• Nenhum resultado encontrado

7. A Marca

7.3 O Registo da Marca Comunitária

O registo obtido em Portugal148 apenas produz efeitos no território nacional, não protege a marca em nenhum outro país. Os direitos de propriedade industrial são direitos territoriais, uma vez que não existe um sistema unitário de registo mundial que confira uma proteção automática em todos e em cada um dos países existentes. No entanto, apesar de por força desta territorialidade ser exigido um registo em cada país da marca que se pretenda proteger, existem dois sistemas não exclusivos nem incompatíveis entre si, que permitem facilitar o processo até à concessão final de uma marca nos territórios onde se quer proteger. Assim temos o sistema de marca comunitária previsto no Regulamento (CE) n.º 40/94 do Conselho, de 20 de dezembro de 1993 e o sistema internacional, ao abrigo do Acordo de Madrid relativo ao Registo internacional de Marcas de 14 de abril de 1891 (AM)149 e o Protocolo ao Acordo de Madrid de 1989 (PAM)150.

Com este regulamento criou-se um sistema que permite a concessão de marcas comunitárias pelo Instituto de Harmonização no Mercado Interno (IHMI). Com base num pedido único a apresentar ao IHMI, a marca passou a ter um carácter unitário, no sentido de que produz os mesmos efeitos no conjunto da Comunidade Europeia.

A marca comunitária151 enquanto objeto de propriedade é considerada, no conjunto do território da Comunidade, como uma marca nacional registada no Estado- Membro em que o titular tenha a sua sede, o seu domicílio ou um estabelecimento na data considerada. “Com efeito, a marca comunitária produz os mesmos efeitos em toda a comunidade: só pode ser registada, transferida, ser objeto de renúncia, de decisão de extinção de direitos do titular ou de anulação, e o seu uso só pode ser proibido, para toda a Comunidade. Assim, a marca comunitária distingue-se da marca nacional pela eficácia territorial do direito por ela conferido e pela legislação aplicável”152.

148 Os institutos responsáveis pelos registos da marca nacional é o INPI, da marca comunitária a OAMI e a marca internacional a OMPI.

149 Ratificado por Portugal pela lei de 11, de outubro de 1892.

150 Aprovado para ratificação, por Portugal, pelo Decreto n.º 31/96 de 25 de outubro e entrou em vigor em 20 de março de 1997.

151 Sobre marca comunitária veja-se, CERVINO, Alberto Casado, “La Defensa de la Marca Comunitária”, in, La Especialización Judicial en Propriedad Industrial, IDEI- Instituto de Derecho Y Etica Industrial, Publicado em dezembro de 1998, por CEFI, Centro de Estudios para el Fomento de la Investigación, Marco Gráfico, S.L, pp.165-177.

73

Para registar a marca em todos os 28 países da U.E. (em bloco), deve requerer- se um registo de marca comunitária, através de um procedimento único e centralizado no IHMI, com sede em Alicante.

O pedido e o registo de uma marca comunitária produzem desta forma efeitos uniformes em todo o território da UE, estendendo-se automaticamente, e de forma indivisível, a todos os Estados Membros. À semelhança dos pedidos feitos em Portugal, o prazo de validade do registo da marca comunitária é de dez anos a contar da data de depósito do pedido. O registo pode ser renovado por períodos de dez anos.

O pedido deve ser formulado em impresso próprio, disponibilizado pelo IHMI, numa das línguas da U.E. (onde se inclui o português). Deve ainda ser indicada uma 2.ª língua, diferente da primeira, selecionada de entre as cinco línguas oficiais daquele instituto (inglês, francês, alemão, espanhol ou italiano).

