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3.1 – Surgimento das legislações no campo da saúde do trabalhador

A Organização Mundial da Saúde esclarece que a saúde é estabelecida por instituições oficias competentes, governamentais, em resposta às necessidades e pressões societárias (WHO, 1998:10). De acordo com Fleury (2009), deve-se compreender a política de saúde como política social, pois a saúde é reconhecida como direito de cidadania que permeia um compromisso com a classe. Considera-se relevante, para esse trabalho, refletir acerca do processo de construção da política de saúde do trabalhador no Brasil, especificamente no que diz respeito à sua vinculação à implementação da reforma trabalhista, iniciada em 2017.

As transformações ocorridas no mundo do trabalho aprofundam, cada vez mais, a relação entre o setor trabalhista e a política de saúde. A intensificação laboral e a flexibilização têm levado ao aumento de subempregos com contratos precários, salários abaixo do mínimo constitucional e insegurança, por parte dos trabalhadores, do desemprego.

Conforme Vasconcellos (2007), as primeiras políticas de saúde surgiram, nas décadas de 1910 e 1920, a fim de reparar os danos à saúde decorrente da força de trabalho, como a lei que “obriga as empresas a contratar seguros de acidentes de trabalho para seus empregados (Decreto nº 3.724, de 1919) e a constituição de um seguro social com a criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões - CAP (Lei Eloy Chaves, de 1923)”. A CAP tinha como direito a reparação da força de trabalho pelos anos trabalhados. A prática médico-assistencial era restrita aos associados.

Posteriormente, através dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAP), o acesso foi ampliado à diversas categorias. Um modelo corporativista, que mesmo ampliado a diversas categorias, continuava excludente para a maior parte da população. Algumas leis esparsas e políticas de saúde foram sendo criadas, mas nenhuma que abrangesse a integralidade e universalidade. Com isso, foi nos períodos iniciais do século XX que o governo brasileiro iniciou a regulamentação da saúde médico-assistencial, através das CAP e mais tarde das IAP. O processo de industrialização brasileira se intensificou na década de 30, no governo de Vargas, de base ditatorial, e incitava uma indústria nacionalista com forte presença do Estado.

Com o advento desse processo, fortaleceu os movimentos operários em prol de uma emergência na regulação das relações de trabalho. O indivíduo se torna cidadão quando é possuidor de direitos, mas a cidadania era considerada uma cidadania regulada (SANTOS, 1980, p. 138), visto que as leis trabalhistas que foram surgindo eram específicas a certas categorias, e só po- deria usufruir dos direitos implementados por lei como um cidadão caso ocupe uma profissão reconhecida legalmente. O que importava era o lugar que se ocupava no mercado de trabalho.

Ainda no governo varguista, foi criado o Ministério do Trabalho e diversas leis foram elaboradas e afirmadas e, em 1943, solidificadas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), regulando as relações individuais e coletivas no trabalho. A CLT legitima toda a classe traba- lhadora, urbana e rural, no contrato formal de trabalho. Nos períodos de 1950 a 1960, é expan- dida a regulação do processo de trabalho de forma democrática e sua proteção.

A trajetória da Saúde do Trabalhador no Brasil tem raízes no Movimento de Medicina Social latino-americana e na luta operária italiana (nos anos 1960 os trabalhadores foram colocados na centralidade do processo de trabalho junto com a nova concepção de saúde que influenciou o Brasil com sua reforma sanitária). Foi durante os anos de 1960/1970 que houve a intensificação de trabalhadores nos setores industriais e surgimento de movimentos sociais em defesa da saúde e qualidade de trabalho. Também nesse ano, acontece um avanço na articulação entre a saúde com o trabalho a partir da Medicina Preventiva, Medicina Social e Saúde Pública (GOMEZ; VASCONCELLOS; MACHADO, 2018, p. 1964).

