola. Essa experiência levou os participantes – incluindo a pesquisadora – a refletir sobre a realidade escolar e contribuir na elaboração coletiva de indicadores, que permitam diagnosticar a realidade socioambiental escolar, a pensar nos limites e possibilidades nas dimensões da EA e a percepção do estágio da escola em relação a transição para espaço educador sustentável. Por isso, a constituição de um comitê formado por representantes da comunidade escolar, são uma das recomendações para o uso da matriz de indicadores de EA.