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Mapa 1 – Uso de Agrotóxicos no Brasil

4 O QUE A REALIDADE DEMANDOU PARA A PESQUISA AGRÍCOLA NO PERÍODO DE 1995 A

4.5 Região Sul: estados do Rio Grande do Sul e Paraná

A região Sul tem a estrutura agrária menos concentrada do país, os agricultores familiares estão espalhados por todo o território, e, no geral, utilizam mais insumos modernos de produção e obtêm melhor rentabilidade financeira que em outras regiões. Importantes conflitos socioambientais têm como referência a região sul, como as campanhas contra a utilização de agrotóxicos, as discussões em torno da “agricultura alternativa/agroecologia”, os organismos geneticamente modificados e o debate sobre os novos empreendimentos de plantio de eucalipto. Paraná e Rio Grande do Sul possuem 76 das 272 fábricas de agrotóxicos do país, perdendo somente para São Paulo, que tem 98.

A produção de trigo se concentra no Sul, onde as condições climáticas são mais adequadas, contudo, com a irrigação e o desenvolvimento de pesquisas pela Embrapa, o

trigo também é produzido no oeste de Minas Gerais e leste de Goiás. O objetivo das pesquisas era permitir a expansão da cultura do trigo para o Centro-Oeste (GIRARDI, 2010). Segundo o Censo de 2006, os principais produtos agropecuários regionais em termos de Valor da Produção, em ordem decrescente, eram: soja, milho, suínos, fumo e arroz, a região é a principal produtora de suínos, fumo, arroz, trigo, entre outros produtos. Das cinco macrorregiões brasileiras, a região Sul é onde a agricultura familiar mais contribui, em termos percentuais para o Valor da Produção -VP do setor agropecuário regional.

Tabela 16 – Agricultura familiar, segundo as variáveis selecionadas, Paraná e Rio Grande do Sul - 2006

Variáveis selecionadas Paraná Rio Grande do Sul

Familiar Não familiar Familiar Não familiar

Produção vegetal

Arroz em casca

Estabelecimentos 12 163 1 443 7 176 4 791 Quantidade produzida (kg) 37 395 556 57 487 084 577 475 739 5 059 762 794 Área colhida (ha) 12 395 11 943 100 053 776 168 Valor da produção (R$) 16 275 989 23 717 111 239 117 092 2 094 104 013

Feijão-preto

Estabelecimentos 51 621 6 868 95 109 8 289 Quantidade produzida (kg) 250 936 209 81 231 954 70 250 882 16 961 621 Área colhida (ha) 169 744 50 999 158 802 19 941 Valor da produção (R$) 166 892 241 55 790 930 53 855 001 13 255 195

Feijão de cor

Estabelecimentos 17 228 3 059 13 345 1 077 Quantidade produzida (kg) 65 680 294 79 960 784 17 237 251 2 639 012 Área colhida (ha) 48 101 47 919 9 847 1 578 Valor da produção (R$) 48 173 202 61 520 760 12 912 014 2 126 620

Feijão-fradinho, caupi, de corda ou em grão

Estabelecimentos 1 821 361 793 71

Quantidade produzida (kg) 4 838 422 6 078 107 310 255 9 007 Área colhida (ha) 4 415 4 057 312 12 Valor da produção (R$) 3 572 780 4 834 121 177 449 7 494

Mandioca

Estabelecimentos 39 356 6 177 125 239 12 954 Quantidade produzida (kg) 810 863 130 436 195 594 539 695 933 46 823 025 Área colhida (ha) 65 640 28 946 80 695 8 288 Valor da produção (R$) 144 103 947 59 365 815 243 153 513 19 761 266

Milho em grão

Estabelecimentos 137 462 26 109 226 277 24 938 Quantidade produzida (kg) 4 025 017 255 5 170 400 047 3 433 310 612 1 678 898 980 Área colhida (ha) 984 161 1 044 730 902 714 357 090 Valor da produção (R$) 952 951 698 1 277 819 350 901 011 606 668 927 576

Soja

Estabelecimentos 60 517 19 503 89 040 16 046 Quantidade produzida (kg) 2 645 193 983 6 118 653 119 2 646 122 591 5 283 666 239 Área colhida (ha) 1 040 479 2 454 270 1 240 731 2 253 764 Valor da produção (R$) 1 357 170 787 2 786 016 810 1 104 570 306 2 290 253 154

Trigo

Estabelecimentos 8 179 4 196 14 379 5 387 Quantidade produzida (kg) 218 712 533 729 466 725 234 647 997 781 397 290

Área colhida (ha) 143 154 408 309 169 973 467 315 Valor da produção (R$) 85 590 342 293 788 718 90 994 160 302 112 546

Café arábica em grão (verde)

Estabelecimentos 16 402 5 154 101 20 Quantidade produzida (kg) 85 468 916 69 478 918 8 145 10 Área colhida (ha) 44 433 37 055 1

Valor da produção (R$) 205 902 159 203 739 499 5 190 110

Café canephora (robusta, conilon) em grão (verde)

