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Reflexos da Residência na saúde dos residentes

Esta categoria temática apareceu em 16 artigos. Nela, os principais conteúdos dizem respeito aos reflexos que um programa de RIS/RMS/RAP pode ter na saúde geral e bem-estar dos profissionais residentes. São apresentadas discussões sobre estresse, realização no trabalho, burnout, sofrimento psíquico e assédio moral.

Segundo Lin, Viscardi e Mchugh (2014), a transição do estudante para o profissional graduado é marcada pela oportunidade de crescimento profissional, mas também pelo risco de insatisfação no trabalho e Burnout. Em investigação de Carvalho et al (2013), as queixas mais

relatadas por um conjunto de residentes foram: “sentir-se nervoso, tenso ou preocupado” (73%), “dormir mal” (69,1%) e “cansar-se com facilidade” (61,2%).

O cenário das Residências é composto por elementos de sofrimento, frustrações, ansiedades e dificuldades de agir nas situações de trabalho, os sujeitos também podem se angustiar diante das poucas possibilidades de intervir no processo saúde-doença (SCHERER; PIRES; JEAN, 2013). Guido e colaboradores (2012a) verificaram que 27% dos residentes multiprofissionais de sua pesquisa tinham indicativo para Síndrome de Burnout, visto que a Residência é uma experiência profissional desgastante. A Síndrome de Burnout pode ser entendida como um processo que se dá em resposta à cronificação do estresse e possui consequências negativas, a nível individual, profissional, familiar e social (GUIDO et al, 2012b).

Entre os fatores que contribuem para o estresse ocupacional na Residência, podem se destacar: sobrecarga, fatores inerentes ao posto de trabalho, características ergonômicas insatisfatórias, desenvolvimento de carreira profissional, falta de perspectivas e relações conflitantes no trabalho (OLIVEIRA et al, 2013).

a Residência é a possibilidade de experimentar determinados estados. É um aprendizado sentido no corpo. Saber do corpo. Saber para cuidar do corpo. Do próprio corpo e do corpo do outro. É intenso, é limítrofe. Em alguma medida pode ser violento.

Em pesquisa de Fernandes e colaboradores (2015), são referidas sensações de cansaço e de desgaste pelos residentes, ao mesmo tempo em que vivenciavam boas sensações quando conseguiam realizar ações em equipe e na busca pela integralidade. Os residentes também se sentem valorizados e reconhecidos quando os usuários admitiram ter satisfação com a assistência prestada, e reconhecem seu papel (SILVA et al, 2015).

Apesar de sofrerem com a provisoriedade, a incerteza e a insegurança, os residentes desenvolveram diversas formas de resistência e criatividade no cotidiano das equipes, o que possibilita que aprendam no e com o coletivo (ROSSONI, 2015). Contudo, situações de sofrimento parecem se sobressair em relação às possibilidades de prazer na formação profissional dos residentes (FERNANDES et al, 2015).

Diante do contexto em que se observa a filosofia do processo de formação em saúde com ações inovadoras na RIS/RMS/RAP, alguns aspectos podem ser avaliados como estressores, principalmente por não se incluírem no modelo de ensino tradicional e serem

“novidade” para alguns. Dentre aqueles aspectos, destacam-se: o trabalho em equipe, as

metodologias ativas e participativas, as relações interpessoais estabelecidas com colegas de outras profissões, a responsabilidade de empregar um cuidado integral e humanizado. Os estressores da formação, somados aos da profissão, expõem os residentes ao extremo. Na falta de estratégias adequadas para minimizar ou eliminar os estressores, esses profissionais estão expostos a um sofrimento psíquico (GUIDO et al, 2012a, 2012b).

Outros fatores que podem estar vinculados ao desgaste físico e mental dos residentes é a carga horária extensiva de trabalho, que é comum em muitas Residências, associada ao turno de trabalho integral com ritmo acelerado e jornadas longas, além de poucas pausas para o descanso e refeições, isso pode afetar a saúde dos residentes (SANCHES et al, 2016).

Em pesquisa com escalas, realiza por Sanches e colaboradores (2016), a subescala

“exaustão emocional” passou de um nível de Burnout baixo para moderado, chegando próximo ao limite alto de estresse no final do segundo ano da Residência. Há um aumento significativo no índice de “exaustão emocional” e piora no índice de “realização pessoal”, o que é identificado em todas as áreas profissionais. Em pesquisa de Guido et al (2012b), 51,35% dos residentes encontravam-se em baixo estresse e 48,65% em alto estresse, 37,84%

apresentaram altas médias de “exaustão emocional”, 43,24% altas médias de

“despersonalização” e 48,65% baixas médias em “realização profissional”.

Na pesquisa de Lin, Viscardi e Mchugh (2014), foram identificados e sintetizados 21 fatores que contribuem para a satisfação no trabalho e realização profissional de novos enfermeiros graduados que participaram de programas de Residência de Enfermagem, sendo sintetizados em sete grandes categorias: 1) recompensas externas: férias, salário, benefícios; 2) tempo do programa: havendo declínio na satisfação na primeira metade, e reinteresse na segunda metade; 3) interações e apoio: interações profissionais na Residência, incluindo o apoio de colegas residentes, tutores, preceptores; trabalho em equipe; respeito, comunicação e interações com os membros da equipe que não são residentes, inclusive com médicos e com pacientes e famílias; 4) elogio e reconhecimento: elogios e reconhecimento da equipe, incluindo dos supervisores, superiores e colegas; 5) oportunidades profissionais: oportunidades para o avanço, por meio de interações com professores, participação em pesquisas; 6) ambiente de trabalho: indicadores, cuidados fúteis, carga de trabalho, voz nas políticas de planejamento, planos de pessoal; 7) sistema hospitalar: instalações e equipamentos desatualizados, desconhecimento da unidade e departamentos, registros médicos eletrônicos.

É importante promover atividades educativas e de orientação sobre estresse, estratégias de enfrentamento e Burnout para possibilitar aos residentes o conhecimento sobre essas questões. Isso permite a identificação dos estressores e o estabelecimento de estratégias mais adequadas para enfrentá-los, propondo meios acolhedores aos residentes (GUIDO et al, 2012a, 2012b; SANCHES et al, 2016).

Em relação ao assédio moral, em estudo de Marques et al (2012), 41,9% dos residentes referiram já ter sofrido. Os profissionais responsáveis pela preceptoria são os principais assediadores, seguidos daqueles com cargos de coordenação. E foram relatadas sensações de decepção, falta de competência, incapacidade e tristeza, demonstrando como o impacto emocional do assédio é negativo. Um comentário colhido fornece, ainda, um dado

relevante sobre as relações interprofissionais: “a classe de enfermagem frequentemente é

vítima de assédio moral, sendo o principal assediador o médico” (p. 405).

Segundo Marques et al (2012), campanhas educativas nos serviços de saúde, com pôsteres e palestras, podem ser benéficas por trazerem à luz um problema que, muitas vezes, é encarado como tabu. Pensando naqueles que já foram vítimas, é importante a experiência de grupos de apoio para tais indivíduos, que tentam lidar com suas sequelas psicológicas e

psiquiátricas. No entanto, o maior apoio que uma instituição pode dar a seus membros é incluir em seu Regimento Interno medidas administrativas contra possíveis assediadores.