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Reflexos da crise internacional sobre o desempenho da indústria

a atual crise mundial

2.1 Reflexos da crise internacional sobre o desempenho da indústria

brasileira no final de 2008

O agravamento da crise internacional e a entrada em sua fase mais aguda, a partir de setembro de 2008, tiveram um impacto bastante forte sobre a economia e a indústria brasileira. Em um primeiro momento, o mecanismo de transmissão principal da crise internacional para a economia doméstica foi a interrupção dos fluxos de crédito, dificultando as operações normais de rolagem de dívida e obtenção de capital de giro. Ao mesmo tempo, a percepção de que a crise internacional iria se aprofundar e se prolongar provocou um movimento extremamente rápido de reversão de expectativas, fato que se traduziu em estratégias de redução acentuada da atividade produtiva de maneira a evitar a formação de estoques indesejados. Como será analisado, o ajuste implementado pelo setor produtivo passou também pela redução nos custos de mão de obra e aumento de demissões, reforçando o cenário negativo. Finalmente, o último vetor de transmissão foi a queda acentuada nos preços e na quantidade demandada no mercado externo.

O ritmo de crescimento da economia brasileira sofreu evidente desaceleração no último trimestre de 2008. Considerando o crescimento em relação ao mesmo período do ano anterior, a taxa caiu de 6,8% no terceiro trimestre para 1,3% no último trimestre de 2008. Por sua vez, a variação em relação ao trimestre imediatamente anterior passou de um crescimento de 1,8% no terceiro trimestre para uma queda de 3,6% no último trimestre do ano passado, a maior redução trimestral da série de dados iniciada em 1996 (Tabela 2.1).

Do ponto de vista das atividades econômicas, chama atenção o desempenho negativo da indústria, em especial da indústria de

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transformação. De fato, considerando a variação em relação ao mesmo período do ano anterior, foi o desempenho negativo da indústria de transformação (-4,9%) que levou à queda na taxa de crescimento da indústria como um todo (-2,1%). Em relação ao trimestre anterior, a queda na indústria foi de 7,4%, desempenho bastante inferior ao das demais atividades da economia.

Considerando os componentes da demanda, deve-se destacar a perda de dinamismo da demanda interna, que havia sustentado o ciclo de expansão, drasticamente interrompido a partir do último trimestre de 2008. Isso pode ser observado pela desaceleração do crescimento das despesas de consumo das famílias, da formação bruta de capital fixo e das importações de bens e serviços no último trimestre de 2008 na comparação com o mesmo período de 2007 (Tabela 1). A deterioração da demanda interna torna-se mais evidente ao se observar a redução dos componentes da demanda no quarto trimestre do ano passado com relação ao trimestre imediatamente anterior: despesas de consumo das famílias (-2,0%), formação bruta de capital fixo (-9,8%) e importações de bens e serviços (-8,2%). O consumo do governo, que havia assumido um papel menos significativo no ciclo de expansão anterior, apresentou uma taxa mais vigorosa no quarto trimestre do ano passado com relação a igual trimestre do ano anterior (de 5,5%). Mesmo assim, o consumo do governo apresentou tímido crescimento na comparação do último trimestre com o imediatamente anterior (0,5%).

No que se refere à demanda externa, representada pelo comportamento das exportações, observa-se que passou a atuar de forma negativa sobre o crescimento econômico no final do ano passado (-7,0%). Também na comparação com o terceiro trimestre, houve redução das exportações no último trimestre de 2008 (-2,9).

