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RELAÇÕES RACIAIS EM EDUCAÇÃO: CONSTRUINDO IMAGENS

RELAÇÕES RACIAIS EM TESES E DISSERTAÇÕES (2004 E 2013): CONSTRUINDO IMAGENS

3.2. Registros e constatações sobre as dissertações

Conforme a orientação na análise de conteúdo proposta por Bardin (2011), o estudo da produção científica em teses e dissertações procedeu em três momentos distintos: pré-análise, exploração do material e tratamento das informações. Nesta seção, porém, os dados serão apresentados a partir dos dois primeiros eixos, ou seja, primeiramente procuramos constituir panoramicamente o corpus da pesquisa trazendo informações mais técnicas como a distribuição dos trabalhos por programas e a estruturação dos trabalhos a partir do aspecto teórico-metodológico, passando as informações de dados brutos a dados organizados para, então, criarmos as unidades de análises que serão desenvolvidas posteriormente.

Para o estudo que apresentamos nesta seção, procedemos à apreciação dos trabalhos em dois momentos distintos, os quais são apresentados, neste texto, em subseções diferentes. A primeira delas trata das produções em nível de mestrado.

Das 104 dissertações lidas trabalhamos com 43, em um percentual de 41% do total de trabalhos. Elas estão distribuídas entre os programas de pós-graduação de universidades públicas estaduais e federais e privadas, a saber: UFRGS, UNOESTE, UFU, UNICID, USP, PUC-SP, PUC-RGS, PUC-RIO, PUC-CAMPINAS, UFPA, UCDB, UFSCAR, UFMG, UFBA, UERJ, UNISANTOS, UFMA E UNESP. O gráfico nº 1 demonstra esta distribuição:

Gráfico 1.

Dissertações consideradas por programas de pós-graduação

Fonte: Gráfico elaborado a partir dos dados levantados no sítio da BDBTD 2014.

0 1 2 3 4 5 6 7 PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO UFRGS 0,43 UNOESTE 0,43 UFU 0,43 UNICID 0,43 USP 1,29 PUC 2,58 UFPA 0,86 UCDB 0,86 UFSCAR 6,45 UFMG 0,86

Destas instituições, destaque deve ser dado aos trabalhos que aparecem na UFRGS, em Ciências do Movimento; na UFU, em História; na PUC-SP em História; na UFSCAR em Psicologia e Ciências Sociais e na UERJ em Ciências Sociais e Letras. Esta distribuição demonstra o quanto a temática “relações raciais” encontra-se presente a outras áreas do conhecimento.

As dissertações analisadas pouco explicitam claramente o método e os procedimentos metodológicos de pesquisa, a maioria descreve uma análise de dados sem filiação a uma corrente metodológica de pesquisa. O mesmo pode ser dito em relação ao lugar epistemológico, uma vez que é comum encontrarmos trabalhos que recorrem a autores de diferentes correntes teóricas, como as positivistas, as marxistas dialéticas e as fenomenológicas e a conceitos das teorizações pós-críticas, como os de identidade e diferença, com parca preocupação com as ressalvas devidas, tornando discrepantes as abordagens.

Este quadro torna-se mais complexo quando da concepção que parecem ter os autores em relação ao método e à metodologia, pois muitas vezes contentam-se em descrever procedimentos de coleta, como entrevistas, observação e aplicação de questionário, como se estivessem falando de método ou metodologias. Isto ocorre ao lado da ausência de clareza quanto aos procedimentos de análise das informações. Na confecção de um gráfico (gráfico nº 2) que demonstre a compreensão sobre os aspectos metodológicos das pesquisas, as divergências aparecem em forma de uma diversidade de informações que mesclam procedimentos de coleta e análise, bem como, de aporte teórico-metodológico, vejamos:

Gráfico 2.

Metodologia e técnica de coleta e análise de informações nas Dissertações

Fonte: Gráfico elaborado a partir dos dados levantados no sítio da BDBTD - 2014

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 TÉCNICA OU METODOLOGIA UTILIZADA ETNOGRAFIA HERMENÊUTICA ESTUDO DE CASO DOCUMENTOS E BIBLIOGRAFIAS PESQUISA NARRATIVA REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ENTREVISTAS E QUESTIONÁRIOS QUESTIONÁRIOS ANÁLISE DE CONTEUDO ANÁLISE DO DISCURSO DOCUMENTOS E ENTREVISTAS HISTÓRIA ORAL PESQUISA DOCUMENTAL ENTREVISTAS FENOMENOLOGIA

De um lado é pertinente considerarmos a necessidade de variação de procedimentos de coleta e análise de informação, bem como do aporte teórico- metodológico nos estudos, mas, por outro lado, a forma como ocorre o emprego deste aporte pode inferir em uma ausência de definição metodológica e de apropriação teórica e procedimental de pesquisa, em parte, discutido em torno do que se entende por abordagens qualitativas em educação.

Assim:

não parece haver consciência clara de que observações cursivas, perguntas abertas, depoimentos, histórias de vida, anotações livres de campo, tanto quanto as escalas, os instrumentos fechados e os testes, estão sujeitos a toda sorte de percalços pela associação ou submissão a valores e atitudes do pesquisador e do próprio pesquisado (porque há um sujeito falante que pergunta, que usa determinadas palavras, que intervém e tem um referencial pessoal, escolhas e preferências, que nessa condição dialoga com seus interlocutores na pesquisa). Impera a afirmação genérica de que nada é neutro, o que pode nos levar a admitir, no limite, que tudo na pesquisa é opinião do próprio pesquisador e não fruto de uma depuração séria à luz de uma dada perspectiva, de uma teorização, ou dos confrontos de valores pesquisador-pesquisado, pesquisador-pesquisador, pesquisador-grupos de referência. Encontram-se também problemas no trato com as categorias analíticas e com os conceitos utilizados. A apropriação de teorias também tem se mostrado superficial e frágil nesses trabalhos. A leitura de inúmeros trabalhos nos mostra que adentrou-se por novas formas de abordagem metodológica mas, não se percebeu que os problemas de fundo são os mesmos e que qualitativo, em pesquisa, não é dispensa de rigor e consistência. (GATTI, 2006, p.5)

A proeminência das abordagens, por outro lado, é grande, principalmente por mobilizarem a discussão de autores e teorias consideradas complexas, mas que disponibilizam instrumentos variados, precisos e por vezes para a análise da conjuntura em que se perfazem as relações raciais. Nosso percentual total é embasado nas 43 dissertações pesquisadas.

Neste contexto, destacam-se os trabalhos por autores em percentagem cujas abordagens teóricas dialogam com o pós-colonialismo e estudos culturais, ambos a partir da perspectiva de Stuart Hall (26%) e Homi Bhabha (12%); teorizações críticas fazendo dialogar autores como Pierre Bourdieu (7%), Peter McLaren (7%), Michael Aplle (7%); Henri Giroux (5%); e perspectivas consideradas pós-críticas, que fazem dialogar Foucault (2%)e Tomaz Silva (2%) com as vertentes multiculturalistas de segunda geração.

Estas constatações, não raras vezes, presentificam-se nas Teses como veremos na seção a seguir: