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5 O QUE OS DIÁRIOS DE CLASSE NOS INFORMAM SOBRE O

5.4 Registros nos DC’s da pré-escola: temas que se destacaram

Neste quinto momento de análise, somamos os totais de registros das temáticas que foram categorizadas, por cada turma da EI, considerando os oito componentes curriculares nessa somatória. Para formulação das temáticas consideramos os temas mais frequentes a partir da leitura do conjunto total de DC’s que é de 220, observando a presença ou não de tais temas em cada documento, sem necessariamente considerar a recorrência dos registros em cada DC.

TABELA 37 – Recorrência das temáticas a partir das tabelas 4 a 33 Conteúdos ministrados/ atividades desenvolvidas Berçário G1 G2 G3 período período Acolhimento e adaptação 246 408 349 653 574 440 Recreação e brincadeiras 543 545 470 860 580 535 Rotina 118 117 304 490 114 583 Disciplinamento (regras, combinados) 15 45 120 37 91 341 Desenho, rabiscação e escrita 15 33 81 509 608 757 Fonte: A autora.

Como já explicado, dos 220 DC’s que compuseram nossa pesquisa, organizamos para esta tabulação a mesma quantidade de documentos por turma (20 documentos de cada) e por componente curricular (quatro documentos de cada), a fim de produzir uma representação da EI que resultou num conjunto de 120 DC’s. Esta padronização foi importante pois, para nossa análise, facilitou a observação das temáticas baseadas na mesma quantidade de documentos.

A primeira temática categorizada foi do acolhimento. Percebemos que o maior número se encontra nas turmas de G3, em seguida nas turmas de 1° período, 2° período, G1, G2. Chamou-nos atenção o fato do acolhimento estar expresso em menor número nas turmas de Berçário, onde este trabalho deve ser intenso, visto que recebe bebês de quatro meses a um ano de idade que na maioria das vezes estão tendo seu primeiro momento de separação da família e iniciação no ambiente escolar.

As brincadeiras também são mais registradas nas turmas de G3 e em seguida nas turmas de 1° período, G1, Berçário, 2° período e por último G2. As rotinas aparecem mais nas turmas de 2° período e em seguida nas turmas de G3, G2, Berçário, G1 e 1° período. Os trabalhos de disciplinamento, com regras e combinados se destacam nas turmas de 2° período e em seguida: G2, 1° período, G1, G3 e Berçário. Por fim a categoria de desenhos, rabiscação e escrita, também mais expressos nas turmas de 2° período e 1° período, em seguida turmas de G3, G2, G1 e Berçário.

A partir do panorama geral, traçado pelas análises anteriores, fizemos um recorte em nosso material de estudo. Analisamos separadamente os diários das turmas de 1° e 2° período, denominada fase pré-escolar, visto que são as mais atingidas pelos processos de

disciplinamento, treino e escolarização precoce. A pesquisa seguiu então com 22 DC’s de professoras R1 e 18 DC’s de cada aula especializada (o que equivale a 72 diários), perfazendo um total de 94 documentos. Por acolhimento, englobamos todas as palavras que descrevem ações de adaptação, boas vindas, dinâmica de apresentação, diálogo, respeito e valorização. Na categoria lúdico foram considerados os registros que apontam o brincar, a recreação, bem como estratégias de aprendizagem baseadas na ludicidade como jogo e quebra-cabeça. Categorizamos a rotina a partir dos registros que apontam sequências diárias e repetitivas de atividades. Para tabularmos o disciplinamento contamos os termos “combinados”, “regras de convivência”, “boas maneiras” e “obediência”. A categoria escrita englobou os termos “atividade do livro didático”, “cópia”, “atividade de registro”, “treino”, “atividade escrita”, “atividade xerocopiada”, “atividade para completar” e “pontilhados”.

