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Conforme Valença (2007; 2009), Chris Argyris e Donald Schön (1970) propuseram, com base em experimentações e atividades de consultoria organizacional, condições para uma atuação ou intervenção de consultoria bem-sucedida.

Em seus estudos da Teoria da Ação alegaram três virtudes humanas básicas ou primárias de um consultor: integridade, autoconfiança e coragem. Através da prática e do exercício dessas virtudes, alcançariam as virtudes humanas intermediárias, instrumentais ou intervenientes, que corresponderiam, portanto a: a) boa-fé – sendo, pois, capaz de gerar no grupo informações válidas e úteis ao desempenho da consultoria; b) lucidez e autonomia – com o intuito de fazer e permitir aos demais que façam escolhas informadas e livres, e c) ética da responsabilidade – ao comprometer-se com as conseqüências de suas escolhas, decisões e ações (VALENÇA, 2007; 2009).

Após praticar e exercitar esses dois conjuntos de virtudes, as básicas e as intervenientes, o consultor poderia chegar ao patamar de possuidor das virtudes maiores ou finais: a) humildade – ser competente e prudente, agindo de acordo com suas habilidades e competências e não assumindo compromissos além de sua capacidade de desenvolvimento dos mesmos; b) generosidade – sendo capaz de ser útil e solidário para o maior número de pessoas possível, e c) justiça – oferecendo oportunidades igualitárias às pessoas de modo que as conseqüências de suas ações atinjam o maior número possível de pessoas (VALENÇA, 2007; 2009).

A evolução de virtudes propostas por Argyris e Schön (1970, apud VALENÇA, 2007; 2009), pode ser graficamente representada pela figura 4 a seguir:

Figura 4 (2) – Evolução das virtudes de um consultor Fonte: Elaboração própria, baseado em Valença (2007)

Valença (2007) propõe, ainda que, além do exercício ininterrupto das virtudes acima expostas, cabe àquele que almeja assumir o papel de consultor organizacional, enquanto profissional pautado na boa-fé e na ética, conhecer na prática o modelo de atuação que pretende desenvolver.

Para alguém se nomear consultor, se estabelecer e oferecer serviços de consultoria, precisa ter, além dos três conjuntos de virtudes, duas grandes responsabilidades diante de um cliente: a) saber, na prática, o que caracteriza e como se opera um modelo de atuação ou intervenção competente, na dimensão da arte; e b) saber e praticar as competências imprescindíveis que constituem as atividades primordiais de um consultor, que foram classificadas acima como virtudes instrumentais (VALENÇA, 2007, p. 467).

Para tanto, uma vez iniciado o exercício da consultoria, o consultor estará em contato direto e constante com o cliente e, a partir daí, surgirá uma relação entre essas partes. Valença (2007), pautado na descrição de Argyris e Schön (1970) de relações bem-sucedidas de consultores e clientes, propõe um modelo genérico de intervenção que define as atitudes mais significativas do cliente, como se pode ver no quadro 4, levando-se em consideração duas variáveis de posicionamento do consultor: 1) a efetiva participação e contribuição da geração de informação válida e útil; e 2) a utilização de testes públicos de validação e comprovação da utilidade das informações geradas.

Geração unilateral do consultor - CONTROLADOR - Geração bi ou multilateral do consultor - DEMOCRÁTICO - Utilização de testes públicos de validação e senso de utilidade da informação

Obediência informada Acordo político válido

Não utilização de testes públicos de validação e senso de utilidade da

informação

Obediências cegas

Obediências benevolentes Acordo heurístico supersticioso Quadro 4 (2) – Relações ou opções do cliente

Fonte: Adaptado de Valença (2009, p. 134)

Em decorrência das relações entre as variáveis supracitadas, tem-se o desencadeamos de quatro tipos de atitudes por parte do cliente, a saber:

a) Obediência informada – o cliente assume uma postura de concordância a tudo aquilo que o consultor propõe a partir da utilização dos testes públicos de validação das informações coletadas, analisadas e construídas exclusivamente por ele. Quanto mais claras e

específicas as diretrizes traçadas pelo consultor, mais informados serão os clientes, que o obedecerão. Haverá, contudo, a possibilidade que o consultor se equivoque, e imponha “um critério ou argumento ilusório, seja por crença, por ideologia ou seja ainda por expectativa exagerada com respeito ao futuro” (VALENÇA, 2007, p.469), colocando o cliente em uma posição de risco, uma vez que este não exercita sua capacidade de avaliação crítica.

b) Obediência benevolente – nesse tipo de relação o consultor além de não utilizar testes públicos de validação das informação que propõe, nega-se a de fato oferecer ou colocar a teste ao cliente dados, observações, registros e análises críticas que construiu. Tomando por base a boa-fé e confiança atribuída ao consultor, o cliente se abstém de sua colaboração e co-responsabilidade no processo de construção das informações.

Obediência cega – obediência por ignorância ou omissão por parte do cliente, apresenta efeitos maléficos mais significativos que a atitude benevolente, caracterizando uma total abdicação de autonomia e liberdade por parte do cliente, que, irresponsável, torna-se vulnerável às atitudes do consultor.

Quando a ignorância [do cliente] soma-se com a má-fé [do consultor] o resultado é dos piores. Nas intervenções equivocadas com um método apreciativo, isso se caracteriza pela imposição de comandos mentais ou de conduta do tipo: nesse ambiente “temos que ser apreciativos” ou “nossa cultura é apreciativa”, controlando unilateralmente a voz dos outros através de um discurso “positivo”, enquanto paira no ar um cheiro em um sabor de moralidade dual e sutil, mas muito azeda e ácida, contra todos aqueles que são “críticos” ou “pouco apreciativos”, especialmente quando ficam encobertos os privilégios, as contradições e os segredos velados no ambiente [...] Ora, isso pode criar, sem intenções explícitas, um ambiente marcado pela dominação do interveniente e/ou regulado por meras superstições, independente da boa-fé do facilitador (VALENÇA, 2007, p. 469-70, grifo nosso).

c) Acordo heurístico supersticioso – neste momento identificam-se, claramente, características dos sentimentos dogmáticos de aceitação e crença irrestrita no que se prega. No caso, em função do desenvolvimento de um sentimento de necessidade de aceitação no grupo, o que Valença (2007) denomina ‘grupismo’, o indivíduo passa, acriticamente, a desenvolver atitudes reforçadas positivamente pelo grupo, de modo que possa se sentir respeitado, reconhecido, acolhido e amado pelo mesmo.

Aqui não há mais oportunidade de exercer a serenidade e a lucidez, porque a crença não é submetida ao teste público de sua base racional, e como criação coletiva forte e estruturada, dificilmente será desconstruída, antes será

reforçada na instância normativa do dever ser (VALENÇA, 2007, p. 472, grifo nosso).

d) Acordo político válido – por fim, este último tipo de relação parece ser, de todos os quatro posicionamentos abordados, o mais consciente, por parte do consultor e, também, do cliente. A relação se estabelece através de um acordo democrático, igualitário e cooperativo, nos quais as informações geradas são publicamente testadas e validadas perante todo o grupo, que as qualifica como fidedignas e úteis, e todas as pessoas assumem suas responsabilidades e dão sua contribuição para o amadurecimento e desenvolvimento do grupo.

Essa parece ser a melhor forma possível de se praticar qualquer método apreciativo por algum pesquisador e consultor de modo a ele poder usar, com toda dignidade e toda a pompa, as palavras “apreciação” e “gratidão”, e, de fato, respeitar, antes de qualquer outra coisa, a realidade contraditória e impermanente de seus clientes (VALENÇA, 2007, p. 473).

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