O pedido de marca comunitária é depositado, à escolha do requerente, ou junto do IHMI, ou junto do serviço central da propriedade industrial de um Estado-Membro, ou junto do Instituto Benelux de Marcas. Esse serviço ou instituto deve então tratar de transmitir o pedido ao IHMI num prazo de duas semanas após o depósito. O pedido deverá seguir acompanhado de diversos documentos e indicações (requerimento de registo, elementos que permitam identificar o requerente e a lista dos produtos ou serviços para os quais o registo é pedido) que dá lugar ao pagamento de uma taxa de depósito e, eventualmente de uma ou mais taxas de classificação.

Quem tenha depositado uma marca num dos Estados que fazem parte na Convenção de Paris goza, para efetuar o depósito de um pedido de marca comunitária para a mesma marca, de um direito de prioridade, durante um prazo de seis meses a contar da data de depósito do primeiro pedido.

O titular de uma marca anterior, registada num Estado que deposite um pedido de marca idêntica para registo como marca comunitária, pode prevalecer-se da antiguidade da marca nacional anterior.

Este regulamento especifica as condições de depósito do pedido de marca comunitária, as condições associadas à qualidade de titular e a possibilidade de terceiros apresentarem observações escritas ao IHMI e contestarem o registo de uma marca. Em especial, o regulamento estabelece o sistema dito "de investigação", cuja finalidade é

74

identificar eventuais conflitos com outros direitos anteriores. Com efeito, o depósito de um pedido de marca comunitária deve obrigatoriamente ser acompanhado de uma dupla investigação, efetuada pelo IHMI e pelos institutos nacionais da propriedade industrial, para marcas ou pedidos de marca anteriores, comunitárias ou nacionais153.

O requerente pode, em qualquer momento, retirar o seu pedido de marca comunitária ou limitar a lista de produtos e serviços nele contida. Se as condições a satisfazer pelo pedido de marca comunitária se encontrarem preenchidas, o pedido será publicado.

O registo da marca prende-se essencialmente com a faculdade do titular do direito se opor a usurpações da marca por parte de terceiros.

Concluído o ato administrativo e inscrita a marca no registo, consolida-se um direito que é necessário proteger. Neste sentido, um dos meios criados para tutelar este direito foi a criação dos tribunais de marcas comunitárias. O legislador europeu optou pela constituição de tribunais específicos de marcas denominados Tribunais de Marcas Comunitárias, que não obstante o seu nome, fazem parte da ordem jurisdicional nacional e são responsáveis pela tutela das marcas, tanto em primeira como em segunda instância. O titular de uma marca comunitária, poderá assim, exercer perante estes Tribunais as ações pertinentes à defesa da sua marca contra os atos de usurpação ou violação de um terceiro154.

É de realçar que esta foi uma das grandes vantagens do sistema comunitário de marcas. Seja direcionado para as marcas nacionais ou para as internacionais, qualquer infração cometida contra essas marcas no território Europeu provocará irremediavelmente uma sucessão de iniciativas em cada um dos Estados em que se cometeu a violação ao direito da marca ou a sua intenção. Neste sentido, o detentor do direito da marca comunitária poderá mediante uma só ação, por fim a qualquer tentativa ou violação ainda que essa mesma violação tenha como cenário uma pluralidade de países.

153 Este sistema foi objeto de uma alteração importante com a adoção do Regulamento (CE) n.º 422/2004. 154 CERVINO, Alberto Casado, “La Defensa de la Marca Comunitária” ob. cit., pp. 168-169.

75

De acordo com o art.º 95.º do RMC (Registo de Marca Comunitária)155 os Estados-Membros passaram a designar no seu território um número tão limitado quanto possível de órgãos jurisdicionais, nacionais de primeira e segunda instância, denominados por “tribunais de marcas comunitárias”, que ficaram encarregados de desempenhar as funções que lhes foram atribuídas neste regulamento”.

Atestamos a preocupação do legislador comunitário em assegurar nos países signatários a existência de órgãos próprios capazes de tratar especificamente destas matérias.

8. Entidades Reguladoras Para a Proteção dos Direitos de Propriedade Industrial,