Posteriormente foram surgindo Programas e Centros de Referência em Saúde do Trabalhador em que o ponto central era no diagnóstico e acompanhamento de patologias referentes ao trabalho, meramente assistenciais. Em 1984, o Sindicato dos Trabalhadores Químicos e Petroquímicos do ABCD propôs à Secretaria de Estado de Saúde o Programa de Saúde do Trabalhador Químico do ABC, algo inovador nessa área. A I Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador, em 1986, buscou consagrar princípios como a universalidade e até controle social (GOMEZ; VASCONCELLOS; MACHADO, 2018, p. 1964). Portanto, foi somente em 1986, com a da I Conferência Nacional de Saúde dos Trabalhadores, um desdobramento proposto pela VIII Conferência Nacional de Saúde, que a expressão Saúde do Trabalhador ganha expressão mais imperativa pela saúde pública, além de se pontuar "A avaliação dos ambientes de trabalho deverá ser feita pelo órgão sanitário local do Sistema Único

de Saúde, com participação dos sindicatos" (BRASIL, 1986). No relatório final da 1ª CNST continha:

1 – Diagnóstico da Situação de Saúde e Segurança dos Trabalhadores; 2 – Novas Alternativas de Atenção à Saúde dos Trabalhadores;

3 – Política Nacional de Saúde e Segurança dos Trabalhadores (BRASIL, 1986).

Em 1988, com o fim da ditadura militar, a Constituição Federal foi promulgada e pioneira como marco normativo de acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação, garantindo a saúde como um direito de todos e dever do Estado, sendo garantida através de políticas sociais e econômicas, além de atividades preventivas e participação da comunidade em suas ações. (Artigos 196 a 200, CF, 1988). Um avanço da cidadania e por isso conhecida como a Constituição Cidadã. Todos os brasileiros passaram a ter direito a saúde de forma gratuita através da implementação do Sistema Único de Saúde – SUS, um direito de todos e dever do estado, criado pela CF/88 e regulamentada pela lei 8.142/1990, de 28 de dezembro de 1990.

Em 1990, foi regulamentada a Lei Orgânica da Saúde, Lei no 8080/90, de 19 de setembro de 1990, que dispõe condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, além de abordar, no artigo 6º, parágrafo 3º, dispositivos constitucionais sobre Saúde do Trabalhador. Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho, abrangendo:

I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de trabalho ou portador de doença pro- fissional e do trabalho;

II - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo de trabalho;

III - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), da nor- matização, fiscalização e controle das condições de produção, extração, armazenamento, trans- porte, distribuição e manuseio de substâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador;

IV - avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde;

V - informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindical e às empresas sobre os riscos de acidentes de trabalho, doença profissional e do trabalho, bem como os resultados de fiscalizações, avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão, respeitados os preceitos da ética profissional;

VI - participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde do traba- lhador nas instituições e empresas públicas e privadas;

VII - revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração das entidades sindicais; e

VIII - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao órgão competente a inter- dição de máquina, de setor de serviço ou de todo ambiente de trabalho, quando houver exposi- ção a risco iminente para a vida ou saúde dos trabalhadores. (BRASIL, 1990)

Assim, percebe-se que, com a redemocratização, a década de 1980 foi um marco, também, para a saúde, principalmente a do trabalhador, com políticas de saúde em forma de direito, tendo como pressuposto a avaliação e controle de acidentes de trabalho, além de reco- nhecer outras determinações de doença no ambiente laboral, como a mental. A própria Lei Or- gânica da Saúde determina que as ações no campo da saúde do trabalhador deve ser realizada pelo SUS, além de seus princípios nortearem instrumentos para efetivação de melhor condição de trabalho.