Do nosso conjunto de 94 DC’s pré-escolares, elencamos as cinco categorias apresentadas a seguir:

TABELA 38 – Ocorrência dos termos categorizados em DC’s turmas pré-escolares COMPONENTE

CURRICULAR

ACOLHI

MENTO LÚDICO ROTINA

DISCIPLI NAMENTO

ESCRI TA Identidade e Autonomia

Linguagem Oral e Escrita Matemática

Natureza e Sociedade

20 22 13 20 22

Artes Visuais 07 14 08 02 12

Culturas regionais e locais 11 12 07 06 16

Movimento 11 17 07 07 05 Música 11 17 07 06 04 TOTAL PORCENTAGEM DOS DC’S 60 63,83% 82 87,23% 42 44,68% 41 43,62% 59 62,76% Fonte: A autora.

Lembrando que as professoras R1 ministram Identidade e Autonomia, Linguagem Oral e Escrita, Matemática, Natureza e Sociedade, portanto, estes quatro componentes curriculares compõem um único DC que são trabalhados de forma interdisciplinar por uma mesma profissional. As professoras R2, que possuem DC’s separados, ministram Artes Visuais, Culturas regionais e locais, Movimento, Música, sem necessariamente terem graduação e/ou habilitação específicas. Assim, a maioria das docentes da EI da rede municipal de ensino de

Uberlândia/MG são formadas em cursos de Pedagogia, Magistério ou Normal Superior; algumas graduadas em Artes e Educação Física.

Elaboramos o quadro 3 com a síntese dos conteúdos previstos pelo RCNEI (1998) para o ensino destinado às turmas pré-escolares. O componente curricular Identidade e Autonomia está descrito no volume 2; os demais encontram-se no volume 3. A partir deste quadro analisaremos a presença ou ausência dos registros equivalentes nos DC’s.

QUADRO 3 – Conteúdos determinados pelo RCNEI para 1° e 2° períodos da EI COMPONENTE

CURRICULAR

APRENDIZAGENS (CONTEÚDOS/ ATIVIDADES) TURMAS PRÉ-ESCOLARES

Identidade e Autonomia

• Brincadeiras com livre escolha de objetos e pares, sem distinção de gênero, tais como imitação, faz-de-conta, jogos de regras;

• Interação/ linguagem; • Escolhas independentes;

• Movimento natural de oposição; • Apropriação da imagem corporal;

• Trabalhos referentes a autoestima e a autoconfiança, expressando e controlando as suas necessidades e sentimentos cotidianos;

• Autocuidado (higiene, alimentação, segurança, etc.); • Exploração da própria imagem (uso de espelhos);

• Trabalhos para desenvolver as limitações e possibilidades; • Respeito aos colegas e adultos em suas singularidades;

• Discernimento para agir em situações de conflitos – ênfase no diálogo; • Cuidados adequados dos materiais de usos individuais e coletivos; • Cooperação e solidariedade compartilhando vivências;

• Uso adequado do sanitário;

• Respeito às regras de convivência e à diversidade de seu grupo; • Exploração do nome;

• Desenvolvimento da autonomia.

Linguagem Oral e Escrita

• Manuseio livre para incentivo à leitura (em um ambiente aconchegante, com livros escolhidos pelos alunos, de diversos gêneros e autores, revistas, histórias em quadrinhos, jornais, trabalhos de outras crianças etc.), jogos de escrita (tais como caça-palavras, forca, cruzadinhas etc.), faz-de-conta (brincar na sala de aula ou no espaço externo; uso de embalagens diversas, livros de receitas, blocos para escrever, talões com impressos diversos etc.);

• Escolhas temporárias de textos que propiciem conhecer a diversidade possível existente dentro de um mesmo gênero, como ler o conjunto da obra de um determinado autor ou ler diferentes contos sobre um determinado personagem folclórico, ou várias versões de uma mesma lenda, etc.;