Outro aspecto importante do arrefecimento do desempenho da economia brasileira no último trimestre do ano passado foi a desaceleração do vigoroso crescimento da taxa de investimento. Essa taxa, que havia atingido 20,4% no terceiro trimestre de 2008, o maior patamar desde o ano 2000, sofreu redução para 18,5% no último trimestre do ano (Gráfico 2.1). Destaca-se, portanto, a preocupante desaceleração do crescimento da taxa de investimento no final do ano passado, refletindo-se sobre a deterioração do desempenho da economia brasileira. Mesmo assim, observa-se a manutenção de uma trajetória de crescimento da taxa de investimento média anual ao

Tabela 2.1 – Taxa de Variação do PIB por Atividades e por Componentes da Demanda (III/2008 e IV/2008) (Em %)

Taxa trimestral contra mesmo trimestre do ano anterior

Taxa trimestral contra trimestre imediatamente anterior(*)

III/2008 IV/2008 III/2008 IV/2008

Agropecuária 6,4 2,2 1,3 (0,5) Indústria 7,1 (2,1) 3,6 (7,4) Extrativa Mineral 7,8 0,2 - - Transformação 5,9 (4,9) - - Construção Civil 11,7 2,1 - - Eletricidade, gás e água 5,7 3,2 - - Serviços 5,9 2,5 0,8 (0,4)

PIB a preço básico 6,3 1,0 1,5 (2,7)

PIB a preços de mercado 6,8 1,3 1,8 (3,6)

Despesa de consumo das famílias 7,3 2,2 2,7 (2,0)

Despesa de consumo da administração pública 6,4 5,5 0,6 0,5

Formação bruta de capital fixo 19,7 3,8 3,8 (9,8)

Exportação de bens e serviços 2,0 (7,0) 6,1 (2,9)

Importação de bens e serviços (-) 22,8 7,6 5,5 (8,2)

(*) Com ajuste sazonal.

Nota: Os dados incorporam a revisão dos números anteriormente divulgados pelo IBGE, que foram recalculados com base nas mudanças de ponderação realizadas pela instituição. Por esse motivo, existem diferenças com relação aos dados contidos nos boletins de conjuntura industrial anteriores.

Fonte: Sistema de Contas Nacionais (SCN)/IBGE.

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longo dos últimos anos, que deve servir de fundamento e de estímulo para um significativo reforço da promoção dos investimentos ao longo dos próximos anos.

Os dados de produção física da Pesquisa Industrial Mensal-Produção Física (PIM-PF/IBGE) confirmam a drástica mudança nos indicadores de desempenho. Comparando os resultados do quarto trimestre de 2008 com os do mesmo período de 2007, observam-se quedas generalizadas da produção física da indústria geral e da indústria de transformação (-6,3%) e da indústria extrativa (-6,5%), revertendo o desempenho altamente positivo observado nos trimestres anteriores. Ainda assim, as taxas de crescimento acumulado no ano de 2008 atingiram 3,1% para a indústria geral e para a indústria de transformação e 3,8% para a indústria extrativa, patamares equivalentes à quase metade do que

Gráfico 2.1 – Evolução da Taxa de Investimento (I/2004 a IV/2008)

havia sido observado no acumulado de 12 meses terminados nos primeiros trimestres do ano (Tabela 2.2).

Os dados de produção industrial, organizados por categoria de uso mostram que os bens de consumo duráveis amargaram uma queda substancial de sua produção no último trimestre do ano (-19,4%), certamente a maior dentre aquelas observadas para as demais categorias de uso. Vale destacar que essa categoria vinha apresentando um desempenho positivo de sua produção física em 2008, estimulada pela significativa expansão do crédito e da produção automotiva, como ressaltado na primeira seção deste artigo. A comparação com os dados de produção física do trimestre imediatamente anterior (considerando- se o ajuste sazonal) revela uma redução ainda maior (-25,1%).

