• Nenhum resultado encontrado

Sentidos atribuídos às Residências em Saúde

Esta categoria temática foi identificada em 25 artigos. Nela, os principais conteúdos dizem respeito às percepções, representações sociais e ideias associadas aos programas de RIS/RMS/RAP. Aqui são apresentados os principais sentidos atribuídos a estas modalidades de pós-graduação.

Os programas de RM já são conhecidos por suas qualidades e, portanto, são

“exemplos a serem seguidos”, e para se referir às RMS, Dallegrave e Kruse (2009) afirmam

que são comuns as palavras: "construção inovadora", "criar novas práticas em saúde", "transformação das condições de vida", "modificar a estrutura social", "novo projeto para a saúde e sociedade" (p. 218). Podemos iniciar refletindo, então, sobre que discursos circulam sobre as RIS/RMS/RAP?

Segundo Corrêa et al (2014) e Martins et al (2016), as RIS/RMS/RAP são programas em crescimento no Brasil e estão se consolidando devido ao seu formato de aprendizagem, agregando ensino e serviço, formando profissionais qualificados com foco no trabalho interprofissional. Estes programas devem refletir a realidade social, política e cultural, fundamentados pelos princípios e diretrizes para o trabalho no SUS. As RIS/RMS/RAP

trabalham com a imersão “no” e “pelo” trabalho (NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2010).

Cheade e colaboradores (2013) afirmam que as RMS têm como atributo formar profissionais segundo as necessidades locais, com habilidades específicas, conforme a deficiência regional.

Por meio dos programas de Residência é possível, ainda, capacitar os profissionais de saúde para que melhor possam atuar em um mundo globalizado, que requer novas formas de trabalho e ações condizentes com as novas tecnologias e necessidades (LANDIM; SILVA; BATISTA, 2012). Em pesquisa de Magnabosco e colaboradores (2015), todos os residentes

ingressaram no programa devido a necessidade de especialização exigida pelo mercado de trabalho.

As RIS/RMS/RAP “agregam diversos campos de saberes e têm por princípio o ensino,

a pesquisa e a intervenção, envolvendo instituições públicas e privadas em todas as regiões do

país” (SCHMALLER et al, 2012, p. 348). Estes programas apresentam como principal desafio a superação de limitações decorrentes da formação original dos profissionais, contribuindo para uma atuação contextualizada e comprometida com o SUS, reconhecendo, ainda, que as diferentes categorias profissionais da saúde tendem a reproduzir uma visão fragmentada do fenômeno saúde. A RIS/RMS/RAP opera a partir de um novo paradigma, promovendo uma visão sistêmica e uma ação baseada na colaboração interprofissional

(VASCONCELOS et al, 2015).

Em pesquisa de Silva et al (2015), residentes relatam que a Residência traz a oportunidade de novos conhecimentos acerca de outras áreas e isso faz com que profissões diferentes se auxiliem e se complementem. A Residência em Saúde pode ser considerada como uma excelente oportunidade de aprendizado, de contato e troca de conhecimento e experiências com profissionais de outros núcleos (MORAIS; CASTRO; SOUZA, 2012).

Na pesquisa de Santos, Whitaker e Zanei (2007), egressos citaram a Residência como um programa que foi capaz de proporcionar autoconfiança, segurança e desenvolvimento da habilidades práticas; como um instrumento ativo para seu crescimento profissional e pessoal;

que a Residência “abriu portas” no mercado de trabalho; que contribuiu muito para sua

formação teórico-prática não alcançada ao término da graduação; e apenas um egresso respondeu que a Residência não contribuiu para sua vida profissional, nem atendeu suas expectativas.

Em pesquisa de um programa de RIS, realizada por Torres, Barreto e Carvalho (2015), um dos objetivos do programa era formar profissionais para tornarem-se lideranças científicas, políticas e técnicas. Desse modo, se percebe o desejo de preparar os profissionais para assumirem espaços de assistência nos serviços de saúde, gestão de programas e políticas, além de serem atores na construção do conhecimento.

Podemos pensar também que as RIS/RMS/RAP devem se constituir como programas de cooperação intersetorial, para favorecer a inserção qualificada dos jovens profissionais de saúde no mercado de trabalho, criando uma nova cultura de intervenção (ROSA; LOPES,

2009; GOULART et al, 2012). O que, algumas vezes, pode ocupar um lugar de disputa nos

mesmo espaço físico, insuficiente, ou mesmo com os funcionários que se sentem ameaçados, desconsiderados, incomodados e invadidos (ROSA; LOPES, 2016). As atividades exercidas pelos residentes podem, em alguns casos, inclusive, parecer semelhantes às desenvolvidas pelos graduandos em estágio curricular supervisionado (DRAGO et al, 2013). O que pode gerar uma dubiedade no papel de residente, expresso por Schmaller et al (2012, p. 351):

As características das Residências são formação em serviço, supervisão direta por profissionais capacitados (preceptoria), supervisão acadêmica (tutoria), regime de dedicação exclusiva, cenários de formação e práticas em serviços da rede de atenção à saúde nos três níveis de complexidade. Nas Residências as atividades de formação têm por objetivo desenvolver habilidades e competências para profissionais atuarem em determinadas situações locorregionais de saúde. Entendemos que os residentes são profissionais em desenvolvimento de aprendizagem; a responsabilidade por sua supervisão técnica e orientação teórica é da instituição de ensino. No entanto, ao mesmo tempo em que estão em formação, os residentes também são profissionais licenciados e respondem ética e legalmente pelo exercício da prática e pelas atividades desenvolvidas nos serviços.

Em pesquisa canadense, a maioria dos participantes de um programa de Residência de Farmácia indicou que os projetos de aprendizagem em serviço complementam os programas universitários; a participação no programa levou a uma maior conscientização sobre as necessidades das pesquisas; houve aumento do seu próprio conhecimento; as habilidades de comunicação foram aprimoradas com os gestores e acadêmicos. Muitos também relataram o desejo pessoal de atender às necessidades de pesquisa do sistema de saúde; crença pessoal em sua capacidade de fazer a diferença; e aumento da divulgação da pós-graduação (CONRAD; SKETRIS; LANGILLE-INGRAM, 2013).

Há no Brasil, ainda, um movimento dos atores sociais das Residências – o Movimento Nacional de Residentes – que vem produzindo discursos e práticas em defesa da Reforma Sanitária e da efetivação do SUS, bem como, vem apresentando reações ao modelo hegemônico vigente, em diversas direções, pontuando, mais fortemente a centralidade das dificuldades encontradas no processo de capacitação entre demandas da formação e demandas de ações assistenciais (ROSA; LOPES, 2009).

Por isso Lobato, Melchior e Baduy (2012) reforçam a potência das RIS/RMS/RAP como dispositivos de mudanças de práticas e potencializador da formação de agentes micropolíticos na construção do SUS. O cenário das Residências é de muitos: dos coordenadores de programas, das IES, dos preceptores, dos tutores, dos professores e dos residentes, e, também, de quem escreve e pesquisa sobre a temática (DALLEGRAVE; CECCIM, 2016). Estas modalidades de formação se configuram, então, como práticas contra

hegemônicas, que permitem vivenciar novas tecnologias do cuidado, buscando desassociar antigas práticas de saúde (SALVADOR et al, 2011).