• Ampliação gradativa das possibilidades de comunicação e expressão, incentivando o conhecimento de vários gêneros orais e escritos e participando de diversas situações de intercâmbio social nas quais se

possa contar suas vivências, ouvir as de outras pessoas, elaborar e responder perguntas;

• Fala e escuta: usar a linguagem oral para conversar, brincar, comunicar e expressar opiniões, desejos e sentimentos, necessidades e preferências, relatos de experiências com sequência temporal e causal; elaborar perguntas; explicar e argumentar ideias; recontar histórias conhecidas com aproximação às características da história original; conhecer e reproduzir oralmente jogos verbais (trava-línguas, parlendas, poemas, canções, entre outros);

• Práticas de leitura: ouvir histórias lidas por adultos, de diferentes gêneros; ler (ainda que de maneira não convencional); reconhecer o próprio nome dentro de um contexto; observar e manusear materiais impressos diversificados; valorizar a leitura como fonte de lazer e divertimento;

• Práticas de escrita – participar de situações cotidianas nas quais se faz necessário o uso da escrita ainda que não de forma convencional; escrever o próprio nome; produzir textos individuais e/ou coletivos tais como cartas, bilhetes, postais, cartões de aniversário ou outras datas, convites, diários; escrita livre e autônoma conforme o nível de aprendizado; respeitar a própria produção bem como as produções alheias; explorar receitas culinárias, regras de jogos, textos impressos em embalagens, rótulos, anúncios, slogans, cartazes, folhetos, histórias em quadrinhos, textos de jornais, revistas e suplementos infantis, parlendas, canções, poemas, quadrinhas, adivinhas, trava-línguas, contos, mitos, lendas, “causos” populares e fábulas, entre outros.

Matemática

• Contagem oral (em brincadeiras ou em situações nas quais as crianças reconheçam sua necessidade);

• Aquisição de noções simples de cálculo mental como ferramenta para resolução de problemas;

• Comunicação de quantidades, utilizando a linguagem oral, anotação numérica e/ou registros não convencionais;

• Noção de ordem, posição, sucessor e antecessor;

• Identificação de números nos diferentes contextos em que se encontram; • Comparações escritas numéricas identificando algumas regularidades; • Comparações de grandezas;

• Introdução de noções de medida de comprimento, peso, volume e tempo, com a utilização de unidades convencionais e não convencionais; • Uso de calendários para marcação do tempo;

• Experiências com dinheiro em brincadeiras ou em situações de interesse das crianças;

• Identificação das propriedades geométricas de objetos e figuras como as formas, os tipos de contornos, bidimensionalidade, tridimensionalidade, faces planas, lados retos etc.;

• Representações bidimensionais e tridimensionais dos objetos;

• Identificação dos pontos de referência para situar-se e deslocar-se no espaço;

• Descrição e representação de pequenos percursos e trajetos, observando pontos de referência.

Natureza e Sociedade

• Sondagem inicial para elencar temas de interesse coletivo e os conhecimentos prévios dos alunos, estabelecendo significância e vínculo com as práticas sociais;

• Atividades que envolvam histórias, brincadeiras, jogos e canções referentes ao respeito e a valorização das tradições culturais de sua comunidade e de outras;

• Práticas que favoreçam a construção de uma visão de mundo integrada e relacional;

• Ampliação do repertório de conhecimentos a respeito do mundo social e natural, estabelecendo algumas relações simples de comparação de dados;

• Formulação de perguntas e confrontação de ideias; • Participação ativa na resolução de problemas;

• Formulação coletiva e individual de conclusões e explicações sobre os temas tratados;

• Busca de informações, como objetos, fotografias, documentários, relatos de pessoas, livros, mapas etc.;

• Obtenção de informações diversas (conforme o tema tratado) através da utilização da observação direta e com uso de instrumentos como binóculos, lupas, microscópios, entre outros;

• Visitas às bibliotecas, aos museus etc.;

• Leitura e interpretação de registros, como desenhos, fotografias e maquetes;

