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O artesanato é algo muito presente na cultura brasileira desde quando apenas os índios aqui habitavam. No Brasil há 10 milhões de artesãos, segundo o Ministério do Turismo (2016). Os produtos feitos acabam sendo referência de seus locais de origem, exemplo disso é a cerâmica marajoara na região norte ou as cuias de beber chimarrão na região sul. A definição de artesanato adotada pela UNESCO em 1997 é:

“Produtos artesanais são aqueles confeccionados por artesãos, seja totalmente a mão, com o uso de ferramentas ou até mesmo por meios mecânicos, desde que a contribuição direta manual do artesão permaneça como o componente mais substancial do produto acabado. Essas peças são produzidas sem restrição em termos de quantidade e com o uso de matérias-primas de recursos sustentáveis. A natureza especial do produtos artesanais deriva de suas características distintas, que podem ser utilitárias, estéticas, artísticas, criativas, de caráter cultural e

simbólicas e significativas do ponto de vista social.” (UNESCO, 1997)

Raul Córdola (apud UNESCO, 2014, p. 9), renomado artista plástico pernambucano, na Revista de Artes Visuais Segunda Pessoa, aponta:

“Eis o que é o artesanato: a obra material do artesão; fruto do seu trabalho realizado através das mãos na confecção de objetos destinados ao conforto do homem, carregados de expressões da cultura, onde a máquina, se utilizada, será apenas ferramenta, nunca fator determinante para sua existência.” (CORDOLA, apud UNESCO, 2014, p.9)

Em 1991, surgiu o Programa do Artesanato Brasileiro (PAB) com o propósito de promover o aprimoramento do artesão, em relação ao seu nível sociocultural e econômico, impulsionando o produto artesanal ao mercado. A definição adotada pela política pública do governo federal, dentro do PAB, implantado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e atualmente coordenado pela Secretaria Especial, declara artesanato algo que:

“Compreende toda a produção resultante da transformação de matérias-primas, com predominância manual, por indivíduo que detenha o domínio integral de uma ou mais técnicas, aliando criatividade, habilidade e valor cultural (possui valor simbólico e identidade cultural), podendo no processo de sua atividade ocorrer o auxílio limitado de máquinas, ferramentas, artefatos e utensílios.” (MDIC, 2012)

O designer brasileiro Eduardo Barroso (2000, p. 5 apud MOURA, A. 2011) Neto propôs durante o Seminário Internacional Design Sem Fronteiras, realizado em novembro de 1996 em Bogotá/Colômbia, a seguinte definição:

“Podemos compreender como artesanato toda atividade produtiva de objetos e artefatos realizados manualmente, ou com a utilização de meios tradicionais ou rudimentares, com habilidade, destreza, apuro técnico, engenho e arte”. E complementa ainda que “deve resultar em algum objeto ou artefato novo e fruto da transformação de matérias-primas”. (2000, p. 5 apud MOURA, A. 2011)

Analisando o artesanato sob a perspectiva de funções e finalidades (Figura 3), Barroso Neto (2000, p. 5 apud MOURA, A. 2011) o separa em: 1) utilitário: são em geral ferramentas e utensílios 34 desenvolvidos para suprir carências e necessidades das populações de menor poder aquisitivo; 2) conceitual: são objetos cuja finalidade principal é o de externar uma reflexão, discurso ou conceito próprio de quem o produz, seja este um indivíduo ou comunidade; 3) decorativo: são artefatos cuja principal motivação é a busca da beleza, com a finalidade de harmonizar os espaços de convívio; 4) litúrgico: são produtos de finalidade ritualística destinados a práticas religiosas ou místicas; 5) lúdicos: são produtos destinados ao entretenimento de adultos e crianças intimamente relacionados a práticas folclóricas e tradicionais

FIGURA 3- Relação Matérias primas e ofícios.

Fonte: BARROSO ( apud UNESCO, p.21, 2014)

Há diferentes classificações dos produtos artesanais, cada tipo expressa valores históricos e culturais diferentes, dependendo de quando e onde foi produzido. Sendo assim, foram divididos conforme natureza de criação, maneira de produção e origem.

