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4.5 A relação bilateral com a União Europeia no contexto da Política Europeia de Vizinhança

Desde a revolução de janeiro de 2011 e, em particular, a partir da eleição de Morsi, em junho de 2012, a UE, em linha com os princípios da PEV renovada, pretendeu demonstrar um apoio firme ao processo de transição democrática em curso, salientando a importância da inclusividade, do respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais, da implementação de um verdadeiro estado de direito, da independência do sistema judicial e apoiando uma sociedade civil livre e plenamente atuante. Foi defendida a necessidade de ser assegurada uma maior justiça social e de promover reformas económicas, incluindo a conclusão de um acordo com o FMI. Este apoio reforçado consubstanciou-se no comprometimento ao mais alto nível com o novo Egito (através de visitas, pronunciamentos e iniciativas), oferecendo ajuda económica, bem como apoio técnico e político.

Em meados de junho de 2013, uma avaliação do apoio da UE indicava resultados mistos, o que motivou uma maior reflexão ao nível político, tendo em conta a necessidade de decidir a utilização das ajudas prometidas durante a Task Force (TF), ultimar a programação para o próximo ciclo de cooperação e avançar com um novo Plano de Ação. Se, por um lado, havia que reconhecer avanços significativos em determinadas áreas (a transição bem-sucedida de um governo militar para um governo civil), por outro lado, o país permanecia muito dividido e o diálogo político entre as várias fações muito dificultado por intransigências e falta de vontade e/ou capacidade de compromissos (negação da legitimidade da oposição).

Apesar de Morsi mostrar vontade de aprofundar a relação com a UE e a Europa assumir o interesse na manutenção de um comprometimento renovado e reforçado com o Egito (até pelo reconhecimento das repercussões que os desenvolvimentos no Egito trariam ao nível regional), a deterioração da situação económica, de segurança e ao nível da governação (nomeadamente, ao nível dos direitos humanos), tornava inegável a conclusão de que o diálogo havia sido mais produtivo quanto aos objetivos de política externa comuns (manutenção dos acordos de paz de Camp David e empenhamento construtivo no Processo de Paz para o Médio Oriente), não se estendendo à partilha dos valores e princípios defendidos pela UE (fosse por causa das dificuldades em ultrapassar as práticas institucionalizadas do antigo regime, fosse por inexperiência, incompetência ou quaisquer

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outras razões)58. No entanto, a UE decidiu-se pela manutenção do apoio. E, na ausência de um acordo com o FMI, acelerar-se-iam as preparações para uma recanalização da ajuda, dirigindo-a de forma sustentável para as necessidades dos mais carenciados.

Os inúmeros esforços ao nível da facilitação de um diálogo inclusivo, tendo em vista uma reconciliação entre as várias fações da sociedade egípcia, através da AR e do seu representante especial para o sul do Mediterrâneo, se bem acolhidos por todas as partes, não se materializaram em resultados concretos (os esforços têm sido coordenados com os EUA59 e outros atores internacionais relevantes na região. O Qatar e os Emirados Árabes Unidos têm participado, conjuntamente com a UE e os EUA, nas várias iniciativas e conversações das últimas semanas com as autoridades interinas e com a IM).

Efetivamente, a partir da intervenção militar, em julho, que depôs o Presidente Morsi, a escalada de violência confirma as profundas cisões existentes na sociedade egípcia, aprofundadas pelas detenções arbitrárias e o excessivo uso de força dos militares contra a população civil. Ao apoio atual de uma grande parte da população egípcia à atuação do governo interino militar, no que defende ser a luta contra o “terrorismo”, contrapõem-se os que a consideram ilegítima e não aceitam a sua autoridade estabelecida à força por um golpe militar. Em meados de agosto, a ação violenta desproporcionada das forças de segurança, por ocasião da dispersão dos manifestantes pró-Morsi das praças Rabea al- Adawiya e al-Nahda, por desrespeitarem regras e princípios fundamentais defendidos pela UE, motivaram uma nova reavaliação do relacionamento da UE com as novas autoridades interinas militares, no CNE extraordinário de 21 de agosto. O CNE concluiu que a opção mais apropriada, que acautelaria os interesses da UE e as legítimas aspirações democráticas e socioeconómicas dos egípcios, seria a de encontrar a via certa de apoio que beneficiando a população, não pudesse ser entendida como apoiante da atuação das autoridades interinas militares. Com a perceção de que a UE é o ator mais qualificado, pelo capital político que tem ganho junto de todos os atores políticos egípcios e pelo seu exemplo

58 As recomendações do Comité Político e de Segurança (que constitui a estrutura permanente do Conselho da UE em matéria de política externa e segurança comum, cuja criação se encontra prevista no art. 38º do Tratado da UE), aconselhavam, no essencial, a manutenção e a melhoramento (inclusive ao nível da comunicação) de um diálogo inclusivo com os atores políticos e sociedade civil e dos esforços de apoio a uma reconciliação; continuar a apoiar a reforma institucional, nomeadamente a independência do sistema judicial; acompanhar de forma próxima as preparações das eleições legislativas, incluindo a redação da lei eleitoral (encorajando a participação de todos os partidos políticos e assegurando que o ato eleitoral seja livre e transparente, nomeadamente através de uma Missão de Observação Eleitoral, caso se confirmem os requisitos essenciais para a sua implementação); encorajar a adoção de reformas económicas e a conclusãode um acordo com o FMI (que melhorem o clima de negócios, reduzam a pobreza e promovam a justiça social).

59 A AR e o Secretário de Estado norte-americano fazem uma declaração conjunta, no Cairo, a 7 de agosto de 2013.

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enquanto modelo de desenvolvimento e paz (com uma conotação mais positiva do que os EUA junto da esfera pública árabe), e com mais possibilidades de ajudar o Egito a ultrapassar a situação atual, a UE continuará a acompanhar a situação e reajustará a sua cooperação (em fase de reavaliação) de acordo com a sua evolução. No momento presente, e de forma a evitar o impacto negativo nos grupos mais vulneráveis da sociedade egípcia, a assistência nas áreas socioeconómica e de apoio à sociedade civil, continuarão. Os EM acordaram também na suspensão das licenças de exportação de qualquer equipamento que possa ser utilizado para a repressão interna e a reavaliar a sua Posição Comum na matéria e a sua assistência na área da segurança (Conselho da UE, 2013b).

A UE reiterou o entendimento de que a reconciliação política, através do diálogo pacífico, que permita o retorno ao processo democrático, é a única solução viável para o Egito, tendo sempre condenado as detenções arbitrárias, o desconhecimento do paradeiro de Morsi, as restrições às liberdades de imprensa e reunião e as violações aos direitos humanos. As visitas e os contatos têm-se mantido uma constante60.