• Registro das informações, utilizando diferentes formas como desenhos, textos orais ditados ao professor, comunicação oral registrada em gravador etc.;

• Conhecimento de modos de ser, viver e trabalhar de alguns grupos sociais do presentes e passados, utilizando fotos, relatos e outros registros para a observação de mudanças ocorridas nas paisagens ao longo do tempo;

• Identificação de alguns papéis sociais existentes em seus grupos de convívio na escola e em outros contextos sociais;

• Valorização do patrimônio cultural do seu grupo social;

• Incentivo ao conhecimento de diferentes formas de expressão cultural; • Observação da paisagem local (rios, vegetação, florestas, campos, dunas, mar, montanhas etc.);

• Conscientização para preservação ambiental, bem como o cuidados no uso dos objetos do cotidiano, relacionados à segurança, prevenção de acidentes, e à sua conservação;

• Oficinas para confecção de objetos;

• Reconhecimento de algumas características de objetos produzidos em diferentes épocas e por diferentes grupos sociais;

• Conhecimento de algumas propriedades dos objetos (refletir, ampliar ou inverter as imagens, produzir, transmitir ou ampliar sons, propriedades ferromagnéticas, entre outros);

• Aprender sobre relações entre diferentes espécies de seres vivos, suas características e suas necessidades vitais, bem como a valorização da vida;

• Conhecimento dos cuidados básicos de pequenos animais e vegetais por meio da sua criação e cultivo;

• Conhecimento de algumas espécies da fauna e da flora brasileira e mundial;

• Aprender sobre atitudes relacionadas à saúde e ao bem-estar individual e coletivo;

• Estabelecimento de relações entre os fenômenos da natureza de diferentes regiões (relevo, rios, chuvas, secas etc.) e as formas de vida dos grupos sociais que ali vivem;

• Participação em diferentes atividades envolvendo a observação e a pesquisa sobre a ação de luz, calor, som, força e movimento;

• Trabalho referente aos fenômenos astronômicos através de pesquisa em livros, fotos, filmes de vídeo, ilustrações e revistas, de experiências simuladas e da reflexão.

Artes Visuais

• Fazer artístico: criação de desenhos, pinturas, colagens, modelagens, a partir de seu próprio repertório e da utilização dos elementos da linguagem das Artes Visuais como ponto, linha, forma, cor, volume, espaço, textura etc.; exploração e aprofundamento das possibilidades oferecidas pelos diversos materiais, instrumentos e suportes; exploração dos espaços bidimensionais e tridimensionais na realização de seus projetos artísticos;

• Apreciação das suas produções e de terceiros, por meio da observação e leitura de alguns dos elementos da linguagem plástica; conhecimento da diversidade de produções artísticas, como desenhos, pinturas, esculturas, construções, fotografias, colagens, ilustrações, cinema, entre outros; observação dos elementos constituintes da linguagem visual tais como ponto, linha, forma, cor, volume, contrastes, luz, texturas; leitura de obras de arte a partir da observação, narração, descrição e interpretação de imagens e objetos; apreciação das Artes Visuais e estabelecimento de correlação com as experiências pessoais;

• Reflexão: permeia o fazer artístico e a apreciação, constitui um pensar sobre todos os conteúdos do objeto artístico, compartilhando perguntas e afirmações que a criança realiza instigada pelo professor e no contato com suas próprias produções e as dos artistas.

• Organização, valorização e cuidado com as produções individuais e coletivas, bem como com os materiais no espaço físico.

Culturas regionais e locais

• Não constam conteúdos determinados nos documentos RCNEI’s, visto que este ensino se refere ao contexto de cada região brasileira. A determinação constante se refere ao acolhimento às diferentes culturas, aos valores e às crenças das crianças, ou seja, deve-se manter um ambiente multicultural, laico e democrático.

