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Regulamentação dos serviços de radiodifusão através do Decreto n 52.795/63

2.1 Do Código Brasileiro de Comunicações – Lei n 4.117/62 e sua vigência pós constituição

2.1.1 Regulamentação dos serviços de radiodifusão através do Decreto n 52.795/63

Após estar em vigência por pouco mais de um ano, a Lei n. 4.117/62 (CBT) foi alterada pelo Decreto n. 52.795/63, que aprovou o Regulamento dos Serviços de Radiodifusão (RSR). Esse regulamento detalhou competências, processamento de outorgas, transferências de outorgas, renovação e cassação, entre outros assuntos relevantes.

Em primeiro lugar deve-se esclarecer que o Regulamento dos serviços de radiodifusão, no Brasil, ocorreu em outubro de 1963, período que antecedeu a “ditadura militar” e o Chefe Maior era o Marechal Humberto Castelo Branco e este foi um dos que contribuíram para instituir o golpe militar que destituiu o presidente João Goulart em 1964.

O Decreto n. 52.795, nas lições de Vilson Vieira Jr. (2011), assim como o Decreto n. 52.026,

[...] ambos de 1963, regulamentam os serviços de radiodifusão e confirmam alguns itens já validados pelo Código Brasileiro de Telecomunicações, como a competência exclusiva da União em dispor sobre a radiodifusão, a finalidade educativa e cultural dos serviços outorgados, ainda que em caráter comercial; os aptos a explorar os serviços de rádio e televisão; a outorga de radiodifusão por meio de concessão ou permissão; e os prazos de funcionamento das outorgas (10 anos para os serviços de radiodifusão sonora – rádio - e 15 anos para os de radiodifusão de sons e imagens - televisão), entre outros.

Denota-se, assim, que a radiodifusão ganha novos contornos com a possibilidade das outorgas por meio da concessão ou permissão e com o aumento dos prazos de funcionamento.

Portanto, para entender com mais clareza as barganhas e imposições oriundas do CBT, é imprescindível analisar alguns artigos do Decreto n. 52.795/63. Veja o que o Regulamento apresenta em primeiros artigos, alertando que a liberdade de expressão, manifestada pelos jornais, revistas e programas de radiodifusão não foi extinta, mas sofreu “censura “ a partir da ditadura militar.

O Decreto confirmou a finalidade educativa e cultural e o interesse nacional da radiodifusão, podendo a mesma ser comercialmente explorada desde que atendendo a referida finalidade, conforme estabelecido no art. 3º. Outro importante detalhamento foi em relação aos procedimentos legais para concessão dos serviços, a documentação necessária, regulada nos artigos 10 ao 15, e os critérios classificatórios para a seleção de proposta de empresas interessadas, dentre os quais: o maior tempo de programação dedicado a educação e a instrução e o maior tempo dedicado ao serviço noticioso, previstas no art. 16 do Decreto (VALIM, 2014).

O Regulamento também buscou coibir, em seu art. 121 e incisos, as condutas abusivas no exercício da liberdade de radiodifusão, espécie de censura, além de prever penalidades para as emissoras que infringissem tais condutas, dentre as quais:

1 - incitar a desobediência às leis ou decisões judiciárias; 2 - divulgar segredos de Estado; 3 - ultrajar a honra nacional; 4 - fazer propaganda de guerra ou de processos de subversão da ordem pública e social; 5 - promover campanha discriminatória de classe, cor, raça ou religião; 6 - insuflar a rebeldia ou a indisciplina nas forças armadas ou nas organizações de segurança pública; 7 - comprometer as relações internacionais do país; 8 - ofender a moral familiar, pública, ou os bons costumes; 9 - caluniar, injuriar

ou difamar os Poderes Legislativos, Executivo ou Judiciário ou os respectivos membros; 10 - veicular notícias falsas, com perigo para a ordem pública, econômica e social; ... 26 - criar situação que possa resultar em perigo de vida.

Percebe-se em alguns incisos, como o 1, 2, 3, 4 e 9 a presença da censura imposta pelo governo ditatorial que se encontrava no poder à época. Estas previsões legais davam ao governo uma discricionariedade ampla no controle de conteúdo das emissoras.

Outra importante previsão legal do decreto foi em relação ao direito de resposta e reparação por danos morais em casos de ofensas às pessoas ou organizações, concedidos mediante decisão do Poder Judiciário após processo legal tramitado e julgado.

Alguns exemplos de importantes definições contidas no RSR, em seu art. 5º, são os de autorização e concessão, já analisadas previamente:

1) Autorização - É o ato pelo qual o Poder Público competente concede ou permite a pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, a faculdade de executar e explorar, em seu nome ou por conta própria, serviços de telecomunicações, durante um determinado prazo.

3) Concessão - É a autorização outorgada pelo poder competente a entidades executoras de serviços de radiodifusão sonora de caráter nacional ou regional e de televisão.

O Título V do Decreto estabelecia a forma para a outorga de concessões e permissões e ainda não previa nenhum tipo de concorrência para a escolha do destinatário da concessão. O art. 10 do Decreto deixava a escolha a cargo do CONTEL, antigo Conselho Nacional das Telecomunicações.

Art. 10. O início do processamento da outorga de concessões ou permissões para a execução de serviços de radiodifusão, dar-se-á:

a) por iniciativa do CONTEL;

b) mediante requerimento da entidade interessada, dirigido ao CONTEL. Parágrafo único. O CONTEL não elaborará estudos de possibilidades técnicas para a execução de serviços da radiodifusão de interêsse das entidades pretendentes, limitando-se a examinar aquêles que lhe forem apresentados e julgar da exatidão dos mesmos (sic).

A previsão do processo licitatório, nos moldes atuais, para a outorga de concessões ou permissões, foi estabelecida pelo Decreto n. 2.108/96 e modificava o art. 10 do RSR para o

texto, conforme se vê “Art. 10. A outorga para execução dos serviços de radiodifusão será precedida de procedimento licitatório, observadas as disposições legais e regulamentares (grifo nosso).”

O Decreto n. 2.108/96 também determinava que o Ministério das Comunicações passava a ter competência exclusiva para a abertura do processo licitatório para uma nova concessão, alterando o texto original que previa o requerimento do interessado como um possível início do processo.

O RSR desempenhou importante papel na regulamentação do setor da radiodifusão e, como o CBT, ainda se encontra em vigência, mesmo prevendo funções para o já não existente CONTEL, por exemplo, apesar de ter sido alterado pela última vez recentemente, em 2013. Também se nota que assim como toda a legislação do setor, o Regulamento não evoluiu em um sentido fundamental, que é o tecnológico. Esta falta de evolução deixou, como já analisado, o setor radiodifusão afastado das demais regulamentações em telecomunicações. Em relação a esse respeito, veremos que a Lei n. 9.472/97, da mesma forma, manteve esse afastamento.

2.2 Sobre concessão para exploração de serviços públicos de telecomunicações – Lei n.

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