A categoria de bens de capital, que vinha liderando o crescimento industrial nos primeiros trimestres de 2008, apresentou crescimento de apenas 2,5% no quarto trimestre de 2008 em relação ao mesmo período do ano anterior, contrastando com a vigorosa elevação observada nos trimestres anteriores (Gráfico 2.2). Mesmo assim, os bens de capital formaram a única categoria de uso que apresentou um comportamento positivo em termos de produção física no último

Tabela 2.2 – Taxa de Crescimento da Produção Industrial (IV/2007 a IV/2008) (Em %)

Atividades IV2007 I2008 II2008 III2008 IV2008

Taxa de crescimento trimestral em relação ao mesmo trimestre do ano anterior

Indústria Geral 7,9 6,4 6,2 6,7 -6,3

Indústria Extrativa 6,1 6,8 6,3 8,9 -6,5

Indústria de Transformação 8,0 6,4 6,2 6,6 -6,3

Taxa de crescimento acumulada ao longo dos últimos 4 trimestres

Indústria Geral 6,0 6,6 6,7 6,8 3,1

Indústria Extrativa 5,9 6,2 6,3 7,0 3,8

Indústria de Transformação 6,0 6,7 6,7 6,8 3,1

Fonte: Pesquisa Industrial Mensal-Produção Física (PIM-PF)/IBGE

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trimestre do ano passado. Considerando-se o crescimento da produção no acumulado do ano de 2008, revela-se um patamar ainda elevado para os bens de capital (14,3%), porém inferior às taxas de crescimento acumuladas em 12 meses terminados nos primeiros trimestres de 2008 (mantidas em torno de 20,0%).

Os bens intermediários também seguiram a tendência de redução da produção no último trimestre do ano passado (-9,2%), revertendo o desempenho positivo apresentado nos trimestres anteriores. Nesse caso, a redução da demanda externa com certeza teve um peso importante sobre alguns segmentos com elevada orientação exportadora. Quanto aos bens de consumo semiduráveis e não-duráveis, que vinham apresentando uma trajetória de crescimento suave ao longo do ano passado, também se observou uma queda, ainda que de forma mais tímida (-1,2%).

Gráfico 2.2 – Evolução da Produção Industrial por Categorias de Uso (taxa de crescimento em relação ao mesmo período do ano anterior – IV/2007 a IV/2008)

A observação dos dados de produção por atividade industrial permite destacar a desaceleração do crescimento de diversos setores relacionados a bens de capital ou a bens de consumo durável no acumulado do ano passado, especialmente provocada pela queda da produção localizada no último trimestre de 2008. Alguns dos setores que estavam sustentando as significativas taxas de crescimento acumulado da produção industrial nos primeiros trimestres de 2008 sofreram com a redução de sua produção no último trimestre do ano comparada ao trimestre imediatamente anterior (levando-se em conta o ajuste sazonal), como os veículos automotores (-26,2%); material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações (-21,1%); máquinas e equipamentos (-13,3%); e máquinas para escritório e equipamentos de informática (-13,1%). Cumpre destacar que os setores citados são altamente dependentes da sustentação do movimento de expansão do crédito. Portanto, a suspensão do crédito decorrente da crise mundial acabou afetando-os de forma mais contundente. Além disso, é importante lembrar que esses setores também utilizam uma parcela importante de insumos importados, o que dificulta a tomada de decisões sobre o nível de produção e de reposição de estoques em uma situação de incerteza sobre a demanda futura e sobre o nível da taxa de câmbio.

Os únicos setores anteriormente líderes que ampliaram as taxas de crescimento no acumulado de 2008 foram: outros equipamentos de transporte (42,2%), puxados pelo extraordinário desempenho da construção e montagem de aeronaves (58,2%) e de vagões ferroviários (54,7%), e farmacêutica (12,7%). Os equipamentos de instrumentação médico-hospitalar, ópticos e outros praticamente mantiveram sua trajetória de crescimento (16%).

A análise do comportamento recente da produção industrial revela, portanto, um rápido e forte ajuste negativo nas expectativas do sistema empresarial, motivado inicialmente pela escassez de crédito,

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o que resultou em queda drástica e generalizada da produção física da indústria. Esse efeito foi amplificado pelo ajuste desproporcional ocorrido nos níveis de emprego.