Movimento

• Ampliação das possibilidades expressivas do próprio movimento, através de gestos diversos e o ritmo corporal em brincadeiras, danças, jogos e demais situações de interação; exploração de diferentes dinâmicas do movimento como força, velocidade, resistência e flexibilidade, conhecendo os limites e as potencialidades de seu corpo; controle gradual do próprio movimento, aperfeiçoando seus recursos de deslocamento e adequando suas habilidades motoras para utilização em jogos, brincadeiras, danças e outros; utilização dos movimentos de preensão,

encaixe, lançamento etc., ampliando suas possibilidades de manuseio dos diferentes materiais e objetos; apropriação progressiva da imagem global de seu corpo, conhecendo e identificando seus segmentos e elementos, desenvolvendo a autoestima e o cuidado com o próprio corpo;

• Expressividade: utilização intencional do movimento nas situações cotidianas e em brincadeiras; percepção de estruturas rítmicas para expressar-se corporalmente através da dança, das brincadeiras e de outros movimentos; valorização e ampliação das possibilidades estéticas do movimento pelo conhecimento e utilização de diferentes modalidades de dança; percepção das sensações, limites, potencialidades, sinais vitais e integridade do próprio corpo;

• Equilíbrio e coordenação: participação em brincadeiras e jogos que envolvam correr, subir, descer, escorregar, pendurar-se, movimentar-se, dançar entre outros, afim de ampliar gradualmente o conhecimento e o controle sobre o corpo e o movimento; utilização dos recursos de deslocamento e das habilidades de força, velocidade, resistência e flexibilidade nos jogos e brincadeiras; valorização de suas conquistas corporais; exploração de materiais, objetos e brinquedos diversos para aperfeiçoamento de suas habilidades manuais.

Música

• Fazer musical: realização de oficinas de construção de instrumentos; jogos e brincadeiras musicais; reconhecimento e utilização expressiva, em contextos musicais das diferentes características geradas pelo silêncio e pelos sons tais como a altura grave ou aguda, a duração curta ou longa, a intensidade fraca ou forte, o timbre que distingue e “personaliza” cada som; reconhecimento e utilização das variações de velocidade e densidade na organização e realização de algumas produções musicais; participação em jogos e brincadeiras que envolvam a dança e/ ou a improvisação musical; repertório de canções para desenvolver memória musical.

• Apreciação musical: escuta de obras musicais de diversos gêneros, estilos, épocas e culturas, da produção musical brasileira e de outros povos e países; participação em situações que integrem músicas, canções e movimentos corporais; reconhecimento de elementos musicais básicos como frases, partes, elementos que se repetem, entre outros; informações sobre as obras ouvidas e sobre seus compositores para iniciar seus conhecimentos sobre a produção musical.

• Reflexão

Fonte: adaptado de RCNEI (1998, v. 1, 2 e 3).

Algumas atividades são permanentes, conforme apresentamos anteriormente, tais como de higienização, de recreação, de contação de histórias, etc. Outras atividades são flexíveis como projetos e/ou sequências de trabalhos. As brincadeiras, expressões de sentimentos, emoções, pensamentos e necessidades, determinados no RCNEI (1998), devem permear todos os componentes curriculares. Espera-se com esta organização que sejam contemplados os conteúdos conceituais (que trabalham os símbolos, ideias, imagens e representações a fim de

atribuir sentido à realidade), os procedimentais (relativos ao saber fazer, envolvendo tomadas de decisões, articulados aos conteúdos conceituais e atitudinais) e os atitudinais (tratam dos valores e normas).

Nos DC’s do componente curricular Identidade e Autonomia, das turmas pré-escolares, percebemos ações de promoção da interação e do desenvolvimento da linguagem. Algumas atividades indicam escolhas independentes das crianças, o que favorece o desenvolvimento da autonomia. Entretanto, constatamos uma quantidade considerável de práticas definidas pelos profissionais, impedindo o movimento natural de oposição e o reconhecimento das próprias limitações e capacidades dos alunos. Nem sempre há o favorecimento de tentativas e buscas de possibilidades; ações para desenvolver a apropriação da imagem corporal, como por exemplo, o uso do espelho, a autoestima e a autoconfiança também são limitados.