Estabelecimentos 2 353 666 61 1

Quantidade produzida (kg) 9 487 770 4 850 120 120 x

Área colhida (ha) 4 645 2 777 x

Valor da produção (R$) 21 288 972 11 229 840 375 x Pecuária Bovinos Estabelecimentos 171 617 40 319 283 574 46 327 Número de cabeças em 31.12 3 157 103 5 961 004 4 065 849 7 268 661 Leite de vaca Estabelecimentos 100 852 18 958 183 894 21 954 Quantidade produzida (litros) 1 232 036 892 596 543 113 2 079 464 014 378 869 002 Valor da produção (R$) 500 339 982 265 230 259 837 152 593 165 471 929

Leite de cabra

Estabelecimentos 257 68 317 54

Quantidade produzida (litros) 208 689 149 302 358 210 277 741 Valor da produção (R$) 422 416 239 991 516 993 304 970

Aves

Estabelecimentos 164 821 28 873 263 165 33 531 Número de cabeças em 31.12 148 720 778 75 021 661 103 831 801 26 154 825 Ovos de galinha (dz) 70 301 435 369 031 084 74 245 317 203 591 530 Valor da produção dos ovos

(R$) 100 718 790 525 470 400 88 195 958 234 807 659 Suínos Estabelecimentos 115 266 20 211 209 245 24 824 Número de cabeças em 31.12 2 841 779 1 727 496 3 941 042 1 670 389 Valor da produção (R$) 220 451 457 164 153 921 386 053 551 223 149 092 Fonte: IBGE (2006)

A tabela 16 confirma a força da agricultura familiar na região sul, especificamente nestes dois estados, Rio Grande do Sul e Paraná. A soja, o trigo e o arroz são culturas produzidas majoritariamente pela agricultura não familiar, no entanto, a agricultura familiar tem produção relevante dessas culturas no volume total produzido nos estados.

No Paraná especificamente se verifica que a produção de arroz, milho, feijão, soja e trigo são desenvolvidas majoritariamente na agricultura não familiar, embora a produção familiar destas culturas fosse consideravelmente significativa em termos de volume. No Rio Grande do Sul, embora a cultura do arroz fosse majoritariamente da agricultura não familiar, em um futuro próximo se verificaria a liderança da agricultura familiar na produção do arroz orgânico, conquistando o 1º lugar como a maior produção nacional.

Da mesma forma de São Paulo e Goiás, a expressão pujante do Agronegócio ou da agricultura patronal ou não familiar, em termos de quantidade produzida se reflete em um conjunto estatístico de contaminação, consumo de veneno e agressões ao meio ambiente.

Desde 2007, a incidência de intoxicações por agrotóxicos vem aumentando na região. Durante o período de 2007 a 2011, as incidências de intoxicações por agrotóxicos foram superiores às registradas em todas as outras regiões brasileiras (BRASIL, 2016, p.96).

Segundo Castilho (2016), o Paraná intensificou significativamente a agricultura entre 2011 e 2013. Nesse período, a área plantada manteve-se praticamente a mesma (de 9,9 milhões de hectares a 10,6 milhões/ha), mas o consumo de agrotóxicos saltou de 112 mil toneladas para 158 mil toneladas, numa curva de 11,35 kg/ha para 15 kg/ha. Paradoxalmente, o número de casos de intoxicação por agrotóxicos recuou no período, de 15,30 para 13,21 casos por 100 mil habitantes, num caso flagrante de subnotificação.

Quadro 6 - No de fábricas de Agrotóxico no Brasil e localização/2013

Estado No de Fábricas de Agrotóxico

SP 98 PR 36 RS 30 MG 19 PE 14 RJ 13 GO 12 CE, AL, MT 8 BA, SC 6 DF 4 PA 3 PB 2

AC, AM, RO, AP,TO, RN, SE, MS 0

BRASIL 272

Fonte: BRASIL ( 2016) / adapt. da autora

O Rio Grande do Sul, quase dobrou a comercialização de agrotóxicos entre 2007 e 2013, passando de 61 mil toneladas a 104 mil toneladas, para um aumento bem menos significativo da área plantada, de 8 milhões de hectares para 8,8 milhões/ha, com o uso

de 11 kg de veneno por hectare em 201315. Apesar desses números, a incidência de intoxicações no período passou de 0,65 em 2007 para 1,42 casos por 100 mil habitantes, em 2013. Predominavam no território as culturas de soja, milho, arroz e trigo. Paraná e Rio Grande do Sul possuem 76 das 272 fábricas de agrotóxicos do país. Com 36 e 30 fábricas, respectivamente, perdem somente para São Paulo, que tem 98 fábricas. (CASTILHO, 2016)

15 Estes números são bem superiores aos apresentados no quadro 9 referente ao ano de 2011, data limite da investigação da pesquisa, no entanto, trago-os aqui a título de identificar que a tendência verificada no período da pesquisa 1995 a 2010 se confirma na atualidade, conforme quadro 5