Desse modo, observa-se que o Brasil, devido à subordinação histórica ao capital e interesses internacionais, foi suscetível a influências dos países capitalistas centrais no tocante à estruturação do seu sistema de saúde, evidentemente pela sua importância político-estratégica não só como foco de tensões sociais, mas principalmente como reserva de mercado importador do complexo médico-tecnológico, cuja evolução foi drástica na 2ª metade do século XX. Essa influência deu-se ora numa direção ora nou- tra, ao sabor da própria conjuntura internacional e, claro, do cenário vigente no Brasil de permeabilidade política maior ou menor a uma saída pela linha de atenção mais preponderante para as camadas mais desprovidas, cujo emblema é o SUS universalista

pujante e abrangente, ou pela linha mais privatista, cujo emblema é o SUS estigmati- zado como foco de políticas residuais. (VASCONCELLOS, 2007, p. 67)

Com a insuficiência de regulamentação e fiscalização referente à saúde do trabalhador, em 1993, foi criada a Comissão Interministerial de Saúde do Trabalhador (CIST) que visa as- sessorar o Conselho Nacional de Saúde com amplo espaço de reflexão política e o Grupo Exe- cutivo Interministerial em Saúde do Trabalhador (GEISAT), sendo uma forma de regular a relações trabalhistas e impactos para a saúde dos trabalhadores, que veio para romper com a desagregação nas atribuições estruturais da saúde, como fiscalização e vigilância, além de pro- gramas e ações (ANDRADE et al 2012, p.10).

Algumas iniciativas de bom êxito da Cist foram importante contribuição para a área, mas confinadas a objetivos pontuais da política. Podemos citar a Instrução Normativa de Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS (Brasil, 1998b); a Norma Operacional de Saúde do Trabalhador - NOST/SUS (Brasil, 1998c); a Lista de Doenças Relacio- nadas ao Trabalho (Brasil, 1999); a proposta de preenchimento de Autorizações de Internação Hospitalar nos casos compatíveis com acidente de trabalho (Portaria n.º 1.969/GM, de 25/10/2001); o capítulo Princípios e Diretrizes da Política de Saúde Ocupacional para o Trabalhador do SUS da NOB/RH-SUS - Princípios e Diretrizes para a Gestão do Trabalho no SUS (Brasil, 2005b); e a coorganização das conferências temáticas (VASCONCELLOS, 2007, p.219)

A realização de conferências esquentava a formulação e ideias no campo da saúde do trabalhador e na 2ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador gerou uma mobilização importante para a difusão do tema, com uma ampla participação do movimento da área sindical. Em 1996 foi promulgada a Norma Operacional Básica do Sistema Único de Saúde - SUS, publicada no D.O.U. em 6/11/1996, que inclui a saúde do trabalhador como campo de atuação da atenção à saúde e instrumentos operacionais para tal.

A participação dos trabalhadores é imprescindível para a compreensão desse espaço como direito, e a partir dai, dar uma visão ampliada do tema. Em 1998 foi aprovada a Instrução Normativa de Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS, Portaria nº 3120. A Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT) é um componente do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde, com foco na promoção da saúde e na redução da morbimortalidade da população trabalhadora,

através ações que atua nos agravos e seus determinantes decorrentes dos modelos de desenvol- vimento e processo produtivo. Sua atuação é definida por ter como objeto a relação da saúde com o ambiente e os processos de trabalho, realizada com a participação e o saber dos traba- lhadores em todas as suas etapas.

Em 2002, é consignada a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST) para práticas e ações assistenciais de vigilância e promoção a saúde. É constituída em 2003, na Secretaria de Assistência do Ministério da Saúde, a Cosat, uma área técnica de saúde do trabalhador que possui como principal estratégia a implementação da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast) (LEÃO; VASCONCELLOS, 2011, p. 87).

Foi na 3ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador, em novembro de 2005, que se abordou sobre a qualidade de trabalho com o lema central Trabalhar Sim, Adoecer Não, “O binômio trabalho-doença, embora protagonista em sua relevância para a vida e saúde dos tra- balhadores, afunila, ainda que simbolicamente, e direciona para a medicalização da relação tra- balho-saúde, cultura hegemônica de caráter antagônico ao da saúde do trabalhador.” (VAS- CONCELLOS, 2007, p. 19).

