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3 REGRAS-MATRIZES: DA INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E DO DIRETO AO

3.1 O que é regra-matriz de incidência

Já foram feitas algumas considerações sobre a norma jurídica, sua natureza e sua composição. A regra-matriz de incidência é uma criação científica que busca descrever a norma jurídica, mais precisamente a norma jurídica que versa sobre as regras criadoras dos tributos, com a principal finalidade de verificar se ela foi instituída dentro dos parâmetros constitucionais e legais necessários.

Essa criação científica, conforme afirmado por Aurora Tomazini, é fruto dos estudos de Paulo de Barros Carvalho:

PAULO DE BARROS CARVALHO, inspirado nas lições de ALFREDO AUGUSTO BECKER e GERALDO ATALIBA, ao observar as propriedades eleitas pelo legislador para delimitação de hipóteses e consequentes das regras instituidoras de tributos, percebeu a repetição de alguns componentes e assim apresentou a regra-matriz de incidência tributária.143

Paulo de Barros Carvalho, acerca de suas conclusões sobre a regra- matriz de incidência tributária, especialmente frisando a existência de um antecedente e um consequente, declina que

O problema nominativo não é o mais importante, se bem que haja limites semânticos para a escolha das designações que o observador atribui aos fenômenos. Tratando-se de entidades lógicas que estão presentes ali onde houver norma jurídica de qualquer espécie, tanto faz chamarmos de hipótese, antecedente, suposto, ante-suposto ou pressuposto à previsão fática, pois todos esses vocábulos têm a chancela dos mais renomados cultores da Teoria Geral do Direito. Há de significar, 143 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do direito: o construtivismo

lógico-semântico. São Paulo: Noeses, 2009, p. 357.

sempre, a descrição normativa de um evento que, concretizado no nível das realidades materiais e relatado no antecedente de norma individual e concreta, fará irromper o vínculo abstrato que o legislador estipulou na conseqüência.

Opinamos por hipótese tributária, aproximando o adjetivo para qualificar o campo de atuação sobre o qual, agora, centralizamos nossas atenções.144

Um dos fatores relevantes para o estudo da regra-matriz reside na possibilidade de se valer dela para verificar se a incidência, ato de aplicação que necessita do processo lógico da subsunção feito pelo homem, da norma jurídica, está de acordo com as previsões do próprio ordenamento. Isto pois

A subsunção, porém, como operação lógica que é, não se verifica simplesmente entre iguais, mas entre linguagens de níveis diferentes. Em homenagem à precisão que devemos incessantemente perseguir, o certo é falarmos de subsunção do fato à norma, pois ambos configuram linguagens. E, toda vez que isso acontece, com a conseqüente efusão de efeitos jurídicos típicos, estamos diante da própria essência da fenomenologia do direito.145

Ou seja, ocorreria a subsunção quando o fato jurídico tributário fosse plenamente harmônico com o desenho contido na hipótese tributária, o que permitiria, com o fato concreto relatado no antecedente da norma individual e concreta, falar em instauração automática e infalível da relação jurídica tributária. Essa regra vale para todas as espécies de normas jurídicas, qualquer que seja sua natureza.

Para que ocorra a subsunção, deve existir o perfeito enquadramento do fato à hipótese normativa, o que se chama de tipicidade. O fato do mundo real para ser qualificado como jurídico e tributário deve satisfazer a todos os critérios da regra-matriz.

144 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 248.

145 Ibid., p. 249.

Devemos ponderar, ainda, no cerne da classificação das normas jurídicas em “de estrutura” e “de comportamento”, que a regra-matriz seria típica norma de comportamento, pois determina a conduta do sujeito na relação fiscal, se estivermos diante do fenômeno tributário.