De acordo com o RCNEI (1998, v. 2), a autonomia, definida na fase pré-escolar como a capacidade de se conduzir e tomar decisões, levando em conta suas expectativas, as regras do grupo, os valores, bem como a perspectiva do outro, é mais do que um objetivo, constitui um princípio das ações educativas. Deve-se considerar que as crianças têm vontade própria, capacidades e competências para construírem conhecimentos, de acordo com suas possibilidades, interferindo no meio em que vivem. Os diversos registros “roda de conversa” possivelmente contemplam questões como cooperação e solidariedade no compartilhamento de vivências, bem como o respeito às singularidades.

Verificamos nos DC’s grande ênfase nos trabalhos referentes às regras de convivência, o respeito aos colegas e adultos, a exploração do nome e os cuidados com os materiais de usos individuais e coletivos, não somente em Identidade e Autonomia como em outros componentes curriculares.

Poucos registros apontam trabalhos referentes à segurança, bem como o discernimento para agir em situações de conflitos. A higiene e a alimentação constam em alguns registros. Como descrevemos anteriormente, algumas rotinas registradas nos DC’s se apresentam de maneira rígida, registradas diariamente de forma idêntica. Em um DC, turma de 2° período, a professora R1 registrou do início ao final do ano, a seguinte expressão: “ROTINA: IR AO BANHEIRO, HIGIENIZAÇÃO, TOMAR ÁGUA”. O incentivo e o uso adequado do sanitário constitui objetivo do componente curricular Identidade e Autonomia; entretanto, da maneira como apontam os registros, demonstram a inflexibilidade rotineira na EI.

O RCNEI (1998, v. 2) determina que o trabalho com o componente curricular Identidade e Autonomia deve partir do lúdico, das imitações e interações. Devem ser privilegiadas as brincadeiras com livre escolha de objetos e pares, sem distinção de gênero, tais como imitação,

faz-de-conta, jogos de regras. Entretanto, alguns registros indicam a separação de meninos e meninas; muitos registros apontam brincadeiras determinadas, sem liberdade de escolha das crianças.

Em um DC, turma de 1° período, constam registros de rodas de conversa sobre temas que são fundamentais à construção da identidade e ao fortalecimento da autoestima infantil: “Como é constituída a sua família?”; “Você gosta da sua cor?”; “O que você pode fazer para que não tenha ou diminua o preconceito e a discriminação?”; “Alertar que o preconceito magoa e não é legal”. Tais descrições nos indicam que algumas professoras se dispõem a trabalhar na perspectiva da diversidade.

Percebemos a ausência de algum registro que abordasse a situação de encerramento de uma turma de 2° período em julho de 2017. Certamente os alunos foram remanejados para outras turmas ou outras escolas, fato que não foi descrito no DC. Esta ausência demonstra que nem sempre as crianças são respeitadas, consideradas sujeitos centrais da ação educativa.

Nos DC’s do componente curricular Linguagem Oral e Escrita percebemos o excesso de atividades mecânicas e rotineiras. Em um diário de 2° período, professora R1, constam as seguintes expressões: “exercícios de fixação”, “ditados”, “família silábica”, “cópia registro do cabeçalho”. Em outros constam atividades de escrita do alfabeto em folha, cópias exaustivas, inclusive da letra do Hino de Uberlândia. Nos chamou atenção a recorrência da atividade de escrita em um documento de 2° período, professora R1: 187 vezes em 163 dias de aulas.

O RCNEI (1998, v. 3) alerta que alguns profissionais ainda persistem na ideia de que a EI deve construir os pré-requisitos para a alfabetização, tais como: memória auditiva, ritmo