• Nenhum resultado encontrado

2.3 As Contribuições Neo-Schumpeteriana sobre o Processo de Inovação

2.3.3 Regimes Tecnológicos

A atividade inovativa se faz constantemente presente em diversos setores industriais, e cada setor industrial por sua vez possui características específicas que atuaram sobre os processos dinâmicos de inovação tecnológica. O desenvolvimento de um paradigma tecnológico pressupõe a existência de um regime tecnológico, que segundo Dosi (2006), pode ser definido como “um complexo de firmas, disciplinas profissionais e sociedades, programas de treinamento e pesquisa universitária, e estruturas regulatório-legais que dão suporte e restringem o desenvolvimento dentro de um regime e ao longo de uma trajetória”.

As trajetórias naturais são específicas a uma tecnologia particular, ou também definida como um regime tecnológico (NELSON; WINTER, 2006). Tal conceito refere-se a uma fronteira de aptidões realizáveis, definida em suas dimensões econômicas relevantes, limitada por restrições físicas, biológicas e outras. As trajetórias e estratégias promissoras para o avanço técnico de um dado regime estão associadas a aprimoramentos dos principais componentes ou de seus aspectos. Dosi (2006) irá identificar as características da tecnologia que a tornam fator de mudança econômica estrutural.

No que se refere à dimensão econômica das inovações, são três estas características: a cumulatividade do progresso técnico, a oportunidade tecnológica (de introdução de avanços tecnológicos relevantes e rentáveis) e a apropriabilidade privada dos efeitos da mudança técnica. (DOSI, 2006, p. 129).

Assim como para Nelson e Winter (2006) as interações entre tecnologia e dinâmica industrial podem basear-se no conceito de regime tecnológico, na medida em que esse conceito agrupa questões referentes às condições de oportunidade, apropriabilidade, graus de cumulatividade do conhecimento tecnológico e à natureza e meios de transmissão do conhecimento básico, como elementos capazes de caracterizar determinados padrões da atividade inovativa setoriais.

Espera-se que a noção de regime tecnológico providencie um esforço de representação de algumas propriedades econômicas da tecnologia e das características dos processos de aprendizagem que estão envolvidos na atividade inovativa. O primeiro elemento englobado pelo conceito de regime tecnológico na concepção de Nelson; Winter (2006) é a condição de oportunidade. Essa propriedade da tecnologia reflete a facilidade em inovar dada uma determinada quantidade de recursos investidos em pesquisa e no aprendizado da empresa.

Com relação às condições de oportunidades, de acordo com Malerba e Orsenigo (1997), pode-se identificar quatro dimensões básicas: nível, penetrabilidade, fonte e variedade. Quanto ao nível, altas oportunidades geram grandes incentivos para desenvolver atividades inovativas, uma vez que elas determinam uma alta probabilidade de, inovando, recuperar uma parte dos recursos investidos. Em algumas indústrias, as condições de oportunidade são relacionadas aos avanços em pesquisa e desenvolvimento, equipamentos e instrumentos, enquanto que, em outras, as fontes externas em termos de fornecedores e usuários podem ser um caminho melhor.

Nos casos de penetrabilidade, as condições de oportunidade podem ser altamente utilizadas em diversos setores ou não. Nos casos de alta penetrabilidade, os novos conhecimentos podem ser aplicados para diversos produtos e mercados, enquanto que nos casos de baixa penetrabilidade, novos conhecimentos são aplicados apenas para poucos produtos e mercados.

As fontes de oportunidades tecnológicas apresentam diferenças entre tecnologias e indústrias. Em algumas indústrias, as condições de oportunidade são relacionadas às maiores descobertas científicas nas universidades. Em outros setores, as oportunidades para inovar podem freqüentemente vir de avanços em pesquisa e desenvolvimento, equipamentos e instrumentos, bem como de aprendizado endógeno. Em outros setores, ainda, as fontes externas de conhecimento, em termos de fornecedores e usuários, podem ter um papel relevante. Dosi (2006) sugere que cada paradigma tecnológico envolve um equilíbrio específico entre determinantes exógenos de inovação, como avanços em pesquisas de universidade em ciência pura, e determinantes endógenos do processo de competição e de

acumulação tecnológica de firmas e indústrias específicas, como fornecedores, clientes e laboratórios próprios de pesquisa e desenvolvimento.

Sobre a variedade, em alguns casos, altos níveis de condições de oportunidades são associados com uma grande variedade de soluções tecnológicas. Por exemplo, no estágio “pré-paradigma” da tecnologia, quando um design dominante ainda não foi definido, as firmas podem procurar direções variadas e originando soluções tecnológicas diferentes. Após, no estágio do “paradigma” quando já existe um design definido, as mudanças técnicas podem ocorrer ao longo de trajetórias específicas, entretanto, a variedade de soluções tecnológicas radicalmente diferentes é reduzida.

O segundo elemento é a condição de apropriabilidade da tecnologia, que resume as possibilidades de proteger as inovações das imitações e de extrair lucros da atividade inovativa. Apresenta duas dimensões, a saber: Grau – que permite classificar os setores industriais de modo a associar altas possibilidades de apropriação com a existência bem sucedida de proteger a inovação da imitação; e Forma - que permite a verificação de diferentes maneiras de tentar proteger a inovação, seja via patente, segredo industrial e controle de ativos complementares, entre outros.

No que diz respeito às condições de apropriabilidade, de acordo com Dosi (2006), apropriabilidade são as propriedades do conhecimento tecnológico e os artefatos técnicos, de mercados e do ambiente legal, que permitem a criação das inovações e as protegem – em diversos graus – contra as imitações dos competidores, garantindo ao inovador os ganhos da inovação. As empresas procuram proteger suas inovações das imitações para ter, pelo menos durante certo período de tempo, o monopólio sobre os lucros extraídos delas

O terceiro elemento é a condição de cumulatividade, que reflete o fato de que as empresas que mais inovam e se capacitam para inovar no presente são aquelas mais propensas a continuar inovando no futuro, aqui o histórico da empresa pode ser importante. Apresenta três dimensões, a saber: Processo de aprendizado e retornos dinâmicos crescentes – associados à natureza cognitiva dos processos de aprendizado e pesquisa; Fonte organizacional - gerada a partir da construção de uma capacidade gradual de estabelecer padrões específicos de rotinas de comportamento e tomada de decisão; e, o fato de que Sucesso chama Sucesso – associado ao fato de que o sucesso materializado em lucro, dado a introdução de uma inovação, traz consigo a possibilidade de reinvestimento em pesquisa e desenvolvimento que aumenta as chances de introdução de outra inovação que venha a se tornar bem sucedida.

O último elemento englobado pelo conceito de regime tecnológico é o conhecimento básico. Este se refere às propriedades do conhecimento sobre as quais as atividades inovativas das firmas estão apoiadas. Duas características principais podem ser identificadas: a primeira quanto à natureza do conhecimento que permite a constatação de que em um setor do conhecimento básico pode ser mais genérico ou específico, mais tácito ou codificável, mais complexo ou mais simples e, mais independente ou mais sistêmico. A segunda quanto ao meio de transmissão do conhecimento que pode envolver maior ou menor formalidade no processo de transmissão do conhecimento.