Já em 2011, foi regulamentada a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Tra- balhadora, Portaria Nº 1823, 23 de agosto de 2012, que considera a transversalidade das ações de saúde do trabalhador e o trabalho como um dos determinantes do processo saúde-doença, junto ao conjunto de políticas de saúde no âmbito do SUS. É do Estado a responsabilidade a saúde do trabalhador de forma universal e inclusiva, para todos os trabalhadores (nos setores formais e informais), a cidadania plena.

3.2 – Impactos da reforma trabalhista na saúde do trabalhador

A partir da leitura, ficou evidente que as mudanças na regulação do processo de tra- balho não beneficiou a classe trabalhadora. De acordo com Faleiros (1984), a transformação na economia gerou necessidade de se responder as transformações sociais. A relação capital-tra- balho ocasionou e ocasionam modificações no Estado, Sociedade Civil e nos contextos sociais.

É importante contextualizar todo o aparato legal dos trabalhadores com a atual con- juntura política, econômica e social, posto que o modelo neoliberal está diretamente ligado ao processo de organização de trabalho, principalmente a sua precariedade (CAVALCANTE et al, 2008). Um novo paradigma de uma produção gera uma nova forma de relação de trabalho, e com a reforma trabalhista iniciada no governo Temer, houve um maior enfraquecimento dos direitos/poderes dos trabalhadores e, consequentemente, uma diminuição da atuação do Estado na proteção social, tendo um papel regulador.(ANDRADE et al, 2012, p.127).

Atualmente, há uma visão que se propõe amparar o mercado de trabalho aos interesses dos empregadores e por outro lado a que defende os trabalhadores. O conceito de saúde do trabalhador conduz muita historicidade e revela conquistas através de direitos constitucionais mas que na prática pode ser diferente.

O interesse hegemônico traduz uma lógica que condena os trabalhadores, principal- mente na perda de qualidade de vida e saúde. O discurso neoliberalista aborda sobre a livre iniciativa da economia e do mercado, enfraquecendo a intervenção do Estado, principalmente nos aspectos sociais.

A lei 13.467/2017, de 13 de julho de 2017, alterou de forma significativa a Consoli- dação das Leis Trabalhistas (CLT), e o ponto de grande relevância é a possibilidade de tercei- rização de todas as atividades da empresa. Isso poderá acarretar queda do nível salarial dos empregados, posto que terceirizados ganham menos e têm jornadas de trabalho mais longas. Além disso, seus processos de trabalho são mais precários, uma vez que se trabalha para uma empresa e é paga por outra (quem tem responsabilidade pelo empregado não é a empresa que se está trabalhando), ou seja, “o ato pelo qual a empresa produtora, mediante contrato, entrega a outra empresa certa tarefa para que esta a realize habitualmente com empregados desta” (CARRION, 2011, p.27).

A Secretaria Nacional de Relações de Trabalho (SENART) e o Departamento Inter- sindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) realizaram um dossiê, em 2014, que aborda sobre os terceirizados de diversos setores industriais, comercio e outros. Como exemplo é a Petrobras que entre 1995 e 2013, aconteceram 320 acidentes fatais, sendo que 268 (84%) ocorreram em terceirizados, 52 (16%) em estatutários, conforme gráfico abaixo.

O gráfico 16 expõe a precariedade no trabalho para os terceirizados, em todos os anos o número de morte dos terceirizados é, no mínimo, quatro vezes maior que dos efetivos. A causa pode ser a falta de treinamento, exaustão física ou mental ou até falta de fiscalização ao colocar o funcionário para realizar um ofício que pode colocá-lo em risco, sem alguma instrução. Os terceirizados não possuem os mesmos direitos dos contratados e ainda reduz os custos dos empregadores.