O movimento de criação de vagas na indústria brasileira nos primeiros trimestres de 2008, foi drasticamente interrompido no último trimestre do ano, quando houve significativa perda de emprego formal: redução de 344,7 mil vagas na indústria de transformação e de 3,6 mil na indústria extrativa, levando a uma perda total de 348,3 mil vagas na indústria brasileira. A redução do emprego formal na indústria brasileira no último trimestre do ano passado (2008) foi aproximadamente 4 vezes maior do que aquela observada no mesmo período do ano anterior (2007). Como resultado, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED/MTE) mostram que a criação de emprego formal pela indústria brasileira em todo o ano de 2008 foi significativamente inferior àquela observada no ano anterior, o que decorreu do superior e generalizado movimento de desligamento de trabalhadores com relação ao de admissão localizado no último trimestre do ano passado. Foram criadas aproximadamente 166,2 mil vagas na indústria brasileira em 2008, o que significou uma redução de 57% em relação ao ano de 2007 (Tabela 2.3).

A generalização da perda de vagas na indústria no último trimestre de 2008 confirma-se com a observação do comportamento do saldo da admissão e do desligamento de trabalhadores formais para os distintos

Tabela 2.3 – Evolução da Admissão, do Desligamento e da Criação de Emprego Formal na Indústria (2007- 2008) (Em mil pessoas)

IV

2007 Ano 2007 I2008 II2008 III2008 IV2008 Ano2008 Variação 2008/2007(%)

Admissão 641,8 3.027,8 894,4 924,8 964,7 598,1 3.382,0 11,7

Desligamento 728,3 2.641,2 741,4 757,1 770,9 946,4 3.215,7 21,8

Criação Líquida de Vagas (86,5) 386,6 153,1 167,7 193,9 (348,3) 166,3 (57,0)

setores industriais. Todos eles apresentaram perda de vagas no último trimestre do ano, com a única exceção do setor de bebidas. Os setores industriais que lideraram a composição da perda do emprego formal no quarto trimestre de 2008 foram: alimentos (25,2%); calçados e artigos de couro (14%); refino de petróleo e álcool (10,2%); veículos automotores (7,1%); artigos de borracha e plástico (5,8%); vestuário e acessórios (5,4%) e máquinas e equipamentos (5,2%) (Gráfico 2.3). Setores que mantêm um peso tradicionalmente elevado no estoque de emprego e dependentes da evolução da renda, como alimentos e vestuário, foram responsáveis conjuntamente por quase 30% da perda de vagas no quarto trimestre de 2008. Cumpre lembrar que alguns dos setores citados haviam liderado o crescimento da produção industrial e do emprego formal nos trimestres anteriores, como o setor de máquinas e equipamentos e o de veículos automotores, o que revela uma clara reversão do comportamento virtuoso até então apresentado pelos setores citados.

Gráfico 2.3 – Composição da Perda do Emprego Formal por Setores Industriais (4o trimestre de 2008) – (Em%)

Fonte: Elaboração própria NEIT/IE/UNICAMP a partir de dados do CAGED/MTE.

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Com base nos dados do Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS/ MTE), pode-se afirmar que, na média, os setores industriais perderam, somente no quarto trimestre de 2008, por volta de 5% do estoque de empregados formais existente em dezembro de 2007. Para alguns setores, a perda de emprego formal no último trimestre de 2008 foi ainda mais significativa quando comparada ao estoque de dezembro de 2007: refino de petróleo e álcool (-26,8%); calçados e artigos de couro (-12,2%); alimentos (-6,8%) e veículos automotores (-6,0%). Outros setores podem não ter se destacado na composição da perda de vagas no último trimestre do ano passado, mas perderam parcela importante de seu estoque de empregados formais, como o setor de máquinas para escritório e equipamentos de informática (-11,5%) e de material eletrônico e de aparelhos e equipamentos de comunicações (-8,6%). Outro aspecto preocupante da movimentação recente no mercado de tra- balho formal da indústria é sua possível contribuição para o prolongamento dos efeitos da crise por meio da redução da massa salarial. A perda líquida de massa salarial da indústria brasileira atingiu R$ 337,2 milhões no último tri- mestre de 2008. Esse resultado foi conseqüência tanto da redução da massa dos admitidos, quanto do aumento da massa salarial dos desligados. Com- parando com o mesmo período de 2007, a massa salarial dos admitidos se reduziu em 2,2% enquanto a massa dos desligados aumentou 38,8% (Tabe- la 2.4). O resultado no último trimestre do ano acabou por tornar negativo o resultado acumulado de todo o ano de 2008 (queda de R$ 155 milhões).

