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3. Características da pequena agricultura

3.7. Iniciativas de apoio à agricultura

3.7.1. Regime forfetário

O professor Luís Luz refere que a pequena agricultura pode perfeitamente alimentar o mundo, dai não fazer sentido estar a desaparecer, muito pelo contrário, devia ser incentivada. Tem de haver um investimento na pequena agricultura porque ocupa um lugar importante na estrutura económica do Alentejo e do país, embora não se sinta esse apoio porque em termos de ações concretas pouco tem sido feito, “parece que se está a atuar por tentativa e erro”. Existe muita especulação por parte da agricultura industrial e dos grandes grupos, mas não há ninguém que substitua o pequeno agricultor” (Apêndice 3).

Atualmente existe legislação, seja pelo CIVA, pelo CIRS ou por políticas da UE, de onde se consegue retirar alguns indícios que nos permitem delinear os traços do que caracteriza a pequena agricultura.

3.7.1. Regime forfetário

O regime forfetário em Portugal delimita determinadas características para os pequenos produtores, diferentes das exigências destinadas para os que têm maiores produções e mais capital financeiro.

O regime forfetário dos produtores agrícolas entrou em vigor a 1 de janeiro de 2015, com a intenção de atenuar o impacto do IVA na compra dos fatores de produção por pequenos produtores agrícolas e mediante a atribuição de uma compensação em sede de IVA. Os produtores agrícolas, agropecuários e silvícolas, com rendimentos anuais até 10 000 euros, podem pedir compensação equivalente a 6 % sobre o total das vendas e prestação de serviços elegíveis, conforme a proposta de Orçamento do Estado 2015, sobre determinadas condições. Os produtos agrícolas têm de sair diretamente da exploração do produtor agrícola e são abrangidos produtos provenientes de agricultura, viticultura, fruticultura, oleicultura (azeite), produção de cogumelos, criação de animais, apicultura (mel) e silvicultura.Os agricultores enquadrados no regime especial de isenção podem optar pelo regime forfetário a qualquer momento, mediante entrega de declaração de alterações (Clara, 2015).

A atribuição da compensação em sede de IVA tem de ser solicitada à Autoridade Tributária e Aduaneira pelos produtores agrícolas que reúnam as condições para o regime especial de isenção constante no art.º 53º do CIVA. Esclarece-se que o montante da compensação é calculado mediante a aplicação de uma taxa de 6 % sobre o total das

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vendas e das prestações de serviços agrícolas e o cálculo efetuado tem de ser superior a 10 euros. No pedido tem de constar o valor das transmissões de bens e das prestações de serviços realizadas no ano anterior, que conferem o direito a receber a compensação, acompanhado de uma relação dos números de identificação fiscal dos adquirentes ou destinatários das referidas operações. Os produtores agrícolas são obrigados a permanecer no regime forfetário durante pelo menos 5 anos (AT, 2014).

Silva e Franco (2015) clarificam que os pequenos agricultores que estejam enquadrados no regime especial de isenção do art.º 53.º do CIVA (Anexo A) podem beneficiar do regime especial de compensação, denominado por regime forfetário dos produtores agrícolas, que por serem isentos de IVA, não podem deduzir os montantes de IVA pagos aos seus fornecedores. Os autores também atestam que a referida compensação aplica-se quando os pequenos agricultores de natureza singular reúnam condições, designadamente ao não atingirem no ano civil anterior, um volume de negócios pela obtenção de rendimentos provenientes da venda de produtos agrícolas superior a 10 000 euros, ou que no ano do início da atividade, prevejam obter um volume de negócios igual ou inferior a 10 000 euros e desde que efetuem transferências de produtos agrícolas e prestações de serviços que conferem o direito à compensação forfetária. Resumidamente, para os autores, “podem ficar enquadrados no regime de isenção do art. 53.º do CIVA e consequentemente no regime forfetário os sujeitos passivos que reúnam as seguintes condições:

§ Produtores agrícolas que não possuam nem sejam obrigados a possuir contabilidade organizada;

§ Não pratiquem operações de importação ou exportação;

§ Não exerçam atividades que consistam na transmissão de bens ou prestação de serviços mencionadas no anexo E do CIVA (Anexo B);

§ E que não tenham atingido, no ano civil anterior, um volume de negócios superior a 10 000 euros ou que, no ano do início da atividade, prevejam obter um volume de negócios igual ou inferior àquele montante”

Aplica-se inclusive às “pequenas unidades de produção”, comércio ou prestação de serviços o nº 2 do art.º 53º do CIVA, referente à isenção “do imposto os sujeitos passivos com um volume de negócios superior a 10 000 euros, mas inferior a 12 500 euros, que se

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tributados, preencheriam as condições de inclusão no regime dos pequenos retalhistas”. Por possuírem pequenas dimensões não têm estrutura administrativa eficaz para cumprirem as obrigações de imposto (AT, 2016b).

O técnico António Hilário, da Direção de Finanças de Beja, esclarece que atualmente qualquer atividade desde que não tenha contabilidade organizada e se não atingir os 10 000 euros pode ficar isenta de IVA e permanecer no regime forfetário. A condição do artº 53º permite ficar no regime de isenção de IVA desde que não ultrapassem os 10 000 euros, quer seja por verbas ou prestação de serviços. Se ultrapassarem os 10 000 euros no volume de negócios ficam enquadrados no regime normal de IVA. O técnico também refere que no caso de vendas consideradas de baixo valor, a partir de 2016 passou a ser permitido emitir faturas no portal das finanças para transmissão de bens (Apêndice 10).

Franco e Carrapiço (2013) descrevem que “os sujeitos passivos com um volume de negócios inferior ou igual a 100 000 euros, no período anterior, estão dispensados de proceder à comunicação dos elementos dos documentos de transporte à AT, mas podem optar por efetuar essa comunicação”.

Relativamente ao parágrafo anterior, complementa-se o descrito por Silva e Franco (2015) mencionando que não se aplica a obrigação de ter documento de transporte a comunicar à AT antes do seu início. Se abrangidos pelo regime especial de isenção ou regime especial dos pequenos retalhistas a que se referem os artigos 53.º e 60.º do CIVA, o documento de transporte pode ser substituído pelas faturas de aquisição processadas nos termos e de harmonia com o artigo 36.º do CIVA.

Podem ser considerados como elementos comprovativos de documentos de transporte a fatura, a guia de remessa, a nota de devolução, a guia de transporte ou documentos equivalentes e “estão excluídos da obrigação de emissão de documentos de transporte os bens provenientes de produtores agrícolas, apículas, silvícolas ou de pecuárias resultantes da sua própria produção, transportados pelo próprio ou por sua conta” mas pode ter de comprovar a sua utilização (Franco e Carrapiço, 2013).

Quando o transporte dos bens provenientes de produtores agrícolas, apícolas, silvícolas ou de pecuária resultante não seja feito pelo produtor ou por sua conta, o agricultor ou o remetente dos bens tem que emitir obrigatoriamente documento de transporte. Os autores também realçam que só haverá exclusão da obrigatoriedade de documento de transporte na circulação de bens provenientes de produtores agrícolas, apícolas, silvícolas ou de pecuária quando os bens em circulação forem provenientes de um produtor agrícola, que os produziu e sejam transportados pelo próprio ou por sua