Outro grave exemplo foi o vazamento de 4 milhões de litros de petróleo da Repar nos rios Barigui e Iguaçu, no dia 16 de julho de 2000. O óleo cru causou graves danos ambientais, com prejuízos à flora, à fauna e às águas. As ações pelos danos foram julgadas parcialmente procedentes, tendo a Justiça aplicado, no final de 2013, indeni- zações e sanções para recuperação das áreas. Ainda cabe recurso. A Justiça também obrigou a empresa a fazer a recuperação total do local afetado10. Dois trabalhadores terceirizados que atuaram na coleta do petróleo vazado com canecas, sem equipamen- tos de proteção, sem atestado de saúde ocupacional - seja admissional ou demissional - sofreram grave intoxicação e ficaram paraplégicos. Um deles morreu e o outro per- manece até hoje com degeneração de suas funções. Em fevereiro de 2014, este último, Sr. Juracir Francisco da Silva, teve, pelo TST, “apenas” 14 anos depois do acidente, o reconhecimento do nexo causal de sua doença pela contaminação de petróleo sofrida no acidente, e ainda aguarda receber ínfima liquidação pecuniária como reparação aos danos sofridos. (CUT, 2014, p. 45)

Foram inseridas, na Lei 6.019/1974 que aborda sobre trabalho temporário e dá outras providências, regras, originárias da reforma trabalhista, que deveriam assegurar a proteção à saúde do trabalhador. Com efeito, passou a contar com o seguinte dispositivo:

Art. 4º-C. São asseguradas aos empregados da empresa prestadora de serviços a que se refere o art. 4º-A desta Lei, quando e enquanto os serviços, que podem ser de qual- quer uma das atividades da contratante, forem executados nas dependências da toma- dora, as mesmas condições: [...]

II - sanitárias, de medidas de proteção à saúde e de segurança no trabalho e de insta- lações adequadas à prestação do serviço.

Art. 5º-A. Contratante é a pessoa física ou jurídica que celebra contrato com empresa de prestação de serviços determinados e específicos.

§ 3º É responsabilidade da contratante garantir as condições de segurança, higiene e salubridade dos trabalhadores, quando o trabalho for realizado em suas dependências ou local previamente convencionado em contrato.

§ 4º A contratante poderá estender ao trabalhador da empresa de prestação de serviços o mesmo atendimento médico, ambulatorial e de refeição destinado aos seus empre- gados, existente nas dependências da contratante, ou local por ela designado. (BRA- SIL, 1974)

Ao ler os artigos acima, fica exposto que a própria lei é paradoxal, porque, no § 4º, afirma que o empregador poderá dar aos terceirizados o mesmo atendimento médico, ambula- torial e de refeição que recebem os contratados, ou seja, fica a critério dele decidir se dará o mesmo tratamento aos seus funcionários, gerando assim um ambiente de desigualdade, po- dendo desenvolver riscos e falta de recursos de saúde ao trabalhador terceirizado.

Não é só na falta de acesso à saúde que os diferenciam, a Tabela 1 mostra a diferença entre os salários de empresas do ramo do comércio, de acordo com o Dossiê Terceirização e Desenvolvimento (SENART; DIEESE, 2014) :

Tabela 1 - Número de trabalhadores terceiros e efetivos na indústria química, 2009-2012

Na tabela acima percebe-se que, em todas as empresas elencadas, os terceirizados chegam a ganhar 40% a menos, de acordo com o salário inicial. Em relação ao vale alimentação, o valor é menor em 60%. A expansão da terceirização para todas as atividades da empresa (atividade-meio e atividade-fim), extraídas da lei nº 13.429/2017 , o rendimento médio salário poderá baixar, em virtude das empresas começarem a contratar mais terceirizados que efetivos para diminuir seus custos, um cenário de terceirização sem limites.

O salário-mínimo, de acordo com o artigo 7º, inciso VI, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, garantiu aos trabalhadores urbanos e rurais um “salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, trans- porte e previdência social[...]” (BRASIL,1988). No entanto, não ele não consegue prover e é através dele que os trabalhadores buscam seu meio de vida e dignidade humana.

Com a jornada de trabalhado ultrapassando o limite de oito horas diárias, prorrogação do trabalho insalubre por acordos ou convenção coletiva, o teletrabalho sem uma fiscalização

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