Tabela 2.4 – Evolução da Massa de Salários da Indústria – admissão e desligamento (IV/2007 e IV/2008) (Em R$ milhões)

Massa Salarial de Admissão Massa Salarial de Desligamento Variação da Massa de Salário (%) IV

2007 2008IV Variação (%) 2007IV 2008IV Variação (%) 2007 2008

Indústria Geral 480,3 469,9 (2,2) 581,5 807,2 38,8 25,1 (155,7)

Indústria Extrativa 13,8 15,5 12,3 11,5 21,7 88,7 13,7 9,5

Indústria de Transformação 466,5 454,4 (2,6) 570,0 785,5 37,8 11,4 (165,2) Nota: Valores deflacionados pelo IPCA – a preços de dezembro de 2008.

Considerando os dados do comércio exterior brasileiro para o quarto trimestre de 2008, observa-se um saldo positivo de aproximadamente US$ 5 bilhões (FUNCEX). Contudo, houve forte redução (-38,6%) na comparação com o saldo positivo do trimestre imediatamente anterior. Verificou-se queda das exportações (-22,1%), para o patamar de US$ 47 bilhões, e das importações (-19,5%), para o patamar de US$ 42 bilhões, no quarto trimestre compara- do ao terceiro trimestre de 2008 (Gráfico 2.4). É possível constatar que a re- dução nos valores importados e exportados foi resultado da combinação das quedas de preço e de quantum, embora a redução do quantum tenha tido maior importância tanto para as exportações quanto para as importações. A comparação do último trimestre do ano passado com o mesmo período do ano anterior também mostra queda acentuada do superávit comer- cial (-43,7%). Neste caso, a queda resultou do aumento de 20,1% das importações brasileiras na comparação dos dois períodos. Por sua vez, as exportações brasileiras apresentaram uma pequena elevação de 6,9% no último trimestre de 2008 em relação ao mesmo período de 2007. O au- mento dos preços dos produtos exportados (17,2%) foi o único responsá- vel pelo movimento ascendente das exportações, levando-se em conta a forte redução das quantidades exportadas (-8,7%) no período analisado.

Gráfico 2.4 – Taxa de Variação das Exportações e das Importações: valor, preço e quantum (IV-2008/III-2008) (Em %)

Fonte: elaboração NEIT/Unicamp a partir de dados da FUNCEX

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Portanto, a eclosão da crise mundial se traduziu na queda da produção industrial, do pessoal ocupado assalariado e na perda líquida da massa salarial industrial, bem como em redução do superávit comercial brasileiro no último trimestre de 2008.

Finalmente, vale analisar de maneira breve os últimos dados disponíveis sobre a evolução da indústria. Os dados divulgados pelo IBGE apontam que a atividade industrial continuou refletindo os efeitos da crise, embora também seja possível verificar que a tendência de redução na atividade industrial tem mostrado sinais de reversão.

Observando os dados de crescimento em relação ao mês anterior, é possível observar que o total da indústria vem apresentando números positivos desde janeiro de 2009. No entanto, na comparação com o mesmo período do ano anterior, as taxas mostram que a produção no ano corrente ainda continua em nível bastante inferior em relação a 2008.