Mais ainda, a regra-matriz seria norma individual e concreta, diferindo do que Geraldo Ataliba chamava de hipótese de incidência:

A h.i., é primeiramente a descrição legal de um fato; é a formulação hipotética, prévia e genérica, contida na lei, de um fato (é o espelho do fato, a imagem conceitual de um fato; é seu desenho). É, portanto, mero conceito, necessariamente abstrato. É formulado pelo legislador fazendo abstração de qualquer fato concreto. Por isso é mera “previsão legal” (a lei é, por definição, abstrata, impessoal e geral).146

A hipótese legal é só uma definição contida em uma lei. Pertence ao mundo dos valores jurídicos. Pelo contrário, o fato imponível real é a realização dessa hipótese legal. Pertence ao mundo da realidade fática.

A hipótese de incidência é a descrição hipotética e abstrata de um fato. É parte da norma tributária. É o meio pelo qual o legislador instituiu um tributo. Está criando um tributo, desde que a lei descreva sua h.i., a ela associando o mandamento “pague”.147

E prossegue

A criação de tributos – que se traduz na descrição hipotética dos fatos cuja ocorrência dá nascimento às obrigações tributárias concretas – é a mais solene e elevada manifestação da competência tributária de que são investidas as pessoas públicas políticas. Essa manifestação precede lógica e cronologicamente a atividade concreta e efetiva de tributar.148

146 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de incidência tributária. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 53.

147 Ibid., p. 59. 148 Ibid., p. 60.

Pois bem, tecidas tais considerações, cumpre explicitar a importância do estudo da regra-matriz para o presente trabalho.

Primeiro, acreditamos que tal conceito, criado para estudar as normas jurídicas de imposição da exação tributária, serve também para os mais variados ramos do direito, pois todo ele é amparado no instituto da norma jurídica. Se pretende afirmar que: é possível formular a regra-matriz das mais variadas previsões normativas, sendo viável, portanto, também, fazê-lo com relação às normas jurídicas que permitem o crédito do imposto, nas ocorrências nas quais haverá a incidência do princípio da não cumulatividade.

Acredita-se que o conceito ora abordado seja universal, não decorrendo da observação de nenhum sistema de direito (civil, trabalhista, penal, etc.)149 em

particular, nem se comprometendo com nenhum instituto jurídico específico localizado no tempo e no espaço.

Assim,

[…] estendendo os estudos sobre a regra matriz de incidência tributária, de PAULO DE BARROS CARVALHO, para todas as normas padrões de incidência dos diversos ‘ramos’ do direito, nota-se que elas apresentam a mesma composição sintática, sendo os conteúdos mínimos de significação da hipótese e dos consequentes compostos, invariavelmente, pelos mesmos critérios […]150

Podemos concluir que é, então, conceito lógico-jurídico, uma representação mental.

149 “Chamamos ‘regra-matriz de incidência’ as normas padrões de incidência, aquelas produzidas para serem aplicadas em casos concretos, que se inscrevem entre as regras gerais e abstratas, podendo ser de ordem tributária, previdenciária, penal, administrativa, constitucional, civil, trabalhista, comercial, etc. dependendo das situações objetivas para as quais o seu valor semântico aponta” (CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do direito: o construtivismo lógico-semântico. São Paulo: Noeses, 2009, p. 262).

150 Ibid., p. 363.

O conceito legal – como parece claro – designa (espelha) uma coisa, designação esta que é seu conteúdo. Por isso, o conteúdo da h.i. não é o estado de fato, mas sua designação ou descrição; a h.i., portanto, significa o estado de fato, dirige-se a ele, mas com ele não se confunde151.

Falado isso, é importante estabelecer que a regra-matriz de incidência tributária e a regra-matriz do direito ao crédito serão base para nossas conclusões, levando em conta a diferenciação e comprovação de autonomia dessas duas normas jurídicas. Mais ainda, levando em conta o estudo sobre o instituto jurídico do diferimento, pensando em quais situações a regra-matriz do direito ao crédito não será aplicada.

3.2 A Regra-Matriz da Incidência Tributária