Segundo a UNESCO (2014, p.16) há o artesanato indígena, de reciclagem, de referência cultural, contemporâneo-conceitual e o tradicional. O tradicional pode ser definido como:

“Conjunto de artefatos mais expressivos da cultura de um determinado grupo, representativo de suas tradições e incorporados à vida cotidiana, sendo parte integrante e indissociável dos seus usos e costumes. A produção, geralmente de origem familiar ou comunitária, possibilita e favorece a transferência de conhecimentos de técnicas, processos e desenhos originais. Sua importância e valor cultural decorrem do fato de preservar a memória cultural de uma comunidade, transmitida de geração em geração.” (UNESCO, 2014, p. 16)

Para Roizenbruch (2009), projetos que relacionam design e artesanato pretendem o melhoramento dos processos e técnicas produtivas. O resultado é o reconhecimento por classes consumidoras que antes não valorizavam o trabalho artesanal na íntegra. A tese de Roizenbruch (2009) reforça Barroso Neto (2000) ao ressaltar que a adequação do artesanato às mudanças tecnológicas não o descaracteriza, pois a autenticidade de um objeto está na forma singular com que cada artista ou artesão expressa sua percepção.

Manzini e Meroni (2009) contextualizam a questão entre design e artesanato afirmando que:

“[...] o designer é aquele que, mais do que outros profissionais, possui a capacidade e a possibilidade de criar novos modelos de referência, de imaginar novos estilos de vida com base nestas ordens diversas de valores e de qualidade” (MANZINI; MERONI, 2009, p. 14).

Dessa forma interferindo de maneira positiva, sem “ferir” a essência do trabalho do artesão.

Borges (2011) também salienta que não basta “passar uma semana num lugarejo, com acesso a matérias-primas e tecnologias locais, e sair com uma coleção de objetos lindos” enfatiza que:

“é relativamente fácil publicar belas fotos com esses objetos e com os rostos das pessoas que participaram das oficinas nas revistas especializadas ou mostrá-las em palestras nos congressos internacionais, sob o rótulo de “responsabilidade social” ou “ajuda humanitária”. O difícil é fazer com que esse trabalho tenha significado e relevância para a comunidade local e, assim, possa ser continuado.” (BORGES, 2011, p.138)

A IDEO (2009) aponta um estudo de caso onde foram recrutados artesãos africanos para serem co-projetistas visando expandir a comercialização de seus tecidos e aumentar-lhes o poder aquisitivo. Foi solicitado que desenhassem algo que acreditam que traga o sentido de exclusividade no seu processo de tecelagem. Depois de aprimoramentos foi concebida então uma identidade visual para os produtos a partir dos desenhos feitos. A IDEO (2009) reforça que o processo “pode também servir como forma de capacitar as pessoas a participar de seu próprio destino e ajudar a equilibrar a relação muitas vezes desigual entre os membros da ONG e os participantes.” além de aumentar a renda familiar local.

Dessa maneira segundo BORGES (2011, p.129) os designers podem atuar no artesanato em pontos como:

“-melhoria da qualidade dos objetos;

-aumento da percepção consciente dessa qualidade pelo consumidor;

-redução de matéria-prima;

-redução ou racionalização de mão de obra; -otimização de processos e materiais; -combinação de processos e materiais; -interlocução sobre desenhos e cores; -adaptação de funções;

-deslocamentos de objetos de um segmento para outro mais valorizado pelo mercado;

-comunicação dos atributos intangíveis dos objetos artesanais; -facilitação do acesso dos artesãos ou de sua produção a mídia; -contribuição na gestão estratégica das ações;

-explicitação da história por trás dos objetos artesanais.” (BORGES, 2011, p 129)

O mercado de produtos artesanais apenas no Brasil, segundo o site do Governo Brasileiro (2017), movimenta por ano R$ 50 bilhões na economia nacional. Sendo uma fonte de renda para muitas organizações e famílias por todos o país. O SEBRAE (2016) também aponta a importância do artesanato para a preservação da cultura sendo que “ ​identificar cada cultura através de traços, cores e texturas características agrega valor ao ornamento, seleciona o público para o qual será vendido e aumenta as chances de apreciação por parte do consumidor”

Cada peça produzida pelo artesão é uma expressão da sua arte, então sempre é feita com zelo, o que reflete na qualidade do produto, diferente daquilo que é produzido em grande escala. Produtos artesanais tendem a usar matérias-primas de qualidade, aumentando assim a durabilidade e sendo ecologicamente corretos. Trata-se de produtos únicos e que a sua venda, causa valorização das atividades locais.

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