Considerando o último mês disponível (abril/09), observa-se uma produção 14,8% menor do que de abril/08. Em janeiro de 2009, esse indicador apontava uma produção 17,5% menor do que no ano anterior.

Tabela 2.5. Variação da Produção Física por Categoria de Uso (Em %)

Categoria de Uso Variação em relação ao mês anterior

out/08 nov/08 dez/08 jan/09 fev/09 mar/09 abr/09

Indústria geral (1,4) (7,1) (12,7) 2,1 1,9 0,7 1,1

Bens de capital (0,9) (3,8) (23,4) 5,6 (7,1) (6,3) 2,6

Bens intermediários (3,1) (3,9) (12,4) 1,0 1,5 0,3 1,1

Bens de consumo duráveis (3,9) (20,8) (32,8) 35,8 10,9 1,7 2,7

Semi-duráveis e não duráveis (2,1) (0,9) (4,2) (0,9) 2,6 0,7 0,3

A tabela acima mostra que a indústria vem tentando se recuperar de for- ma gradual. Os quatro primeiro meses de 2009 mostraram uma taxa de crescimento positiva nos indicadores em relação ao mês anterior. Em abril de 2009 a indústria cresceu 1,1% em relação a março de 2009. Cabe des- tacar o setor de bens duráveis, que embora tenha sofrido um forte impac- to no final de 2008, vêem apresentando uma recuperação importante, em grande medida devido às medidas de política econômicas adotadas, em especial o programa de redução de IPI para automóveis, que surtiu um forte efeito sobre o setor. As variações observadas em relação ao mês anterior são positivas nos quatro primeiros meses do ano.

Entretanto, quando se compara com o mesmo do ano anterior, os indi- cadores ainda estão desfavoráveis, já que o primeiro semestre de 2008 foi de forte crescimento. Comparando o mês de abril de 2009 em relação a abril de 2008, a indústria apresentou uma queda de 14,8%. Vale ob- servar que em termos de categoria de uso, o setor de bens de capital passou a ser o segmento mais afetado, dado a paralisação e adiamento de vários projetos de investimento. Depois de uma pequena recuperação em janeiro, a categoria continuou apresentando queda em fevereiro e março do ano corrente. Neste último mês, a produção registrada foi 29,3% menor do que no mesmo mês do ano passado. De outro lado, os setores de bens de consumo, tanto duráveis quanto não duráveis, são os setores que vêm apresentando uma recuperação maior.

Tabela 2.5 – Continuação

Variação em relação ao mesmo período do ano anterior

out/08 nov/08 dez/08 jan/09 fev/09 mar/09 abr/09

Indústria geral 1,1 (6,4) (14,7) (17,5) (16,8) (10,0) (14,8)

Bens de capital 16,3 3,7 (14,4) (14,5) (24,4) (23,0) (29,3)

Bens intermediários (2,5) (7,8) (18,5) (20,4) (20,9) (13,3) (15,5)

Bens de consumo duráveis (0,5) (22,2) (41,7) (30,9) (24,3) (13,4) (21,6)

Semi-duráveis e não duráveis 1,1 (3,0) (1,9) (8,6) (3,0) 2,9 (4,2)

Fonte: PIM-PF, IBGE

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Já no caso dos setores semi-duráveis e não duráveis, vale destacar que foi o segmento que menos sentiu os impactos no último trimestre de 2008, dado que são setores menos afetados pela restrição de crédito. Nos bens intermediários, fortemente relacionados aos setores mais exportadores, a recuperação tem ocorrido de maneira bastante lenta. Em março de 2009, a produção física registrada foi ainda 13% menor do que a verificada em março de 2008.

Em termos de comércio exterior, os dados continuam apontando para um encolhimento dos fluxos de comércio, tanto do ponto de vista das exportações quanto do ponto de vista das exportações. Em comparação com o primeiro trimestre de 2008, as exportações no primeiro trimestre

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